quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O CASO DA MODA

Propositadamente resolvi não comentar o caso do homicidio que envolveu dois portugueses na Grande Maçã.
Por ser de mau gosto.
Porque não gosto de modas que são sempre coisas que nascem com o fim de morrer.
Porque ainda gosto de respeitar seres infelizes e um tudo nada estúpidos como são todos os esvaziados de neurónios - porque cada qual nasce com aquela totaria genética para a qual nem sequer comprou o respectivo blhete.

Mas.

Mas, hoje atestei . Abri o computador e as anedotas , mesmo em blogues que estão nos meus favoritos e leio diariamente por serem de gente variada politicamente e supostamente a elite da Nação, pululam com uma finura intelectual do tipo desta:

-Renato abra-se mais.
-...
- Carlos, Castro?

A questão merece-me, a partir de agora também comentários.
Primeiro. As anedotas tem uma grande importância social. É certo. Elas servem de canal catártico ( de auto-limpeza  moral ) inúmeras vezes.
Não infrequentemente rimo-nos com uma anedota para evitar chorar com aquele assunto que lhe é inerente. Por exemplo, recordo que durante a crise do Biafra ( para os mais novos uma tentativa de secessão - independência - da parte mais rica da Nigéria e a mais cristã, do resto do país, que ocorreu há cinquenta anos ) não faltavam por cá anedotas sobre os assassinatos de mulheres e crianças porque era público e notório que o Portugal de Salazar tinha fomentado aquele golpe que terminou num genocídio e isso incomodava muito bom português sobretudo se salazarista. Curioso era que noutros países europeus tutelares na região não nasciam anedotas sobre o caso.
Também sempre que ocorria qualquer coisa em Moçambique e em Angola Samora Machel e o povo angolano não eram poupados, lembram-se?
O mesmo aconteceu quando começaram a entrar-nos imagens de crianças sem carne e ossos visíveis pelas casas adentro, via televisão, da fome na Etiópia é que a nossa ressonância moral católica foi activada e depois pacificada com contínuas anedotas sobre aquela desgraça, enquanto ( pelo mesmo motivo de acalmia das dores de quem sabe que devia ajudar e não ajuda ) pululava  uma hipocrisia que dava muito jeito para nos justificarmos com a altivez de não valer a pena ajudar porque " a ajuda fica toda pelo caminho".
Foi o mesmo com a esquerda europeia a gozar com a inteligência de Bush e do seu capitalismo ( que nem foi tão selvagem como o que agora por lá temos ); ou a direita a gozar com o marxismo ) , num caso e noutro sem a isenção moral dos livros de terna compreensão de D.Camilo ( o padre ) e Pepone (o chefe comunista) , que usavam a graça como epifania epistemológica da ciência do conhecimento do humano.

Também nunca no Norte (PPD) de Portugal se contaram tantas anedotas sobre a estupidez dos alentejanos como por alturas da Reforma Agrária - e isto era menos para ofender comunistas que tinham ocupado as terras, mas era muito mais para exorcisar os fantasmas de nunca as terem os seus proprietários PPDês cultivado como deviam.

Por isso, sabendo nós que 30% dos portugueses tiveram qualquer tipo de contacto homossexual na época da adolescência em que se define a orientação sexual, e sendo que destes uns 10% permanecem homosexuais pela vida fora , e sendo ainda que muitos destes embora hetrosexuais mantém episódicamente dúvidas e pânicos sobre se não terão costelas " do outro lado ", nunca , nem nós nem os outros povos onde as estatísticas são semelhantes , nunca, dizia, deixamos de usar a anedota do paneleiro, daquele panasca, do gay de Cascais etc. E isto tanto mais frequentemente quanto mais dúvidas temos sobre a nossa real virilidade.
Era só isto que quero comentar sobre as perversas anedotas que correm ba blogosfera.

Outra coisa, e talvez mais séria é esta:
Eu conheci o chamado jornalista de chamadas revistas côr-de-rosa, por variadas vezes, há muitos anos, frequentemente me encontrar com ele no programa da manhã da RTP 1. E devo aqui dizer que se tratava de um homem mau, bastante estúpido, com uma vaidade deslocada porque nada nele era de envaidecer, que fazia gala da sua homosexualidade como algo de superior na raça, e duma incultura que metia medo. Foi por essa altura que começei a pensar que a televisão deixara de ser um meio de cultura mas se transformara numa choldra de anomias e amoralidades. Devo contar que o Castro, mal desligavam as máquinas corria por todo o lado à procura do chequesinho para voltar a Lisboa. Money, money, money. Era assim a sua vida : um monstro medonho de luxúria, sobranceria e, sobretudo , ganância.

Ora de luxúria, sobranceria e ganância se faz a moda  ( o mundo da moda ) por onde ele andava, e é aí que está o cume do consumismo ( esse vinagre que é o usar e deitar fora - seja com os sapatos, os vestidos, os carros, as cidades que se visitam, o sexo, ou os afectos. Sim todos os afectos ). E sempre tudo a correr. Sempre a correr porque como ele estupidamente dizia " eu vivo um dia de cada vez , não penso nas coisas ". Como se os homens pudessem sobreviver , quanto mais viver, sem a preocupação gostosa de projectar o amanhã a todos os níveis ! E sempre a tentar mostrar poder que assentava nos referidos comportamentos de luxúria, de sobranceria e de ganância.

É por tudo isto que esta personagem que tive o desprazer de conheçer exemplifica tão bem o que neste blog tenho vindo a desenvolver : a necessidade de sairmos desta CRISE ,talvez daqui a vinte anos , com um novo paradigma em que o correr ( a concepção do tempo ) e o poder ( que se faz de luxúria,sobranceria , ganância  ) sejam muito diferentes .

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