quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

No xadrês geopolítico da europa podemos contar com Barroso...embora o pior esteja para vir

A “guerra” Merkel/Trichet
A agência Eurointelligence chama hoje a atenção para um dos motores das razões da tática da chanceler alemã – adiar o mais possível novas mudanças na estrutura e montante dos veículos financeiros para os resgates de países em pré-default e não admitir publicamente a necessidade de re-estruturações da dívida em alguns casos, como já se discutiu o caso da Grécia no último Ecofin (reunião dos 27 ministros das Finanças da União Europeia) desta semana.
Merkel estará a condicionar a gestão da crise ao calendário de sete eleições em estados da federação este ano. A primeira eleição decorre a 20 de fevereiro em Hamburgo (onde se rompeu a coligação entre a CDU e os Verdes), depois a 20 de março há eleições na Saxónia-Anhalt, a 27 de março em Baden-Wurttenberg (um estado que a coligação CDU/FDP, a mesma no governo federal, não pode perder) e Reno-Palatinado, a 22 de maio em Bremen, a 18 de setembro em Berlim e no último trimestre.
A contra-pressão a esta tática de adiamento é a atuação do BCE no mercado secundário comprando dívida soberana dos “periféricos” que, em geral, só se conhece a posteriori. A Reuters publicou um gráfico em que se observa um paralelismo entre as intervenções do banco central e o comportamento médio dos spreads das obrigações de cinco países (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália).
Um dos cisnes cinzentos (distinguem-se dos negros que são absolutamente imprevisíveis; estes são eventos inesperados mas previsíveis) são que pode lançar ainda mais óleo para esta fogueira são as eleições na Irlanda, segundo Fred Goodwin, da Nomura. A desagregação política da atual coligação em Dublin liderada pelo Fianna Fáil é patente – ontem saíram quatro ministros do executivo. O partido apresenta apenas 14% das intenções de voto em sondagens, o mesmo que o partido mais radical, Sinn Féin.
A data das eleições ainda não está marcada com pressões para ocorrer proximamente ainda em janeiro ou fevereiro e segundo outros apenas em março. As sondagens indicam que o Fianna Fáil sairá do governo e que provavelmente outro partido de centro-direita, o Fine Gael, assumirá o poder. Ora teme-se que o Fine Gael decida alterar o acordo com Bruxelas e o FMI e que, na sequência, dessa posição acabe por ser imposto um “corte de cabelo” (hair cut, na designação técnica) de 15% nos detentores seniores de obrigações da dívida irlandesa, o que desencadeará uma enxurrada de problemas na banca europeia, e será um rastilho para nova crise – a pagar pelos restantes quatro do grupo da zona euro em observação (Portugal, Espanha, Itália e Bélgica).
Note-se que a posição da Comissão Europeia é de apoio aos países "periféricos" de tal modo que no início desta semana Durão Barroso anunciou para as decisões da reunião do Conselho Europeu de 4  de Fevereiro o lançamento de um novo fundo financeiro de estailidade europeia, com o dobro do dinheiro anterior e muito maior flexibilidade de aplicação nos países que dele necessitam. Isto sucedeu pela primeira vez. Ou seja, é a primeira vez que Barroso se atreve a anunciar uma medida ( seguramente sem saber se ela passará ) antes do agrement de Paris e Berlim - apenas para exercer pressão pública sobre os "seus patrões ".

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