sexta-feira, 31 de julho de 2009

viva o orgasmo!

Hoje é o DIA DO ORGASMO, segundo dizem os jornais. Que bom!

Logo pela manhã, cheirou-me mal. Um cheiro obsceno.

Fui ouvindo rádio e percebi donde vinha o cheiro.

Era do Supremo!

A história conta-se assim: um homem teve um acidente ( de carro, suponho). Na sequência sofreu danos e recebeu por eles cerca de 400.000 euros. Mas a mulher dele não gostou do número do numerário. E vai daí, recorre para a "justiça" e declara que o seu homem, como ficou impotente (em medicina chama-se disfunção eréctil ), a prejudicou, e por isso quer mais algum. O Supremo - até onde a senhora foi recorrendo ( hum... cheira-me a que tem dinheiro para pagar aos chamados bons advogados) - profere sentença, recordando que o sexo faz parte da identidade da gente. Logo, o Papa deve pertencer a outra espécie.

Mas, até aqui, são só suposições. Vamos pois a factos provados, com uma pequenininha explicação prévia. E esta é a de que o arco sexual é constituído por três elos: o primeiro é a fase do desejo do sexo ( o qual é subjectivo, e cuja falta pode decorrer de factores genéticos, incidentes hormonais, idiossincrasias, acidentes de infância, até de traumas de adulto, passando pela coexistência com uma esposa estuporada, que goste demais de dinheiro sacado ao alheio, por litigância em tribunais, por exemplo); a segunda fase é vaso-circulatória, corresponde ao que chamamos de excitação, e corresponde à progressiva injecção sanguínea no pénis, nos mamilos das mulheres ou nas paredes vaginais, o que provoca a lubrificação do orgão; e a terceira, é basicamente muscular, com espasmos exteriores e interiores, que a oito ciclos por segundo, transportam o esperma pela uretra masculina abaixo e que se chama orgasmo.

Ora bem, o que as radiofonias diziam, é que o homem teria perdido a segunda fase. Eu acredito. Mas podia ter visto diminuída a primeira ( o desejo) o que impediria as subsequentes, e não é raro acontecer ao longo dum casamento.Mas eu acredito. Só que nesse caso, gostava de saber qual dos meretísimos juízes se meteu entre lençóis para saber se o orgão se elevava aos céus - na condição exclusiva da proposta para o acto experimental e experiêncial ser da senhora, daquela senhora que, supunhamos, deve enjoar ( mesmo com Vomidrine ) só de gostar tanto de dinheiro; porque se fosse com convite da Cláudia Schiffer até o meu avô perdia a acção judicial! Ora, o acordão, não diz qual foi o juíz que foi tirar a coisa a limpo entre lençóis arguidos.

Muito bem. E se o homem -com a devida comprovação do nexo de causa-efeito ( que eu não vi neste Acordão ) - tivesse perdido o desejo ou o orgasmo (sendo que para a identidade duma pessoa-mulher há hoje formas de ter filhos do marido sem erecção dele, basta o orgasmo) ? Ou se tivesse desenvolvido uma artrite reumática impeditiva do 69 de infantaria ( que para muito boa gente é o único comportamento sexual ) ? Quanto lhe exigiria a esposa?

É por estas e outras assim, que entendo que deve ser ponderada uma consulta aos Tribunais dos Direitos dos Animais (dentre os quais os dos Homens) e se a coisa não ficar clara, ao Tribunal de Haia por suspeita de tentativa de genocídeo!

E se a mulher, muito antes do acidente, tivesse organizado um quadro de vaginismo com incapacidade de penetração), não previsto na hora dos Santos Sacramentos, e ele se achasse defraudado na sua "identidade"? Quanto exigiria ele, o homem, à sua mulher?

Em segundo lugar, quero explicar que o sexo é, hoje, uma coisa algo difusa. Há quem ache que beijos " à la française" não o são (sexo), e quem ache que sim; que cunnilingus não é, e vice-versa; que uma chupadela invertida também não, ou também sim; que penetrações anais tanto sim como não, segundo os mais recentes estudos epidemiológicos produzidos em Portugal aos nossos jovens liceais; que um chupão mamário é coisa para se discutir, e que a penetração é consoante haja ou não coitus interruptus!

Por tudo isto que é capaz de ser produzido com similar prazer por um dedo- sobretudo se ciente da tecnologia GPS do ponto G, depois de purpuramente aspergido com água baptismal, ou ao menos devidamente benzido em Fátima, tenho imensa dificuldade em dizer porque é que quando um casal na cama se toca, ele com o dedo grande do pé direito na tíbia dietrichiana da mulher, isso não é sexo. É que se fôr, se eu perder a sensibilidade do dedo do pé em questão- reparem que já não digo perder o dedo todo, nem parte dele -a partir daqui, quero " uma compensação" e a minha companheira outra. Está bem ?


Agora falando mais a sério. Será que os nossos juízes não entendem que ao proferirem tal sentença ,o fazem como consequência do contexto das exigências aos direitos sem deveres, com sonegação das obrigações dos devereas conjugais? E que reforçam esse contexto: ou seja, de consequência passam a causa da coisa?

Não percebem que estão a "beneplecitar" não uma sociedade hedonista, mas muito pior, uma sociedade que não se assume como tal, mas se acha, naturalmente, com direitos (adquiridos) ao prazer - que não ao bem estar, à qualidade de vida, muito menos à felicidade- mas a todos os direitos e a nenhumas obrigações?

terça-feira, 28 de julho de 2009

O MONSTRO

Em 2000, Aníbal Cavaco Silva referiu-se ao sorvedouro das despesas públicas como " o monstro incontornável".
Agora, por um estudo de Ricardo Reis, professor de macro economia da universidade de Columbia, ficamos a saber que:
O Estado consome hoje mais de 8700 milhões de euros , mais do dobro em termos reais, do que há 23 anos.
O maior aumento da despesa ocorreu durante o governo de Durão Barroso e Santana Lopes (0,48% ao ano); segue-se o governo do próprio Cavaco Silva ( 0,32% ao ano); António Guterres ( 0,31%); e finalmente, josé Sócrates ( com uns modestos 0,14 % ao ano, descontando este ano em que por via das compensações à crise, o número vai crescer ).
Que Teixeira dos Santos foi o único ministro das Finanças Públicas que reduziu o tamanho do monstro, de 21,5% do PIB quando tomou posse, para 21% em finais de 2008 !).
Que tal como dizia Miguel Cadilhe, o monstrinho transformou-se num grande monstro no início de 1990, quando Cavaco Silva - contra o parecer do seu ministro Cadilhe - resolveu abrir os cordões à bolsa.
Que sempre que um governo teve maioria absoluta, quer do PSD quer do PS, o monstro tendeu a crescer menos.
Que entre 2000 a 2008 , Portugal teve crescimento nulo e no mesmo período de tempo a despesa pública total subiu 45%.
Que sempre que o défice público aumenta em Portugal, ele é compensado com aumento de impostos.
Daí, quem disser que, daqui a 6 meses não aumenta impostos, já estará a mentir agora; que a drª Ferreira Leite vai ter de tomar muita papa Maizena para provar aos portugueses que é melhor que Teixeira dos Santos.
Que os bloquistas ainda não perceberam que os portugueses já perceberam que eles mentem quando falam da classe média que já não vai haver no futuro porque ainda há gente ( como eu ) com " direitos adquiridos " que disfarça esta desgraça.
Que o PCP anda a delirar nos pátios internos do que resta do Conde de Ferreira, quando grita os amanhãs que cantam; que o CDS de Portas anda a protestar mais que nunca porque já percebeu que a sua classe alta já era, numa altura em que se desenha a transferência de benefícios sociais dela para as classes a caminho da quase indigência.
Que pena que ainda tão pouca gente se tenha dado conta que andamos todos a viver acima das posses!
( gráficos do que fica dito estão publicados no i de hoje) .

terça-feira, 21 de julho de 2009

SHAME ON YOU !

Soube-se na passada semana que o presidente de administração da Porche exigiu 100 milhões de euros para se demitir, e assim permitir a fusão da marca com o grupo volkswagen. Na Alemanha.

Soube-se também que o presidente da Telefónica espanhola viu prescrita, ao fim de muitos anos de tribunais...espanhois, a acusação de inside-trading bolsista, ganhando dum vez ilegalmente 2 milhões de euros. O tribunal deu-se como impotente mas deu claramente a perceber que o roubo aconteceu mesmo.Em Espanha.

Tenho a convicção de que a recuperação da crise vai ser em w, isto é com recuperações e quedas a seguir, até surgir a terceira via política que traga o cleener. A natureza humana não muda mesmo.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A CLASSE MÉDIA ACABOU POR UNS ANOS

Os números que vieram a público ontem sobre o estreitamento da diferença entre ricos e pobres em Portugal é evidente. Por um lado os ricos e os muito ricos fartaram-se de perder dinheiro com a crise. Por outro, os pobres, levaram com um banho de subsídios ( que os que trabalham vão pagar ) do Estado, para combater a crise e só para isso ( já alguém pensou quem é que vai ter coragem para depois da crise acabar com os subsídios para a crise ou ainda não pensaram nos "direitos adquiridos?).
Do desastre de uns e das relativas benesses de outros surgiu um país mais igual - por baixo.
Pois é.
Mas se pensarmos no que aí vem, a coisa piora um pouco. A não haver uma guerra, que é costume haver, quando a metade rica do mundo empobreçe, e a metade pobre enriqueçe ( 0 Ocidente a empobrecer, a sua cultura a definhar, e o seu humor melanínico a escurecer) à custa dum oriente, mais ou menos escravo duma outra cultura que enriqueçe, então não podendo a generalidade dos pobres ocidentais ser muito mais pobre sem "comunas em cada cidade", aquilo que fica é uma supressão da classe média.
Por exemplo, eu estou bem, e para os padrões comuns estou muito bem. Os meus pais eram da classe média, ambos tinham o antigo sétimo ano do liceu, eram funcionários públicos, liam os jornais diários, discutiam política, e sabiam o que era moda no mundo, independentemente de lá chegarem ou não, tudo características de uma cultura de orgulho pátrio típico da classe média que é o que constituiu a coluna vertebral dum povo, dum país, duma nação. Os meus avós e os meus bisavós idem. Entretanto os meus dois filhos, ambos com licenciatura de psicologia e na casa dos trintas, não passam dum ordenado dos quinhentos euros. A classe média ou acabou ou vai ser dominada parcialmente por profissionais braçais.
Ao mesmo tempo, no Oriente, vai parecendo que surge o contrário. Conclusões? Cada um que as tire por si.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

PACHECO PEREIRA

Hoje de manhã, ao passar a vista pelos blogues que não perco, Saramago, Nossa Causa, Da Rússia de José Milhazes, e o António Peres Metello, fui encontrar, no Abrupto de Pacheco Pereira, um notabilíssimo texto do vice-presidente do PSD e com o qual não podia, como membro do partido socialista, estar mais de acordo.

Aí se descreve em pormenor como se faz carreira política em Portugal e porque é que os partidos são responsáveis pelos casos da "roubalheira" que é uma evidência.


Posto isto só quero acrescentar àquele texto - e se alguém o conseguir mandar ao Pacheco Pereira agradeço - o seguinte:


Quando um jovenzinho entra nos jotas, já tem um perfil manifestamente apropriado para o que vem a seguir. No partido, ele vai aprender a refinar a sua cosmovisão egocêntrica - o que não teria mal - transformando-a numa cosmovisão egoísta.


Para sobreviver nos júniores do partido, vai aprender e refinar traços de personalidade específicos, suficientes e necessários, a saber, a tendência para mentir, a capacidade para mistificar as coisas, a propensão para intrigar, a retórica da sedução das gentes - enfim tudo o que faz, em psiquiatria, o quadro da psicopatia. Que, por definição, não é doença mental, mas um "modo de ser", e, por isso mesmo não susceptível de imputabilidade jurídica.


É por isso que a gente vê personagens políticas que são apodícticamente culpadas, ou ao menos responsáveis, saírem dos tribunais com aquela "capacidade de encaixe" que é a cara de Menino Jesus, e não se envergonharem de sair à rua. Porque os psicopatas ( ao contrário por exemplo dos neuróticos), não sofrem mas fazem sofrer os outros à sua volta. E isso aprende-se, por exemplo, nos jotas.


O pior disto, é que poderemos estar condenados a uma desgraça: se as aptidões (skill) para se trepar no aparelho do partido são as acima descritas, chegará um tempo em que quem pode chegar à governação do país é gente assim, com as capacidades opostas de lisura e gestão que a governança da coisa pública exige.

domingo, 12 de julho de 2009

VIOLÊNCIA DOMESTICA FEMININA

Hoje acordei com uma valente ressaca às 9 horas.
Ontem, estive muito divertido em casa com três amigos que saíram às duas da noite.
Fui para a cama a essa hora. E quando lá estava , as janelas abertas porque o tempo fazia um capacete plumbeo e húmido como um manto, acabei a ouvir uma enorme discussão na rua atulhada de carros estranhos para as festas do raio do castelo e afins.
Era um homem com os seus 65 anos de camisa aberta por causa do calor que fazia e da indignidade que sentia, a discutir com uma mulher. Então, por baixo das janelas abertas do meu quarto fiquei a saber:
Que o homem não tinha sido tão simpático ao jantar e na esplanada do Forninho como se impunha.
Que se conheciam há três semanas.
Que o homem amava acima de tudo o filho, dum amor insubstituível por qualquer outra pessoa.
Que ela era doutora economista e, segundo ela, nenhuma puta como as outras que ele conhecera.
E que lhe atirara as chaves do carro para um silvado que há em frente à minha casa, e ele via mal.
Que, por isso não as podia procurar e partir com o Mercedes descapotável para o conforto da sua casa.
Que não tinha tesão e que o pénis era curto. E que era quase cego.
E que era um bipolar que ela só conhecia na fase depressiva!
Nesta altura deste campeonato, às cinco da matina, fui à janela e vi a mulher ( tacões de 20 centímetros, meias pretas, saia vermelha quase pelas cuecas, casaco branco e uma cabeleira tão dourada que fazia a lua cheia que estava parecer um ponto invisível do nosso universo. E o homem enorme e de barriga proeminente. Ele defendia o descapoável, que ela ameaçava, metendo-se entre os dois objectos ( mulher e carro ). Entretanto apanhou-lhe os óculos e lançou-os para dentro da cerca da casa do meu vizinho, E as chaves do carro no silvado que ela escolhera.
Nesta altura, comigo a observar, deu-lhe pontapés com os sapatos bicudos nos tomates (como ela lhes chamava), cuspiu-lhe na cara e, além de estalos , deu-lhe umas duas duas dúzias de murros na cabeça. E ele quieto e enorme!
Nesta altura fui à janela e disse:
-"Ó amigo, as chaves do carro não foram atiradas para o silvado mas para debaixo daquele carro, os seus óculos estão no jardim do meu vizinho, e eu não consigo dormir. Portanto, ou a senhora se cala ou chamo a polícia. E o homem, delicado e sem me ver porque mal via ao longe, agradeçeu. E a mulher, protestou mas não insultou a minha mãe porque eu já estava vestido para ir lá abaixo.
Violência doméstica?
Talvez. Mas há alturas na vida da gente em que não se percebe porque é que os homens hoje em dia a não utilizam. Mas, por outro lado, fica-se a perceber porque é que a vida não é assim tão feita de guerras, macro e micro economias, geopolítica e questões ontológicas do tipo - " será que os marcianos vão gostar de mim ?", mas é antes feita de pequenininhas coisas a que chamamos detalhes, mas depois me dão dores de cabeça que nem me lembra de pensar se os marcianos irão gostar de mim.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A MASSIFICAÇÃO DO ENSINO

Aqui há tempos estive numa reunião de antigos colegas de liceu. Rapidamente as conversas percorreram as memórias dos professores que tivemos e das suas idiosicrasias. E, para minha surpresa, todos concluímos algumas constantes:
Sabíamos ainda os nomes dos professores que nos tinham "marcado" com a estrelinha do seu saber;
Todos tínhamos estórias para contar em que desafiávamos os professores ao que eles respondiam geralmente com uma superior elegância;
Quando, no início de cada ano, decorria a chamada apresentação dos professores, não restava dúvida, pelo rigor do saber e pelo aprumo do vestir dos professores( diferente do dos alunos ) , quem estava ali para ensinar e quem estava ali para aprender ( afinal aquilo para que se inventou escolas), e nunca por nunca se ouvia aos professores ( para atenuar medos próprios ou para atrair para si o amôr dos alunos) , frases feitas com aquela do " estou aqui para também aprender convosco !";
E, apesar disso, o respeito era geralmente mútuo;
Por essa altura existiam dois liceus para os rapazes e outros dois para as raparigas e três colégios em toda a Grande Porto.
No espaço de uma geração, aos poucos filhos das classes média e superior que frequentavam liceus e colégios, juntaram-se milhares de outros alunos que pela lei da obrigatoridade escolar para lá foram também, aumentando então o número de escolas e colégios para mais de sessenta no Grande Porto. Mas aumentando também na mesma proporção os professores.
Se o resultado da entrada maciça de alunos sem vontade de aprender, com má educação trazida de casa, e sem o contacto com pais que à mesa, às refeições, já falavam de política, geografia, história, françês e muito mais - tudo num português perfeito - fazendo com que estes filhos não vissem na escola nenhum prolongamento da família e da sua autoridade natural, se o resultado só podia ser a criação de um clima de campo de concentração para perigosos de delito comum nas escolas, isso era inevitável, não havia maneira de o evitar - talqualmente ocorreu em França, na Espanha , em Inglaterra ou na Holanda, em idênticas circunstâncias.
Como nos pareceu a todos, ex-alunos ali a recordar, que será coisa para ser resolvida não antes de duas gerações.
Agora, o que também concluímos, é que a massificação dos professores percorreu idêntico caminho, só servindo para piorar o "clima nas escolas". De facto, a partir de certa altura, ia-se para "humanidades" porque era " mais fácil, e o Estado garantia emprego certo e a sacrossanta carreira no ensino". Não tenho dúvidas, e os meus colegas também não, sobre a muito mais baixa qualidade da generalidade dos alunos que, na universidade, escolhiam letras, em vez de engenharia, geografia em vez de economia, físico-químicas em vez de farmácia, filosofia em vez de direito, e assim por diante. Foi, e é, a geração dos professores sem vocação e sem cultura, a imagem ao espelho dos alunos da geração rasca - o que também achamos que só daqui às mesmas duas gerações estará ultrapassado.
E ainda, todos achamos que nos últimos anos a necessidade que os professores tiveram - por carências várias deles mesmos - para horizontalizarem a sua relação com os alunos, fazendo-lhes crer que eram assim a modos que irmãos mais velhos, como se viu nas manifestações de professores e alunos de punhos fechados a gritar insultos ao Poder instituído numa estúpida ( para os professores ) aliança insurrecional, vai servir para atrasar por mais uns anos a respectiva reposição do poder nas escolas. Minado que está pela des-autorização a que os professores se prestaram.

domingo, 5 de julho de 2009

O MEU DIREITO À CONTRA-INDIGNAÇÃO !

Está na T-S.F. para quem a quer ouvir (http://www.tsf.pt/)
Chama- se Leonor Coutinho, deputada pelo meu partido - o Partido Socialista - é candidata à Câmara de Cascais e está indigadíssima. E porquê? Ora, porque lhe andam agora a coartar o seu direito a prosseguir, com segurança "a sua carreira de deputada "!
A história conta-se assim: na sexta-feira o Partido decidiu que quem se candidatasse, por ele Partido , à presidência de qualquer autarquia nas próximas eleições autárquicas, não poderia ser simultaneamente candidato a deputado nas próximas legislativas. Ou seja, a Leonor Coutinho que alegremente se tinha atirado à candidatura da Câmara de Cascais convencida que se perdesse tinha sempre o lugar de deputada, vê agora em risco a sua "carreira "(sic), ou seja, os seus mais que legítimos direitos (adquiridos).
Espantosamente a senhora diz isto tudo e muito mais, com o timbre da mais profunda indignação a tremelicar-lhe na voz .
Vão vêr à TSF.
Ao lado dela, segundo a mesma rádio, já está a candidata a Alpiarça , também actualmente deputada, Sónia Sanfona ( que raio de nome !) e, segundo me pareceu mas não asseguro porque o acho... esperto, o inefável Joaquim Couto candidato à Gaia do sempre eterno Luís Filipe Menezes... Pois!

Quando o ex-ministro Manuel Pinho fez o gesto de cornudo em directo na televisão àquele deputado comunista de que nunca me lembro do nome, eu fiquei magoado e chocado. Tive o impulso de vir aqui ao computador escrever isso mesmo. Mas o caso parecia-me grave de mais e quando é assim espero algum tempo antes de dizer algo de que me possa arrepender. Fiz bem, porque entretanto com toda a gente a comentar o caso fiquei a saber que o senhor, antes de ser convidado para ministro, era administrador do BES, e tinha sido tudo e mais alguma coisa no estrangeiro, não dependendo da política para viver mais que bem. Fiquei também convencido que o ex-minisro da Economia nem terá mentido. Pois muito bem, foi para a rua. E num programa televisivo um comentador explicava o caso do gesto ministerial e aquilo a que se chamou gafes ( coisa que revi várias vezes e acho que eram simplesmente também verdades) por o aparelho partidário segurar os seus, e olhar os independentes que são chamados ao Governo com a desconfiança da besta acossada. Passei a concordar com o comentador e recordo o tempo em que nenhum doutor ou engenheiro podia inscrever-se no PSD porque toda a gente lá dentro se punha a perguntar-se: "o que é que agora quer este gajo?".
Recordo aquela história verídica do Churchil a entrar no parlamento inglês com um deputado novato que quando se sentou, e apontando para a bancada do outro partido, exclamou: "Então são aqueles os nossos inimigos!", ao que Churchil respondeu: "Não aqueles são só os nossos adversários, os nossos inimigos estão aqui atrás!"

Pois bem, disto tudo, retiro como psiquiatra que:
A deputada Leonor Coutinho já interiorizou de tal modo o seu direito aos direitos adquiridos que nem tem a noção de que se está no parlamento ( Assembleia da República ) somente quando o povo nos elege; e de tal modo interiorizou os seus direitos que nem lhe passa pela cabeça que o povo pode não nos querer.

Posto isto, a Leonor Coutino tem para mim o cheiro infecto da minha verdadeira infecção urinária.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

JÁ ENTRAMOS EM GUERRA

Não é exagero meu, embora seja ainda uma verdade algo hiperbólica.
Há quinze dias, uma série de meus colegas médicos nas forças armadas optaram por pagar enormes indeminizações ao Estado para não irem para o Afeganistão.
Há dois meses a Administração Obama anunciou a demissão do general de cavalaria David D. Mackiernan do comando das forças americanas e da NATO no Afganistão.
Em sua substituição foi anunciado o nome do tenente-general McChrystal vindo do secreto Comando Conjunto das Forças de Operações Especiais.
Anteontem cerca de cinco mil soldados americanos e da NATO helitransportados partiram para o mais recôndito daquele país para fazer a guerra de guerrilha aos Talibãs.
Há uma semana partiu para Cabul um contingente médico português de 15 elementos.
Como a guerra vai ser de guerrilha o general Patreus, que além de comandante no Iraque também dirigiu a Alta Escola de Comando Militar de Levittown, recolheu contributos de franceses e ingleses. Mas acrescentou-lhe 5 volumes da década de sessenta elaborados pela Escola dos Altos Estudos Militares de Portugal quando começaram os combates em Angola. Segundo o general Espítrito Santo "os princípios destas guerras são exactamente os mesmos". E segundo o general Loureiro dos Santos " os nossos militares conseguem aproximar-se das pessoas e convençê-las de que o nosso lado é o melhor".E diz ele que , na NATO, os portugueses ainda são reconhecidos como os melhores neste tipo de guerras e que é este o manual que os marines seguem no Afeganistão ( os generais portugueses são citados do i de hoje).
Mas ao tema da inevitável guerra voltarei.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

HOJE APANHEI UM POLVO

Hoje apanhei um polvo!
Hoje mal cheguei à minha ( sim, minha! ) praia de Nª Sª da Guia, em Vila do Conde, às duas da tarde, ela estava como a alcofa confortável do menino Jesus: escassa gente metida com os seus botões, e um silêncio a pressagiar uma qualquer epifania. Por cima da minha cabeça, um sol de afagar, daqueles que não nos fazem suar peguinhentos que nem sapos. E um mar sem ondas, de uma serenidade quase eucarística.
Tive uma premonição: era um dia irrepetível! Entrei logo no mar com os óculos de mergulho mas sem a espingarda que ficara em casa. Água a vinte e tal graus, translúcida dum verde raiado pelo reflexo das tonalidades das algas dos fundos, e da refração da luz numa flora feita de flores amarelas, talvez roxas, outras lilazes ou por aí, que eu sofro de discromatopsia, o que me faz não reconhecer côres transitórias mas me dá o privilégio de captar o brilho das coisas.
Entrei no mar como faca em manteiga. E com os óculos postos fui nadando seguido por um enorme cardume de uns pequenos peixes totalmente brancos que me cercavam e me provocavam para a brincadeira, e eram do tamanho duma moeda dum euro e tão transparentes que podia ver-lhes a coluna e as espinhas. Palavra de honra.
Volta e meia, e de súbito, passavam por nós, majestáticos casais de robalos. E eu, sem a minha espingarda submarina!...Mas ele há dias assim, em que Deus nos propõe e nos obriga à contemplação. Mas Ele mudou de ideias e fez de mim um "homo nautilus" caçador: foi quando vi um polvo lá num fundo, entre duas rochas a mudar de côr e a mingar de tamanho no seu melhor disfarçe. Deve ter sido porque não gosto de seres que andem disfarçados, mas , uns segundos a pensar, hesitante pelas consequências, e decido-me: dobro a coluna, faço pender a cabeça para baixo, dou impulsão com os pés e mergulho uns três metros para apanhar o polvo com a mão. As ventosas agarram-me o braço mas quando chego à superfície para nadar em direcção à praia o meu braço vai no ar com o orgulho dum porta-bandeira das suas hostes.
Um ex-pescador ensina-me, já no areal, a matar o polvo com um murro na cabeça ( do polvo ).
Ora isto encheu-me o dia! Porque não é sempre que tanta beleza se associa a tanta novidade.
Foi em Vila do Conde, mas não digam nada que para isto se manter assim tem de ficar em segredo.
E depois não é todos os dias que a gente vai nadar e apanha um polvo à mão. É mais raro que fazer amor! mais raro que arranjar emprego! Mais raro que ser progenitor! E como o que é raro é caro, vejam bem , hoje apanhei um polvo!
P.S. E esta, meu amigo Manuel de Sidney, Austrália, aí também há praias assim ?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

OS 5 PECADOS MORTAIS DA CONDIÇÃO LUSA. 5: A FALTA DE EMPATIA

Se a emulação presente na inveja e a intolerância presente nas definições a que se agarram os néscios para se sentirem definitivos, têm ambos a vêr com a consciência da modernidade, há um outro pecado mortal da actual civilização: a ausência ou definhamento da empatia.
A empatia era uma dimensão quase paradigmática da, e na, consciência romântica. Foi definhando com a consciência moderna. Por isso, as relações entre sujeitos tornaram-se mais epidérmicas, mais distantes e menos regulares. Em contrapartida, à medida que minguava a empatia, crescia a dimensão ajuizativa, o que foi provavelmente inevitável porque só julga quem não é capaz de compreender empaticamente. Mas também, porque julgar pressupõe a existênciaa da verdade consagrada. E do reino da Razão.
Mas afinal em que consiste a empatia?
Há muitos, muitos anos, Avicena, o famoso médico árabe, foi chamado pelos amigos de um príncipe doente : queriam que o curasse. Diziam-lhe que após consultas a todos os outros médicos, Avicena era a última esperança.
Avicena perguntou pelos sintomas do príncipe. Os amigos explicaram que o doente teimava em declarar que se tinha transformado numa vaca e exigia ser abatido.
Quando Avicena chegou ao principado verificou que já todas as pílulas, purgantes, ventosas e sangrias haviam sido ensaiados, mas o príncipe insistia que era uma vaca e exigia ser abatido.
Avicena entrou no palácio e tentou primeiro saber tanto quanto possível sobre o príncipe ouvindo todos. E naquele país havia tantos que gostavam de falar!!!.... Depois tentou compreender o príncipe escutando-o : mas como ele não dizia mais que "mmmuuuu", isso nada adiantou no que respeita ao comportamento suicidário do príncipe.
Finalmente disse-lhe:-" Sim, sim, agora compreendo que és uma vaca e deves ser abatido. Mas estás tão magro...que antes vai ser necessário engordar-te um pouco! ". Ouvindo isto, o príncipe aceitou comer, coisa que não fazia há muitos dias, e então, lentamente,....o final é óbvio!.
Se Avicena se tivesse identificado com o príncipe, teria sido talvez simpático, mas haveria duas vacas exigindo ser abatidas. Se tivesse antipatizado, o príncipe negar-lhe-ia a sua confiança. Com a empatia, conseguiu ajudar.
Assim a empatia é sentir com o outro, é sentir como ele sente.
Ora, pode não haver qualquer lógica ou razão no modo como alguém (se) sente..Daí também que que a empatia nunca pudesse ser a atitude dominante da consciência moderna ( que previligia a Razão ). Já o era, porém na consciência romântica ( que prviligia a Paixão ) : que mais estrita empatia pode existir para além do mais caloroso enamoramento?
Por isso, uma sociedade mordida pela modernidade tende a ser uma sociedade em que a intimidade e o seu direito estão constantemente a ser agredidos.
Todos são na modernidade, simultâneamente juízes e arguídos uns dos outros. De forma mais ou menos subtil. Mas juízes. Uma mulher encontra uma velha amiga que já não vê há muito tempo e atira-lhe: -"Ah!...nem te reconhecia, eras tão magra!". O que pode ser entendido como:-"Ah!..., como estás deselegantemente gorda!". O que significa que quem ajuíza tem por si uma espécie de Código Civil dos Pesos Ideais. Mas podia ser a mesma mulher a ouvir a mesma exclamação da boca da outra. Ambas vivem na consciência da modernidade e ambas julgam e acham natural ser julgadas.
Competir e ter sucesso, eficácia e estar na moda e sobretudo aparentar tudo isto, são noções que à modernidade importam e que arrastam consigo a necessidade permanente de medir.
Mas quem compreende não mede.
Não se pode pesar ou medir a insustentável leveza e a incomensurável infinitude do ser.
Ora, ao Poder interessa o o juízo e não a compreensão ou a empatia.
Se empatizasse, o Poder não poderia julgar. E se não julgasse, como poderia exercer o poder?
Podemos questionar-mo-nos se há poder sem julgar. Aparentemente, não.
Mas a questão é muito mais outra: não será que menos atitudes ajuizativas do Poder produzem cidadões mais compreensivos, e por essa via mais tolerantes? Com-vivendo melhor?
Parece pois que na nossa sociedade há empatia a menos e intolerância a mais.
Estas características não se cingem aquelas duas amigas donas-de-casa acima descritas. Não. Elas tudo invadem. Da educação aos espaços lúdicos. Do modo como os políticos são, à organização dos partidos. Da moralidade comum à organização do trabalho e à economia. Tudo impregnam desde o berço.
O que pode fazer crer que é um fado. Mas não é.