sexta-feira, 27 de julho de 2012

GEOPOLÍTICA DA GUERRA QUE AÍ VEM -1

As guerras do Levante (I) surripiado  do cachimbo de magritte


A Síria é agora a porta que uns querem abrir (ou arrombar) e outros querem manter bem fechada. Muitos perguntam porque se prolonga e agudiza aquela guerra dado que aparentemente não há móbil económico conhecido, porque investem tanto a Rússia como a Turquia naquele país, em lados opostos, porque há homens da CIA e da Mossad também no terreno em apoio aos rebeldes, sem no entanto conseguirem ouvir uma explicação que os satisfaça e que una os pontos. Aviso que não tenho essa pretensão, apenas desejo escrever sobre uma vertente desta complexa guerra.
Muito do que vemos e ouvimos no espaço informativo não ajuda, explica mal o que se está a passar no terreno e muito pouco do que efectivamente acontece nos bastidores da política internacional. A informação que nos chega sobre a guerra civil na Síria merece e deve ser devidamente filtrada; nomeadamente a do mainstream noticioso (da CNN à Al-Jazeera) e das despreocupadas agências noticiosas nacionais.
Uma razão para nós europeus exigirmos ter melhor informação é porque esta guerra ainda nos diz respeito – esta é, também, uma guerra pelo acesso aos mercados europeus e em particular ao mais apetecível de todos: o mercado da energia.
Vejamos então esta vertente da guerra (não sei se a mais importante), o caso concreto do mercado da energia: a Europa é ainda um muito desejado mercado para os países exportadores de recursos energéticos e não está a conseguir libertar-se do espartilho movido há já algum tempo pela Rússia. Face às quantidades em jogo para satisfação das necessidades futuras de energia na Europa, agora que países como a Alemanha, a Bélgica e a Itália desistiram da opção nuclear, poucas são as soluções alternativas aos russos. Na verdade, para as quantidades em jogo, havia apenas duas alternativas aos russos: o Norte de África e o Irão, todas as outras apenas mitigavam o problema. O gás que possa vir de outros países de leste como o Azerbeijão ou do Turquemenistão não ameaça seriamente as ambições de Putin. A Rússia conduz uma estratégia sem diversificação que também a torna, cada vez mais, dependente da cativação da Europa – de quem quer ser o principal fornecedor arriscando a que esta seja o seu principal consumidor. A dependência económica russa dos recursos naturais (energias fósseis), e a falta de mercados de dimensão alternativos à Europa, faz com que o fracasso desta estratégia não seja sequer admissível por Moscovo – poderiam conduzir a convulsões sociais inimagináveis.
A estratégia da Rússia passa por “secar” as alternativas concorrentes através de alianças estratégicas. Depois das alianças com as companhias energéticas alemãs e até mesmo com os governos regionais na Alemanha já conseguiu alianças estratégicas com importantes países europeus, países que podiam oferecer entradas a sul: a Itália e a França. À Itália (à ENI), com o elevado patrocínio de Putin, amigo e aliado indefectível de Berlusconi, foi oferecida participação em importantes investimentos em projectos na Rússia e nos gasodutos que transportarão o gás de leste até à Europa. Com a França foi usada a mesma estratégia e a GDF tem já um importante conjunto de alianças na Europa com a Gazprom. A neutralização destes dois países era importante, ambos podiam oferecer uma alternativa ao gás da Rússia, o gás proveniente do Norte de África, nomeadamente da Argélia, e da Líbia. Sabendo o estado a que foi conduzida a região não é necessário fazer aqui mais desenvolvimentos sobre esta hipótese e a confiança que esta oferece aos investidores.
Sobra ainda a outra alternativa, capaz de satisfazer o apetite energético europeu e competir com os russos: o Irão.
O Irão, por razões sobejamente conhecidas, era até há pouco uma carta fora do baralho para o fornecimento de energia à Europa, até que a Turquia (secundando a China) a resolveu usar. Desde que o poder mudou na Turquia, a sua relação com o Irão tem sido muito ambígua, parecendo acatar as resoluções internacionais mas simultaneamente defendendo-o da aplicação das sanções económicas e até aumentando as trocas comerciais com aquele país. Uma das razões é a sua dependência energética. A Turquia vem mantendo com a Rússia um importante braço de ferro energético (mas também alianças pontuais) e não deseja aumentar o seu grau de dependência - as ambições de potência regional assim o exigem. A Turquia anunciou recentemente um importante investimento – o início da construção de um gasoduto de 5000 km com capacidade para 35 Bcm/ano para simultaneamente importar gás directamente do Irão para o seu mercado interno e exportar para a Europa (o curioso, e para quem não saiba, é que o gás iraniano, ao contrário do petróleo não está sujeito a sanções). A Rússia nunca acreditou seriamente na concorrência iraniana pelo mercado energético europeu, e sempre desconfiou da possibilidade da concretização de uma aliança de iranianos e turcos – a história corroborava esta opinião suportada na falta de confiança mútua. Pode não passar de um bluff de Erdogan, para objectar à decisão russa pelo South Stream, vamos aguardar para ver porque a história não acaba aqui.

Por agora, os russos estão demasiadamente concentrados a dificultar a vida a um concorrente de última hora, bem mais credível - o mais recente potencial petro-estado do Mediterrâneo Oriental. Estão a tentar obstruir a entrada do gás de Israel no mercado energético da Europa, pelo corredor do Levante: a Síria. É que Israel, como a Rússia, alimenta a ambição de abastecer a Europa, depois das extraordinárias descobertas de gás na bacia do Levante.

No próximo post vou tentar explicar as ambições israelitas e como se cruzam na guerra civil da Síria os interesses opostos de Israel e da Rússia numa violenta guerra que é também económica. Esta é uma das guerras que se trava no Levante.

(contínua)

E EIS QUE, FINALMENTE , FOI AVISTADO UM SOCIAL-DEMOCRATA NA SERRA DA MALCATA !!!

A espécie, afinal, ainda não se extinguiu surripiado do cachimbo de magritte:

É verdade. Escutaram-se vocalizações inconfundíveis de um indivíduo da espécie em questão. Já quase se tinha perdido a esperança de haver vida inteligente naquele ecossistema. Havia já sinais que levavam a crer haver ainda daqueles indivíduos -  inteligentes, mas com um comportamento mais discreto, por estarem em inferioridade numérica relativamente a outros especímenes. Estes últimos, dotados de equivalências zoomórficas e valendo-se de outros expedientes, acabam por mitigar as suas capacidades intelectuais inferiores com a espessura notória das caixas cranianas, com a vantagem do número e com as reacções em manada, nas proximidades das zonas donde vão retirando o seu sustento.
Mas, agora, é certo: para espanto da comunidade científica, já quase desenganada, e dos simples como eu, foi avistado e escutado um social-democrata no Partido Social Democrata. Podem ouvir, aqui, a partir dos 3m. 50s.
Carlos Botelho às 12:01 | comentar | ver comentários (3) | partilhar

GEOPOLÍTICA DA GUERRA QUE AÍ VEM

As guerras do Levante (II)    Surripiado do cachimbo de magritte sem sua licença:


A Europa necessita rapidamente de gás para satisfazer a sua sede de energia, e a sua produção própria está em declínio. São necessários aproximadamente 30 Bcm/ano de capacidade de reserva para não fazer aumentar, ainda mais, a dependência da Rússia. E para estas quantidades, como expliquei no post anterior, não há muitas alternativas – e algumas que havia foram colocadas a hibernar.
Em Dezembro do ano passado falei aqui da ebulição que está a acontecer no Mediterrâneo Oriental onde de repente se preparam para despontarem dois petro-estados: Chipre e Israel. O problema é que ambos disputam com países vizinhos os limites territoriais das suas reservas energéticas o primeiro com a Turquia e o segundo com o Líbano e a Síria.
Estes recursos estão situados no mar mediterrânico, na bacia do Levante onde se estimam que existam reservas de aproximadamente 122 Tcm de gás e 1,7 biliões de barris de petróleo para o conjunto dos quatro países (fonte da empresa americana que ganhou as concessões para a exploração). E aqui, Israel já se antecipou e promete em cinco anos uma capacidade de exportação na ordem dos 20 Bcm/ano na forma de gás natural liquefeito (LNG). Os grandes projectos em curso são Tamar (o mais adiantado) e o Leviathan, onde estão projectadas grandes plantas de extracção e liquefacção de gás para depois o exportar na forma de LNG. Esta opção é aparentemente a mais racional oferecendo a Israel a hipótese de exportar para a Europa ou para a Ásia, onde o gás poderá valer mais. Hoje ninguém parece acreditar na possibilidade de exportação directa deste gás para a Europa por gasoduto terrestre, onde o gás israelita podia competir directamente com o gás russo. E porquê? Porque neste caso teria que atravessar a Síria.
Como todos concordam, um resultado favorável para Israel, da guerra civil na Síria, é a queda do regime e a sua substituição por um menos incompatível – este é um factor decisivo (como se diz em português moderno um gamechanger) neste enorme jogo de interesses económicos. Primeiro, porque pode abrir a alternativa a Israel do gasoduto terrestre passando pela Síria e pelo apetecível mercado turco e com entrada no mercado da UE pela Grécia. Segundo, mesmo com a opção pelo gás natural liquefeito a queda do regime sírio poderá tirar o apoio ao Hezbollah no Líbano, o que para além de aumentar a segurança das fronteiras terrestres a norte de Israel, vai também aumentar a segurança no mar Mediterrâneo protegendo as infraestruturas energéticas de potenciais ataques hostis; e, mais importante, favorecer a negociação das fronteiras marítimas em disputa com os governos do pós-guerra do Líbano e da Síria para a distribuição de tão valiosos recursos energéticos. Quanto à hipótese de um gasoduto submarino que ligue também o Chipre e entre na Europa directamente pela Grécia – pessoalmente, acho que não interessa nem à Turquia e menos ainda aos investidores americanos, pelo facto de passarem ao lado deste enorme mercado e importante aliado.

Neste caso, por muito que os média fustiguem a opinião pública mundial com as barbaridades da guerra, a Rússia nunca estará disponível para colaborar – não abrirá de boa vontade o corredor do Levante a Israel e às empresas petrolíferas americanas. As guerras têm sempre uma componente económica, e esta não é diferente.
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Victor Tavares Morais às 00:07 | comentar | ver comentários (6) | partilhar

AMIGOS UNS DOS OUTROS ATÉ Á GUERRA

Crise da Zona Euro

O que precisa de ser dito

26 julho 2012
Süddeutsche Zeitung Munique
Em tempo de crise, é importante chamar as coisas pelos seus nomes. E para tal, podemos contar com os políticos, ironiza o jornal "Süddeutsche Zeitung", que preparou uma antologia de citações desde o início da crise do euro.
“A Rússia não é a Grécia.” (Vladimir Putin, primeiro-ministro russo, março de 2010)
“A França não é a Grécia.” (Christine Lagarde, diretora do Fundo Monetário Internacional, maio de 2010).
“Portugal não é a Grécia e a Espanha não é a Grécia.” (Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, maio de 2010).
“A Espanha não é a Grécia. Mas se a Grécia chegou onde está, foi por causa de uma política semelhante à de Zapatero em Espanha.” (Mariano Rajoy, dirigente da oposição espanhola, maio de 2010).
“Hungria não está na mesma situação da Grécia.” (Olli Rehn, comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários, junho de 2010).
“A Hungria não é, obviamente, a Grécia.” (György Matolcsy, ministro húngaro da Economia, junho de 2010).
“A Espanha não é nem a Irlanda nem Portugal.” (Elena Salgado, ministra espanhola das Finanças, novembro de 2010).
“Nem a Espanha nem Portugal são a Irlanda.” (Angel Gurria, secretário-geral da OCDE, novembro de 2010).
“A Irlanda não é a Grécia.” (Angela Merkel, chanceler da Alemanha, novembro de 2010).
“A Grécia não é a Irlanda.” (Giorgos Papakonstantinou, ministro grego das Finanças, novembro de 2010).
“A Irlanda não faz parte do território grego.” (Brian Lenihan, ministro irlandês das Finanças, novembro de 2010).
“A Irlanda não é a Grécia.” (Michael Noonan, ministro irlandês das Finanças, junho de 2011).
“A França não é a Grécia e também não é a Itália.” (Barry Eichengreen, professor americano de Economia, agosto de 2011).
“A Itália não é a Grécia.” (Rainer Brüderle, presidente do FDP no Bundestag, agosto de 2011).
“A Itália não é a Grécia.” (Silvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano, outubro de 2011).
“A Áustria não é a Grécia.” (Karlheinz Kopf, presidente do grupo parlamentar do Partido Popular Austríaco, novembro de 2011).
“A Itália não é a Grécia.” (Christian Lindner, secretário-geral do FDP, novembro de 2011).
“Portugal não é nem será a Grécia.” (António Saraiva, presidente da Confederação Industrial Portuguesa, fevereiro de 2012).
“A Espanha não é a Grécia.” (Richard Youngs, presidente do grupo de reflexão madrileno FRIDE, maio de 2012).
“Portugal não é a Grécia.” (Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro português, junho de 2012).

“A Itália não é a Espanha.” (Ed Parker, diretor da agência de notação Fitch, junho de 2012).
“A Grécia não é a Argentina.” (Yiannis Stournaras, ministro grego das Finanças, julho de 2012).
“A Alemanha não é o Zimbabué.” (Paul Casson, gestor de fundos da Henderson Global Investors, junho de 2012).
“A Espanha não é o Uganda.” (Mariano Rajoy, primeiro-ministro de Espanha, junho de 2012).
“O Uganda não tem vontade nenhuma de ser a Espanha.” (Asuman Kiyingi, ministro ugandês dos Negócios Estrangeiros, junho de 2012).
O título desta recolha de citações remete para o poema publicado por Günter Grass, em abril, no mesmo jornal. Muito crítico em relação a Israel, deu origem a acesa polémica.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

TOUT VA BIEN

TOUT VA TRÉS BIEN MADAME LA MARQUISE

surripiado do blogue de jose pacheco pereira:
O hino dos nossos dias devia ser esta velha canção francesa  de Ray Ventura. Primeiro a marquesa telefona ao mordomo inglês James a perguntar por notícias.

Quelles nouvelles ?
(…) Que trouverai-je à mon retour ?

James responde : 

Tout va très bien, Madame la Marquise,
Tout va très bien, tout va très bien.

Tudo está a correr bem. Os objectivos estão a ser cumpridos. O ajustamento está a ocorrer mais depressa do que esperado. Já há sinais de recuperação da economia. Pela primeira vez, desde 1943, a balança comercial vai ter um superavit. O país está a mudar para melhor. Os portugueses estão a mudar de hábitos para melhor. Com os salários mais baixos a nossa economia é mais competitiva. Etc., etc,
E no entanto…

On déplore un tout petit rien
 Un incident, une bêtise,

há uns pequenos problemas, Madame. Uns pequenos nadas, uns incidentes de percurso, umas asneiras sem consequências. Morreu a égua de Madame. É pena, mas é coisa ínfima.

Mais, à part ça, Madame la Marquise
Tout va très bien, tout va très bien.


O desemprego tem sido uma “surpresa”. A quebra do consumo interno foi maior do que a “esperada”. Falências e insolvências de empresas e família são aos milhares. O sistema de segurança social está sob tensão. Mas isso é o preço a pagar pelo “ajustamento”. Ah! Já me esquecia, o défice tem um “desvio colossal”, antes mesmo da decisão do Tribunal Constitucional.

Mas por que é que isso aconteceu? Como morreu a minha estimada égua, meu exemplar criado? Bom, Madame, um pequeno incêndio na estrebaria. Na verdade, a estrebaria pegou fogo porque o castelo também ardeu, porque o Marquês, cheio de dívidas, suicidou-se, caiu em cima dumas velas e lá se foi o castelo.

Eh bien ! Voila, Madame la Marquise,
Apprenant qu'il était ruiné,
A pein' fut-il rev'nu de sa surprise
Que M'sieur l'Marquis s'est suicidé,
Et c'est en ramassant la pell'
Qu'il renversa tout's les chandelles,
Mettant le feu à tout l'château
Qui s'consuma de bas en haut ;
Le vent soufflant sur l'incendie,
Le propagea sur l'écurie,
Et c'est ainsi qu'en un moment
On vit périr votre jument !

Mas,
Cela n'est rien, Madame la Marquise
À part ça, Madame la Marquise,
Tout va très bien, tout va très bien.

Estamos em 1935, a três anos de Munique, a quatro da segunda grande guerra. Presumo que Madame la Marquise apoiou vivamente Pétain, James voltou a Inglaterra e combateu em Dunquerque, e o castelo, ou o que sobra dele, foi vendido a uma empresa americana de real estate que prepara moradias de luxo para os príncipes árabes. Tout va bien. É só uma canção.

terça-feira, 24 de julho de 2012

recessão mundial e falencia dos Estados Unidos bem como colapso das bolsas entre Setembro e Novembro

FMI: Zona Euro é o ponto fraco. A instituição liderada por Christine Lagarde atualizou as suas previsões sobre a economia mundial. Reduziu a previsão do crescimento mundial para 2012 e 2013. Repetiu que a crise das dívidas soberanas da zona euro é o mais importante risco imediato e deixou uma interrogação sobre os EUA.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) na sua atualização do “World Economic Outlook” reviu em baixa as previsões para a taxa de crescimento da economia mundial, que prosseguirá o abrandamento verificado desde 2011.
Depois de uma taxa de crescimento de 5,3% em 2010, quando terminou a primeira fase da atual Grande Recessão, o crescimento mundial abrandou para 3,9% em 2011 e o FMI estima que abrandará ainda mais em 2012, com uma previsão de 3,5%. Em 2013 – o ano crítico para o plano de ajustamento português -, a previsão é que regresse a um crescimento de 3,9%. Estamos longe obviamente da recessão de 2009, quando o PIB mundial caiu 0,7%.
A revisão implicou um “corte” de 0,1 pontos percentuais na previsão para 2012 e de 0,2 pontos percentuais para 2013. O “corte” em 2012 derivou de uma apreciação menos otimista para a taxa de crescimento nos EUA, Reino Unido, Novos Países Industrializados da Ásia, Índia, China (neste caso, a previsão é, ainda, de 8% em 2012, ao contrário do que pensam muitos analistas que preveem um crescimento abaixo desse patamar) e Brasil. Para 2013, o “corte” deriva de um corte nas expetativas para a zona euro no conjunto, Espanha, Reino Unido, Índia e China. Nos BRIC, o abrandamento mais importante e continuado desde 2011 é o da Rússia, e no conjunto do G20 o do México. O Brasil, a China, a Índia, a África do Sul e os Novos Países Industrializados da Ásia conseguirão taxas de crescimento mais elevadas em 2013 do que as previstas para 2012.
Risco mais imediato na zona euro
O traço marcante de 2012 é a recessão na zona euro, prevendo-se uma quebra do PIB da área da moeda única em 0,3%. Duas das quatro grandes economias da zona euro estarão em recessão em 2012 e 2013 – Espanha e Itália – e duas das cinco grandes economias da União Europeia – França e Reino Unido – estarão em quase estagnação em 2012.
A situação na zona euro é considerada “o risco mais imediato” nesta segunda fase da Grande Recessão iniciada em 2007. A deterioração dos mercados da dívida soberana na zona euro “demonstram que a implementação atempada destas medidas [tomadas na cimeira europeia de 28 de junho], com progressos nas uniões orçamental e bancária, deverão ser a prioridade”. O problema europeu pode, ainda, ser mais agravado com a “fadiga do ajustamento”, refere a atualização ao “Global Financial Stability Report” do FMI. A evolução política grega seria o seu sinal precoce.
O FMI gostaria que o Banco Central Europeu fosse mais longe do que as decisões tomadas na última reunião do conselho de governadores do início deste mês, no caso das “condições económicas continuarem a deteriorar-se”. Nesse caso, o FMI recomenda a reativação do programa de compra de títulos soberanos no mercado secundário (conhecido pela sigla SMP), novas operações de liquidez do tipo das LTRO a 3 anos lançadas por Mário Draghi, e a “introdução de alguma forma de alívio quantitativo” (como tem sido o timbre do Banco de Inglaterra e da Reserva Federal norte-americana).
À espera das eleições nos EUA
A segunda dor de cabeça para a instituição liderada pela francesa Christine Lagarde poderá ser os EUA. O FMI chama-lhe “um risco latente”. O problema orçamental, dependente dos resultados das eleições presidenciais deste ano, marcará a evolução norte-americana. O chamado penhasco orçamental (fiscal cliff) poderá causar um declínio severo no crescimento dos EUA, com efeitos significativos no resto do mundo, alega o FMI. Se os EUA não aumentarem o teto federal da dívida pública, aumentará o risco de uma “disrupção financeira de mercado e uma perda de confiança no consumo e nas empresas”, acrescenta-se. O FMI teme que o “penhasco orçamental” e o debate sobre o teto da dívida coincidam no tempo. O que geraria uma situação explosiva. Pior do que a de agosto de 2011.
As “bolhas” nas economias emergentes, derivadas das medidas de estímulo, são uma terceira linha de preocupação do FMI. Ainda que, no conjunto, diz o FMI, “os mercados emergentes aguentaram bem a crise”.
Nota: a conjugação no tempo entre Setembro/Outubro/Novembro do cumprimento do tecto orçamental aprovado pelo Senado , com os aumentos de impostos decididos pelo Presidente, bem como os cortes generalizados das despesas públicas já inscritas no programa orçamental os Estados Unidos vão fatalmente atirr este país para a recessão. Uma recessão na América somada a outra Europeia afundam todo o mundo. Mas a somar a este caos, há o "estouro" previsto para essa altura da banca americana e da Grã-Bretanha mergulhada em créditos mlparados colossais que têm andado escondidos nos balanços anuais e das burlas colossaias que se começaram , só agora , a descobrir... Depois o problema na chamada "Assíria" vai fazer o resto : a guerra provavelmente sistémica.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

AUSTERIDADE A MAIS

Austeridade a mais pode “repetir” o que se passou na Alemanha pré-nazi. Quem o diz é Ewald Nowotny, governador do Banco da Áustria e membro do conselho de governadores do BCE, que traça um paralelo com as políticas de austeridade na Alemanha no começo dos anos 30, ambiente que facilitou a chegada ao poder de Adolfo Hitler.
Surpreendentemente, um membro do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) alerta para os perigos de políticas de excessiva austeridade fazendo um paralelo histórico com o que se passou na Alemanha no princípio dos anos 1930, depois da eclosão da Grande Depressão nos Estados Unidos. A comparação foi feita por Ewald Nowotny, governador do Banco da Austria, o banco central, e membro do conselho de governadores do BCE, conta o jornal alemão Süddeutsche Zeitung.
Numa conferência, Nowotny recordou que as políticas de austeridade excessivas seguidas pelo então chanceler Heinrich Bruning, um especialista em finanças, na parte final da República de Weimar, produziram uma situação de crise profunda, desemprego em massa, e agravamento da situação política interna que criou as condições próximas para a subida do nazismo ao poder.
O filme desta degradação política durou pouco mais de dois anos, e recorda-se, a seguir, muito brevemente.
Em março de 1930, o presidente Paul von Hindenburg nomeou Bruning chanceler, mesmo sem maioria parlamentar de apoio, passando a governar por decretos de emergência, nomeadamente aplicando uma receita de austeridade extrema, no meio de uma Grande Depressão então global. Desemprego em massa criando franjas de miséria, empobrecimento da classe média com radicalização política de diversos segmentos, movimentos nos grandes grupos empresariais e financeiros e grande turbulência política levaram à queda de Bruning em maio de 1932.
A partir dessa altura sucederam-se vários governos e duas eleições legislativas nesse ano, em julho e novembro, em que o partido de Hitler se afirma como principal força política, com mais de 30% de votos. A 30 de janeiro de 1933, Hitler é nomeado chanceler.
Uma ideia muito divulgada atribui à situação de hiperinflação na República de Weimar a responsabilidade da muito posterior crise política dos anos 1930. Mas não é correta. O período de hiperinflação durou entre 1921 e 1924. Seguiu-se um período de crescimento até ao rebentar da Grande Depressão em 1929 conhecido como Goldene Zwanziger, os “Anos vinte dourados”.