sábado, 30 de maio de 2009

EUTANÁSIA

Acabo de ouvir o Dr. Paulo Portas dizer em plena campanha eleitoral para as europeias que o CDS é contra a eutanásia por que é a favor da dignidade da vida.


Primeiro, o Portas irritou-me, e deu-me vómitos, azia, enjoos, náuseas e volta ao intestino, com vossa licença.


Segundo, o Portas não sabe o que é falta de dignidade senão há muito que tinha desaparecido por vergonha.


Terceiro, o Portas mexeu comigo porque, por causa dele e doutros assim, posso sofrer de morte indigna.


Quarto, quero que o Portas vá cheirar frutas podres nas feiras, mas que me deixe decidir a minha vida com a mesma liberdade com que eu o deixo que ele decida da sua.


Quinto, depois da cena da bavaroise (ou lá como é que se escreve este queque) com o seu querido amigo Marcelo, o Portas está caracterizado como o inocente útil da direita bonapartista.


Sexto, este Portas :


cheira-me mal, e não é defeito do meu olfato.


Tudo o que o Almada disse do Dantas no seu prodigioso Manifesto, digo eu do Portas; com a devida diferença de o Portas não chegar ao calcanhar do Dantas apesar de também gostar de Cardeais.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

sweet Manuela away

Quando a vida me parece mais cinzenta faço os possíveis por contrariar isso com alguma diversão. Desta vez indicaram-me a entrevista que a senhora Manuela Moura Guedes, Eu-Sou-A de apelido, deu ao senhor Bastonário dos advogados na TVI. Bem sei que quem ali era a entrevistadora na minha pequena opinião devia ser a senhora Eu-Sou-A, mas depressa a senhora começou igual a si mesma: juízes de valor em vez de juízos de facto com o seu cortejo de ironia, chiste e sarcasmo que, em si mesmos são como que uma condenação de deportação para as colónias do Inferno. E daí não vem mal nenhum ao mundo, oh senhor Bastonário! Porque o senhor bem sabia que o tipo de jornalismo da senhora Eu-Sou-A é opinativo. Ela diz que não mas se a gente sabe que sim, já estamos avisados. Portanto, senhor bastonário não percebo porque é que se irritou tanto.
A senhora da TVI tem "doxas" ( quer dizer opiniões para os filósofos gregos ) e por vezes tem dias. Por isso eu também tenho o direito ter a minha pequenininha opinião e achar que as opiniões da senhora Eu-Sou-A, valem um pouco menos que a dum travesti recém chegado de Curitiba sobre um tal de José Sócrates que achasse que é nome de um filósofo grego sem doxas em certos dias.


DE PROFUNDIS II

Quanto mais penso no meu amigo que está com cancro do colon mais penso no modo de ser dele.
Quando qualquer coisa de semelhante acontecia na minha adolescência, ouvia os meus pais encarregarem-se de chamar o destino à colação. "Era o destino".
Para o meu voluntarismo isso era uma espécie de tortura : então onde pairava o livre arbítreo, tão importante para a consistência da minha vivência de católico?
Com o tempo, e a formação médica e psiquiátrica fui encontrando as "evidências", como hoje se diz, na medicina. Raramente ouvi coisas verdadeiramente novas na psiquiatria que já não estivessem ditas pelos clássicos. E uma delas era a correlação entre modos de ser e o padecimento de determinadas doenças. Por exemplo, um corpo esguio com uma face seca e rugosa de tensões e emoções associada a traços de grande meticulosidade e escrupulosidade, e o surgimento de certa patologia digestiva. Então onde se escondia o livre arbítreo?
Não tenho a certeza, mas tenho uma pista: se não posso mudar a biotipologia do meu corpo posso provavelmente mudar o modo de fazer a vida : com outra vivência do Tempo, mais dilatada, e outra forma de ser mais solta e menos sôfrega do fazer. Não lutando contra a Natureza, mas apoiando-me nela para meu proveito.

DE PROFUNDIS

Liguei hoje a um colega de curso e atira-me ele:-"Já sabes o que aconteceu a Fulano?".
Fiquei a saber : tem um cancro do colon metastizado. Já pediu a demissão dos seus cargos e começou a quimioterapia. Tudo numa semana.
Fizemos juntos a caminhada política do antes do 25 de Abril. Sofremos na pele (muito mais ele do que eu) o tropismo homicida e suicida do PREC, adaptamo-nos juntos à democracia actual com fortes divergências políticas, mas aquilo que aos vinte anos nos uniu, a saber o sonho de um país muito melhor, permaneceu sempre. Um patriota uma vez encontrado nunca se esquece da felicidade de o ser. Por isso continuou a sê-lo, provando-o não como ministro que muito melhor que outros teria sido, mas na posição bem mais difícil de aguentar e amortecer os conflitos duma classe difícil e particularmente incoerente: a dos médicos.
Ainda hoje outra colega não me percebia quando eu dizia, como socialista, que sou patriota ( ou faço o possível para o mostrar quotidianamente). E percebi que vai por aí uma grande confusão. Um patriota pode estar ( e tenho a certeza de que está ) em qualquer partido político. Com tanta palha democrática, já os mais novos confundem nacionalismos (também legítimos como os vários comunismos mais ou menos internacionalistas ) com patriotismo. Imaginem Portugal cheio de anti-patriotas, acham que existia?
Pois o meu amigo que está doente, confunde-se-me com a minha Pátria e está nas minhas orações.

terça-feira, 26 de maio de 2009

CULTURA BIBLOT II

É difícil dar uma entrevista mais demolidora sobre a chamada Alta Sociedade Portuguesa, do que aquela de que aqui escrevi, com o mesmo título deste apontamento. O que levanta várias questões. Sendo que o primeiro foi à época o captar o efeito demolidor desta entrevista pelo Eduardo Prado Coelho. E isso aconteceu porque E.P.C. foi um intelectual brilhante no modo como sempre pensou e como actuou no dia-a-dia.
É que ser instruído como E.P.C. não é o mesmo que ser culto ( como ele sempre foi).
Os chamados intelectuais são necessariamente instruídos e geralmente eruditos, mas será a Alta Intelectualidade Portuguesa culta? Creio que não. Ao olhar para os inúmeros intelectuais deprimidos, ar cansado ao peso do que acham ser o conhecimento da Vida, neuróticos, suicidas e recasados não sei quantas vezes ( pela "inquietação" da criação....certamente ), vivendo na mais tórrida solidão ( que fazem questão que a gente conheça mas sempre usando métodos de quem não quer que a gente saiba ), agressivos até ao sarcasmo feito verbo e nauseados da vida, acho mesmo que não. Não, não são genericamente gente culta.
Em contrapartida conheci pelos meus 17/20 anos um homem culto: era alegre sem ser pateta, não sofria de singulares angústias, era viúvo de lei mas vivia na conjugalidade com a sua mulher morta mas sempre presente na sua memória, e aceitava os factos da vida com a naturalidade possível enquanto convidava gente como eu a solidarizar-se com ele na comunhão dumas fêveras de porco ou e na descrição de particularidades das árvores que vira nascer e crescer e às quais dava nomes de coisa viva : era um guarda florestal do Gerês e não tinha mais que a terceira classe. Esse, era um homem culto.
Então entre a Alta Sociedade e a Alta Intelectualidade não há mais nada?
Acho que sim. O guarda do Gerês faz parte desse grupo. Mas tenho na minha família outro caso exemplar. Uma tia, a minha tia Olga, que desde sempre se devotou : primeiro aos pais com quem decidiu viver acompanhando-os na velhice e na doença, em vez de casar ; depois aos sobrinhos, e dentre eles eu mesmo, aos quais se dedicou como uma mãe; e mais tarde aos trabalhos da Igreja fazendo-se Vicentina. E foi nessa condição que se dedicou a visitar e acalentar os pobres deixando-lhes em casa o que podia - toda a sua pequena fortuna. Colegas meus, mais cínicos que eu, diriam que esta mulher era uma neurótica carregada de fantasmas sexuais que se refugiou ( eles diriam sublimou ) numa outra vida. Por mim, que a conheci, devo dizer como psiquiatra que não o era. Recordo como me foi difícil rebater a incredibilidade da minha mãe e sua irmã , e dos restantes irmãos, quando ela já pobre, recusou o Rendimento Mínimo Garantido a que tinha direito por só ter uma pensão de trinta contos ( o resto tinha ida para os pobres) e já estar quase cega, explicando ela que esse dinheiro fazia muito mais falta àqueles que passara a vida a visitar.
Ora eu acho que estes exemplos fazem parte dum grupo maioritário da sociedader portuguesa ( que não passa nos media por vontade própra e porque não morderam nenhum cão) : o grupo da Alta Civilidade.
É que, para mim, a cultura duma pessoa mede-se pela sua capacidade de tentar ser o mais feliz posssível sem prejuízo de outrém, ou seja, mede-se pela forma ecológica de estar na vida inserido nela e ofercendo-lhe o que , em cada momento, achamos poder dar-lhe.
E a este respeito é justo fazer aqui um repararo: não foi o presidente Kennedy que se lembrou de inventar a frase tantas vezes glosada pelos jornalistas e articulistas conhecidos " Americanos, não se perguntem o que é que a América vos pode dar , mas antes o que podeis dar ao vosso país". Na verdade a frase foi escrita por alguém que teve a sorte de lêr um dos maiores ( para mim o maior ) psiquiatra e psicoterapeuta de todos os tempos, de seu nome Viktor E. Frankl, um judeu alemão que sobreviveu aos campos de concentração não tentando fugir aos fornos crematórios mas antes tentando melhorar as condições dos outros presos, assim acabando por sobreviver. Tinha uma máxima: "não perguntes à vida o que ela te pode dar, pergunta-te antes o que é que podes fazer pela existência".
São valores como estes que, esquecidos, nos levaram à crise do capitalismo que estamos a viver. Acho que ou os recuperamos e nos endireitamos, ou não os recuperamos ( o que me parece estar a acontecer para minha surpresa) e dentro de poucos anos vamos ter outra crise.
Mas como só só é capaz de se auto-reformar o que está vivo, se houver próxima crise na continuidade desta, não vale a pena esperar por renovações do sistema (capitalista), porque o sêr estando morto, só permite a revolução.
E, já agora, recordo-me duma cena que, dentre os apontamentos que guardo do dia-a-dia está datado de 8/4/01 e está assim escrito:
No Ano do Porto Capital da Cultura. Fui vêr uma peça de teatro encenada por alunos de uma das novas Escolas Superiores de Arte que o Estado constriu nos últimos anos, e para além do tédio que o teatro moderno me provoca, percebi que aquilo tem já muita técnica adquirida.
Mas quando lá entrei, do subterrâneo dos meus cinquenta anos, interroguei-me porque é que não tinha nada a vêr com aquele público vestido de túnicas, sapatilhas romanas, cabelos entrançados à negra, sujidade por todo o lado e sempre a sugerir humildade. E comentei para uma destas "intelectuais" que me foi apresentada e me irritou supinamente:-"Vejo a tua vaidade através dos buracos das tuas calças de ganga, bem como a tua intencional falta de arranjo e de limpeza contigo mesma. Tudo isso é vaidade e, para mim, a tua vaidade é uma porcaria...".
Ficou a olhar para mim como se eu fosse um marciano.

sábado, 23 de maio de 2009

CULTURA BIBLOT

Henri Michaux dizia que o grande problema dos reis fraceses era nunca tocarem nos puxadores das portas - este prazer estava-lhes vedado .


Lili descobriu aos 37 anos que a sua vida era um erro : nunca tinha feito uma cama nem estrelado um ovo. Daí que tivesse tomado a decisão de começar uma nova vida Um corte terrível mas não inteiramente conseguido, como se vê pela espantosa entrevista com Isabel Coutinho na "Pública".


Porque o desconcertante é que Lili Caneças ( que apesar de tudo ouviu falar em Frank Loyd Wright, Le Courbusier ou Fank Gehry dentre outros, consegue manter hoje um discurso que parece ser a caricatura de si mesmo. Daí que o leitor oscile sempre entre achá-lo patético ou hilariante. Mas podemos fazer disto melhor uso : ele é o mais deslumbrante exemplo de insensibilidade cultural e social de parte da nossa burguesia que vive nas referências analfabeticamente vistosas de uma cultura biblot. Mas de um ponto de vista sociológico trata-se de um material precioso.


Lily casou-se com um homem que vivia na Quinta da Marinha. Viu um filme de James Bond e desejou ir à Jamaica. No dia seguinte a viagem estava marcada. O generoso marido não se poupava a esforços: ofereceu-lhe um Jaguar Type E 4.2 como só havia um outro em Portugal. A lua-de-mel deixou-lhe uma inesquecível recordação: foi no Palace de Saint-Maurice.


"Procurar educar bem os filhos porque o dinheiro vem e vai, e de um dia para o outro pode acontecer uma revolução. O Paulo Portas explica isto - como explica o que para ela é politicamente importante (incluindo a miséria no mundo). Quando se separou do marido, já é azar, acrescentou ao escândalo apaixonar-se por um "hippie". Não era um "hippie" qualquer, dava conferências sobre os mercados financeiros aos nossos ministros e trabalhava em Wall Street. Mas era um "hippie". E por isso, ( ainda não havia o Paulo Coelho), Lily Caneças passou doze anos a vêr o seu interior, num movimento carismático de oração voltado para as coisas espirituais. Isso ajudou-a a suportar as futuras dificuldades económicas. E porquê? Porque " hoje em dia, os juros estão baixíssimos e é muito difícil viver dos juros". O desespero era tal que, à data da entrevista, Lily Caneças estava mesmo a pensar em trabalhar. Felizmente arranjou um emprego modesto mas útil e bem remunerado: apresentadora do Bar da TV, onde classificou a Margarida como a Joana D'Arc de Borba.

Como dizia Prado Coelho, ninguém inventa um discurso assim: só Lily Caneças o pode fazer com autenticidade. E acrescentar como Alberto Caeiro:" O meu segredo é não ter segredo nenhum". Dava para adivinhar.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

MOMENTOS II

Há muito que suspeitava disto, mas nada melhor que o silêncio duma noite de sexta feira para fazer uma revisão rigorosa das mulheres que conheci ao longo da minha vida: mostra como elas se parecem com arminhos ingleses que tivessem sido cruzados com spaniels - mordem e fazem festas ao mesmo tempo.

MOMENTOS III

Maio mariano, sem ofensa:
Os anjinhos de Nossa Senhora são muito bons. Mas quando estão zangados são tramados: para irem às putas rezam novenas.

Momentos

Momentos.... e uma história de amor
Em serranas planícies partilhada.
Nada me convidava a supôr
Acabasse, parvo eu, de nadas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

DEMAGOGIA I

Uma amiga que parece ter o hâbito de me lêr, comentou o apontamento "A Moral É um Bloco ( da esquerda baixa )", considerando que eu destilava ódio sobre o Bloco.

Noto que esta minha amiga é professora.

Sei que esta minha amiga anda zangada com o governo de José Sócrates.

Anoto a antipatia dos professores por um governo socialista - que fez mais reformas no ensino ( ensino pré-primário, "curricula " carregando na matemática, introdução do inglês no ensino primário, fim dos "furos", princípio da reintrodução do ensino técnico-profissional,etc,etc,etc) que todos os governos pós 25 de Abril juntos) - o que é natural porque ninguém em Portugal gosta de trabalhar mais e ganhar menos ( pelo "aperto" das faltas não justificadas realmente , pela extensão da permanência dos alunos na Escola, porque dar aulas a sério dá realmente um trabalhão e porque as condições da função pública em geral sofreram óbvia erosão financeira ). Mas não aceito que a demagogia desenfreada ( e estou a medir as palavras ) de que o Bloco desde sempre se alimentou, continue impune e sem resposta. Porque, a busca das "questões fracturantes" mais não foi do que o anzol anódino na aparência, para pescar os depressivo-descontentes, enquanto não lhes caiu no colo a "Crise" do Capitalismo que, claramente, veio pôr a nu a desgraça que é o capitalismo selvagem. Com esta à vista, o Bloco mostrou a sua face e, lendo-se o discurso de apelo ao levantamento leninista presente no discurso de Louçã no último Congresso/Convenção do Partido, percebe-se o radicalismo comunista do mesmo, o que com a queda nas sondagens explica a súbita virulência do P.C.P..

Claro que o tom jocoso do apontamento sobre o Bloco que a minha amiga considerou de ódio e excessivo, foi escrito com a mesmíssima manipulação que o Bloco usa. Trata-se de retirar factos do seu contexto e depois os servir a quente... implicitamente prometendo que erros assim tão crassos nunca seriam nossos. Mas o que escrevi foi propositado porque uma boa cura para a doença viciante da demagogia é obrigar os demagogos a provar do seu próprio veneno. A brincar se ensina muita coisa.

Mas se não tolero a demagogia do Bloco, muito menos aceito a demagogia de quem nunca me passou pela cabeça ser capaz de se entregar a esse desporto viciante: o presidente do P.S.D.. A dª Manuela Ferreira Leite que desde há dois meses opina diáriamente sobre a manchete do dia dos jornais, desde as inaugurações dos ministros às normas de conduta íntima dos cidadãos passando pela suspensão dum professor numa qualquer escola primária, conseguiu ontem o seu melhor: declarou alto e bom som ( porque é que precisam de levantar a voz?) que o governo enxovalha Portugal lá fora, onde o consideram do terceiro mundo por causa do caso EUROJUST. Oh senhora doutora! O Eurojust era desconhecido de todos os portugueses com excepção de uma dezena até há dias. E lá fora ninguem o conhece. Enxovalho público?

A ESPUMA DOS DIAS

Ontem o meu dia correu pesado.

De manhã telefonou-me o meu melhor amigo para, a chorar, me contar que o seu sócio de riquezas, negócios, trabalhos e cruzeiros estava a morrer com um cancro do pulmão. " Já está nos cuidados intensivos e eu, Zé, não estou preparado para a morte dele! Julgava que estava, nas não!". Por isso andava a passear pelas dunas de S. Pedro de Moel incapaz de sofrer dentro da clausura das suas várias fábricas. Por isso, sem nenhuma vontade de voltar a casa, telefonou ao outro amigo que eu sou, numa espécie de vasos comunicantes de afectos que vivem muito da vicariância compensatória. Tirando eu, mais ninguém terá sabido do "apagão" que ele ontem viveu. Não falou à mulher, aos filhos ou, sequer, à mãe ainda viva e lúcida: procurou o melhor amigo, aquele único que o podia ouvir chorar sem ele sentir vergonha, porque para ele como para mim " um homem não chora", era o que diziam as nossas mães!

E procurou quem ele acha que o pode compreeender melhor ( que nestas situações de absolutos ), sentimos sempre como sendo a única pessoa possível: o melhor amigo.

É a pura exaltação do romantismo ( coisa de que as mulheres são muito geralmente incapazes porque o confundem com o puro lirismo) esta compaixão ( com a paixão= com o sofrimento ) do meu melhor amigo e que tem qualquer coisa de indefenivelmente épico.

E como sempre acontece nos actos apaixonados, perdia a ordem do que sentia mas ganhava a lucidez da razão. Não o disse assim, mas queria dizer que a vida não vale nada mas não há nada que valha a vida.

E à noite nos Prós e Contras, no canal 1, na televisão o professor Adriano Moreira foi expicando o que é e não é essencial na nossa vida. E, da mesma maneira que no seu livro de memórias " A Memória do Tempo" fugiu às questiúnculas das politiquices para se debruçar sobre as constantes da História, recusou falar mais sobre Freeports ou outros fait-divers para se debruçar sobre o que há nos portugueses que, regularmente na nossa história, fomenta esses casos.

Tal como o meu amigo, optou por dedicar o seu tempo àquilo que é o sal que amarga a espuma dos nossos dias sem se preocupar com a espuma.

domingo, 17 de maio de 2009

A MORAL É UM BLOCO (de esquerda baixa)

Tronitroante, grita, inquisitorial da moral pública, de dedo em riste, o nosso deputado Louçã no Parlamento ao seu e nosso primeiro-ministro: "Não se atreva !" E invoca as razões sociais na Bela Vista que fazem compreender, ou seja, justificam, carros incendiados e tiros disparados contra a polícia.


Dois dias depois o intelectual de serviço do seu Bloco ( que eles dizem de esquerda) de seu nome Daniel Oliveira escreve esta pérola no semanário "Expresso" : " primeiro construíram-se os prédios azuis. São o epicentro de todos os problemas. Quem pode sai de lá, quem não pode fica sitiado. Depois foram os prédios amarelos. Por fim os prédios rosa, a zona mais pacata do bairro. Cada zona corresponde a uma leva de realojamentos. Foi ali , na Bela Vista, que se acumularam todas as misérias de Setúbal. E, como as imagens revelam de forma clara, o bairro foi deixado à sua sorte, degradado e mal tratado, mostrando o desinteresse das autoridades nos dias em que não há crimes nem televisões." (sic)


Donde:


Primeiro: o homem é do Benfica! Pois se o problema maior é a côr azul...,

Segundo: como há gente que pode sair de lá, esta gente andava a explorar o povo português pagando rendas mensais de dois (repito, 2 ) euros /mês, por se dizer indigente. Rendas que, mesmo deste valor não são pagas desde há trinta anos!

Terceiro: O bairro foi deixado à sua sorte, degradado e mal tratado ( está assim escrito no original ) porque para o Bloco deve haver provas de que foram brigadas de agentes da CIA mancomunadas com guardas suíços do Vaticano e queques da Linha, que os picharam, rebentaram nas porta, escacaram nas varandas, furaram nos W.C. e espalharam ácidos sobre os relvados dos jardins comuns!

Quarto: as autoridades, seja lá o que isso fôr para o Bloco, mostraram desinteresse em apanhar um tiro de caçadeira para compôr os supra-citados efeitos do desinteresse (estão a vêr a lógica inteligente da coisa?).

E, como se tudo isto não bastasse, o Dr. Louçã cita na companhia do senhor Jerónimo de Sousa - que já anunciara que os acontecimentos "não eram um caso de polícia" mas antes o resultado de um "mal estar social" - cita então a minha Igreja Católica pela voz de dois bispos, que medicamente acusam o peso dos anos, e que também invocavam a pobreza para justificar os desacatos!.

E a minha Igreja deixa!.

Conclusões ( apodíticas, para os Daniel Louçãs ):

A questão da degradação do bairro não pertençe ao "dolce farniente" dos seus concretos habitantes mas antes é da alçada das abstractas "autoridades "( sendo que pelos vistos os deputados eleitos não são autoridades! ).

A Igreja Católica ( algumas hierarquias ) não compeende a falta de " placere" que os taxistas, os canalizadores, os ferreiros arranjadores de portas, as assistentes sociais, e até os polícias que são educados para educar a civilidade, evidenciam para entrar num bairro de africanos ( especializados em carjacking como se viu no telejornal isento da TVI de sábado ), e de elementos de raça romani ( que, como é do saber comum, são especializados numa " sui generis " integração social) os quais são popularmente conhecidos como pretos uns, e ciganos outros.

Finalmente, e isto é tautológico, ao olhar o escrito do Oliveira, o ar de bairro que ele cheira e a postura e a comunicação não- verbal do Daniel, percebe-se que o problema é de fundo ( a minha empregada doméstica, coitada, diz que é dos fundos), é escatológico!

E, já agora, por que raio havemos de considerar intelectuais os escribas e os políticos do parlamento, sobretudo se forem da esquerda trotsquista, e não aqueles que vão trabalhando de facto com a cabeça, as celulazinhas cinzentas, e só são apelidados de " investigadores ", " trabalhadores por conta própria ", ou, na melhor das hipóteses, " cientistas" mas só de isto ou só daquilo?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

DE PROFUNDIS

Portugal tem um déficit externo correspondente a 100% do actual PIB nacional, o que corresponde a dizer que o nosso endividamento ao estrangeiro dividido por dez milhões dá 20.000 euros a cada um de nós.
A cada minuto que passa, o Estado, bancos, empresas grandes e pequenas mais as pessoas comuns, individam no seu conjunto o país em 2 milhões de euros por hora!
Para uma melhor ideia do ritmo do endividamento nosso, recordam-nos que em 1995 ele era "apenas" de 10% do PIB, enquanto agora é de 100% - e o PIB nacional não se cansou de crescer nestes últimos 14 anos.
Porque será que ainda há gente que adora passar férias lá fora, comprar na estranja o que cá se produz e esbanjar o que somos obrigados a importar como a energia? São tão burros que pensam que a dívida não é deles? Tão ingénuos que acham que no final os credores no-la vão perdoar? Ou tão ignorantes que nem sabem que ela existe?
Só mais uma coisa: crédito vem de crença. Sérá que os credores - bancos estrangeiros ou outros Estados terão de nós a crença ( = confiança) de lhes devolvermos os débitos?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A AMIZADE, A FAMÍLIA E PORTUGAL




Como aqui escrevi há algum tempo ( vêr Parábola da Constrição do Tempo ), quem julga não está capaz de compreender porque quem "compreende" realmente fica desarmado para julgar.


Falo nisto por ser o cerne da amizade.


Pelo mesmo motivo, por ser o cerne da amizade, no mesmo texto ( Parábola da Constrição do Tempo) , dizia o Tempo, um velho personagem com a sabedoria dos tempos infindos: "Já reparaste que a nossa vida, ou seja a vida dos homens (...) é feita de acções que resultam de pensamentos que, sejam quais forem, correctos ou incorrectos, bons ou maus, são sempre revestidos de afectos de um de dois tipos?: no fundo tudo o que (...) os homens têm, fazem ou são, reduz-se (...) a duas coisas (...) ao sentimento do agradável ou do desagradável. Por isso, aquilo que é a essência dos homens é a afectividade. Pura afectividade."


O que eu pretendia dizer com isto, é que os afectos, no fim de tudo, são a essência do ser humano, já que todas as restantes funções do psiquismo que surjem quer a montante quer a juzante dos afectos, quer primeiro quer a seguir a um momento que capto como eminentemente sentimental e me transporta para pensamentos, são sempre revestidos de afectos de agrado ou desagrado no momento seguinte, e os impulsos, os actos institivos, os pensamentos que cremos racionais bem como a volição ( tudo o que diz respeito à vontade) sofrem o impacto determinante dos sentimentos e emoções que os revestem, e são por eles inibidos ou mantidos, quer dizer sempre orientados.


Dito isto, relevados os afectos muito para além do que antigamente se chamava funções psíquicas, defendo a tese de que a Amizade é de todos os afectos o mais importante e o mais nobre por ser o menos egoísta. Cingindo-me aos afectos eminentemente relacionais, a saber a amizade, o erotismo, e a paixão, que Alberoni tão bem descreveu, a amizade tem condições que a definem com bastante rigôr:


Primeiro: Se, como disse acima julgar é não ser capaz de compreender, o primeiro sinal de que estamos perante a amizade é sermos geralmente capazes de compreender o nosso amigo independentemente de aceitar o seu comportamento, o que ele faz, ou o que ele pensa. Ao meu amigo, posso não aceitar mas compreendo.

Segundo: por ser o menos egoísta, a amizade é um afecto que não exige nada, contrariamente à paixão em que quero para mim o amôr incondicional, a rendição total do ser amado - e por isso não posso fugir a "esse monstro dos olhos verdes", como lhe chamava Othello de Shakespeare que dá pelo nome de ciúme - ou à relação erótica, " de cama", em que exijo do outro que através dos olhos ou da mímica me passe um atestado absoluto de competência total na sedução, nas premícias e na excitação. Obviamente que aqui tem de estar presente sempre o ciúme, ou, ao menos o sentimento de ser cioso " daquela pessoa".


Terceiro: ao contrário da paixão e do erotismo a amizade é a único sentimento que exige reciprocidade: eu posso apaixonar-me por um/uma assassina, posso excitar-me e "fazer amor" com uma prostituta/o, sem que o outro sinta alguma coisa por mim, mas na amizade tenho de sentir reciprocidade. Na verdade, a amizade é a única emoção relacional que exige reciprocidade: eu não posso ser amigo de quem o não é para comigo - embora possa ser dele ou dela um bom conhecido que me é útil para me ajudar, facilitar a vida, orientar ou usar ( "meter cunhas ") para meu interesse. A confiança é tão importante que se, por momentos me puser a mim mesmo a dúvida de alguém ser meu amigo, é porque já o não é!. Aqui, na verdadeira amizade, não cabe o ciúme em condições normais embora possa subsistir o ser cioso, sobretudo quando os amigos são de personalidade exageradamente introvertida ou obsessiva. Mas em situações naturais e vulgares não há "jogos de competição" ou inveja , muito menos ciúme referida ao meu amigo/a. Por isso a amizade é a mais pura das relações sentimentais. O que espero do amigo é compreensão, ajuda na medida das suas possibilidades, plena autonomia e ausência de controlo, ou seja todas as condições para eu me sentir EU - independência com solidariedade.


Quarto: desta independencia e autonomia solidárias resulta a quarta característica a saber, o constructivismo do seu surgimento. Assim enquanto no erotismo e na paixão eu "capto" que alguma coisa muito intensa brotou entre mim e "aquela pessoa" , a tal química, o tal amor à primeira vista, o tal "clique para o engate da noite", na amizade a relação podendo parecer logo de início muito provável, necessita de tempo para se construir. Porque é a única que mesmo quando nasce por "revelação" necessita de ser construída com a naturalidade da natureza: a maturidade.


Quinto: finalmente, é precisamente por todas as quatro razões anteriores que a amizade não se inventa mas descobre, não se exibe mas se guarda no silêncio da intimidade, não se anuncia publicamente mas se vive quotidianamente mesmo na ausência por longas temporadas do nosso amigo/a. E é também por tudo isto que não acredito nas amizades da escola primária para a vida eterna, mas acredito que pessoas a partir duma idade madura ( vamos dizer a partir dos quarenta anos) se mantenham amigos toda a vida que lhes resta. Porquê só tão tarde? Basicamente porque a aceitação do modo de ser dos outros acaba por ter limites e se aos vinte anos vou seguramente orientar a minha vida por valores para mim e para os outros ainda incertos que podem provocar um afastamento doloroso e decepções intensas nos outros que julgavam ter-nos definitivamente do mesmo modo, quando somos maduros as escolhas básicas de valores, princípios, ideologias, gostos, modos de ser, etc, estão praticamente terminados e dificilmente mudarão. Aqui, aos quarenta ou depois, se surge a amizade, esta vai mesmo perdurar para o resto da vida. Além do mais porque, já maduros, não valorizamos os fait-divers da vida, toleramos melhor palavras equívocas melindráveis ou expressões ambíguas. No fundo todos sabemos que o essencial não está aí.




A IMPORTANCIA DOS AMIGOS



Há numerosos estudos sobre o erotismo ou a paixão. Há menos sobre a amizade o que é uma coisa estranha. Mas há os suficientes para sabermos algumas coisas importantes.


Há muitos estudos replicados que mostram que as pessoas com numerosos amigos têm maior probabilidade de morrerem mais tarde que os outros. E que a maneira de enfrentarem o sofrimento parece mais facilitada do que os que nunca fizeram grandes amigos. E ainda, que a presença, nem que seja por telefone ou interposta pessoa do amigo, no período de doença funciona como um "placebo". A minha estranheza por haver poucos estudos sobre a amizade comparativamente com os estudos de conjugalidade ou família, resulta desta mesma evidência: de a amizade ter um impacto maior no nosso bem-estar psicológico do que as relações familiares, que por natureza tendem a ser muito mais stressantes.


Há a este respeito um estudo de 2006 com 3000 doentes com cancro da mama que mostra que as mulheres sem amigos próximos tinham quatro vezes mais probabilidades de morrer da doença do que as que tinham mais de dez amigos. É claro que podemos sempre pensar que as mulheres que são capazes de terem mais amigos podem tê-los precisamente porque tem já "a priori" uma personalidade mais equilibrada, são mais cuidadosas com a sua saúde e a dos outros, e estão por isso mesmo sujeitas a muito menos stress. Mas, mesmo assim, porque não treinarmo-nos na amizade, ou seja darmo-nos mais liberdade para nos juntarmos aos outros?


Porque há coisas que podemos vêr. Por exemplo esta evidência: as pessoas com relações fortes têm menos probabilidades de se constiparem, pensa-se por terem níveis de stress menores. Talvez pelo efeito de sugestionabilidade como ficou demonstrado num estudo de há dois anos da Universidade da Virgínia com 34 alunos que foram levados para o sopé duma colina inclinada e a quem foi pedido que calculassem o declive da colina. Os declives calculados pelos alunos acompanhados por amigos eram mais suaves e tanto mais quanto mais antigos eram os amigos presentes.




A AMIZADE NA FAMÍLIA




Freud descobriu o complexo de Édipo , como suporte para a fase genital, iniciada a partir dos três anos nas crianças, através da mitologia grega. Édipo era um rei grego que foi separado dos pais em tenra idade e criado por outras pessoas. Quando jovem, Édipo cruzou-se com um desconhecido que era seu pai ( então rei de Tebas ) e numa disputa matou-o. Mais tarde quando Édipo entrou na cidade de Tebas encontrou-se com a mãe ( Jocasta ) sem saber quem ela era, enamorou-se dela e tomou-a para casamento. Pois bem, Freud achava que todos os rapazes têm estes desejos "incestuosos" pela mãe e passam por uma fase em que odeiam o pai como um rival, situação conhecida como edipiana. Mas a história de Édipo não termina sem um desfecho trágico: quando descobre que tinha assassinado o pai e casado com a mãe, Édipo não aguenta a culpa e intencionalmente cega-se (como para não vêr, e não vendo esquecer o que tinha feito).


Na base desta competição não está o ciúme como uma espécie de ódio reprimido que o filho sente pelo pai, mas talvez, algo mais simples. Nós como crianças, identificamo-nos com os mais fortes com quem consideramos melhores, mais hábeis. Por exemplo as últimas sondagens feitas em Portugal mostram que os grupos etários mais jovens em todo o país tendem a já não serem adeptos do Benfica, mas do F.C.Porto!


Se amamos o mais forte admiramo-lo. Se, pelo contrário, por qualquer motivo principalmente a influência do outro conjuge, prevalece o rancor ou até o ódio, invejamo-lo. Pensamos, porque lhe conhecemos a incompetência ou a mediocridade :" eu é que merecia!". Isto é inveja pura e dura.


Para as raparigas o problema é o mesmo com a natural inversão dos papéis.





A ACELERAÇÃO HISTÓRICA DO NOSSO TEMPO




Com o surgimento da guerra do ultramar as mulheres foram chamadas em Portugal a um papel social até aí imprevisível.


Se hoje Portugal é o país europeu com maior percentagem de mulheres a trabalhar fora de casa, à guerra se deve. E com o trabalho na indústria e nos serviços veio a independência financeira a qual com a descoberta de meios anticoncepcionais como a pilula, colocaram as mulheres portuguesas fora da dependência masculina e tão independentes como o homem no plano financeiro; e numa cultura em que dinheiro significa posse poder e prestígio, a mulher aparentemente atingiu numa geração o que não alcançara em cem. Mas os afectos profundos não mudam tão depressa. Por isso, a mulher portuguesa passou a ter três trabalhos ( mulher -a-dias, perceptora dos filhos e funcionária de qualquer coisa ),mas ganhando só por uma (funcionária de qualquer coisa). Ou seja a convergência de afecto e razão, cindiu-se em matéria ( posse, prestígio e poder ) e afectos (cuidados com os filhos sobretudo). Como pano de fundo, a legislação mudava em benefício da mulher e a Vox Populi aderia acriticamente à mudança.


Com a cisão de afecto e matéria, os valores femininos mudaram e emergiram no casamento dois fenómenos até então invisíveis: a intolerância ao medo e a competição entre homem e mulher.


Se a intolerância ao medo (físico ou psicológico) do poder do marido criou o justicialismo em que a mulher passou a basear a intenção de divórcio, a competição entre os cônjuges teve um efeito muito mais perverso, porque serviu de modelo aos filhos, quer fossem rapazes quer fossem raparigas, para a exibição da inveja. Pois se pai e mãe competiam entre si para mostrar como eram melhores no trabalho pago, e se, qualquer promoção de um deles deixou de ser vista pelo outro com o afecto do aconchego mas sim como mais uma ameaça ( por isso mesmo injusta) à regulação do poder conjugal, estava criado o caldo de cultura, melhor, o modelo da inveja ao pai ou à mãe, consoante a identificação do filho. E sendo ambos os progenitores figuras de autoridade, ficou criada a condição fundamental de, pela via da inveja, criticar e contestar com a mesma agressividade vivida em casa qualquer princípio de autoridade. Quer fosse o professor, quer fosse o polícia, quer fosse o patrão, quer fosse a autoridade política.


Eu sei do que falo. Um dia o meu filho surripiou-me um tratado técnico. Quando lho pedi de volta escreveu-me uma breve missiva que dizia irritadamente:: " Que mais esta pequena grande prova de boa vontade te inItálicospira, finalmente, a PAGAR (€) o que deves".


E nem sequer lhe passou pela cabeça que para além da má educação estava impregado pela inveja que a competição observada em casa provocara nele.


Aconteceu neste caso algo para o que os pais portugueses não parecem preparados, tal a rapidez das mudanças. Primeiro, o empolgamento da nova mulher casada portuguesa, mas pior ainda, a sua tendência para fazer dos filhos seus cúmplices como se de amigos ao mesmo nível (como é próprio dos amigos ) se tratasse. Na verdade, e por uma espécie de mimetismo com o qual nenhum pai pode concorrer com vantagem, o(s) filho(s) identificam-se com o mito da subserviência ( a mulher) que se revolta e lhes dá a mais uma relação horizontal sem hierarquia e que assim aparece e se parece com a amizade. Não só não o é porque fenómenos de adoração/paixão estão bem presentes, como também estão presentes fenómenos próximos do erotismo - duas dimensões dos afectos da relação que excluem a amizade - como não poderia deixar de ser porque a autoridade requerida com a educação jamais permitiria a pura relação de amizade.


No entanto é esta a moda da educação familiar em Portugal.

domingo, 10 de maio de 2009

IPSIS VERBIS

Artigo primeiro do Projecto-Lei (sobre circos e afins) do Partido Comunista, perdão, bloquista, perdão, queria dizer do Partido dos Verdes ( que raio de nome, porque é que não são antes..., tintos?!):
"É proibida a aquisição, venda, troca ou cedência a qualquer título, detenção, manutenção, exibição, exibição pública ou integração em espectáculos de quaisquer animais não humanos selvagens, por circos ou outros espectáculos itenerantes em território nacional".
É este um legislador português, concerteza.
Pela densidade e profundidade é aqui, de imediato, aberta a campanha pela revisão em dobro do vencimento dos deputados ao Parlamento.
De fontes bem informadas sabe-se já que o Presidente Obama reuniu de emergência o Conselho de Segurança Interno, para ficar a saber como é que pode continuar a fazer os seus números na Casa Branca com o cão de água português.
Uma baleia do Oceanário de Lisboa apelou à liberdade com fundamento na Carta Constitucional de 1922 no que foi seguida por saltos de revolta de duas trutas do fluviário de Mora que obrigaram os efectivos da G.N.R. a chamarem snipers.
O presidente Cavaco, referindo-se ao acontecimento, saudou-o, lembrando que embora eleito pela direita em Inglaterra conduz pela esquerda.
E os humanos selvagens ou domésticos decidiram-se por uma peregrinação a Fátima em acção de Graças porque, finalmente são permitidos.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A depressão nacional

Estava eu a conversar com dois amigos e o tema lá foi parar à crise.
Um deles arrasou o Sócrates (com aquela ligeireza de linguagem que é espelho da ligeireza de inteligência) mais os pobres ( que nos andam a roubar nos subsídios) mais os ricos (que esses safam-se sempre), vomitou fel sobre as fábricas (que não há) sobre os trabalhadores (que são uns podões), a fatalidade de "isto" ser sempre assim "neste país" (mas se é sempre assim porquê esta aflição agora?) e assim....
Até que o terceiro contou esta anedota:-" Olha lá, pá!, quando estiveres assim deprimido lembra-te sempre que já foste um espermatozóide de sucesso, de excelência!".

terça-feira, 5 de maio de 2009

A NATUREZA DA SAÚDE

Andamos (quase) todos por aí mergulhados na hipotese de apanharmos com uma gripe em cima.
Primeiro chamava-se gripe mexicana, depois para não ofender os ditos passou a chamar-se gripe A, seguidamente gripe N1H1 modificada, e agora Nova Gripe. Tantos nomes como a ignorância da classe médico/científica.
As estatísticas dizem-nos que uma gripe séria está para vir nos anos próximos. A ciência dos genes diz-nos que houve mutação do vírus, e a indústria farmacêutica desde há vinte anos que se lança na descoberta de anti-vírus. A alimentação da população é melhor que nunca, as medidas higieno-sanitárias são cumpridas como nunca, a informação hora-a-hora é relevante e permite monitorizar os passos do vírus que eu imagino de sombrero, bigode aparado, montado a cavalo, com arreios coloridos e a galope pelo Mundo perseguido pela Senhora de Guadalupe.
Tudo somado a um Serviço Nacional de Saúde que é dos melhores do mundo, podemos andar tranquilos- dizem-nos. Mas eu suspeito que esta é uma tranquilidade tão tranquila como a do Paulo Bento quando o Sporting Club de Portugal perde três jogos seguidos.
Se aparentemente tudo se passa, apesar de tamanha ciência, como se Deus jogasse aos dados, então parece perigoso dar a Deus um parceiro já que os dados são como o tango: são precisos dois para os jogar. E interrogo-me se as medidas de contenção do vírus não serão o outro jogador de que Deus precisa. Por exemplo, há um razoavel consenso científico em como o "emparedamento"deste, e dos dois anteriores vírus já surgidos neste século, poderá permitir novas e mais profundas mutações viricas, ou seja, resguardando-nos agora poderemos não conseguir ter resistências imunológicas para um dos próximos, precisamente porque não nos deixaram contactar com nenhum dos anteriores. No fundo, o paradoxo de a medicina ter andado a pregar a tese da vacina ( que até passou a ser usada no coloquial político), e agora fazer tudo ao contrário.
Não o digo por medo do tal Deus que joga aos dados. Digo-o numa perspectiva histórica e da história da ciência. Até princípios do séc.XVI qualquer tentativa para obter poder a partir da natureza tinha inerente a si a ideia de que só podia conseguir-se isso se se forçasse a natureza a ir contra sua vontade ( a subjugação da natureza é o tema de toda a prática mágica). E foi a partir dessa altura que o Homem decobriu ( e não inventou) a harmonia pré-ordenada da natureza e a começou a explorar a seu favor.
Em 1620, Francis Bacon escreveu no Novum Organum : " Só podemos dominar a Natureza se lhe obedecermos.". Não acho má ideia voltarmos a pensar no assunto.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O SENHOR BARBOSA, MEU BARBEIRO

O SENHOR BARBOSA, MEU BARBEIRO


Sempre tive o hábito de ir tomando notas por escrito do que de mais curioso ou importante me acontecia ao longo da vida. Acontece que ontem a propósito desta moda recente de envelhecer novo,tive uma conversa na minha praia da Guia em Vila do Conde, que me fez lembrar o senhor Barbosa, meu barbeiro durante muitos anos enquanto vivi no Porto. Como todos os barbeiros que se prezam, o Barbosa sabia coisas incríveis de toda a gente, vícios privados, excepto que a mulher o traía. E eu lembrava-me de uma frase que ele repetia sempre:-"Sabe, santos de casa não fazem milagres!". E eu sem maldade mas para me afastar da zona de perigo punha fim ao rumo da conversa com outra declaração de dimensão pública:" É, em casa de ferreiro espeto de pau!". E por aí ele via que era altura de mudar de tema.

Um dia enquanto me ia aparando as melenas e outros pêlos (que ainda não se usava a depilação), dei conosco a falar de coisa séria: o meu processo de envelhecimento! E explicava-lhe que primeiro me tinham aparecido uns pêlos irritantes nas narinas, depois outros a sair pelas orelhas; mais tarde ainda uns filamentos grossos e crescidos, mais que os outros, davam um ar hirsuto às sobrancelhas que o Barbosa também começou a aparar, até que dissimulados pela trunfa, os fatais cabelos brancos. Comigo foi assim, por esta ordem.

Só mais tarde é que notei o quinto sinal de envelhecimento: umas pequenas manchas na pele, de côr castanha a que as pessoas chamam sinais e que não param de alastrar em tamanho e número. Finalmente apareceram-me no pénis outras manchas, de vitíligo, conforme me informou o meu colega urologista com a displicência de quem diz: " Ó pá, é da idade!". E, expliquei eu ao Barbosa, que me parecia que só então, com as do vitíligo, é que me estava reservado o convite para entrar na velhice oficial com aquele cortejo de joanetes, artroses, edemas e geral falta de interesse pelas coisas boas da vida.

Detestava ir ao barbeiro!

Mas só ontem, na praia e a discutir como envelhecer saudável, a fazer yoga, com duas amigas absolutistas dos ginásios, das dietas vegetarianas e das medicinas holísticas chinesas e assim, é que me dei conta de quanto era precipitado associar os pêlos que o Barbosa relevava em mim, com o inevitavel envelhecimento. Foi quando elas me quiseram pôr a fazer certas posições e eu tive de lhes dizer que , muito bem, quando voltasse a derreter a barriga e pudesse enlaçar os atacadores dos sapatos e cruzar as pernas sem esforço, então poderíamos tentar as posições. E fiquei-me com saudades do que tomei como sinais de velhiçe no estaminé do Barbosa!

E lembrei-me dos comentários dos meus doentes sobre mim quando entravam consultório adentro, ar pesado, indicador em riste. Comentários lusitanos no seu pior, porque eram juízos de valor e raramente juízos de facto. Diziam uns: "Ah,ah!...,o doutor está mais gordo!" (como quem diz ,também não cumpre, não é?); enquanto outros avisavam com cara de sofrida compaixão: " O doutor anda mais magrito!" (como quem quer dizer, se fosse a si, ia vêr se não anda por aí doença ruim!). Podia acontecer que num dia houvesse três opinando excesso pecaminoso de gorduras e outros tantos falta delas, o que fazia com que eu sentisse que devia ser um corpo tipo harmónica de festa popular, ora distende ora comprime. Até que um dia exprimi a minha tisteza por este vício tão português de julgamentos ao aspecto alheio a uma doente que tinha tanto de lúcida como de lúdica. E ela:-" Aproveite agora que está vivo: coma e beba que vai ter muito tempo de estar morto!".