quarta-feira, 29 de junho de 2011

o que aí vem....

SNS



O Público contava, na segunda-feira, a história: um norte-americano não encontrou outra forma para tratar um tumor e mais umas hérnias do que procurar ser preso — garantia de tecto, comida e tratamento médico. Entrou num banco e entregou um bilhete à funcionária: “Isto é um assalto. Por favor, dê-me um dólar apenas.” Até agora, o Serviço Nacional de Saúde não permitiria que acontecesse uma situação como esta em Portugal.

curriculum ad vitae

Curriculum vitae


Fotografia de Pedro Elias

O currículo do Senhor Primeiro-ministro, na página do Governo, é curioso:
    • Tem uma referência temporal para tudo, menos para a conclusão da licenciatura; • Antes de assumir a “gestão de empresas – recentemente no campo da energia e ambiente”, não explica o que andou a fazer por aí; • Faz uma referência ao cargo de vereador, mas não explicita se teve pelouros ou não; • Não se fica a saber que foi presidente da JSD; • Não informa o povo em que estabelecimento de ensino exerce a “docência em Economia”.
Pode ser que, quando tiver vagar, o Senhor Primeiro-ministro mande compor a coisa.

terça-feira, 28 de junho de 2011

ENQUANTO EM PORTUGAL AS MELHORES GRANDES TELAS SÃO VENDIDAS A MENOS DE UM MILHÃO....

Arte: Licitação de 866 mil euros bate novo recorde para quadro de Paula Rego

Londres, 28 jun (Lusa) - Um quadro de Paula Rego foi licitado por 866 mil euros, num leilão realizado hoje, terça-feira, em Londres, batendo o recorde anterior datado de 2008. A estimativa base da Christie's para "Looking Back", de 1987, era de de 600 mil a 800 mil libras ( 675 mil a 900 mil euros) mas a licitação final foi de 769 250 libras (866 175 euros). O anterior recorde tinha sido ...

19:55 Terça feira, 28 de junho de 2011


Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/actualidade?mid1=ex.menus/19#ixzz1QbUj5zpX

TANTA ESTUPIDEZ OCIDENTAL DÁ NOJO !

UE-China

China cerca a Europa. Mas não percamos a esperança

28 junho 2011 The Guardian Londres
Turcios
A crise da dívida europeia é um alvo fácil para o investimento externo chinês. Por isso, precisamos de perceber que espécie de poder se está a tornar a China, escreve Timothy Garton Ash.
Por vezes, a Europa colonizou pedaços da China. Agora, é a China que está a colonizar pedaços da Europa. Informalmente, é claro, e de uma forma muito mais bem-educada do que nós o fizemos. O crescimento da China tanto ilumina como explora o relativo declínio da Europa.
Durante a sua visita à Europa, o primeiro-ministro Wen Jiabao vai visitar a Alemanha, o Reino Unido e a Hungria. Porquê a Hungria? Porque, por um lado, tem atualmente a presidência rotativa da UE mas, também, porque a China ali tem grandes investimentos e quer ter ainda mais – como acontece um pouco por todo o lado no sul e no sudeste da Europa.
Um estudo recente do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR) estima que 40% do investimento chinês na UE está em Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Europa de Leste.
Porquê tanta atenção à periferia? Bom, porque há investimentos prometedores a serem feitos lá e porque estas pequenas e periféricas economias são a porta de entrada mais fácil para um mercado único europeu de 500 milhões de consumidores. O mercado da UE está muito mais aberto aos chineses do que o chinês está aberto aos europeus.
Investir muito nestes países também traz recompensas políticas. Não é excesso de cinismo ver Pequim construir uma espécie de lobby da China dentro das estruturas de tomada de decisão, onde o Estado mais pequeno é, pelo menos teoricamente, exatamente igual ao maior.
Com a maior reserva de divisas do mundo – cerca de três biliões de euros, atualmente – a China pode comprar metade dos bens públicos gregos a privatizar, de uma só vez.  A Grécia deverá ter cuidado com estes presentes chineses? Bem, quem pede não escolhe. Como disse, com uma delicadeza requintada, um geoestratega chinês a um dos autores do relatório do ECFR: “Vocês precisam do nosso dinheiro”.

Acreditar no comércio livre

Não devemos ser excessivamente paranoicos sobre este assunto. Se acreditamos no comércio livre e nos mercados, temos de praticar o que defendemos. No entanto, não há dúvida de que o poder económico chinês está a crescer na Europa – e a traduzir-se em influência política.
Alguns dos vizinhos asiáticos da China sofreram muito mais com o crescimento da China. Enquanto alguns, na Europa, ainda sonham com um mundo pós-moderno de soberania partilhada, em que a UE seria um modelo de governo global, a geopolítica da Ásia está cada vez mais parecida com a da Europa do século XIX – em vez de se assemelhar à do fim do século XX.
Incansáveis poderes soberanos lutam pela supremacia, constroem navios e armas, disputam o controlo de territórios (como é o caso de Caxemira) e do mar. Os interesses e as paixões nacionais são um trunfo para a interdependência económica.
Para além das dimensões económica e militar do poder emergente da China, há ainda uma terceira dimensão: política, cultural ou de “suave” poder. Yan Xuetong, um dos principais autores chineses sobre relações internacionais, acaba de lançar um fascinante novo livro intitulado “Antigo Pensamento Chinês, Moderno Poder Chinês”.
Explora os ensinamentos do pensamento político na era pré-Qin – isto é, anterior a 221 AC – no papel que a China hoje tem no mundo. Yan defende que há duas ideias antagónicas sobre o poder do Estado nesses antigos pensadores chineses: hegemonia ou aquilo a que chamam “autoridade humana”.  Com a “autoridade humana”, a sabedoria, a virtude e a bondade dos governantes não só satisfazem o seu próprio povo como atraem outros povos, espalhando assim o seu modo de agir além das suas próprias fronteiras.
Apesar de não parecer completamente adverso à mera hegemonia, Yan defende que a China deve aspirar a este género de poder mais ambicioso – “renovando constantemente o sistema político”, entre outras coisas. Apesar das suas palavras serem um pouco elípticas neste aspeto, também sugere que “a China deve fazer do princípio moral da democracia um dos princípios que promove”.
Há que dizer que a China de 2011 está muito longe desta “autoridade humana”. Começando pelo grande reformador Deng Xiaoping, pode moralmente reclamar que tirou milhares de pessoas da pobreza. Aos olhos dos países em vias de desenvolvimento, este modelo de capitalismo de Estado é um desafio ideológico ao modelo, agora em crise, do capitalismo liberal de mercado livre.
O homem que está a chegar à Europa, Wen Jiabao, tem um outro pensamento, verdadeiramente atraente, notavelmente aberto a debater as críticas estrangeiras e é muito popular, no seu país, entre a muito crítica juventude chinesa. Mas, nos últimos anos, um Partido Comunista nervoso, a caminho da transição de liderança de 2012, voltou-se para uma fórmula que nada tem d humana – do tratamento dado às minorias étnicas do país à prisão do artista Ai Weiwei. A sua reação ao espetro da Primavera Árabe foi mais ansiosa do que a maior parte dos observadores achou possível.
Nenhuma das três faces do poder chinês – económica, militar e política – pode ser separada das outras. Tudo está a mudar. É desejável o género de compromisso crítico que tanto David Cameron como Angela Merkel esperam ter com o admirável senhor Wen. A dura verdade, no entanto, é que a influência externa no desenvolvimento destas superpotências emergente será sempre limitada. Por isso, precisamos de por a nossa casa em ordem, vigiá-la de perto, e ter esperança.

Crise da dívida

Os milhões de Pequim não têm preço

“Não há muito tempo, a visita de um primeiro-ministro chinês seria sinónimo de protestos e debates sobre os direitos do Homem e a repressão no Tibete”, escreve o El País. No entanto, acrescenta o diário espanhol, “agora, a presença de Wen Jianao na Hungria, no Reino Unido e na Alemanha é vista apenas sob o prima da importância do gigante asiático para a economia europeia. E o convidado tomou mesmo a liberdade de prevenir o seu anfitrião sobre os riscos de querer impor, pelas armas, a paz na Líbia. Previdentes, na véspera da visita, os chineses libertaram alguns dissidentes, entre os quais o artista Ai Weiwei”. “Quando Wen Jiabao visitou o reino Unido pela primeira vez, em 2009, um jovem atirou-lhe um sapato durante uma conferência na Universidade de Cambridge. Hoje, dois anos e uma crise depois, Wen prometeu, em Budapeste, que a China não deixará cair a Europa, visitou uma fábrica de automóveis chineses em Birmingham como se estivesse em casa e a 28 de junho discutirá com Angela Merkel as vicissitudes do euro. Tudo isto recheado com milhares de milhões de euros de contratos.”
O facto de Pequim ter comprado títulos de dívida pública dos países em dificuldades da zona euro, como a Espanha, a Irlanda, Portugal e Grécia, tal como a sua sede de tecnologia, desperta a simpatia e o sentido de negócio da Europa, acrescenta o El País. Por isso, conclui, “[a Europa] está encantada por poder ajudar [a China]. Mesmo que tenha de tapar o nariz e virar as costas sempre que for necessário. A isto se chama pragmatismo, e o pragmatismo sempre existiu”.

DELENDA CHINA EST !

PLANO FRANÇÊS

Crise da dívida

Plano francês dá esperança aos gregos

28 junho 2011
Ta Nea, 28 junho 2011
Na véspera da votação, no Parlamento grego, do novo plano de austeridade exigido pela UE e pelo FMI, o Ta Nea consagra a primeira página à “fórmula francesa para a crise grega”, congratula-se o diário. Segundo o projeto apresentado pelo presidente francês, “os bancos franceses comprometem-se a guardar durante 30 anos as suas obrigações de dívida grega, para garantirem a viabilidade do país. A proposta agradou, evidentemente, aos meios bancários gregos que veem nela um primeiro passo em direção a uma verdadeira solidariedade europeia e um pouco de descanso para a Grécia”.
O plano é o seguinte, explica o Le Figaro: “Todas as vezes que Atenas pagar 100 euros a um credor, relativo ao vencimento de um empréstimo anteriormente concedido, este reinveste 70 euros. Destes, 50 euros são novamente emprestados à Grécia por um prazo de 30 anos. E 20 euros são investidos em obrigações”.

UM ESCRITOR EXCEPCIONAL

por João Gomes de Almeida

"Uma Viagem à Índia" venceu o Grande Prémio de Novela e Romance da APE. Esta brilhante epopeia, já tinha ganho o Prémio de Melhor Narrativa Ficcional da SPA e o Prémio Especial de Imprensa "Melhor Livro 2010 Ler/Booktailors". O autor é Gonçalo M. Tavares, escritor de 40 anos, com livros publicados em todo o mundo e com prémios conquistados em muitos países, como o italiano "Prémio Internazionale Trieste" em 2010 e o francês "Prix du Meileur Livre Étranger", também no ano passado.
Desde que li o "Jerusalém" que percebi que a escrita de Gonçalo M. Tavares era algo de excepcional, acessível a poucos escritores. Infelizmente, desde 2004 até agora, este autor continua, no nosso país, menos conhecido do que merecia. Mais prémios virão certamente, esperemos que mais leitores também.

ANTES DE "uma viagem à india " COMEÇEM A LÊ-LO EM  " jerusalém " OU  "o senhor valéry".

HÁ DOIS BANCOS PORTUGUESES QUE CHUMBARAM NOS TESTES DE STRESS

ma notícia que parece ter passado desapercebida

Há 15 bancos europeus que terão chumbado nos testes de "stress".  Entre estes estão bancos portugueses, de acordo com a Reuters. O Banco Comercial Português (BCP), a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Banco Português de Investimentos (BPI) e o Espírito Santo Financial Group (grupo a que pertence o BES) são os bancos portugueses que estão a ser avaliados. No total, estão 91 instituições a ser escrutinadas pelas autoridades internacionais.

Quase adivinho quais são.

ONDE ESTÁ E COM QUEM ESTÁ A DÍVIDA GREGA

o Barclays publicou, recentemente, a lista das entidades mais expostas que permitem ao leitor ter uma noção dos mais envolvidos nas peripécias que vão ocorrer nos meses mais próximos (Nota: os valores podem não ser os à data, mas dão uma ideia relativa das posições). Os resultados da investigação feita pelo Barclays foram publicados pelo BusinessInsider.com a 20 de junho.
1- BCE detém diretamente 49 a 50 mil milhões de euros (14,3%);
2- Veículos financeiros de resgate da União Europeia detêm 38 mil milhões (11,1%);
3- Sector público grego com 30 mil milhões (8,8%);
4- Financiamentos por outros governos do G20 (incluindo Estados Unidos, Japão e BRICS) com 25 mil milhões (7,3%);
5- Fundo Monetário Internacional com 15 mil milhões (4,4%);
6- Banco Nacional Grego com 13,7 mil milhões (4%), sendo o banco grego com maior exposição;
7- Bancos centrais dos países europeus com 13,1 mil milhões (3,8%);
8- Banco do Pireu (banco grego) com 9,4 mil milhões (2,8%);
9- Eurobank (banco grego) com 9 mil milhões (2,6%);
10- FMS (fusão do Depfa com o Hypo Real Estate alemães), trata-se do primeiro banco alemão desta lista, com 6,3 mil milhões (1,8%);
11- Banco grego de Poupança com 6 mil milhões (1,7%);
12- BNP Paribas, o primeiro banco francês desta lista, com 5 mil milhões (1,5%);
13- ATE (banco grego) com 4,6 mil milhões (1,3%);
14- Alpha (banco grego) com 3,7 mil milhões (1%);
15- Dexia, banco belga, com 3,5 mil milhões (1%).
A incógnita na pirâmide de derivados
Contudo, como já explicou o próprio presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, o problema não está, apenas, nesta exposição directa, mas em toda uma teia de exposições cruzadas às dívidas soberanas da zona euro.
E aspecto ainda mais complexo diz respeito aos derivados financeiros ligados à dívida soberana grega. O valor líquido dos credit default swaps (cds, seguros financeiros contra o risco de incumprimento da dívida soberana) situam-se hoje em 5 mil milhões de dólares (cerca de 3,5 mil milhões de euros), inferior inclusive ao valor dos cds sobre a dívida portuguesa (que somam mais de 6,3 mil milhões de dólares). Inclusive esse valor líquido para a Grécia baixou quase 30% nos últimos doze meses, em virtude de maior atividade especulativa sobre as dívidas de países como Estados Unidos, China, Japão, França, México, Bélgica e Espanha.
Em caso de um evento de crédito (alguma modalidade de default) os detentores desses cds sobre a dívida grega poderão reclamar o seu reembolso num momento de pânico financeiro. Contudo, a enorme incógnita é saber o que estará na pirâmide de derivados financeiros relacionada com os cds sobre a dívida grega.

sábado, 25 de junho de 2011

BALANÇO DO EUROSTAT




Em relação a este post, no qual se dá conta dos dados ontem divulgados pelo Eurostat sobre o PIB per capita em termos da paridade do poder de compra (PPS na sigla inglesa), vale a pena comparar os períodos em que o PS esteve no governo com os da coligação de direita PSD/CDS-PP.

PPC NÃO PARECE FILHO DA PUTA

http://www.youtube.com/watch?v=DQvxelvNX-E#Sexta-feira, 17 de Junho de 2011
( surripiado do blogue JUGULAR )
Circula na net, há mais de uma semana, um vídeo que terá sido gravado por telemóvel aquando da visita de Pedro Passos Coelho ao Colégio Calvão, no dia 1 de Junho, no final da campanha eleitoral (que terminou dia 3). Neste vídeo, aparentemente, Passos responde a um miúdo (que parece ser o autor da gravação ou alguém que está mesmo ao lado de quem grava) "Não parece, é", quando o miúdo diz "O Sócrates parece mais gay". Mais à frente, quase no final do vídeo, ouve-se o relato, em tom de basófia, feito pela mesma voz de puto, sobre a conversa com Passos Coelho: "Eu virei-me para ele e disse o 'Sócrates parece mais gay' e ele 'Não parece, é mesmo'. Ah ganda Passos Coelho!".
Desde o primeiro visionamento do vídeo, foi-me evidente o potencial jornalístico da coisa. Estávamos perante uma alegada chalaça do provável futuro primeiro-ministro de Portugal dizendo respeito ao PM em funções, feita em público, num palco particular - uma escola (não preciso explicar em que medida se torna uma agravante, espero).
Parecia impossível? Parecia. Houve quem, no Twitter e a propósito do vídeo, raciocinasse do seguinte modo: "Um candidato não podia ter dito aquilo, logo, o vídeo é falso".
Estamos de acordo, um candidato não podia ter dito aquilo, nem a brincar, e muito menos no meio de jornalistas durante uma visita a um colégio. Mas o facto de ser inacreditável não significa, só por si, que não seja credível. Ninguém esperaria ver um ministro a fazer corninhos no parlamento; ninguém esperaria ouvir um deputado a mandar outro para o caralho; ninguém imaginava que o porta-voz do PSD para a negociação com a tróica falasse em pentelhos na TV ou comparasse José Sócrates a Hitler e quem votou nele aos alemães que elegeram Hitler. No entanto, tudo isto sucedeu, e mais: fez-se um escândalo por José Lello ter chamado "foleiro" a Cavaco num post do Facebook; e por José Sócrates ter comentado, para o lado e não para ser ouvido, "mansa é a tua tia", em reacção a um dichote de Louçã num debate quinzenal. Mas, perante a possibilidade de Passos Coelho ter respondido o que parece ter respondido a uma criança, o facto de essa resposta ser inaceitável surge como certificação de que não aconteceu?
Não. Não é assim que as coisas funcionam.

Por isso, pensei que o caso tivesse já sido investigado e tomei o silêncio mediático à volta do vídeo como resultado da investigação - o registo não retratava fielmente o ocorrido. Resolvi, ainda assim (tanto silêncio, sobretudo nos blogues, parecia de mais) confirmar essa hipótese contactando quem facilmente se identifica naquele vídeo - o director da escola, uma jornalista da Antena 1 - e Liliana Valente, do jornal i, a única jornalista que na imprensa descreve a fala do "Não parece, é".
Foi pois com surpresa que percebi que todos disseram nunca ter ouvido falar do vídeo e muito menos sido questionados sobre ele, para o confirmar ou desmentir. As jornalistas lembravam-se bem do "Não parece, é!". Referiram no entanto que, na altura, entenderam a frase como resposta a outra coisa qualquer que não terão percebido, devido à confusão. Liliana Valente afirmou que só ouviu a resposta de Passos Coelho – não a interpelação que a motivou. Por isso mesmo, disse-me, perguntou a uma das crianças presentes "Ele está a responder a quê?". E foi com base na resposta da criança: " Sócrates parece mais velho"- que fez a referência na peça publicada no i. No entanto, por mail, também referiu: " Aliás, eu estava à frente da rapariga da Antena 1 que se vê no vídeo e soubemos que estavam a falar de altura ". Uma informação que contradiz a versão que assinou nas páginas do i e a da jornalista da Antena 1 que, aliás, após ver o vídeo assumiu que não podia ter a certeza do que se passou, sendo clara num aspecto: se tivesse ouvido "gay" não acharia graça nenhuma.
O director da escola, padre Querubim Silva, que surge no filme ao lado de Passos Coelho, garante: "Não dei por nada tal era o aperto e confusão." E ao contrário das jornalistas contactadas – ambas não duvidam de ter ouvido a Passos Coelho a frase "Não parece, é", o director afirma não ter ouvido ao presidente do PSD qualquer resposta do género ou qualquer aluno a fazer observações sobre a sexualidade do PM, embora se apresse a informar que "Estavam lá alunos institucionalizados". E remata a conversa com estranha veemência: "O som não pode ser o do telemóvel com que um miúdo gravava."
Impressionada com os conhecimento tecnológicos do padre Querubim Silva, tive o cuidado de enviar o clip a quem percebe um bocadinho, ou mesmo muito mais que um bocadinho, destas coisas. E os especialistas não só consideram que o som é consistente com o de uma gravação de telemóvel como afirmam que o vídeo não lhes parece nem truncado nem montado nem falsificado. Mais: que, para o ser, sobretudo a nível do som, teria de ser falsificado por alguém de elevadíssimas capacidades técnicas e mesmo assim dificimente obteria um resultado tão "natural" (chamam por exemplo a atenção para o facto de se ouvir o som das mãos do miúdo no aparelho). Isto para não entrar sequer noutro tipo de considerações, como a do objectivo da falsificação e a sua oportunidade e eficácia (que, como vemos, foi letal).
Ainda assim, a possibilidade de se tratar de uma falsificação existe, claro. E existe, com muito maior probabilidade, a de aquilo a que Passos Coelho - que tentei contactar várias vezes, tendo também tentado falar com o assessor de imprensa do PSD, sem sucesso - responde com o seu sonoro "Não parece, é", não ter sido o "Sócrates parece mais gay" que ouvimos em primeiro plano (e isto apesar de a risada bastante alarve que se ouve em resulado da resposta do candidato não ser muito compatível como o "parece mais velho" ou "parece mais alto" que se ouvem claramente antes e depois e que não suscitam qualquer reacção generalizada). Tudo isto é possível, sim senhor. Como é possível que Passos Coelho tenha mesmo dito aquilo em resposta a um miúdo.
O que devia ser de todo impossível mas sucedeu é que este vídeo andou a circular na net durante 10 dias (há pelo menos um post num blogue a 7 de Junho, curiosamente para certificar que o vídeo é "falso" ) e não houve um jornalista que lhe tenha "pegado". Não houve ninguém com vontade de fazer perguntas.
Na semana em que tantos bloguistas e opinadores se indignaram - e eu fui um deles  - com as insinuações de Ana Gomes em relação a Paulo Portas, nomeadamente no que diz respeito a aspectos da sua vida privada, é revelador constatar que ninguém considerou dever dar relevo à suspeita de que Passos Coelho possa ter comentado a orientação sexual do PM em funções, nem sequer para a infirmar (à suspeita). Podemos ter muitas teorias sobre os motivos deste silêncio, mas vão todas dar ao mesmo: uma escandalosa parcialidade e um sistema de pesos e medidas insuportavelmente diferentes.
É que ninguém pode duvidar de que se algo de semelhante se tivesse passado com Sócrates ou com alguém do PS estaria nas TV em menos de um fósforo, sem que ninguém se preocupasse em verificar se "foi mesmo assim". Independentemente da veracidade daquilo que o vídeo nos mostra, ou seja, independentemente de Passos Coelho ter realmente respondido "Não parece, é" a um miúdo que lhe diz "Sócrates parece mais gay", a questão que este episódio levanta é "parece um cover up". Com ponto de exclamação e tudo.

ADENDA: Alguns dos comentadores justificam, para "provar" uma eventual falsificação, o facto de aparentemente Passos Coelho não abrir a boca quando se ouve "Não parece, é!". Ora a única coisa que consegui provar com certeza absoluta junto das duas jornalistas com quem falei é que essa frase foi de facto dita por Passos Coelho.

Como se pode ver neste vídeo.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

VERMELHO - CÕR ASSASSINA

Vermelho é mais recente palavra que incendiou os mercados da dívida. À conta dela, no dia seguinte, os indicadores de risco europeu dispararam, os juros dos títulos no mercado secundário e a probabilidade de bancarrota de vários membros da zona euro subiram em flecha. Mais um dia negro
À saída na quarta-feira de uma reunião em Frankfurt do recém-criado European Systemic Risk Board (ESRB), Jean-Claude Trichet, o presidente do novo organismo e também chefe do Banco Central Europeu, proferiu “a título pessoal”, como frisou, uma palavra assassina: vermelho.
Explicando que o novo organismo – o ESRB – terá em permanência um sistema de alarme com cores para monitorizar os riscos sistémicos da situação financeira, foi-lhe perguntado que cor atribuiria à situação atual, a que respondeu que seria o vermelho. Ou seja, estamos em alerta vermelho.
Adiantou, ainda, à saída dessa reunião, que a “interligação” entre as vulnerabilidades de finanças públicas de alguns membros da zona euro e o sistema bancário poderia gerar efeitos “potenciais de contágio dentro da União Europeia e para além dela”.
No mesmo dia, o presidente da Reserva Federal americana, Ben Bernanke, do outro lado do Atlântico, juntaria mais algum petróleo à fogueira ao salientar que um default na Grécia “perturbaria os mercados financeiros” em todo o mundo.
Efeito sistémico
Em suma, a ideia gerada é que um “acidente financeiro” (um termo do jargão técnico) na Grécia poderia funcionar como um “evento Lehmam” com efeitos sistémicos, jogando na similitude com a declaração de bancarrota do banco americano Lehman Brothers em setembro de 2008 a que alguns atribuem o despoletar da grande crise financeira.
O impacto destas frases do dia anterior não se fez esperar hoje. O indicador da Markit designado por iTraxx Sovx Western Europe, um índice relativo a credit default swaps (cds, que funcionam como seguros contra incumprimento) de dívidas soberanas da Europa Ocidental, passou hoje, nas maturidades a 5 anos, os 240 pontos base, o que acontece pela segunda vez na história deste índice, depois de ter ocorrido o mesmo recorde há precisamente uma semana.
Também o iTraxx Europe Crossover série 15 da CMA DataVision revela o nervosismo dos últimos trinta dias em relação aos cds de entidades europeias: o índice nas maturidades a 5 anos aumentou 22,19% e o nas maturidades a 10 anos subiu 33,34%.
Vendaval no risco e nos juros
Os seis países europeus sob observação dos mercados financeiros – Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália e Bélgica – foram varridos por um vendaval no mercado dos credit default swaps ligados à dívida soberana e no mercado secundário dos títulos soberanos.
O risco de bancarrota da Grécia subiu ao longo do dia de 82% para mais de 83%, o de Portugal de 49,81% para 51,24%, o da Irlanda de 48,54% para 49,76%, o da Espanha de 22,81% para 23,9%, o de Itália de 15,6% para 16,48% e o da Bélgica de 13,01% para 13,84%, segundo dados da CMA DataVision. As maiores variações diárias do risco observaram-se nos casos da Bélgica e da Itália.
As yields (juros implícitos) dos títulos soberanos no mercado secundário também dispararam. A maior pressão foi exercida sobre os juros das obrigações do Tesouro portuguesas a 2 anos e sobre os juros das obrigações espanholas com a mesma maturidade.

ESPANHA ABANA E CORRE PARA O DEFAULT

O contágio grego ao resto dos “periféricos”, a ideia que se começa a disseminar entre os investidores da eminência de um “acidente financeiro” na Grécia com efeito sistémico em todos os membros da zona euro, não tem estado a poupar o nosso vizinho.
O preço dos credit default swaps (seguros financeiros contra o risco de incumprimento de uma dívida, neste caso, soberana) disparou esta quinta-feira (23 de junho) para o caso espanhol. Tendo aberto em 285,99 pontos base (pb) fechou em 301,49 pb, um nível similar ao da Islândia, que recentemente re-entrou no mercado e no “clube” da bancarrota (onde está em 8º lugar). A probabilidade de default disparou de 22,81% para 23,90% e o país subiu para o 9º lugar no referido clube.
As yields (juros implícitos) das obrigações espanholas (OE) no mercado secundário estiveram em alta também. Os juros das OE com maturidades a 2 anos foram dos que mais subiram hoje no conjunto dos países da zona euro; apenas os juros das obrigações do Tesouro a 2 anos subiram mais.
Juros a 10 anos perto de máximo
Os valores de fecho das yields das OE foram os seguintes: 3,59% para a maturidade a 2 anos; 4,25% para os 3 anos; 4,85% para os 5 anos; e 5,63% para os 10 anos.
Nenhum destes valores marca novo máximo histórico em termos de valores de fecho. Nos juros das OE a 2 anos o máximo está em 4,76% atingido em 13/06/2008; nos juros das OE a 3 anos fixou-se nos 4,874% em 17/06/2008; nos juros das OE a 5 anos atingiu os 4,949% em 19/06/2008; e nos juros a 10 anos o máximo foi alcançado, recentemente, em 10/06/2011 com 5,658%. Tendo em conta estes máximos, verifica-se já alguma “proximidade” nos casos dos juros das OE a 3 e a 10 anos.
Estes níveis de juros e de risco estão, ainda, muito longe dos atingidos pela Grécia, Portugal ou Irlanda, mas revelam que Espanha surge como um quarto membro da zona euro, ainda que distanciado por ora, incluído no “cabaz” dos em situação crítica. A imagem de que Espanha teria “descolado” do “clube” parece estar em causa.
Trambolhão na bolsa em Madrid
A bolsa espanhola refletiu esta situação. O IBEX 35 – o índice bolsista – fechou com perdas de 2,77%, um míni-crash, tendo descido abaixo dos 10.000 pontos. Entre os grandes da bolsa as caídas andaram no mesmo ritmo geral: BBVA caiu 5,46%, Santander 4,79%, Sacyr Vallehermoso 4,78%, Acciona 4,54%, Mediaset 3,98%, Gamesa 3,74%, Iberdrola 2,72%, Repsol 2% e Telefónica 1,96%

quinta-feira, 23 de junho de 2011

DE ESPANHA....

Pressão do FMI

22 junho 2011
"Mais um golpe para a Espanha em plena crise do euro: FMI faz pressão", titula o diário El Periódico, um dia depois da publicação, pela instituição internacional, das conclusões preliminares de uma missão de avaliação em Espanha. O FMI "exige ao Governo espanhol um ajuste suplementar de 20 milhões de euros em 3 anos". A instituição "faz o elogio" das reformas postas em curso pelo primeiro ministro José Luís Zapatero, mas considera, porém, que a recente reforma do mercado de trabalho é "limitada" e que os riscos na economia espanhola continuam a ser "consideráveis". O FMI aconselha um aprofundamento das reformas "corajoso", com uma retoma "gradual mas incompleta". Para o FMI, as regiões e os municípios constituem a "principal fonte de incerteza" em relação ao cumprimento dos objetivos de controlo do défice, conclui El Periódico.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

POIS.....

Grécia - China

Privatizações

21 junho 2011 The New York Times Nova Iorque

bancos falidos

As razões por que o BCE não admite uma reestruturação da dívida grega é aqui muito bem explicada. Também aqui se explica porque é que toda a banca europeia está falida apesar de apresentar lucros contabilísticos astronómicos.

Ingleses sem nobreza

Se o Le Monde e os jornais alemães iniciaram segunda-feira (20 de junho) uma campanha publicitária paga pelas multinacionais alemãs e francesas a favor do euro (“O euro é necessário”), o The Telegraph, em Londres, noticiava que o chanceler do Tesouro britânico (ministro das Finanças) George Osborne foi muito claro de que o Reino Unido ficará de fora de um novo pacote de resgate à Grécia e que um debate de urgência entre deputados britânicos, de todos os partidos, discutira cenários em que a Grécia seria forçada a abandonar o euro.
Também, o mayor de Londres, Boris Johnson, declarou, na sua coluna no Daily Telegraph, que a Grécia regressar à sua antiga moeda, o dracma. E o antigo secretário dos negócios estrangeiros britânico Jack Straw, dos trabalhistas, foi mais longe ao declarar que um fim “rápido” do euro seria preferível a uma “morte lenta” da moeda única.
As posições britânicas contrastam com a reafirmação por parte de japoneses e chineses do seu apoio às iniciativas europeias de emissão de obrigações pela Facilidade Europeia de Estabilização Financeira, que se destinam a suportar os planos de resgate.

Eu , antigamente , costumava,  aos espanhois que paravam para me perguntar o melhor caminho para um sítio, indicar-lhes a direcção diametralmente oposta. Que tal, se este ano, no Algarve mandassemos estes alarves ingleses que procuram o caminho das praias até ao alentejo ?Podíamos transformar isto num desporto nacional : por um lado como eles só alugam veículos em rent-a-car ingleses, a gente ajudava-os a sair da recessão, e depois sempre era uma maneira de lhes abrir os olhos e maiores paisagens.

Ingleses sem nobreza

Directo de Singapura (21 de junho): A agência de notação de risco admite poder considerar as soluções que estão a ser pensadas para a dívida grega como um default puro e simples e ameaça que se o teto de endividamento federal americano não for subido a situação poderá chegar a um “default restrito”.
Apesar das posições de alguma abertura da agência de notação de risco Fitch em relação a uma solução do tipo da “Iniciativa de Viena” para a crise da dívida grega (e como parâmetros do segundo pacote de resgate a Atenas), o seu responsável para a Ásia-Pacífico, Andrew Colquhoun, disse hoje em Singapura, segundo a Reuters, que “a Fitch encarará uma troca de dívida ou um rollover voluntário da dívida [grega] que vença como um evento de crédito, o que implicará um rating de default para a Grécia”, a notação mais baixa de todas.
O cisne cinzento americano
André Colquhoun virou-se, depois, para o caso dos Estados Unidos e a dureza da agência foi similar. O rating dos Estados Unidos será colocado em perspetiva de revisão negativa se o Congresso norte-americano prosseguir nas guerrilhas políticas e não aumentar o nível do teto de endividamento federal até 2 de agosto, quando ocorrerá um primeiro pagamento de dívida soberana. Acrescentou ainda mais claramente que se o Tesouro americano falhar o segundo pagamento de dívida a 15 de agosto, então a Ficth baixará o rating dos Estados Unidos para “default restrito”.
Mas, logo, acrescentou, segundo a Reuters, que acredita que os políticos americanos não deixarão a situação chegar a tal ponto.
A Fitch é a primeira agência a dizer claramente que mexerá no sacrossanto rating dos Estados Unidos se ocorrer um “se” que muitos acreditam que nunca se concretizará. Como já começou a ser tão falado e deixou de ser tabu, seria o “cisne cinzento” de 2011, pois “cisne negro” – na nomenclatura de Nassim Taleb – é mesmo aquilo que emerge sem ser esperado e sequer imaginado.
Os chineses, por seu lado, já avisaram que os americanos estão a “brincar com o fogo”.

Falência da América

Directo de Singapura (21 de junho): A agência de notação de risco admite poder considerar as soluções que estão a ser pensadas para a dívida grega como um default puro e simples e ameaça que se o teto de endividamento federal americano não for subido a situação poderá chegar a um “default restrito”.
Apesar das posições de alguma abertura da agência de notação de risco Fitch em relação a uma solução do tipo da “Iniciativa de Viena” para a crise da dívida grega (e como parâmetros do segundo pacote de resgate a Atenas), o seu responsável para a Ásia-Pacífico, Andrew Colquhoun, disse hoje em Singapura, segundo a Reuters, que “a Fitch encarará uma troca de dívida ou um rollover voluntário da dívida [grega] que vença como um evento de crédito, o que implicará um rating de default para a Grécia”, a notação mais baixa de todas.
O cisne cinzento americano
André Colquhoun virou-se, depois, para o caso dos Estados Unidos e a dureza da agência foi similar. O rating dos Estados Unidos será colocado em perspetiva de revisão negativa se o Congresso norte-americano prosseguir nas guerrilhas políticas e não aumentar o nível do teto de endividamento federal até 2 de agosto, quando ocorrerá um primeiro pagamento de dívida soberana. Acrescentou ainda mais claramente que se o Tesouro americano falhar o segundo pagamento de dívida a 15 de agosto, então a Ficth baixará o rating dos Estados Unidos para “default restrito”.
Mas, logo, acrescentou, segundo a Reuters, que acredita que os políticos americanos não deixarão a situação chegar a tal ponto.
A Fitch é a primeira agência a dizer claramente que mexerá no sacrossanto rating dos Estados Unidos se ocorrer um “se” que muitos acreditam que nunca se concretizará. Como já começou a ser tão falado e deixou de ser tabu, seria o “cisne cinzento” de 2011, pois “cisne negro” – na nomenclatura de Nassim Taleb – é mesmo aquilo que emerge sem ser esperado e sequer imaginado.
Os chineses, por seu lado, já avisaram que os americanos estão a “brincar com o fogo”.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

espana por favor....

Dívida pública em Espanha cresce 17,5% no 1.º trimestre

A dívida do conjunto das Administrações Públicas espanholas -- central, regional e local -- aumentou 17,5 por cento no primeiro trimestre, face ao período homólogo em 2010, para 679.779 milhões de euros. 

DELENDA CHINA EST !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Uma história chinesa que faz chorar a polónia e rir em Portugal, como se vê aqui

E OS CREDORES PRIVADOS VÃO ARCAR COM OS PREJUÍZOS....designadamente os de tentoress das "aplicações financeiras bancárias dos bancos portugueses"...

Prosseguiu na quinta-feira (16 de junho) a escalada dos juros das obrigações do Tesouro (OT) portuguesas. Os juros das OT a 3 anos fecharam, pela primeira vez, acima de 14%, e as maturidades a 2 encerraram o dia acima de 13%, segundo dados da Bloomberg. Também os juros das OT a 5 anos se aproximam dos 13%, tendo fechado em 12,85%. São novos máximos desde a adesão de Portugal ao euro.
O risco de incumprimento da dívida portuguesa subiu hoje pela primeira vez acima de 49%, tendo a meio da manhã atingido os 49.9%, e fechado em 49,42%, segundo o monitor de risco da CMA DataVision.
Grécia com risco de “cenário de acidente”
Com o agravamento da crise política grega e o adiamento de decisões sobre o segundo plano de resgate a Atenas – com o comissário europeu para os assuntos económicos Olli Rehn a admitir o deslizar do assunto para julho e o jornal alemão Suddeutsche Zeitung a falar de adiamento até ao outono -, a probabilidade de default do país está em perto de 80%. Havia fechado ontem em 76,87% e no início do mês estava em 70,14%.
O custo dos seguros contra o incumprimento da dívida – os denominados credit default swaps (cds) – viveram uma escalada ao longo do dia estando agora em mais de 2230 pontos base, um valor histórico, mais de 2100 pontos acima do custo dos cds para a Alemanha, que servem de referência na zona euro.
Em virtude deste diferencial brutal, os juros dos títulos gregos refletem esta situação escaldante no mercado secundário – as yields (juros implícitos) nas maturidades a 2 e 3 anos estão acima de 29%. A maior pressão exerceu-se sobre as maturidades a 2 anos, cujo nível de juros para manter dívida grega a este prazo fechou nos 29,69%.
O sentimento de que um “cenário de acidente [financeiro]” com um default descontrolado em Atenas pode ocorrer levou o Financial Times a referir hoje que alguns fundos estão a apostar nessa previsão, investindo em cds a 12 meses.
Forte pressão sobre a Irlanda
No entanto, o país que sofreu a maior pressão sobre os juros durante toda a tarde foi a Irlanda. Os juros dos títulos irlandeses a 2 anos no mercado secundário subiram para 12,95%, face a 12,10% no fecho de ontem.
O risco de default subiu de 47,26% ontem para 48,93% agora no fecho. Esta escalada derivou do impacto das afirmações do ministro das Finanças Michael Noonan pretendendo vir a envolver nos resgates financeiros os credores seniores de dois bancos irlandeses, conforme já noticiámos.
Espanha mantém-se no “clube” da bancarrota
Também os juros das obrigações espanholas (OE) no mercado secundário mantiveram a tendência de alta ao longo do dia em relação ao fecho de quarta-feira. Os juros das OE a 10 anos fecharam em 5,66%, quando no início do mês estavam em 5,29%.
Uma colocação pelo Tesoro de España de obrigações espanholas a 8 e 15 anos foi interpretada como não tendo corrido da melhor forma pelos analistas da Eurointelligence.
O risco de default de Espanha subiu hoje para 22,71%, conservando o país o 9º lugar no TOP 10 mundial deste risco. Neste “clube” estão a Grécia (que lidera destacada), Portugal em 3º lugar e a Irlanda em 4º.
Empatar até setembro?
Os mercados aguardam, agora, os resultados da cimeira entre Merkel e Sarkozy amanhã e da reunião do Eurogrupo no domingo.
No entanto, o comissário europeu dos assuntos económicos e monetários, o finlandês Olli Rehn, disse hoje que o tema do segundo plano de resgate para a Grécia poderá ser adiado da reunião de domingo (19 de junho) do Eurogrupo para a próxima reunião a 11 de julho.
O que se espera é que nas reuniões de 19 e 20 de junho seja desbloqueada a quinta tranche do plano inicial de resgate a Atenas. O montante desta tranche será na ordem dos €18 mil milhões (em vez dos 12 mil milhões previstos inicialmente) de modo à Grécia poder aguentar até setembro por uma decisão europeia sobre o segundo plano de resgate.
Olli Rehn esclareceu que com este plano em “dois passos” – desbloquear a tranche em julho e discutir o compromisso sobre o segundo plano de resgate em setembro – combinado com o Fundo Monetário Internacional se evitaria “um cenário de acidente”.

A QUEM DEVEMOS.... e vai ficar a arder....

O maior investidor individual na dívida soberana portuguesa é o Banco Central Europeu (BCE) com um envolvimento de 13,3%, ou seja €21 mil milhões num total de €158 mil milhões, segundo as contas feitas pela RCB Capital Markets para o The Wall Street Journal. (Texto JNR Gráficos JPO LISWires.com)
Seguem-se na lista de principais entidades, o FMI/EU com 11,4% do total (18 mil milhões) e os bancos nacionais com 10,8% (€17 mil milhões). Os bancos alemães, franceses e espanhóis detêm a mesma percentagem, 3,8% da dívida em cada caso (6 mil milhões por cada país de origem).

No entanto, quase 49% da dívida é detida por gestores de ativos, fundos soberanos e outros bancos centrais (para além do BCE), num montante de €77 mil milhões.
As situações são diferentes nos três casos de países da zona euro “intervencionados” pela troika.
VISUALIZAÇÃO DOS DETENTORES DA DÍVIDA EM PT, GR e IRL
No caso da Grécia, o principal credor é o duo FMI/EU com 15,5% do total da dívida helénica de €341 mil milhões. Seguem-se o grupo dos bancos gregos com 14,7% (é o país dos três em que a banca doméstica está mais exposta à dívida do próprio país) e o BCE com 13,8%. O conjunto dos gestores de ativos, fundos soberanos e outros bancos centrais detém €151 mil milhões, ou seja 44,3%.
Finalmente, no caso irlandês, o perfil dos principais credores é uma “mistura” dos perfis português e grego: o principal credor é o duo FMI/EU com 19,5% da dívida total de €113 mil milhões e o segundo é o BCE com 16,8%. O conjunto dos gestores de ativos, fundos soberanos e outros bancos centrais detém 46%, ou seja €52 mil milhões.
Troika detém 29% da dívida dos três países
No conjunto dos três países “intervencionados”, a troika (FMI/UE/BCE) detém 29% dos €612 mil milhões de dívidas soberanas da Grécia, Portugal e Irlanda.
O duo FMI/UE já aplicou €93 mil milhões e o BCE €87 mil milhões nos três países.
A troika varia a sua participação na dívida dos três países entre 36,3% para a Irlanda, 29,3% para a Grécia e 24,7% para Portugal.
Fonte original no The Wall Street Journal.

artigo censurado no "Diário de notícias "

por Sérgio Lavos


Pedro Pezarat Correia, brigadeiro do Exército e Capitão de Abril, viu um artigo de opinião ser recusado pelo Diário de Notícias. Não sabemos se pela sensibilidade do tema, se pelo conteúdo, só sabemos que não foi aceite para publicação. Antes da revolução que este militar ajudou a levantar, isto tinha um nome: censura. E em democracia, que nome terá? Fica aqui o texto na íntegra (divulgado pelo Rui Bebiano via Facebook):

PAULO PORTAS MINISTRO?

Ana Gomes provocou uma tempestade mediática com as suas declarações sobre Paulo Portas. Considero muito Ana Gomes, uma mulher de causas, frontal, corajosa, diplomata com muito relevantes serviços prestados a Portugal e à Humanidade. Confesso que me escapa alguma da sua argumentação contra Paulo Portas e não alcanço a invocação do exemplo de Strauss-Kahn. Mas estou com ela na sua conclusão: Paulo Portas não deve ser ministro na República Portuguesa. Partilho inteiramente a conclusão ainda que através de diferentes premissas. Paulo Portas, enquanto ministro da Defesa Nacional de anterior governo, mentiu deliberadamente aos portugueses sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque, que serviram de pretexto para a guerra de agressão anglo-americana desencadeada em 2003. Sublinho o deliberadamente porque, não há muito tempo, num frente-a-frente televisivo, salvo erro na SICNotícias, a deputada do CDS Teresa Caeiro mostrou-se muito ofendida por Alfredo Barroso se ter referido a este caso exactamente nesses termos. A verdade é que Paulo Portas, regressado de uma visita de Estado aos EUA, declarou à comunicação social que “vira provas insofismáveis da existência de armas de destruição maciça no Iraque” (cito de cor mas as palavras foram muito aproximadamente estas). Ele não afirmou que lhe tinham dito que essas provas existiam. Não. Garantiu que vira as provas. Ora, como as armas não existiam logo as provas também não, Portas mentiu deliberadamente. E mentiu com dolo, visto que a mentira visava justificar o envolvimento de Portugal naquela guerra perversa e que se traduziu num desastre estratégico. A tese de que afinal Portas foi enganado não colhe. É a segunda mentira. Portas não foi enganado, enganou. Um político que usa assim, fraudulentamente, o seu cargo de Estado, não deve voltar a ser ministro. Mas já não é a primeira vez que esgrimo argumentos pelo seu impedimento para funções ministeriais. Em 12 de Abril de 2002 publiquei um artigo no Diário de Notícias em que denunciava o insulto de Paulo Portas à Instituição Militar, quando classificou a morte em combate de Jonas Savimbi como um “assassinato”. Note-se que a UNITA assumiu claramente – e como tal fazendo o elogio do seu líder –, a sua morte em combate. Portas viria pouco depois dessas declarações a ser nomeado ministro e, por isso, escrevi naquele texto: «O que se estranha, porque é grave, é que o autor de tal disparate tenha sido, posteriormente, nomeado ministro da Defesa Nacional, que tutela as Forças Armadas. Para o actual ministro da Defesa Nacional, baixas em combate, de elementos combatentes, particularmente de chefes destacados, fardados e militarmente enquadrados, num cenário e teatro de guerra, em confronto com militares inimigos, também fardados e enquadrados, constituem assassinatos. Os militares portugueses sabem que, hoje, se forem enviados para cenários de guerra […] onde eventualmente se empenhem em acções que provoquem baixas, podem vir a ser considerados, pelo ministro de que dependem, como tendo participado em assassinatos. Os militares portugueses sabem que hoje, o ministro da tutela, considera as Forças Armadas uma instituição de assassinos potenciais». Mantenho integralmente o que então escrevi. Um homem que, com tanta leviandade, mente e aborda assuntos fundamentais de Estado, carece de dimensão ética para ser ministro da República. Lamentavelmente já o foi uma vez. Se voltar a sê-lo, como cidadão sentir-me-ei ofendido. Como militar participante no 25 de Abril, acto fundador do regime democrático vigente, sentir-me-ei traído.

Junho de 2011-06-13 PEDRO DE PEZARAT CORREIA

quarta-feira, 15 de junho de 2011

os falidos nunca fizeram guerras

A UE e o mundo

Médio Oriente

Europa sem armas face às crises

15 junho 2011 Libération Paris
Jogo de xadrez entre Anders Fogh Rasmussen (Chefe da NATO), e Bashar al-Assad (presidente sírio) interposto por Kadhafi (líder Líbio).
Jogo de xadrez entre Anders Fogh Rasmussen (Chefe da NATO), e Bashar al-Assad (presidente sírio) interposto por Kadhafi (líder Líbio).
Glez 
Envolvidos na Líbia, os europeus descobrem que não dispõem de meios à altura das suas ambições. E, sem meios militares, a Europa está condenada a não ter uma diplomacia credível, numa região que para si é estratégica. Eis o motivo por que os países europeus devem unir os seus programas de Defesa.
Foi um americano que revelou o segredo. A maioria dos países europeus não participa, por assim dizer, nas operações de apoio aéreo à insurreição na Líbia, cujo princípio aprovam, muito simplesmente porque o seu orçamento militar é demasiado limitado para que possam fazê-lo – declarou recentemente [o secretário norte-americano da Defesa] Robert Gates.
O chefe do Pentágono estava a dizer a verdade mas não toda a verdade. Os países da União [Europeia] praticamente não têm forças armadas, porque contavam com a proteção americana desde o início da guerra-fria, e, além disso, o desaparecimento da ameaça soviética levou-os a reduzir ainda mais o esforço militar. Até as grandes potências europeias, até Paris e Londres, têm capacidades de projeção extremamente reduzidas. A França e o Reino Unido podem assumir a operação líbia, mas, já envolvidos noutros terrenos, designadamente no Afeganistão, estes dois países estão a esgotar as suas reservas de munições e, sobretudo, experimentam uma situação de falta de homens e de materiais, que irá agravar-se devido às dificuldades orçamentais que experimentam.
Muito bem, excelente, dirão aqueles que, entre os europeus, consideram que os seus países não têm nada a fazer em Cabul, Misrata ou Abidjan. Contudo, para além do debate sobre a legitimidade dessas intervenções, nenhuma potência pode dispensar os meios militares, sem se condenar a si mesma a não ter existência política. Para nos fazermos ouvir e termos peso na cena internacional, é preciso termos a possibilidade de agir ou reagir. Neste começo de século, isso é especialmente verdade no caso da União Europeia, por dois motivos.
O primeiro é que, mesmo aqueles que, entre os europeus, consideram a sua dependência militar em relação aos Estados Unidos como a melhor garantia de coesão do campo ocidental foram obrigados a rever a sua posição depois de os americanos não terem levantado um dedo para apoiar a Geórgia no conflito deste país com a Rússia. Em agosto de 2008, os europeus mais atlantistas descobriram de repente que a América podia preferir a estabilização das suas relações com Moscovo a um dos seus mais fiéis aliados europeus e colocar os seus interesses à frente de uma solidariedade que aqueles julgavam inabalável.

EUA não querem financiar a defesa da Europa

A própria Polónia aderiu às ideias da política externa e de defesa comum europeia e essa viragem foi tanto mais oportuna na medida em que, a seguir, se deu o krach de Wall Street. Já decidida a não continuar a deixar que um conflito europeu de segunda ordem tivesse influência sobre o conjunto dos seus interesses internacionais, a América teve então de injetar tanto dinheiro público no salvamento da sua economia que o próprio Pentágono foi forçado a participar no esforço de ajustamento das contas federais.
Os Estados Unidos já não estão dispostos a financiar a defesa da Europa e há poucos motivos para se pensar que, um dia, voltem a estar. A mensagem de Robert Gates foi perfeitamente explícita e é isso também que se vê, hoje, no modo deliberado como os americanos deixam os europeus na primeira linha, na Líbia. Obrigados a tomar a seu cargo o essencial dessa operação, os europeus deverão comprovar agora que terão de aumentar as suas despesas militares, sobretudo porque terão de enfrentar o longo período de instabilidade que a primavera árabe desencadeou, de Rabá a Saná.
Ninguém sabe quais as consequências da loucura sanguinária do regime sírio, mas não há dúvidas de que esta gera efeitos em cadeia em toda a região, do mesmo modo que, quando se verificar, a queda do coronel Kadhafi irá modificar a paisagem do Norte de África. Tudo isto está a acontecer a curta distância da Europa, que não poderá ficar indiferente, tal como não poderá ficar imune. É esta a segunda razão pela qual os europeus não já podem deixar de pensar no financiamento da sua defesa. Contudo, num momento em que as restrições orçamentais são duras na maior parte dos países da União, em que se tornam intoleráveis na Grécia e em que poderão suscitar tensões políticas por toda a parte, seria simplesmente inconcebível tirar verbas à educação, às autarquias ou à saúde para as entregar às forças armadas. Os europeus só poderão aumentar os seus esforços militares se agruparem os meios existentes e desenvolverem programas comuns.
Foi o que começaram a fazer o Reino Unido e a França. Apesar do seu atlantismo, o próprio Reino Unido compreendeu essa necessidade, que não abrange apenas a defesa. A União Europeia deve reunir os meios dos diversos países e preparar políticas comuns. É essa a lição a retirar da observação de Robert Gates.

PLANO F - o mais provavel

O impasse é a nota dominante nas negociações no seio da União Europeia – e particularmente dentro da zona euro – sobre o novo plano de resgate para a Grécia. Uma solução de compromisso deverá ser tentada por Angela Merkel e Nicolas Sarkozi, o “diretório” da zona euro, na sexta-feira, a que se seguirá uma reunião do Eurogrupo no domingo. T
Compromisso tanto mais necessário já que os mercados financeiros estão ao rubro – o risco de default da Grécia subiu hoje para quase 77%, o de Portugal para quase 48% e o da Irlanda para mais de 47,5%, novos recordes. Espanha “sente” o contágio com um risco próximo de 22%, ainda que muito distante da situação dos outros três. Os juros das obrigações do Tesouro portuguesas a 3 anos dispararam para 13,59% e os dos títulos gregos com a mesma maturidade para 28,40%.
Uma coisa parece certa: o “plano A”, a estratégia de resgate gizada em maio do ano passado e transposta para o MoU (memorando de entendimento) da troika com Atenas, é considerada um fracasso. Em virtude desta constatação, dirigentes da zona euro começaram a falar na necessidade de adicionar um segundo pacote de resgate (um segundo empréstimo a somar aos € 110 mil milhões iniciais) com novas condições associadas. Entre as novas condições a ideia de um “envolvimento dos privados” nesse segundo pacote.
Plano B: o re-profiling com “envolvimento dos privados”
Assim surgiu o Plano B: o “envolvimento dos privados” traduzir-se-ia por uma troca de títulos gregos que vençam e que estejam na mão de bancos, fundos de pensões e seguradoras por novos títulos com um novo prazo de mais sete anos. Ou seja, com essa aceitação de um reescalonamento dos prazos da dívida, os privados ajudariam a Grécia em cerca de €30 mil milhões, segundo as estimativas. Jean-Claude Juncker, o primeiro-ministro luxemburguês e presidente do Eurogrupo (reunião dos ministros das Finanças da zona euro), chamou-lhe em maio um re-profiling (um termo inexistente no léxico dos mercados financeiros e das agências de notação) da dívida e os alemães, pela voz do ministro das Finanças Wolfgang Schauble, tornaram este Plano B em doutrina oficial de “reestruturação suave”. Holandeses e austríacos apoiam esta solução, atendendo à justificação política de que não só os “contribuintes europeus deverão ser envolvidos na fatura, mas também os investidores privados”.
Mas esta solução tem colhido a oposição das agências de rating (que consideram tal mecanismo um evento de crédito seletivo, como o deixou bem claro recentemente a Standard & Poor’s, que calcula um “corte de cabelo” associado de 50 a 70% do valor facial dos investimentos dos privados), do Banco Central Europeu (BCE), da Comissão Europeia e da França, o segundo pilar do “diretório” europeu. A Moody’s avisou claramente os franceses que a notação dos seus principais bancos seria afetada dada a exposição à dívida grega e um relatório confidencial da Comissão Europeia apontava para um custo adicional desse re-profiling na ordem dos €20 mil milhões só para recapitalizar a banca grega.
Face a esta oposição, os alemães e Juncker procuram um compromisso. Steffen Kampeter, secretário de Estado de Schauble, disse ontem explicitamente que “não faremos nada que vá explicitamente contra a opinião do BCE”.
Plano C: Adaptar a Iniciativa de Viena
Pelo que os protagonistas procuram um Plano C. Uma das ideias que eventualmente poderia obter consenso seria uma solução do tipo da “Iniciativa de Viena”. Mario Draghi, o indigitado presidente do BCE depois do final do mandato de Jean-Claude Trichet em novembro, inclinou-se para esta solução como uma plataforma negociável. O comissário Olli Rehn, finlandês, falou, também, no mesmo sentido: “um acordo na base da Iniciativa de Viena, em que os bancos prolongam a duração dos seus empréstimos [à Grécia] de maneira voluntária”, ou seja uma recondução voluntária das dívidas gregas que cheguem ao seu término (ao rollover) por parte dos credores privados.
A “Iniciativa de Viena”, denominada European Bank Coordination Initiative, dirigiu-se a cinco países do leste europeu – Bósnia, Hungria, Letónia, Roménia e Sérvia – e propunha que os bancos transfronteiriços europeus e outras entidades expostas à dívida destes países conservassem a sua exposição, e não debandassem. A iniciativa foi lançada em janeiro de 2009 e pretendia evitar os erros do que ocorrera em crises da dívida nos anos 1990. Foi um programa conjunto do BERD- Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Europeu de Investimento, do Banco Mundial e da União Europeia, com o Banco Central Europeu como observador.
Curiosamente, por imposição dos finlandeses, essa condição acabou por ficar em letra de forma no MoU do plano de resgate a Portugal: “As autoridades portuguesas deverão encorajar os investidores privados a manterem a sua exposição global numa base voluntária”. Foi a primeira vez que se colocou uma condição destas nos resgates aos países da zona euro, salientam os analistas. E cuja substância pode ser mais do que simbólica – como se está a ver agora.
Plano D: Reestruturação com filhos e enteados
Mas as propostas não se ficam por aqui. Um Plano D foi apresentado esta semana por Sony Kapoor, diretor do think tank europeu Re-Define, num comentário no Financial Times a uma análise de Nouriel Roubini sobre a probabilidade de uma reestruturação em breve da dívida grega e de outros membros da zona euro.
Kapoor pensa que uma re-estruturação é inevitável e que é preferível, agora, do que em meados de 2013, como politicamente parece ser tentador, adiando por ora o problema. Mas coloca um conjunto de condições que passam pela “diferenciação dos vários grupos de credores” – em que os credores oriundos do BCE, dos veículos financeiros europeus e dos bancos gregos deveriam ser tratados “preferencialmente”. No fundo, o fardo deveria ser concentrado nos credores privados externos, nomeadamente os bancos franceses e alemães, que Kapoor acha que aguentariam o embate. O “corte de cabelo” (hair cut, no jargão financeiro) provável será na ordem dos 50% desses investimentos feitos por bancos e outros investidores privados institucionais. Mas é preferível, agora, do que depois de julho de 2013, altura em que o “corte de cabelo” deverá andar na ordem dos 75%, diz Kappor.
Para evitar o contágio aos outros, Kapoor sugere que seja introduzida no Mecanismo Europeu de Estabilização a funcionar depois de meados de 2013 uma cláusula que permita este tipo de reestruturação quando o peso da dívida pública no PIB for superior a 120% e quando o peso do serviço de dívida no PIB ultrapassar os 6%. O que, por ora, deixaria de fora, diz Kapoor, a Irlanda e Portugal.
Plano E: Eurobonds quando o tempo for oportuno
A ideia de eurobonds (e-bonds) como um novo instrumento europeu de dívida voltou a surgir esta semana no Parlamento Europeu quando o indigitado presidente do BCE, Mario Draghi, interrogado sobre o assunto, respondeu que se trata de “algo completamente legítimo de se pensar logo que haja uma união mais estreita”. Draghi acentuou que tal união é “um pré-requisito para uma divida partilhada”. Mas o banqueiro central italiano logo acrescentou que “por ora, a zona euro deverá reforçar as suas regras em vez de pensar em instituições adicionais ou mesmo em orçamentos partilhados”.
A proposta dos eurobonds foi avançada a 5 de dezembro do ano passado no Financial Times por Jean-Claude Juncker e pelo ministro de Economia e Finanças italiano Giulio Tremonti na sequência da ideia de criar uma Agência de Dívida Europeia que substituísse a Facilidade Europeia de Estabilização Financeira em 2013. O novo instrumento de dívida deveria ir substituindo progressivamente as dívidas nacionais dos estados membros da zona euro e permitiria criar um mercado de títulos, em dimensão e em liquidez, similar ao norte-americano.
A proposta foi, no entanto, imediatamente rejeitada pela chanceler Merkel e pelo presidente Sarkozy. Alguns analistas comentaram que se tratava de uma boa proposta provavelmente ainda fora do tempo. Resta saber se a crise grega a recolocará na agenda.
Plano F: Simulação de um “Jubileu” da dívida soberana na Europa
O professor inglês Anthony Evans e os colegas da Europe Business School (ESCP), em Paris, lançaram em maio como simulador para os seus estudantes a solução de um “jubileu” da dívida soberana , através de um processo de liquidação mútua das dívidas entre os membros da União Europeia, por exemplo de um modo bilateral ou mesmo tripartido.
Segundo a simulação de Evans, a dívida soberana dos 8 países estudados (Alemanha, Irlanda, Itália, Espanha, França, Grécia, Portugal e Reino Unido) poderia ser reduzida em 64% através do cancelamento cruzado das dívidas, baixando a dívida total em relação ao PIB de 40,47% para 14,58%. Seis países – Alemanha, Irlanda, Itália, Espanha, França e Reino Unido – poderiam eliminar 50% da dívida existente. A rede de cruzamentos de dívida (valores em dólares) foi publicada pelo The New York Times recentemente.
No caso português, a simulação dos cruzamentos implicaria uma redução de mais de 1/3 da dívida.
Esta simulação tem granjeado enorme interesse na blogosesfera económica.

terça-feira, 14 de junho de 2011

por dentro da diplomacia....

Monday, June 13, 2011

Live Conversation on US-China Relations between Jon Huntsman and Henry Kissinger


In his new book, On China, U.S. Secretary of State, Henry Kissinger, writes about the turbulent history of US-China relations and a fear of communism that has haunted America since FDR’s failed attempt at diplomatic ties with the Nationalist and Communist parties in 1945. Speaking about the role of the countries in current affairs, Kissinger asks, “what a culmination if, forty years later, the United States and China could merge their efforts not to shake the world but to build it.”

Beginning 12:30 (EST) on Tuesday June 14, Thomson Reuters will explore this issue in a live conversation between Sir Harold Evans, Henry Kissinger, and U.S. Ambassador to China (as well as prospective Presidential candidate), Jon Huntsman. The event will serve as the first in a series that seeks to shed insight into the uncertain relationship between the two emerging superpowers.  The second conversation in this series kicks off the following Wednesday when Paul Ingrassia, Deputy Editor-in-chief of Reueters interviews Carlos Ghosn, Chairman, CEO, and President of Nissan.

To watch the conversation please visit the Reueters YouTube channel at http://www.youtube.com/reuters. The conversation will air live at 12:30 EST on Tuesday June 14th.

os problemas internos da china resolvem-se com "inimigos" externos....

Graphic of the DaySee More

China's May Trade Balance

China’s economic troubles have given rise to increased social unrest, such as riots due to land acquisition disputes and taxi drivers’ dissatisfaction with wages.

euro ao fundo com a grécia

Crise da dívida

A Grécia pode afundar o euro

14 junho 2011 The Irish Times Dublin
Numa altura em que a Standard & Poor's dá à economia grega a mais baixa notação de crédito do mundo, o editor de Economia do Irish Times defende que, se a longa história de disfunção política e económica do país aponta o seu futuro, os outros 16 países da Zona Euro também estão em risco.

A Grécia é um Estado à beira da falência. Tem falta de coesão social e está profundamente dividida. A sua economia está em estado de choque. Se a história do país serve de guia para o seu futuro, vêm aí problemas muito sérios.
Há mais de um ano, quando a troika das instituições que atualmente supervisionam o apoio financeiro à Irlanda aterrou pela primeira vez em Atenas, havia a esperança de que o país mais mal governado da Europa desenvolvida pudesse ser colocado nos trilhos.
Um novo governo tinha então tomado posse e as suas personalidades mais destacadas pareciam sinceras acerca do empenho numa reforma radical. Muitos gregos, especialmente os jovens e as pessoas cultas que reconheciam o grau de disfuncionalidade do país, apoiaram a rutura. Falou-se muito de oportunidades em tempo de crise.
Essa conversa já não faz sentido. A crise representa agora apenas ameaças e riscos.
Sob muitos aspetos, isso não surpreende. A disfuncionalidade crónica do Estado grego há muito que se instalou. Desde a independência, há quase dois séculos, a Grécia viveu guerra civil, golpes de Estado, deslocamentos em massa de populações, ditaduras e terrorismo.
Não há melhor espelho da sua situação do que a questão que tem atraído a atenção do mundo para o país nos últimos 18 meses: o caos orçamental. De acordo com um estudo feito pelos historiadores económicos Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, o Estado grego tem sido deficitário cerca de um em cada dois anos, desde que foi fundado, na década de 1820. Lutando com a segunda maior dívida pública do mundo, está de novo a enveredar por essa via.
A incapacidade do Estado grego para permanecer solvente é explicada em parte pela História. Província do Império Otomano durante séculos, a Grécia não acompanhou as grandes alterações políticas e sociais da Europa Ocidental. Uma das consequências disso é uma sociedade civil muito fraca e uma limitada tradição de instituições independentes. Os que exercem o poder político na Grécia fazem-no com um grau de absolutismo invulgar na Europa democrática.
O desencadear da crise da dívida soberana da Europa pela Grécia é disso o exemplo mais pertinente. Em países onde os limites do exercício do poder são respeitados, as estatísticas são tratadas de forma independente. Na Grécia, durante a última década, o Governo forçou o instituto nacional de estatística a publicar números altamente recriados e colocou gente de confiança a garantir que eram os que apareciam.
Após uma mudança de Governo, a extensão da fraude foi revelada no final de 2009. Durante os primeiros meses de 2010, foi-se espalhando lentamente pelo mercado de títulos que o Estado grego estava falido. Desde então, o mundo tem convivido com as consequências da crise da dívida soberana na Zona Euro.

Economia paralela

A vastidão da economia paralela da Grécia reflete não apenas a fraqueza do Estado na aplicação imparcial da lei, mas também uma falta de solidariedade social. Um estudo realizado pelo economista alemão Friedrich Schneider avalia-a em 2010 em um quarto da economia oficial grega, em 2010. Dos 21 países desenvolvidos incluídos na pesquisa, a Grécia liderava a tabela.
A venalidade na vida pública é outra razão para a falência do Estado grego. De acordo com a Trans- parency International, era o país mais corrupto da Europa desenvolvida em 2009 e o 57º do mundo no índice de corrupção da organização (a Irlanda está em 16º [numa escala crescente da incidência da corrupção]).
A corrupção é um hábito muito difícil de eliminar, uma vez instalada. Entre outras coisas, fratura a sociedade. E não faltam tensões e cicatrizes na sociedade grega. Ainda em 1974, o país era uma ditadura militar e sofria todas as injustiças tipicamente associadas a esses regimes, incluindo detenções arbitrárias, tortura e execuções sumárias.
Tudo isso veio somar-se à guerra civil da segunda metade da década de 1940, em que morreram 50.000 pessoas. Hoje, a Grécia continua a ser a sociedade mais militarizada da Europa, com despesas das mais altas do continente para a Defesa. A violência nas ruas é comum e persiste um mundo obscuro de células terroristas, embora pouco ativas nos últimos anos. Se a economia se deteriorar mais, existe o risco de alguns radicais e desesperados procurarem resposta no extremismo violento.
As probabilidades de a situação piorar são elevadas. Tensões sociais e corrupção crescente não são, em si, causa de fraqueza económica – basta ver a China e a Índia –, mas não ajudam. Infelizmente para a Grécia, mesmo que ambos os problemas desaparecessem imediatamente, não há motivos para acreditar que a corrosão económica parasse.
A Grécia exporta tão pouco que é a economia mais fechada dos 27 países que formam a UE. Uma pequena economia de pouco mais de 10 milhões de pessoas não pode nunca enriquecer sem exportar.
E nenhuma economia pode enriquecer sem inovar. O melhor indicador da capacidade de inovação de um país é o montante gasto em investigação e desenvolvimento. Na Grécia, as empresas e o Estado gastam anualmente 0,5% do PIB em investigação, menos de um terço da média da UE. Dos 15 membros mais antigos da UE, manteve constantemente os gastos mais baixos em investigação.
Há poucas razões para se ser otimista em relação à Grécia. A sua economia, política e sociedade não funcionam. Isso não é apenas muito mau para os gregos, mas também para os outros 16 países da Zona Euro. Se o país implodir, pode levar consigo ao fundo a moeda única.

crise inglesa

Reino Unido

O verão, o outono e o inverno do nosso descontentamento

14 junho 2011
The Times, 14 junho 2011
“Sindicatos preparam terreno para onda após onda de greves”, titula o The Times, depois do Unison, o maior sindicato britânico da função pública, ter anunciado quer cerca de 1,2 milhões dos seus membros estão “a caminho de uma ação coletiva”. As greves contra as alterações, feitas pelo governo, nas pensões, no emprego, nos salários e os cortes na segurança social serão ainda maiores dentro de uma geração, afetando as autarquias, o Serviço Nacional de Saúde (NS) e as escolas, escreve o diário londrino. Com o programa Big Society [Grande Sociedade] do primeiro-ministro David Cameron, que procura desmantelar o grande papel do Estado, cerca de 500 mil empregos em autarquias locais serão eliminados nos próximos três anos, bem como 600 mil outros empregos no setor privado, segundo o Unison. O sindicato diz, ainda, que mais de 66 mil empregos municipais já foram extintos e há mais 172 mil lugares em risco de desaparecerem. O primeiro dia de grande protesto está marcado para 30 de junho, com promessas demais protestos em julho. “O governo está a traçar um plano de emergência para proteger os serviços hospitalares, temendo que os médicos se juntem ao protesto”, escreve o The Times.

crises grega e irlandesa

Uma reunião especial dos ministros das Finanças da zona euro acaba de ser convocada para amanhã (14 de junho) à tarde, a que se seguirá uma reunião informal do Ecofin (ministros das Finanças dos 27 membros da União Europeia) à noite. O Eurogrupo, presidido pelo primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker, vai iniciar uma maratona para “amaciar” as divergências sobre a crise grega, sobre as condições anexas para a aprovação de um segundo pacote de resgate para Atenas. Juncker já havia anunciado que um grupo de trabalho iria procurar limar as posições opostas entre o BCE, por um lado, e ele próprio e os alemães, por outro.
Juncker e os alemães defendem uma “reestruturação suave” para a dívida soberana grega, implicando uma troca de títulos “voluntária” por parte dos credores privados (bancos e fundos) estendendo o prazo por mais sete anos. Foi Juncker que a 17 de maio avançou com a ideia de uma reestruturação a que chamou de re-profiling.
O Banco Central Europeu (BCE) opõe-se a qualquer reestruturação que desencadeie nos mercados financeiros um “evento de crédito”. Jean-Claude Trichet, o presidente do BCE, reafirmou hoje a sua linha de “nem evento de crédito, nem default seletivo”.
A reunião de ministros das Finanças da União Europeia (Ecofin) está convocada para dia 20 de junho e a cimeira dos 27 membros da União para dias 23 e 24 de junho.
Mais uma acha para a fogueira foi lançada ao final da tarde pela agência Standard & Poor’s relativamente à notação da dívida de longo prazo da Grécia e a Associação do mercado de derivados resolveu considerar o plano de reestruturação da dívida junior do banco irlandês AIB como “evento de crédito”.
S&P passa dívida grega para nível à beira de default
Entretanto, a agência de rating Standard & Poor’s baixou a notação da Grécia de B para CCC. Na notação B, a agência já considerava a dívida grega como “especulativa” (vulgo: lixo) mas apontava para um risco futuro de incumprimento. Com a notação CCC – o primeiro escalão nos C – fala-se já de risco muito claro de default.
No comunicado emitido pela agência fala-se de uma probabilidade muito significativa de ocorrerem “um ou mais defaults“. A agência manifesta, assim, a convicção de que os planos em curso para a Grécia no seio da zona euro têm uma alta probabilidade de gerar um evento de crédito.
A S&P fala de uma situação de incumprimento de facto se os planos em curso para uma reestruturação “suave” forem concretizados. Nesse caso, escreve a agência, a situação passa a “default selectivo” e a baixa de rating será automática de CCC para D (em default).
Segundo a agência, a taxa de recuperação do valor investido na dívida grega deverá variar entre 30 a 50% do valor facial.
Evento de crédito em banco irlandês
Entretanto, um comité de Credit Derivatives Determinations da ISDA (International Swaps and Derivatives Association) já declarou que as operações de reestruturação de dívida em curso no banco irlandês AIB (Allied Irish Banks) prefiguram um “evento de crédito” (o termo do jargão financeiro para um default).
O organismo do mercado de derivados financeiros considerou um default as decisões tomadas a 9 de junho pelo AIB de suspender o pagamento dos juros e estender os prazos de grande parte da dívida junior. As perdas destes investidores poderão chegar até aos 90% do valor dos seus títulos e os analistas em Dublin falam de €2 mil milhões envolvidos nessas perdas. Uma oferta de “pegar ou largar” está a decorrer hoje até à meia noite hora de Nova Iorque. Esta declaração desencadeará um processo de pagamento dos credit default swaps associados ao risco de default da dívida do AIB, num montante que a BBC inglesa estima em cerca de €350 milhões, um volume que não se espera que desencadeie uma situação de stresse financeiro neste sector de derivados.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ataque ao euro

Crise da dívida

As agências de notação atacam o euro

13 junho 2011 Libération Paris
Ajubel
A Moody’s, a Standard & Poor’s e a Fitch, que não previram as crises anteriores, são agora suspeitas de querer destabilizar a zona euro, o que representa uma ameaça mesmo para os países mais sólidos.
Será que as agências de notação querem matar o euro? Depois de, nos últimos 18 meses, terem baixado implacavelmente a classificação das dívidas públicas dos países da periferia da zona euro, remetendo para a categoria de "lixo" [dívida especulativa] as obrigações de algumas delas, ameaçam agora declarar que a Grécia se encontra em incumprimento de pagamento [da dívida]. Porquê? Porque os Estados europeus consideraram a hipótese de uma participação voluntária das instituições financeiras privadas (bancos, companhias de seguros, fundos de gestão, etc.) no salvamento daquele país. Uma maneira de impedir uma solução que permitiria salvar a Grécia da falência que, por mera coincidência, as agências consideram quase inevitável.
Como se os mercados não estivessem já suficientemente nervosos, as agências atacam também o clube muito seleto dos Estados que detêm a classificação AAA, correspondente à notação mais elevada (são 14). Nas últimas semanas, anunciaram igualmente que, a mais ou menos longo prazo, a França e também a Áustria poderiam perder os três A que lhe permitem obter financiamentos nos mercados a custos mais baixos.
"Fracasso". Mas a zona euro não é o único alvo desta febre: simultaneamente, as agências assustaram os Estados Unidos e o Reino Unido com a perspetiva de uma descida de classificação. Muitos economistas interrogam-se sobre qual será o objetivo das agências. "Se o ativo mais seguro, a dívida americana, também não está isenta de risco, o mundo vai mudar", observa Laurence Boone, professor de Economia na escola de formação de professores de Cachan (Val-de-Marne). As agências correm assim o risco de destabilizar o planeta financeiro, que ficará privado de investimentos seguros, e isso poderá desencadear uma nova crise mundial. Ainda que as agências contraponham que estão só a fazer o trabalho pelo qual são pagas e que os mercados não precisam delas para formar a sua opinião, há dois estudos que provam a sua responsabilidade direta na atual instabilidade financeira. Esses estudos foram realizados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) – estudo datado de fevereiro – e pelo Banco Central Europeu (BCE) – estudo publicado há alguns dias.
A conclusão é a mesma, nos dois casos: as descidas de classificação, que justificam os receios dos mercados e os suscitam em igual medida, têm efeitos diretos entre os investidores, que exigem automaticamente taxas de juro mais altas para cobertura de riscos adicionais. Sobretudo, num mercado da dívida fortemente integrado como o da zona euro, essas descidas de classificação têm um efeito destabilizador sobre o conjunto dos outros países, incluindo os que têm melhor notação. Em especial porque as suas instituições financeiras são detentoras de dívida de todos os países da zona euro: portanto, uma descida de classificação afeta automaticamente a sua solvabilidade.

As agências tentam esquecer os seus erros...degradando-se


As agências não só não foram capazes de antever a crise americana dos subprime de julho de 2007, nem a dos produtos com notação AAA até ao dia em que estes sofreram uma queda, como também não previram a crise da dívida soberana da zona euro, como sublinha o FMI. Um erro que tentam fazer esquecer desde então, através de uma febre de baixas de classificação.
O histórico é arrasador: durante 10 anos, as agências, e em especial as três gigantes do setor, a Moody’s, a Standard & Poor’s e a Fitch, ignoraram sistematicamente os problemas estruturais das economias periféricas. O ciclo das descidas de classificação só começou a partir de dezembro de 2009, ou seja, depois de o Governo grego ter reconhecido que mentira sobre a dimensão do seu défice público. Na altura, a Grécia tinha a notação A – a quinta melhor numa escala que inclui 20 notações. Dezoito meses mais tarde, a notação da dívida grega é de "lixo": em 9 de maio, a Standard & Poor’s baixou a classificação grega para a de obrigações especulativas e o exemplo foi seguido pela Fitch, em 31 de maio, e pela Moody’s, em 2 de junho. A descida aos infernos da Irlanda e de Portugal foi idêntica, apesar de as suas dívidas se situarem ainda ligeiramente acima da classificação de especulativas.
Liquidez. Tal como os tolos sem experiência, as agências atuam em grupo. Baixam a classificação de um país com alguns dias de intervalo e apresentam as mesmas análises, quase palavra por palavra. Acompanham frequentemente os receios dos mercados mas também se antecipam a esses receios, o que resulta em belas previsões que se concretizam por si mesmas. A descida de classificação obriga os investidores a vender em virtude das regras prudenciais, o que faz descer o valor das obrigações e confirma os receios dos mercados quanto à queda da dívida…
Através da disponibilização de várias dezenas de milhar de milhão de euros, a zona euro e o FMI puseram a Grécia, a Irlanda e Portugal a salvo de um incumprimento, que rejeitam politicamente. "Mas, para as agências, a ajuda assegura apenas a liquidez por um ano e não a solvabilidade", explica Laurence Boone. É designadamente por isso que as agencias avaliam a probabilidade de incumprimento da Grécia em "pelo menos 50%", dentro de três a cinco anos. O que poderá destabilizar toda a zona euro. A Comissão Europeia não tenciona deixar de intervir.