sábado, 29 de dezembro de 2012

LAGARDE evolui....

A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional afirmou ao jornal alemão “Die Zeit” (edição de 27 de dezembro) que a consolidação orçamental “não deve acontecer ao mesmo ritmo em todo o lado” na zona euro e que a organização passou a dar mais atenção às “consequências potenciais de reduções de défice excessivamente rápidas”.
“Continuamos a achar que a consolidação orçamental [na zona euro] é uma necessidade. Onde nota uma evolução ligeira na nossa abordagem é que estamos a dar mais ênfase a que [a consolidação] não deve acontecer ao mesmo ritmo em todo o lado e que deve ser adequada especificamente a cada país”, afirmou Christine Lagarde, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao jornal alemão “Die Zeit”. A entrevista foi publicada, em inglês, esta semana, no site do FMI e pode ser consultada aqui .
Lagarde estendeu esta reflexão sobre os processos de ajustamento na zona euro – que não se limitam aos planos de resgate nos três países “periféricos” com memorandos de entendimento com a troika – a uma avaliação mais geral sobre a atuação do FMI em todo o mundo. “Não estou aqui há muito tempo, mas penso que houve uma evolução no pensamento”, diz. A diretora-geral refere que houve épocas em que os programas de ajustamento preconizados e aplicados pelo FMI eram muito focados em exigir uma quantidade de resultados logo no início. E que isso conduziu “talvez” a descurar “as consequências potenciais de reduções do défice [orçamental] excessivamente rápidas”.
A atenção dada a esta entrevista focou-se, na Europa, numa parte das duas últimas perguntas em que a diretora-geral do FMI refere que a organização “não tem de estar envolvida financeiramente em cada caso”, depois de ter recusado a ideia, exposta numa pergunta, de que o Fundo estaria “farto” de agir em conjunto com as instituições europeias nos planos de resgate, procurando consensos. O jornal alemão, por seu lado, intitulou a entrevista com a afirmação de Lagarde de que o ministro das Finanças alemão Wolfgang Schauble “é um amigo”.
Três pontos essenciais da posição do FMI
Nesta entrevista, Lagarde insistiu em três pontos que têm sido constantes, ultimamente, nas intervenções do Fundo.
Primeiro: as metas estruturais de ajustamento são mais importantes do que as nominais. A razão desta recomendação é dada de seguida: “para evitar que os governos respondam a défices orçamentais crescentes – que são causados por circunstâncias económicas que pioram – com cortes que deprimem ainda mais o crescimento”.
Segundo: o efeito multiplicador da austeridade foi reavaliado. “Temos um melhor entendimento do que no passado como as restrições orçamentais afetam o crescimento. Os nossos especialistas apresentaram conclusões de investigação importantes sobre este assunto”. Recorde-se a célebre “caixa” técnica assinada pelo economista principal do Fundo, Olivier Blanchard, no último “World Economic Outlook”.
Terceiro: os países com folga orçamental e/ou com excedente externo devem ser cautelosos no ajustamento. Perguntada se era o caso da Alemanha, Lagarde respondeu: “A Alemanha, sem dúvida, mas posso pensar em mais alguns poucos candidatos. Podem permitir-se prosseguir um curso de consolidação mais lento do que outros. Isso permite contra-atacar os efeitos depressivos sobre o crescimento que emanam dos cortes nos países em crise”.
Num documento publicado em dezembro, intitulado “Current Account Surpluses in the EU”, da Comissão Europeia (a consultar aqui ), refere-se, na zona euro, uma lista que abrange Alemanha, Holanda, Bélgica (previsto a partir de 2012), Finlândia, Áustria e Luxemburgo. O documento refere como média no período de 2008 a 2011, os seguintes valores para o excedente externo: Luxemburgo com 6,7% do PIB, Alemanha e Holanda com 6%, Áustria com 3,1% e Finlândia com 1,2%. Com relevância, para o período de 2012 a 2024, apenas sobrarão a Holanda com uma média que é estimada atingir os 9,6% (um verdadeiro disparo), a Alemanha com 5,1% e o Luxemburgo com 4,7%.

FISCAL CLIFF

“Come together” é uma campanha lançada nos EUA a que a Starbucks decidiu aderir. O presidente-executivo da cadeia de cafés, Howard Schultz, pediu aos seus funcionários na área metropolitana de Washington DC que durante esta semana escrevam nos copos em que servem as bebidas as duas palavras “come together” (juntem-se).
A campanha, na sua mensagem mais extensa, apela a que “vamos dizer ao Congresso para trabalhar em conjunto para resolver a questão da dívida e evitar o precipício orçamental”. A plataforma Patch Network difunde a campanha. Outra campanha de pressão é levada a cabo pela CNBC sob a bandeira de “Rise Above”. Schultz chamou à sua iniciativa “um pequeno gesto”, que foi criticada por alguns analistas como “vedetismo”.
A campanha em toda a área metropolitana onde ficam a Casa Branca e o Congresso dos EUA ocorre na semana em que o “precipício orçamental” (fiscal cliff, em inglês) está a poucos dias de poder ocorrer, automaticamente, a partir de 1 de janeiro de 2013. Ele envolve 600 mil milhões de dólares (€453 mil milhões) em cortes da despesa pública federal (incluindo a área da defesa) e em aumentos de impostos.
O termo foi popularizado pelo presidente da Reserva Federal (banco central), Ben Bernanke, em fevereiro, numa audição junto do Comité de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes, alertando para “um precipício orçamental massivo de grandes cortes da despesa e aumentos de impostos” a 1 de janeiro de 2013.
Recorde-se que o problema surgiu em virtude de, em agosto de 2011, aquando da crise sobre o aumento do teto de endividamento (que havia sido ultrapassado em maio e que, com medidas extraordinárias Tim Geithner estendeu até 2 de agosto), o Congresso decidiu criar um comité bi-partidário para encontrar uma estratégia para definir um teto para o endividamento federal num horizonte de dez anos implicando uma poupança no gasto federal de 1,2 biliões de dólares. Se o comité não chegasse a acordo até 31 de dezembro de 2012, um conjunto de cortes de gastos e de aumentos de impostos seriam desencadeados automaticamente. Esta decisão de dar mais de um ano para se chegar a um acordo entre os dois partidos foi uma das formas de obter o consenso em agosto de 2011 e evitar um incumprimento parcial ou seletivo pelo Tesouro norte-americano.
Os EUA mergulharam, mais tarde, em pré-campanha e campanha eleitoral de que só saíram nas eleições de 6 de novembro e o assunto foi adiado sucessivamente. Obama foi reeleito, mas as maiorias contraditórias no Senado (dominado pelos Democratas) e na Câmara de Representantes (dominada pelos Republicanos) permanecem, o que dificulta um entendimento.
Rondas de negociações até ao limite
O presidente Obama regressou de férias no Havai e vai reunir hoje (28 de dezembro) pelas 20h (hora de Portugal) na Casa Branca com os líderes das maiorias e minorias do Congresso (Senado e Câmara dos Representantes), a que estará presente, também, o vice-presidente Biden. Por seu lado, a Câmara dos Representantes reabre em sessão no domingo, a partir das 23h30 (hora de Portugal), até 2 de janeiro para discutir um acordo que evite o “precipício fiscal”. A 2 de janeiro termina a atual legislatura e no dia seguinte inicia-se o 113º Congresso.
A situação complicou-se ainda mais com o anúncio, esta semana, pelo secretário do Tesouro, Tim Geithner, que o teto de endividamento federal autorizado, de 16,4 biliões de dólares (cerca de €12,4 biliões) será ultrapassado no último dia do ano. Geithner garantiu que o Tesouro tomará todas as medidas extraordinárias permitidas por lei para evitar que o governo federal entre em incumprimento seletivo ou parcial em janeiro de 2013. Essa margem de manobra de que o secretário do Tesouro dispõe não deverá ultrapassar os 200 mil milhões de dólares, o que aguentará a situação “aproximadamente mais dois meses”. Geithner não será reconduzido na próxima Administração depois de Obama tomar posse a 21 de janeiro.
O folhetim ocorrido em julho e agosto de 2011 poderá repetir-se agora com a agravante de se conjugarem em cima da mesa dois problemas críticos – o “precipício orçamental” e a necessária autorização de aumento do teto de endividamento federal. No ano passado, a Câmara de Representantes e o Senado, a 1 e 2 de agosto, acabaram por aprovar o aumento do teto de endividamento que foi promulgado por Obama no dia limite. A 11 de agosto, a agência de notação Standard & Poor’s cortou o rating dos EUA, retirando-lhe o triplo A (o máximo), e baixando-o para AA+, o nível imediatamente abaixo. Foi a primeira vez que isso aconteceu na história dos EUA. As outras duas agências – Moody’s e Fitch – mantêm a classificação máxima, mas colocaram a sua apreciação da economia em “perspetiva negativa” (ou seja, admite-se a possibilidade de corte da notação).

domingo, 23 de dezembro de 2012

A ARMA SECRETA

será que esta é a arma secreta americana e que correm rumores?http://inteligenciaeconomica.com.pt/?p=15173

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

DIFERENÇAS

O pecado original: “ir além da troika

• Pedro Silva Pereira Também não somos a Irlanda:
    ‘Cada caso é um caso, já se sabe. E também é verdade que, lamentavelmente, a igualdade de tratamento já não é o que era.

    Seja como for, vale a pena prestar atenção aos recentes resultados da oitava avaliação do programa de ajustamento da Irlanda, em particular no que se refere às metas traçadas e à estratégia definida para responder a eventuais desvios na execução do Programa. Tudo visto e ponderado, não pode deixar de impressionar a enorme diferença entre o caminho definido para a Irlanda e o caminho definido para Portugal.

    Comecemos por recordar um facto importante: na 5ª revisão do nosso Programa de ajustamento, negociada com a "troika" em Setembro passado, o Governo de Passos Coelho e Vítor Gaspar, indiferente ao desvio nas contas públicas provocado pela má execução orçamental de 2012, comprometeu-se com metas muito exigentes para o défice orçamental dos próximos anos: 4,5% em 2013 e 2,5% em 2014. O custo brutal desta opção é conhecido: um "enorme aumento de impostos" no próximo ano e um violento corte no Estado social no ano seguinte - com todas as suas devastadoras consequências económicas e sociais. Já para a Irlanda a trajectória é bem diferente: a meta do défice ficou fixada em 7,5% para 2013 (uma redução relativamente suave, de apenas 0,8 p.p. face aos 8,3% deste ano), passando para 5% em 2014. A Irlanda terá assim de alcançar daqui a dois anos o mesmo défice que Portugal tem de atingir já este mês! Mais: a Irlanda só prevê baixar dos 3% de défice em 2015 e, de acordo com o previsto, não chegará aos 2,5% antes de 2016 - dois anos depois de Portugal!

    Em face disto, e não obstante todas as diferenças entre as situações de partida e a estrutura económica de Portugal e da Irlanda, é incontestável que a Irlanda dispõe de um quadro de ajustamento muito mais favorável e mais compatível com o crescimento da sua economia. E os resultados aí estão: prevê-se que a economia irlandesa cresça 1,1% em 2013 e 2,2% em 2014, enquanto a estratégia de austeridade "além da troika", promovida desastradamente pelo Governo português e acentuada a cada revisão do Memorando inicial, nos conduziu a uma recessão de pelo menos 3% este ano e provocará o prolongamento da recessão em 2013, sendo que, mesmo a fazer fé nas previsões optimistas do Governo, só teremos um crescimento ligeiro da economia (de 0,8% do PIB) lá para 2014.

    A preocupação de conciliar o crescimento económico com a consolidação orçamental está igualmente patente no modo como se tenciona gerir os eventuais desvios na execução do Programa irlandês, num período que é de muitos riscos e incertezas. No caso português, como é sabido, perante um Orçamento em cujo cenário macroeconómico ninguém acredita, o Governo anunciou a preparação de medidas adicionais de austeridade para 2013 (cerca de 850 milhões de euros de cortes adicionais na despesa) para o caso de a recessão superar o valor previsto pelo Governo (de 1%), com novo prejuízo para as receitas fiscais e, consequentemente, para as metas do défice. Até parece razoável, não é? Veja-se então o que disse o FMI no seu comunicado de 17 de Dezembro sobre a Irlanda, depois das negociações com o Governo irlandês no âmbito da oitava avaliação: "se no próximo ano (de 2013) o crescimento económico for decepcionante, qualquer consolidação orçamental adicional deve ser adiada para 2015 de modo a salvaguardar a recuperação da economia". Podia alguma vez uma frase destas ser dita pelo Governo português? Poder podia, mas não era a mesma coisa.

    Moral da história: é impressionante o que um Governo melhor poderia fazer por Portugal com esta mesma 'troika'.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

E A GUERRA AQUI TÃO PERTO...

Em Agosto passado um estratega militar israelita dizia-me que o inevitável ataque ao solo do Irão a partir de Israel  era muito difícil porque exigiria dezenas de milhar de bombas, ou seja, muitos milhares de bombardeiros - que nem  os USA possuíam.
Pois possuem mesmo através das dezenas de milhares de drones que se encontram em construcção e , sabemos agora, podem operar a partir dos doze porta-aviões americanos para além de dezenas de bases aéres.<iframe width="560" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/bdY-V0uqaHQ" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

E PORTUGAL, PORRA ?

“Bruxelas estaria aberta a dar um pouco mais de oxigénio ao executivo de Mariano Rajoy”, diz hoje o jornal eletrónico “El Confidencial”. Ainda que seja ainda “uma possibilidade”, adverte o jornal, o oxigénio adicional seria alargar até 2015 o prazo para o ajustamento do défice orçamental até 3% (segundo a regra de Maastricht). Ou seja, um ano mais do que o já concedido a Rajoy como prenda de ter ganho as eleições. O objetivo dos 3% estava inicialmente definido para 2013.
A nova “prenda” poderia vir depois do Ano Novo, a seguir às previsões económicas da Primavera da Zona Euro que serão publicadas em fevereiro de 2013.
O jornal adianta que “ajuda a boa sintonia” entre o comissário europeu Olli Rehn e o ministro de Economia Luís de Guindos. Guindos “estaria, além do mais, muito bem cotado no seio do Eurogrupo”.
Como se sabe Espanha não está sequer sob qualquer plano de resgate – mas tão só recorreu a um plano de resgate do seu sector financeiro – e não deverá cumprir o objetivo para 2012 de um défice de 6,3%.
Portugal sujeito a um plano de resgate desde 2011 terá de cumprir uma meta de 2,5% no défice orçamental em 2014, segundo a concessão obtida em outubro na quinta revisão regular do memorando com a troika.

NEM TODA A ESQUERDA É BURRA

O líder do partido grego Syriza, Alexis Tsipras, propôs uma conferência europeia sobre a dívida soberana, organizada nos mesmos moldes que a Conferência de Londres de 1953 que perdoou quase 63% da dívida da Alemanha no pós-guerra.
“A única solução viável é um corte-de-cabelo (hair cut) não só para a Grécia mas para toda a periferia do Sul, pelo que propomos uma conferência nos moldes da que se realizou em Londres em 1953, que perdoou cerca de 60% da dívida alemã”, afirmou, recentemente, Alexis Tsipras, líder do Syriza (Esquerda radical) e da oposição parlamentar grega, ao jornal inglês “The Guardian”. Para o segundo partido mais votado nas eleições antecipadas de julho na Grécia, e que recolhe atualmente o maior número de intenções de voto nas sondagens, não importa onde tal conferência se possa realizar, “mas deve acontecer o mais rápido possível”. Artur Baptista da Silva, coordenador do Observatório Económico e Social para o Sul da Europa criado pelas Nações Unidas, e que lidera uma equipa internacional de sete economistas que apresentaram propostas de resolução das crise da dívida em nome do secretário-geral Ban Ki-moon, vê com bons olhos esta iniciativa.
Por seu lado, Constantin Gurdgiev, um economista russo radicado em Dublin, e um dos blogueiros internacionais mais ativos nos assuntos da atual crise, concorda que esse caminho pode ser o “primeiro passo para uma resolução efetiva desta crise da dívida”. A realidade, diz Gurdgiev, aponta para uma alternativa à condução do problema por Bruxelas (sede da Comissão Europeia) e Frankfurt (sede do Banco Central Europeu). “Depois de 30 cimeiras, é agora claro para qualquer um que as instituições europeias não estão talhadas para resolver este problema. Só um esforço concertado e estruturado por todos os países europeus pode criar uma oportunidade viável para solucionar a crise da dívida da zona euro”.
Conferência de Londres retoma estratégia de Keynes
Na Conferência de Londres de 1953, os credores da Alemanha, liderados pelos Estados Unidos, resolveram inverter a estratégia seguida após a Iª Guerra Mundial que sufocou a Alemanha. O que gerou um efeito em cadeia de incumprimento das dívidas de diversos países europeus no período entre as duas guerras e fases quer de hiperinflação como de austeridade extrema, sobretudo na Alemanha. Os EUA acabariam por seguir no final dos anos 1940, com quase quatro décadas de atraso, as recomendações feitas pelo economista inglês John Maynard Keynes no seu livro “As Consequências Económicas da Paz” publicado em 1919. Keynes tinha participado nas negociações do Tratado de Versalhes em 1919 como membro da delegação do Tesouro britânico e acabaria por se demitir em protesto com as soluções draconianas adotadas face à Alemanha.
No âmbito da estratégia norte-americana que conduziria ao Plano Marshall (entre 1947 e 1951), Washington começou por perdoar parcialmente a dívida francesa e depois belga. Em outubro de 1950, uma troika de países – EUA, Reino Unido e França – concordou num projeto de redução da dívida alemã, que acabaria por ser assinado em Londres a 27 de fevereiro de 1953 implicando um hair cut de 62,6%. O acordo envolveria também outros credores, como a Bélgica, Holanda, Suécia e Suíça. Além desse corte, a conferência decidiu que “a Alemanha deveria pagar a dívida mas sem ficar mais pobre”, refere o professor belga Eric Toussaint, presidente do Comité para a Abolição da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM). A aposta era numa estratégia de crescimento apoiada nas exportações e na substituição de importações, que passou por aceitar que o serviço de dívida não excedesse anualmente 5% das exportações – na realidade, em média, situou-se em 4,2%. Além disso, a Alemanha poderia pagar a maior parte da dívida na sua moeda (o marco, aliás fortemente desvalorizado). Os EUA realizaram, ainda, doações avultadas à Alemanha entre 1948 e 1961 num total de 1,4 mil milhões de dólares. Berlim acabaria por saldar a dívida em 1960. O acordo de Londres permitia, ainda, a possibilidade de suspender e renegociar as condições no caso de alterações substanciais no comportamento da economia, e declarava que, em caso de litígio, os Tribunais alemães eram competentes.
Viabilidade política
“O problema, diz-nos Nick Malkoutzis, diretor-adjunto da edição inglesa do jornal grego “Kathimerini”, é que “os atores chave não concordarão nunca com tal proposta”. E, mesmo da parte dos principais interessados, não se vê a possibilidade de criação de uma frente comum sobre o assunto. Cada um dos resgatados ou em vias de o ser “não quer ser associado com a Grécia”. A tática de cada um deles é o oposto e não se cansam de repetir “não somos como a Grécia”, lamenta o editor grego. O jornal “Kathimerini” tem sido, através da sua edição internacional em inglês na web, a fonte de referência sobre a evolução da crise grega.
Entretanto, refira-se que o “ambiente” global acerca do que se passa na zona euro tem dado sinais de cansaço por parte das outras grandes economias em relação aos resultados da política de austeridade advogada pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu. As próprias Nações Unidas, através da equipa de especialistas do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) teme o agravamento das condições políticas e sociais na periferia da Europa, criando um problema geopolítico grave em toda a zona do Mediterrâneo e dos Balcãs.
A mais recente crítica explícita veio do relatório anual do Tesouro norte-americano acerca de violações nas taxas de câmbio à escala mundial, onde a Alemanha e a Holanda são apontadas como mantendo as suas estratégias mercantilistas, conservando os mais altos excedentes externos do mundo (juntamente com a Suíça, neste caso, por razões específicas da sua posição internacional como refúgio financeiro de eleição), ao contrário da correção de políticas que tem realizado a China. “O regime de austeridade da zona euro aplicado no Sul sem uma compensação com estímulos por parte do Norte está a gerar um enviesamento recessivo, aprisionando a retoma global”, afirma o relatório, o que leva o jornal inglês “Daily Telegraph”, que o divulgou, a concluir que os Estados Unidos passaram a considerar a Alemanha o “vilão” desta fita.