quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

É URGENTE EXÉRCITO EUROPEU, JÁ !

Mali: A aposta necessária mas arriscada da França

14 janeiro 2013
Presseurop
Libération, Le Monde, Süddeutsche Zeitung & 4 outros
A 11 de janeiro, o Exército francês lançou uma operação militar destinada a travar o avanço para o Sul do Mali dos grupos armados islamitas que controlam, desde a primavera, o Norte do país. A imprensa europeia reconhece globalmente a necessidade da intervenção, mas aponta os riscos desta operação.
Sob o mandato da ONU, as forças francesas levam a cabo bombardeamentos aéreos com o apoio logístico dos britânicos em apoio das tropas do Mali contra o Movimento Nacional de Libertação do Azawad, que luta pela independência das províncias de Gao, Tombuctu e Kidal, e os salafitas de Ansar Dine, e que pretendem instaurar um regime islamita nessa parte do Mali.
"François Hollande pode felicitar-se por ter travado os talibãs das areias", comenta o Libération, que, no entanto, se interroga sobre o que se seguirá à operação "Serval":
Irá a França contentar-se com travar o avanço irresistível dos islamitas no Mali? Irá reconquistar, usando como testa de ferro algumas tropas africanas, o Norte do país, nas mãos, desde há nove meses, dos Loucos de Deus, que impõem um Islão totalmente contrário às práticas moderadas e tolerantes dos malianos? […] Hoje, as tropas francesas talvez sejam bem acolhidas pela população esgotada, que se opõe largamente aos islamitas. Contudo, os malianos não vão, e com razão, suportar durante muito tempo a presença das tropas do antigo colonizador. Não existe uma solução militar e, por maioria de razão, francesa para a crise no Mali.
Perante o avanço dos islamitas, o Presidente francês, François Hollande, optou pelo "mal menor", considera Le Monde. Porque
a passividade não era opção. Ou teria sem dúvida conduzido a uma situação que iria exigir uma ação militar posterior, de maior envergadura. Mas a França não pode ficar sozinha. Ajudar o Mali a reconquistar o seu território é, em primeiro lugar, tarefa dos Estados da África Ocidental. Impedir o estabelecimento de um núcleo *jiadista* no Sahel, é do interesse de toda a Europa.
Ao intervir no Mali, "François Hollande correu um risco", considera o Süddeutsche Zeitung. Segundo este diário de Munique, trata-se, porém, de um risco que não devemos deixá-lo assumir sozinho:
Deve ser criada um força militar operacional internacional, integrada sobretudo por países da União Africana. Por outro lado, a França precisa da ajuda militar dos seus aliados europeus. […] A União Europeia debate, há meses, o problema do Mali, com tão pouco sucesso que até faz corar. […] Neste momento, a Europa já é ameaçada por uma rede terrorista islamita, que se implantou no Norte de África. Aquilo que se passa na outra margem daquilo que, não por acaso, se chama Mare Nostrum não pode deixar ninguém indiferente na Europa. Não se trata do pátio das traseiras negligenciado da Europa mas da sua vizinhança.
"O problema da intervenção francesa é ser francesa", escreve por seu turno o Tageszeitung. Este diário alternativo de Berlim desaprova o "colonialismo de esquerda" e salienta que
Logo – Die Tageszeitung, Berlim
[Nicolas] Sarkozy foi muito criticado pela participação francesa nas intervenções militares na Líbia e na Costa do Marfim, mas, pelo menos, essas operações inscreviam-se num quadro internacional estrito. Quem teria pensado que Hollande poderia representar um passo atrás em relação a Sarkozy?
Além disso, adverte The Independent, a intervenção no Mali irá reforçar o discurso radical dos islamitas sobre mais um ataque do Ocidente contra o Islão. Para o cronista Owen Jones,
il est pour le moins dérangeant de constater comment [le Premier ministre David] Cameron entraîne le Royaume-Uni dans le conflit au Mali sans la moindre ébauche de consultation. On nous dit qu’il n’y aura pas d’envoi de troupes ; mais le terme de “mission creep” [l’extension de la portée originale de l’objectif] a un sens, et une escalade pourrait certainement entraîner un engagement britannique plus profond. L’Occident a la é no mínimo preocupante que [o primeiro-ministro David] Cameron arraste o Reino Unido para o conflito do Mali, sem sequer um simulacro de consulta. Dizem-nos que não vão ser enviados soldados. Mas as palavras ‘mission creep’ [extensão do alcance original do objetivo] têm um sentido e uma escalada poderá levar a um maior envolvimento britânico. O Ocidente tem o terrível hábito de se associar aos aliados mais duvidosos: o lado que escolhemos está longe de ser o dos democratas respeitadores dos direitos humanos… É responsabilidade de todos nós analisar bem aquilo que os nossos governos fazem em nosso nome; se não conseguimos aprender isso com o Iraque, o Afeganistão e a Líbia, então já não há esperança.
Em Bucareste, o Adevărul mostra-se preocupado com as "fortes consequências da operação ‘Serval’ sobre um território imenso em África" e, também, com "a segurança da UE e dos seus cidadãos, no interior e no exterior do espaço comunitário". Apesar disso, refere este diário, a intervenção era necessária, devido ao aumento sem precedentes do número de células islâmicas […] a Norte e a Sul do Saara. Contudo, acrescenta,
Logo – Adevărul, Bucareste
agora que a França se envolveu diretamente nas operações militares, é possível que se verifiquem cenários semelhantes aos do Iraque ou do Afeganistão, mas a uma escala muito mais vasta e complexa.
"Agora, a questão é saber se e como irá a UE mobilizar-se", acrescenta o European Voice. Este semanário com sede em Bruxelas coloca a questão da defesa europeia e pergunta:
Logo – European Voice, Bruxelas
Des pays de l’UE enverront-ils des troupes combattre avec les Français ? L’UE se contentera-t-elle d’entraîner les troupes des autres ? [..] Que les islamistes contrôlent le désert, une base pour de potentielles attaques dans la région et en Europe, est clairement un grand sujet d’inquiétude pour la France et, pense-t-elle, devrait l’être pour l’Europe dans son ensemble. [...] L’intervention et les questions qu’elle va susciter Irão alguns países da UE enviar tropas para combater ao lado dos franceses? Limitar-se-á a UE a treinar as tropas dos outros? O facto de os islamitas controlarem o deserto – uma base para potenciais ataques na região e na Europa – constitui claramente um forte motivo de preocupação para a França e, no entender deste país, deveria sê-lo também para toda a Europa. Outros países da UE talvez não estejam tão preocupados. [...] Mas a intervenção e as questões que esta suscitará irão provavelmente ocupar os espíritos, na grande cimeira de dezembro sobre cooperação em matéria de defesa. […] As questões associadas à capacidade militar da Europa são muito importantes [para o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy]. Com a ‘ajuda’ do Mali, essas questões irão provavelmente ser muito mais importantes para os outros responsáveis políticos e para os cidadãos comuns europeus, até ao fim do ano.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ELITE BRITANICA PERCEBE QUE ATÉ AOS U.S.A. INTERESSA UMA BRITÂNIA INTEGRADA A SÉRIO NA U.E..

Reino Unido: Que se levantem os europeístas, por favor!

14 janeiro 2013
The Guardian
David Cameron apoiado no ministro dos Negócios Estrangeiros, William Hague, e no líder dos liberais democratas, Nick Clegg.
David Cameron apoiado no ministro dos Negócios Estrangeiros, William Hague, e no líder dos liberais democratas, Nick Clegg.
O Reino Unido arrisca-se a ser erradicado da UE por magnatas da comunicação social e políticos eurofóbicos. Os europeístas têm de perder o medo e lançar um debate objetivo sobre a permanência do Reino Unido na UE, lê-se num editorial do Guardian. Excertos.
The Guardian
Teoricamente, uma das funções dos políticos é conduzir, informar e orientar um debate nacional sobre os assuntos do dia. Sem dúvida de que, para o Reino Unido, um desses assuntos é o futuro da União Europeia e a posição do Reino Unido no seu seio. Mas os nossos políticos – e talvez também os nossos meios de comunicação social – revelam-se muito incapazes para essa função.
Devido a uma série de motivos, indissociáveis de questões históricas, geográficas, culturais e linguísticas e com resquícios de uma ilusão pós-colonial sobre a superioridade britânica e a inferioridade continental, são muitos os britânicos que se envolvem na Europa com relutância e desmotivação.
Em parte por essa razão, há demasiados políticos de todas as filiações partidárias que consideram mais fácil papaguear ou apaziguar as opiniões de alguns jornais de direita, cujos proprietários muitas vezes nem pagam impostos neste país e que olham para a "Europa" como para regulamentos que ameaçam os seus interesses de proprietários e pessoas abastadas. Muitos cidadãos são instintivamente mais cautelosos e mais pragmáticos, não só porque não confiam na imprensa, como também porque recebem pouca orientação dos políticos.

Incapacidade coletiva da sociedade civil

O resultado, ao longo de todos estes anos, tem sido o crescimento de um populismo antieuropeu muito vulgar na direita e numa certa esquerda. Isto gerou agora uma espécie de hegemonia eurocética no debate público no Reino Unido. No partido conservador, o ceticismo em relação à Europa está a transformar-se num completo e imprudente desprezo, que alimenta os anseios para que se abandone a UE, e estimula a subida do partido Ukip.
Independentemente das suas filiações partidárias, os políticos ponderados revelam um certo nervosismo. O desfecho, que se torna plausível atendendo às questões extremamente graves da zona euro, é a evidente incapacidade coletiva da sociedade civil, particularmente em Inglaterra (um pouco menos na Escócia), de pensar na relação com a Europa com algum realismo e objetividade.
O anunciado discurso de David Cameron sobre o Reino Unido e a UE deveria ter sido um alerta aos políticos mais europeístas e mais ponderados. Talvez venha a ser daqui a um tempo. Se assim for, tanto melhor. Mas não há indícios de que assim seja por enquanto. É verdade que Ed Miliband proferiu um importante discurso no final do ano passado na Confederação da Indústria Britânica (CBI).

Ausência de um debate político

Também é verdade que Nick Clegg e quase todos os liberais democratas continuam a defender o compromisso com a UE. Mas os trabalhistas receiam a questão europeia e os liberais democratas, por motivos diferentes, lutam pela conquista de uma audiência favorável em relação a qualquer assunto. Esta realidade deixa muita margem para os conservadores eurocéticos, cada vez mais audaciosos. Isto tem de mudar – e rapidamente. A negligência europeísta não pode dar azo a que David Cameron fale em nome do Reino Unido sem ser contestado.
Na ausência de um debate político mais ponderado sobre as vantagens e desvantagens do compromisso com a Europa, há outros interesses que finalmente se fizeram ouvir. Temos assistido a intervenções significativas dentro e fora do país. O primeiro-ministro irlandês afirmou que seria um desastre se o Reino Unido saísse da UE. O ministro finlandês dos Negócios Estrangeiros, à semelhança do que haviam feito os seus homólogos polaco e holandês, lamentou o caminho seguido pelo Reino Unido no debate sobre a UE, que considerou "nada civilizado".

Vozes que não se ouvem deviam fazer-se ouvir

A administração Obama fez notar que o Reino Unido se está a virar para dentro e realçou o facto de que Washington o queria continuar a ver como membro da UE. Um responsável da CDU de Angela Merkel, de centro-direita, afirmou que o Reino Unido não devia tentar chantagear o resto da Europa impedindo alterações aos tratados motivadas pela crise na zona euro. Maior influência teve talvez o facto de um grupo de empresários britânicos ter dito a David Cameron para não pôr em risco a permanência do Reino Unido na União Europeia.
Tudo isto é bem aceite e tem a sua utilidade. Mas os observadores internacionais e os empresários apresentam argumentos que os políticos e os comentadores britânicos, incluindo importantes políticos conservadores e comentadores, também deveriam apresentar. Este país arrisca-se a ser levado pelos conservadores e pela imprensa eurofóbica a abandonar a Europa. Os europeístas deviam acabar com as suas ansiedades. As vozes que há muito não se ouvem têm de se fazer ouvir

TÓQUIO PREOCUPA-SE COM A DEFESA DO PAÍS

O gabinete do novo primeiro-ministro Shinzo Abe anunciou a 11 de janeiro em Tóquio um pacote de estímulos à economia de 20 biliões de ienes, cerca de 169,5 mil milhões de euros. Vale 3,8% do PIB do ano passado. Em termos comparativos, o pacote norte-americano de estímulos aplicados entre 2009 e 2011 ao abrigo do America Recovery and Reinvestment Act correspondeu a cerca de 5% do PIB dos EUA.
Trata-se de um orçamento suplementar para o ano fiscal que termina em março e que visa dois propósitos: aumentar o emprego em 600 mil novos postos de trabalho (apesar do Japão ter uma taxa de desemprego invejável de 4%) e gerar um efeito de 2% no PIB, reforçando a trajetória de crescimento que vem de 2012, em que o PIB se estima ter crescido 2,2%.
O pacote inclui nomeadamente 10,3 biliões de ienes (87 mil milhões de euros) para estímulos para a economia em diversas vertentes, a que se adicionam 2,8 biliões (23,7 mil milhões de euros) para o reforço do novo Fundo de Pensões e um aumento no orçamento da defesa, uma das prioridades do novo governo face à escalada do clima de disputas no Mar da China. O Plano de Reconstrução das regiões afetadas pelo terramoto e tsunami de março de 2011 deverá orçar globalmente 19 biliões de ienes (161 mil milhões de euros) até ao ano fiscal de 2015.
Foi tomada, também, a decisão de aplicar “de um modo regular” uma parte das reservas em divisas na compra de obrigações do Mecanismo Europeu de Estabilidade. O Japão dispõe do segundo maior montante de divisas no mundo, depois da China.

UM AMIGO LÚCIDO

O luxemburguês Jean-Claude Juncker, o presidente cessante do Eurogrupo (reunião dos 17 ministros de Finanças da zona euro), resolveu partir, na quinta-feira (10 de janeiro), a loiça no seu discurso de despedida junto da Comissão de Assuntos Monetários e Económicos (ECON) do Parlamento Europeu. “A opção foi fazer recair o ajustamento nos mais fracos”, “tenho dúvidas” do ritmo de ajustamento que foi “imposto em certos países” e “subestimou-se o drama do desemprego”, disse o luxemburguês que vai com alta probabilidade passar a pasta ao ministro das Finanças holandês Jeroen Dijsselbloem, membro do Partido do Trabalho e governante desde novembro de 2012.
Juncker abandona o cargo na reunião do Eurogrupo de 21 de janeiro depois de ter estado à sua frente desde 2005. Nesta despedida, confessou que o poder, depois de tanto tempo, “perdeu toda a sua dimensão erótica”. “Se o meu país me reeleger, disse mais tarde aos jornalistas, serei um homem livre para poder exprimir os meus próprios pontos de vista sobre os assuntos europeus”.
Na quinta-feira, ao longo de 90 minutos, o primeiro-ministro e ministro das Finanças do Luxemburgo, desencadeou um “ataque furibundo” – como titulou o jornal espanhol Cinco Días – à linha dominante na estratégia europeia em relação à gestão da crise das dívidas soberanas.
Em Portugal o principal eco da sua intervenção perante o Parlamento Europeu centrou-se na sua resposta a uma pergunta colocada pela deputada portuguesa Elisa Ferreira, em que Juncker adiantou que por diversas vezes propôs que houvesse uma alteração no que toca às condições financeiras e orçamentais que acompanham o ajustamento, como parte de “um sistema de recompensa” – sem qualquer conotação “paternalista”, frisou – para os países que cumpriram os objetivos nos planos de resgate.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

PRECIPÍCIO FISCAL ADIADO

Em finais do terceiro trimestre de 2013 saber-se-há como fechou o déficit de 2012 e como vai a execução orçamental de 2013 em Portugal. Curiosamente é nessa altura que serão tomadas as medidas mais difíceis de resolução do fiscal cliff nos U.S.A.. É a altura também de decidir novos avales à Grécia e Espanha, e na Itália e Alemanha a situação política vai estar quente. Na Turquia estarão montados os mísseis patriot nas mãos americanas no meio de um clima económico recessivo....
“O precipício orçamental (fiscal cliff) não foi evitado, no sentido estrito do termo, mas reduzido na sua magnitude. O precipício na sua totalidade teria custado 3% do PIB norte-americano. O acordo realizado no final do ano cortou-o provavelmente para metade”, diz Marc Chandler, analista da Brown Brother Harriman e responsável pelo blogue ‘Marc to Market’. Mas não espera que haja qualquer double-dip (recaída na recessão) em 2013 por parte da economia americana. As previsões atuais do Fundo Monetário Internacional para 2013 relativas aos EUA são para um ligeiro abrandamento do crescimento do PIB de 2,17% para 2,11% e para um desagravamento, também, ligeiro do défice externo de 3,1% do PIB para 3%. O défice orçamental estrutural deverá reduzir-se de 5,9% do PIB para 4,4%, mais de um ponto e meio percentual.
Este professor da Universidade de Nova Iorque, bem como Peter Cohan, consultor independente de Boston, e William Witherell, economista-chefe da Cumberland Advisors, da Florida, e ex-consultor da OCDE, realizaram para o Expresso o balanço do impacto para 2013 do acordo de última hora no final do ano passado alcançado entre a Casa Branca e o Senado e depois aprovado por 257 contra 167 votos na Câmara dos Representantes já no final do dia 1 de janeiro. O acordo fraturou o Partido Republicano (157 deputados votaram contra e 85 a favor), a ponto de alguns analistas falarem de “guerra civil” interna, e, em muito menor grau, o Partido Democrata (16 deputados votaram contra e 172 a favor) na Câmara de Representantes. No Senado o acordo passou por 89 votos a favor, 8 contra (5 republicanos e 3 democratas) e 3 abstenções (2 republicanos e um democrata).
“O acordo fechou apenas o tema do aumento automático de impostos e de cortes da despesa indesejáveis”, afirma, por seu lado, Bill Witherell, que conclui a propósito dos impostos: “Creio que a estrutura de impostos está definida para os próximos anos. Uma eventual reforma fiscal levará anos”. As duas medidas acordadas mais referidas disseram respeito ao IRS e ao imposto sobre dividendos e rendimentos de capitais. Só a partir de rendimentos individuais anuais superiores a 400 mil dólares (300 mil euros) ou de agregados familiares acima de 450 mil dólares (345 mil euros), a taxa de imposto subirá dos 35% atuais para 39,6% (do tempo da Presidência Clinton). A partir destes escalões de rendimentos, o imposto sobre dividendos e rendimentos de capitais subirá de 15% para 20%.
Leis e salsichas, segundo Bismark
Até final de fevereiro terão de ser debatidos dois assuntos cruciais: o primeiro envolvendo 109 mil milhões de dólares (cerca de 84 mil milhões de euros) de cortes na despesa pública, um “sequestro” que ficou adiado, e o do teto de endividamento federal autorizado que foi ultrapassado no final do ano segundo o secretário do Tesouro cessante, Tim Geithner. “Vão ser dois debates muito intensos e ambos os lados, Republicanos e Democratas, vão lançar mão de táticas audaciosas. O chanceler alemão Bismark disse que, em democracia, não deveríamos ver a forma como as leis ou as salsichas são feitas. A democracia parlamentar é uma confusão e a fealdade está à mostra para todo o mundo. Mas, claro, não conheço outro sistema melhor”, ironiza Chandler. “Os Democratas exigirão um aumento do teto da dívida sem condições. Os Republicanos tentarão prender, uma vez mais, um acordo sobre o teto ao corte na despesa pública”, refere Peter Cohan. “Creio que chegarão a mais um acordo de última hora, depois de uma batalha política amarga”, refere Witherell.
Com a convergência dos dois debates politicamente quentes – o que resta do “precipício orçamental” e a nova discussão do aumento do teto da dívida – no primeiro trimestre do ano, muitos analistas temem uma repetição, para pior, do que ocorreu em agosto de 2011, quando a Standard & Poor’s (S&P) decidiu excluir a dívida federal norte-americana do “clube” da notação máxima de triplo A. Bill Witherell admite que possa ocorrer uma “versão suave” desse episódio. Mas Peter Cohan acha que não: “A política mudou em relação a agosto de 2011. Obama já não tem de se preocupar com reeleição. Agora que foi reeleito e aprendeu com a forma como pode usar os seus poderes presidenciais, vai ser, certamente, um negociador mais duro”.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

FISCAL CLIFF DOS USA EMPURRADO COM A BARRIGA PARA A FRENTE. DENTRO DE MESES VOLTAMOS AO MESMO E PREVISIVELMENTE O DÓLAR DEFINHA

Economia: Merkel pastoreia-nos para longe do abismo fiscal

3 janeiro 2013
NRC Handelsblad Amesterdão


As negociações de última hora em Washington, para evitar um défice orçamental, evidenciam que a visão de curto prazo está bem alicerçada na política dos Estados Unidos. Revelam também que, apesar da sua controversa gestão da crise do euro, a chanceler alemã é bastante sábia ao forçar a adoção de soluções de longo prazo.
Citando uma frase que ficou famosa na boca do historiador norte-americano Robert Kagan, "Os americanos são de Marte e os europeus de Vénus" também quando se trata de lidar com questões de saúde fiscal de longo prazo.
O facto de os melhores políticos de Washington conseguirem apresentar, à beira do chamado "abismo fiscal", um acordo despojado e minimalista patenteia a inexistência de um interesse genuíno em resolver o problema do défice orçamental norte-americano de longo prazo.
Não tem a ver com as diferenças partidárias nos EUA (embora isso seja muitas vezes invocado como um facto). Os nossos políticos, independentemente da cor política, não são sérios no que diz respeito à saúde fiscal da nação a longo prazo.
De que outra forma interpretar o facto de a única forma de os políticos de Washington terem sido persuadidos a aceitar uma muito modesta fatia de austeridade fiscal, com vista a garantir a situação a longo prazo, ter sido convencê-los – com artimanhas como o "abismo fiscal" – de que haveria muito mais medidas de austeridade se não estivessem dispostos a aceitar pelo menos uma dose mínima de intervenção orçamental neste momento?

Saltar por cima do abismo fiscal

Se o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o Congresso realmente quisessem consertar o problema do défice orçamental do país, teriam entusiasticamente saltado por cima do "abismo fiscal", com cortes de gastos e aumentos de impostos obrigatórios, em vez de andarem eternamente a contorná-los.
É exatamente o oposto do que está a acontecer na Europa, onde a chanceler alemã, Angela Merkel, está a orientar uma dolorosa carga fiscal de curto prazo, tendo em vista resultados fiscais a longo prazo. Tanto os keynesianos como os desenvolvimentistas discordam, mas Merkel defende inflexivelmente que a Europa não pode voltar ao crescimento sustentável e prosperidade sem antes arrumar a sua casa fiscal – e utiliza criativamente o peso económico alemão para impor as regras alemãs que pretende para a Europa.
Essa – para além do facto de ter sido simultaneamente sábia e corajosa para abraçar o programa de Mario Draghi de compra de títulos, para estabilizar os mercados financeiros, enfrentando a oposição determinada do Bundesbank – é a razão pela qual considero que ela merece ser a personalidade europeia do ano.
Nota para os investidores: 2013 parece ser o ano em que os mercados começarão a perceber que é a "gente de Vénus" que está no caminho certo e os "marcianos" no caminho errado. São os norte-americanos que estão a arrastar a reforma fiscal pela ladeira abaixo e não os europeus.

Uma onda virtual de turbulência

Isso vai colocar a Europa em perigo, a par dos Estados Unidos. A incapacidade de Washington resolver a saúde fiscal dos EUA a longo prazo pode desencadear uma onda virtual de turbulência que atingirá toda a economia global. Vivemos num mundo interligado, em que a "gente de Vénus" pode sofrer graves consequências se a "gente de Marte" não cuidar dos seus negócios.
Um golpe no mercado acionista dos EUA poderia causar danos sérios tanto aos europeus como aos norte-americanos (sem falar dos asiáticos).
Parte da responsabilidade pelos problemas de saúde fiscal dos EUA repousa inequivocamente nos ombros da Reserva Federal dos Estados Unidos, cujas políticas de flexibilização quantitativa – intencionalmente ou não – tornaram mais fácil aos políticos norte-americanos colocar em risco a saúde fiscal da nação a longo prazo.
Para quê fazer reformas fiscais dolorosas para proteger a dívida soberana, quando a compra incondicional do banco central de títulos dos Estados Unidos faz esse papel tão bem? (O BCE está a exigir reformas, antes de gastar um euro que seja na compra de títulos de dívida).
O diretor da Reserva Federal, Ben Bernanke, terá, sem dúvida, relutância em admiti-lo mas as iniciativas de flexibilização quantitativa do seu departamento têm ajudado a deixar o balão da reforma fiscal dos Estados Unidos sem oxigénio.