segunda-feira, 2 de setembro de 2013

QUANDO OS BRICS ACABARAM

As expetativas dos investidores vão estar centradas a 5 de setembro na reunião mensal do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) em Frankfurt e no impacto da crise síria na reunião do G20 em São Petersburgo, na Rússia, nesse mesmo dia e no seguinte. Depois da crise egípcia, o fator geopolítico decorrente da situação no Sul do Mediterrâneo, no Magrebe e no Médio Oriente, continua presente. A gestão da crise síria aguarda, no entanto, uma decisão do Congresso norte-americano, que reabre a 9 de setembro. No entanto, a reunião, esta semana, do G20 na Rússia enviará sinais aos investidores internacionais sobre os alinhamentos de grandes potências numa eventual evolução de uma guerra civil para um conflito internacionalizado. Muitos analistas e académicos continuam à espera que o BCE se torne um banco central na plena aceção da palavra, pelo que as palavras de Draghi, o seu presidente, serão escrutinadas na conferência de imprensa que se realizará na próxima quinta-feira. No entanto, a reunião marcante para o andamento dos mercados financeiros globais ocorrerá a 17 e 18 de setembro, quando a Reserva Federal norte-americana (Fed) dará sinais sobre o seu calendário em termos de abrandamento da política de “estímulos” monetários. Muitos analistas apostam que a Fed procederá já em setembro à redução da injeção de liquidez, o que já é designado por “septaper” (redução em setembro). O impacto global das decisões que a Fed tomar no segundo semestre deste ano continuará a fazer-se sentir em particular nas economias emergentes – nomeadamente um grupo formado pela Índia, Indonésia, Brasil, Turquia e África do Sul. O “teste” de resistência destas economias – três delas consideradas BRICS – decorrerá ao longo deste segundo semestre. A partir da reabertura do Congresso norte-americano a 9 de setembro, poderá ocorrer, também, uma radicalização política em torno da autorização para o aumento do teto da dívida federal. O governo federal corre o risco de falta de financiamento a 1 de outubro, se novo acordo bipartidário não for alcançado nas duas câmaras do Congresso

ALEMANHA E ITÁLIA ...E UM OUTUBRO MUITO QUENTE

As eleições legislativas na Alemanha a 22 de setembro revelarão se a chanceler Merkel consegue ou não um terceiro mandato e quais as repercussões dos resultados nas urnas no andamento dos resgates aos países periféricos da zona euro. Em foco estará nomeadamente a discussão a partir de novembro de uma injeção adicional na Grécia, a ser aprovada pelo Eurogrupo, no sentido de tapar os buracos de financiamento para 2014 e 2015 e de permitir a redução do peso da dívida grega para uma trajetória aceitável pelo Fundo Monetário Internacional. Essa possível intervenção tem sido designado de “terceiro resgate”, apesar do segundo programa de ajustamento em curso só terminar em 2016. Portugal verá o mês de setembro marcado pelo início simultâneo da oitava e nona revisão do programa de ajustamento pela troika e pela amortização da obrigação do tesouro que vence a 23 de setembro, com um saldo de 5,6 mil milhões de euros. Este vencimento não é considerado crítico. O momento crítico está adiado para junho e outubro de 2014 e, depois, para outubro de 2015. No conjunto dos dois anos, haverá que amortizar 27,1 mil milhões de euros, com uma primeira etapa de 5,9 mil milhões em junho de 2014. A questão do financiamento antecipado dessas operações no mercado obrigacionista continua em aberto, pois o programa de resgate iniciado em 2011 terá entretanto terminado em meados do próximo ano, e os sinais que vêm do mercado secundário não são atualmente positivos (com yields das OT a dez anos em 6,7% no final de agosto). Os analistas apontam o mês de outubro como politicamente “quente” nos países periféricos do euro em virtude da discussão e aprovação dos orçamentos de Estado para 2014. No caso português, deverá ser apresentado no Parlamento até dia 15 de outubro. Para Marc Chandler, o “desafio imediato mais sério” tem a ver com a evolução da situação política em Itália, onde o partido Povo da Liberdade poderá retirar o apoio ao governo de coligação, se Sílvio Berlusconi for expulso do Senado, na sequência da sua condenação judicial em agosto. No mercado de commodities a atenção está focalizada na evolução das cotações do barril de Brent em virtude da crise síria. Durante o mês de agosto, o preço do barril subiu de 81,95 para 86,29 euros, segundo os dados da finanzen.ch, que fornece estas cotações na moeda única. Uma subida de 5,3%. Na última semana de agosto, o preço do barril de referência na Europa aumentou de 82,78 para 86,29 euros, refletindo a escalada na crise síria. Desde o golpe militar no Egito, a 3 de julho, o barril aumentou mais de cinco euros. Em janeiro, no entanto, o preço estava em 85,14 euros.

terça-feira, 23 de abril de 2013

PARA O MINISTRO ALEMÃO DAS FINANÇAS, SCHAUBLE, NO PRÓXIMO RESGATE VÃO-NOS AOS DEPÓSITOS BANCÁRIOS...

“A participação de acionistas, detentores de títulos subordinados e, depois, depositantes sem garantia de depósitos vai passar a ser a norma quando uma instituição financeira cair numa situação difícil”, afirma Wolfgang Schauble, ministro das Finanças da chanceler Merkel, na edição de hoje (20 de abril) do semanário económico alemão “Wirtschaftswoche”. “Se não for assim, há um risco moral. Os bancos obteriam enormes benefícios em negócios de risco, mas, em caso de falência, as perdas seriam socializadas, ficariam a cargo de toda a sociedade – e isso não pode ser”, acrescenta.
Schauble é considerado, juntamente com o Fundo Monetário Internacional, como o artífice do “modelo cipriota” (template) de resgate no que respeita à reestruturação do sector bancário local, um resgate que, pela primeira vez, exigiu que os depositantes com depósitos acima de 100 mil euros vissem hair-cuts muito elevados aplicados com vista a contribuírem para a gestão da falência do banco Laiki e para a recapitalização e reestruturação do Banco de Chipre.
O ministro alemão veio repor na ordem do dia as declarações polémicas ao jornal “Financial Times” e à agência Reuters por parte do presidente do Eurogrupo, o ministro das Finanças holandês Jeroen Dijsselbloem, logo na madrugada (26 de março) da reunião do Eurogrupo que aprovou o modelo final de resgate de Chipre. “Quanto ao substancial, Dijsselbloem foi criticado de forma injusta. Mas não por mim”, diz Schauble, distanciando-se do coro de críticas à ideia transmitida pelo holandês de que a solução para Chipre passaria a ser o “modelo”. Um dia depois, o holandês veio dar o dito por não dito, repetindo que se trataria de uma solução “única”. Mas, agora, o poderoso ministro das Finanças de Merkel voltou a colocar o “modelo” nas linhas.
No entanto, no final de março (dia 30), o ministro das Finanças alemão teria dado a entender o contrário. Segundo o jornal “Cyprus Mail”, Schauble teria reafirmado em entrevista ao jornal alemão “Bild” que Chipre era mesmo “um caso especial”, distanciando-se de Dijsselbloem. “Chipre é e continuará a ser um caso único especial. Os depositantes na Europa estão seguros”.
Nem mais um euro para Chipre
Schauble, na mesma entrevista dada hoje a Christian Ramthun e Henning Krumrey, afirma que a Alemanha não autorizará nem mais um euro para Chipre além do empréstimo europeu (€9 mil milhões) e do FMI (mil milhões de euros) num total de 10 mil milhões de euros. Aliás, o semanário alemão puxou esta afirmação para título. Mais do que 10 mil milhões de empréstimo “põe em causa a sustentabilidade da dívida de Chipre”.
Ora, recentemente, novos cálculos sobre as necessidades de financiamento de Chipre até ao primeiro trimestre de 2016, para evitar a bancarrota, apontam para 23 mil milhões de euros, seis mil milhões a mais do que as contas inicias que apontavam para um pacote global de 17 mil milhões, em que sete mil milhões teriam de ser arranjados pelo governo de Chipre para resolver a reestruturação do sector bancário e outro apsectos. Mas Schauble diz que “tais números (23 mil milhões) nunca foram oficiais. Eles foram baseados em suposições preliminares, não oficiais”.
De um momento para o outro surgem 13 mil milhões para o governo arranjar (e não só os 7 mil milhões iniciais). Entretanto, o “Financial Times” aponta para um total mais baixo, de 20,6 mil milhões de euros. Para além do confisco nos depositantes (com depósitos acima de 100 mil euros) discutiu-se também a possibilidade de venda de parte das reservas de ouro do Banco Central de Chipre. Uma avaliação da sustentabilidade da dívida de Chipre realizada pela Comissão Europeia revelou a 9 de abril que Nicósia ter-se-ia comprometido a vender cerca de 400 milhões de euros de reservas de ouro “em excesso” no conjunto de 13,9 toneladas que o Banco Central dispõe. O Banco central desmentiu que estivesse a considerar tal venda. O impacto deste rumor no mercado do ouro, associado à ideia de que as vendas de ouro possam passar também a fazer parte do novo “modelo” de resgates no futuro, foi avassalador, com uma quebra do preço da onça de cerca de 160 dólares entre 14 e 16 de abril.
Parlamento cipriota votará MoU provavelmente a 26 de abril
As declarações de Schauble vêm na sequência da aprovação do plano de resgate de Chipre por 487 votos em 602 deputados, na quinta-feira, no Bundestag, Câmara Baixa do parlamento alemão. Ocorreu na mesma sessão parlamentar em que foi aprovada a extensão de maturidades dos empréstimos dos fundos europeus a Portugal e Irlanda no âmbito dos planos de resgate em curso. Por outro lado, o governo finlandês sobreviveu a um voto de confiança colocado pelo partido populista dos Verdadeiros Finlandeses que punha em questão o resgate a Chipre.
Entretanto, em Chipre o Memorando de Entendimento (MoU) com a troika será votado na próxima semana, provavelmente dia 26, depois do procurador-geral ter decidido que a votação era uma obrigação constitucional. Na quinta-feira passada, os deputados cipriotas aprovaram alguma da legislação necessária para o resgate, mas deixaram de fora alguns diplomas importantes.
Teme-se que, na próxima semana, possa não haver uma maioria de aprovação do MoU, o que requer 29 votos em 56 lugares. A Aliança Democrática (DiSi), o partido do presidente Anastasiades, e o Partido Democrático (DiKo), que suporta o governo, dispõem de 28 votos. Um ex-deputado do Partido Democrático é agora independente e desconhece-se o seu sentido de voto. Os comunistas (AKEL, que perderam a 2ª volta das eleições presidenciais), os socialistas e sociais-democratas (EDEK) e o Movimento dos Verdes (KOP) declararam oposição ao plano de resgate e especula-se que poderão votar contra contando com 25 votos, ainda que o governo do presidente Anastasiades acredite que se absterão.

SEGUNDO RESGATE DE PORTUGAL JÁ A CAMINHO....

MUNCHAU: Portugal will require a new programme, and there will ultimately be a significant degree of debt default, negotiated or otherwise
Wolfgang Munchau, German, 51, based in Oxford UK, founder of Eurointelligence and editor and columnist of the Financial Times, in an interview at Expresso weekly newspaper in Portugal, interviewed by Jorge Nascimento Rodrigues, 20 April 2013.
Main Topics
# «If you extend maturities for sufficiently long enough, and reduce interest rates towards zero, then forbearance turns into debt foregiveness. A seven-year extension is, however, not going to be sufficient. Portugal will require a new programme, and there will ultimately be a significant degree of debt default, negotiated or otherwise.»
# «I expect a new full programme, and that would not be consistent with the OMT. If I am wrong, I would expect a combination of precautionary credit line and OMT. »
# «Austerity continues in Europe, but I expect the extend to lessen a bit. What concerns me a lot more than the isolated austerity in the south – which is to some extent necessary, is the austerity in the north, which is not. The eurozone as a whole needs an expansionary policy, made of a strong element of fiscal expansion in the north, and moderate austerity in the south.»
# «I am getting more sceptical about the long-term sustainability of the eurozone. I see no chance that we will be overcoming the various debt and adjustment crises with the current crisis resolution framework. We will see a lot more default in the private and public sector, against external debtors, but also government default against their citizens, and I am not sure the latter is politically sustainable. As for the supposedly “genuine economic and monetary union”, I just don’t see it. The banking union will stop half-way. There will be a joint resolution fund, no joint deposit insurance.»
# «I think monetary financing of debt is not only illegal, but also very detrimental in the long run. The only thing that can overcome the crisis is a joint economic policy, where the most important econoimc policy decisions are centralised, where in turn, the burden of some of the existing debt stocks is shared. Plus a framework to manage default in the banking sector, and to manage sovereign default.»

quinta-feira, 4 de abril de 2013

É PRECISO ACABAR COM OS PARAÍSOS FISCAIS.

Os paraísos fiscais matam as nossas democracias

4 abril 2013
Le Monde Paris

Ruben L. Oppenheimer
Um grande estudo sobre titulares de contas “offshore” levado a cabo por vários jornais, incluindo “Le Monde”, revela a extensão internacional do fenómeno. Deve ser encarado como um sinal de alarme para a sobrevivência dos nossos sistemas políticos, considera a diretora do diário francês.
O que tivemos de ouvir, na sequência da convulsão financeira mundial de 2007-2008! As palavras de ordem sucediam-se: a finança internacional ia ter melhor regulamentação, os paraísos fiscais iam ser impiedosamente combatidos, acabava-se com os buracos negros de um sistema que dá cobertura a todos os abusos. As conclusões de uma reunião do G20 realizada em Londres surgiam como um poço de virtudes.
Os Estados desse círculo da elite mundial prometiam “medidas contra os paraísos fiscais”, arvorando a ameaça de sanções e garantindo, alto e bom som, que “a era do sigilo bancário [tinha] terminado”. Após a crise que agora abalou o Chipre, praça “offshore” privilegiada pelos oligarcas russos e outros amantes da opacidade na gestão dos seus negócios, eis-nos, em França, apanhados pelo turbilhão do caso Cahuzac, um escândalo estatal que põe em causa a integridade e transparência mais elementares, exigíveis a qualquer político, muito mais quando guindado a cargos de alta responsabilidade.

Rede tentacular

As notícias encadeiam-se, por vezes, a um ritmo vertiginoso. Para que fique claro: a investigação que Le Monde começa hoje a publicar em parceria com The Guardian, Süddeutsche Zeitung, Le Soir e Washington Post, dedicada ao mundo subterrâneo dos paraísos fiscais à escala mundial, ao seu funcionamento oculto e beneficiários de todas as esferas, não foi motivada pelos tumultos de Nicósia nem pelas trapalhices do [antigo ministro do Orçamento francês] Jérôme Cahuzac.
A investigação foi iniciada há vários meses. Baseia-se no acesso sem precedentes de um consórcio internacional de jornalistas de investigação a uma gigantesca base de dados, que revela o funcionamento subterrâneo do mundo dos “offshores”. São 2,5 milhões de ficheiros, que foram passados a pente fino, comparados e cruzados. O resultado é a exposição de uma rede tentacular da finança clandestina. Nesta massa de documentos, são mencionados dois bancos franceses. Bem como o ex-tesoureiro de campanha de François Hollande em 2012, Jean-Jacques Augier – que garante nada ter feito de ilegal ao recorrer a um parceiro chinês, através de intervenções “offshore”.

PIB conjunto dos EUA e do Japão

A exposição de casos individuais, por mais aliciantes que sejam, não deve desviar a atenção da questão de fundo: os paraísos fiscais são uma ameaça para a democracia. Minam o Estado de Direito, apostando na ocultação. São um maná para os defraudadores de todos os quadrantes. Promovem o desvio de recursos públicos, em Estados onde imperam o suborno e a corrupção. Neste mundo de uma criatividade jurídica que parece ilimitada, escondem-se valores colossais por trás de empresas de fachada. Personalidades endinheiradas mantêm aí o equivalente ao PIB conjunto dos Estados Unidos e do Japão.
Agora que este estudo vem a lume, ninguém poderá continuar a fingir que acredita que os dirigentes políticos, apesar do que afirmam, não tenham verdadeiros meios de atuação. É urgente reforçar a regulamentação, os meios de controlo, a cooperação transfronteiriça. A luta contra a lavagem de capitais passa por aí. E os bancos ocidentais amantes de esquemas obscuros dificilmente poderão poupar-se a uma resposta clara. Pelo menos, se quiserem que, em tempo de crise, seja dado crédito às suas profissões de fé sobre “ética”.

sábado, 30 de março de 2013

ESLOVÉNIA JUNTA-SE AOS PIIGS E FORMA O GRUOU DOS....segundo Coelho.....DOS PIIEGS.....

As yields das obrigações eslovenas denominadas em dólares (não em euros) fecharam ontem (27 de março) em 6,79%, levantando o temor de chegarem à beira do famoso limiar dos 7%. A subida foi de 4,88% a 15 de março para valores acima de 6% nos últimos dias. Por outro lado, o custo dos credit default swaps (cds, no acrónimo), que funcionam como seguros contra o risco de incumprimento da dívida, subiu ontem para 327 pontos base, acima do custo dos cds para Itália (308) e de Espanha (303). Na semana passada, o custo dos cds estava em 250 pontos base, um preço que se mantinha desde o princípio de janeiro.
Os investidores temem que a Eslovénia seja o próximo membro da zona euro na lista de resgatados segundo o novo “template” do Eurogrupo para resgates de sistemas bancários nacionais. O Fundo Monetário Internacional apontou recentemente que o Tesouro esloveno necessitará de 3 mil milhões de euros de financiamento este ano e mais mil milhões para a reestruturação dos três principais bancos em apuros. O anterior governo, que caiu em final de fevereiro, apontava para o sector bancário um plano de limpeza de ativos tóxicos no montante de 4 mil milhões de euros, criando um bad bank. Ontem, o maior banco do país, o NLB, anunciou a criação de uma espécie de bad bank interno.
No entanto, a dimensão do sector bancário é apenas de 1,5 vezes o produto interno bruto – muito abaixo da média de 3,5 da União Europeia e bem longe das 8 vezes no caso de Chipre.
É um pacote, à primeira vista, mais pequeno do que o de Chipre (10 mil milhões da troika mais cerca de 5 mil milhões na reestruturação bancária). O Tesouro tem de pagar em junho mil milhões de euros de dívida que vence. Em outubro, o Tesouro esloveno foi ao mercado de dívida norte-americano colocar 2,35 mil milhões de dólares com vencimento em 2022. Em fevereiro, emitiu 153 milhões de euros em bilhetes do Tesouro a 3, a 6 e a 12 meses.
A Eslovénia entrou para o euro em 2007. O seu Produto Interno Bruto é de 35,5 mil milhões de euros, sensivelmente o dobro do cipriota. O desemprego está em 13,6% e a economia está em recessão (quebra de 2,3% em 2012 e estimativa de contração de 2% este ano). O défice orçamental foi de 4,4% do PIB em 2012 e prevê-se que suba para 5,1% este ano. A dívida pública é de, apenas, 54% do PIB, abaixo, por ora, da regra de ouro dos 60%. As notações de rating atuais estão ainda acima do nível especulativo (vulgo “lixo financeiro”): a pior notação foi dada em fevereiro de 2012 pela Moody’s que baixou o rating da dívida eslovena para Baa2, dois níveis acima de dívida especulativa. Recentemente, a Standard & Poor’s, em fevereiro passado, cortou a notação para A- e a Fitch mantém, também, a notação de A- desde agosto 2012

terça-feira, 26 de março de 2013

FRASE HISTÓRICA


‘O Governo tem estado bastante bem nas respostas que tem encontrado para a crise financeira, que, de resto, não são respostas muito originais, são concertadas ao nível europeu, mas que têm funcionado bem em Portugal’.

Pedro Passos Coelho (10.12.2008), subscrevendo a “festa socialista” de combate à maior crise dos últimos 80 anos. Frase pronunciada para apoiar José S
ócrates no estímulo à economia através da diminuição do IVA em dois pontos , o que se fazia por toda a Europa combinadamente.

segunda-feira, 18 de março de 2013

EM POLÍTICA É PRRECISO SABERR HISTÓRRIA....


Crise da zona euro: Lições bizantinas para a Europa

18 março 2013
The Guardian Londres

Justiniano I, Imperador bizantino de 527 a 565. Basílica de San Vitale, Ravena (Itália).
Justiniano I, Imperador bizantino de 527 a 565. Basílica de San Vitale, Ravena (Itália).
Da gestão de uma moeda única, à união política e fiscal de uma comunidade multilingue e multiétnica e até mesmo a salvação do povo perante uma recessão incapacitante, os líderes bizantinos estiveram à altura de imensos desafios. Os líderes da UE podem aprender muito com o canto mais oriental do Império Romano, defende um historiador britânico.
Por vezes é fácil esquecermos por que razão estudamos história. É evidente, usamos o passado para compreender o presente; mas, idealmente, também aprendemos com isso. Assim sendo, é uma pena que não haja espaço no novo currículo nacional para a história de Bizâncio. A metade oriental do Império Romano que floresceu muito para além de, na Antiguidade, a própria Roma ter entrado numa espiral de declínio.
Infelizmente, como várias gerações nunca estudaram o poderoso oriente mediterrânico que em tempos governou um território que ia de Veneza à Palestina, do Norte de África ao Cáucaso, a lição que o mundo moderno daí poderia tirar perdeu-se nas brumas do tempo – uma lição de que a Europa precisa hoje mais do que nunca.
Tal como a UE, o Império Bizantino era uma comunidade multilingue e multiétnica que se estendia por diferentes climas e economias locais variadas, que incluíam cidades movimentadas e entrepostos comerciais, portos prósperos e pequenos assentamentos rurais. E não apenas isso. Tinha, também, uma moeda única – uma moeda cujo valor, durante séculos, não flutuou.
Contrariamente à opinião popular diariamente expressa na Câmara dos Comuns, onde os deputados fazem fila para descreverem como “bizantina” uma legislação excessivamente regulamentada e complexa, o Império Bizantino era, de facto, um modelo de sofisticação – especialmente em áreas em que a UE deixa muito a desejar. Ao contrário da UE, Bizâncio não estava pejado de ineficácia e disparidade no que dizia respeito a impostos: os lucros não ficavam parados numa região mais atraente, comprometendo, assim, a estrutura do império. O governo de Bizâncio era pequeno, simples e eficiente.

Liberdade de impostos

Não se punha sequer a questão que partes diferentes do Império pudessem ter normas diferentes ou políticas de impostos diversas: para o Estado funcionar com uma moeda única, tinha de haver união fiscal, económica e política; os impostos tinham de ser pagos da periferia para o centro; e era ponto assente que a riqueza tinha de ser desviada das regiões mais ricas para as menos abençoadas – mesmo que nem toda a gente se sentisse feliz com isso. Liberdade, resmungava um autor do século XI, significava liberdade de impostos.
Se os eurocratas conhecessem a estrutura do Império, também poderiam beneficiar da lição sobre o modo como Bizâncio lidou com uma recessão crónica, provocada pela mesma combinação mortal que paralisa atualmente as economias ocidentais. Nos anos de 1070, as receitas do governo colapsaram, enquanto as despesas com serviços essenciais (como os exércitos, por exemplo) continuaram a aumentar; uma crise de liquidez crónica agravou ainda mais o estado de coisas. A situação ficou tão má que as portas do tesouro passaram a estar abertas para trás: não havia razão para as trancar, escreveu alguém desse tempo, porque não havia nada lá dentro para roubar.
Não houve misericórdia para com os responsáveis da crise. O Herman Van Rompuy daquele tempo, um eunuco chamado Nikephoritzes, foi destituído por uma multidão furiosa com a subida dos preços e a queda do seu nível de vida, e acabou mesmo por ser torturado até à morte. O descontentamento generalizado levou a que, sem cerimónias, muito outros se vissem destituídos dos seus cargos, quase sempre obrigados depois a tornarem-se monges, presumivelmente para que pudessem rezar pelo perdão dos seus próprios pecados.
A crise deu então origem ao aparecimento da figura de Nigel Farage, cujos argumentos sobre o porquê das coisas terem corrido mal eram “tão persuasivos”, segundo um dos seus contemporâneos, que as pessoas “se uniram para lhe dar precedência” e o recebiam com aplausos onde quer que ele aparecesse. Farage era uma lufada de ar fresco numa altura em que a velha guarda estava paralisada pela inação e pela falta de boas ideias. A sua mensagem, de que a atual geração de líderes era inútil, era difícil de contradizer.

Uma paragem cardíaca económica

As tímidas políticas que estavam a ser tentadas foram um desastre, não tendo tido qualquer efeito na resolução dos problemas. Incluíram a desvalorização da moeda, pondo em circulação mais quantidade de dinheiro enquanto a percentagem de metal precioso que cada moeda continha diminuía cada vez mais; por outras palavras, um recurso quantitativo. Foi como pôr um penso rápido num ferimento de bala.
Como a situação piorou, estava na altura de fazer uma limpeza nos líderes antigos. Era preciso sangue novo e com ele apareceram novas ideias radicais. Uma das sugestões foi um resgate alemão, mas não chegou a realizar-se, embora, durante algum tempo, tenha parecido promissor. Mas, à medida que a comida foi escasseando e as conversas se voltavam para o apocalipse, não houve outra alternativa senão passar à ação.
A solução teve três vertentes. Primeira, a moeda foi retirada de circulação e substituída por outra, com outro nome, cujo valor facial refletia o valor real; segunda, o sistema tributário foi reformulado, com um levantamento de quem possuía o quê em todo o Império servindo de base para aumentar os impostos no futuro; finalmente, as barreiras comerciais diminuíram para encorajar o capital externo a investir mais barato e mais facilmente do que no passado – não na aquisição de ativos, mas especialmente em comércio. O Império estava em tal apuro que essas barreiras desceram ao ponto de os investidores estrangeiros acabarem por enfraquecer os nacionais, pelo menos a curto prazo, para estimular a economia. O estratagema funcionou: não foi tão doloroso como se temia e ressuscitou um doente que tinha sofrido de uma paragem cardíaca económica.
A propósito, o Nigel Farage do século XI não teve sucesso, mas aplanou o caminho para que um candidato verdadeiramente bom chegasse ao poder. Alexios Komnenos, assim se chamava o homem que reconstruiu Bizâncio, teve, apesar de tudo, de pagar o preço das suas reformas: desprezado em vida por ter tido de tomar decisões difíceis, depois disso, e durante séculos, foi ignorado pela História. Talvez hoje devêssemos procurar alguém que, como ele, também tenha os ombros suficientemente largos.
Traduzido por Maria João Vieira

quinta-feira, 14 de março de 2013

TECNOLOGIA "SUTER "

As Novas Tecnologias Disruptivas na Defesa

É uma verdadeira revolução. Novas tecnologias começam a permitir alcançar objectivos, a custos comparativamente desprezáveis. Se os drones  são já, nesta matéria, um caso de grande sucesso, há muitos outros. O “Suter”, por exemplo, que a preços “ridículos” (comparativamente) dispensa os milionários aviões furtivos e faz ainda o que eles nem sonhavam ser possível… A subida imparável e vertiginosa da curva de preços das novas, tecnologias parece ter sido quebrada por novas e disruptivas tecnologias. Pelo menos, nos EUA… Veja-se o caso “Suter”, o que ele faz e como chega mesmo a tempo para permitir ao Pentágono manter objectivos e respeitar os “cortes”.

É por isto mesmo que os U.S.A. poderão já no próximo mês resolver o problema do duplo déficite. Ter uma dívida pública de 120% do PIB é terrível - sobretudo porque os credores são basicamente os chineses.
Agora , somar a esta dívida pública um deficite orçamental anual superior a 9% é uma tragédia.
Ora, para impedir o crescimento da dívida pública é preciso acabar com o déficit, e para isso fazer cortes na despesa já que os Republicanos no Congresso e no Senado ( no Capitólio ) recusam mais aumentos de impostos e até exigem a sua diminuição. E como cortar então nas despesas ? Pois cortando na maior fatia do orçamento  : a despesa com a defesa, ou , dito doutra forma, cortando na guerra.
Ora é aqui que entra a tecnologia "SUTER". Que permite aviões ,submarinos e tanques dirigidos por controlo remoto. E ainda , permite safar radares inimigos com "intoxicaçao electrónica", bem como eliminar a comunicação de disparo de todo o tipo de mísseis inimigos - COMO ACONTECEU E AQUI FOI RELATADO EM FINAIS DO ANO PASSADO NUM ATAQUE ISRAELITA A FÁBRICAS DE MÍSSEIS DA AL-QUAEDA NO SUDÃO. 
  Assim, duma penada , se continua militarmente  à frente da China e ainda por cima com um orçamento irrisório. É por isto que o "fiscal clif"tão falado não vai , em Maio , destruir os USA .





  electrónica"États-Unis – Guerre Électronique: Des Suter partout?
Dans la foulée du raid israélien visant un réacteur nucléaire syrien en construction, en 2007, plusieurs commentateurs avaient indiqué que les pilotes de la Heyl Ha’avir avaient probablement utilisé une technologie appelée Suter et permettant d’infiltrer à distance les réseaux radar adverses, effaçant littéralement les échos des appareils sur les écrans des contrôleurs au sol.
L’utilisation de ce système avait notamment fait suite à un essai mené par un EC-130 et durant lequel les opérateurs étaient parvenus à créer un flux de données dirigées passant par les systèmes de réception radar.
La technologie apparaît comme une véritable rupture: à quoi bon développer des techniques de furtivité coûtant des milliards de dollars ou d´euros, tout en sachant qu´elle n´annulent pas la signature radar d´un appareil ou d´un navire, si vous pouvez effacer un écho?
Dans un tel cadre, le développement de cette technologie pourrait partiellement expliquer le choix de l’Air Force de ne pas se concentrer sur l’achat d’appareils d’attaque électronique.
Or cette capacité disruptive semble être au coeur du dernier discours de Gates, dans le choix effectué du développement de nouveaux systèmes de brouillage pour la Navy. En l’occurrence, il s´agirait de doter les EA-18G Growler et les F-35 de telles capacités, confirmées par des officiels de l’US Navy.
Pour autant, la technologie reste nébuleuse. Suter, en fait, recouvrirait plusieurs programmes, touchant aussi bien des logiciels que des systèmes de pods et dont trois applications seraient opérationnelles:
. Suster 1 permettrait (le conditionnel reste de mise) d´observer ce que voient des opérateurs radar adverses;
. Suter 2 permettrait de prendre le contrôle des capteurs adverses, notamment pour «effacer» les échos radar;
. Suter 3 permettrait d´envahir les liaisons de données vers les lanceurs de missiles balistiques ou les lanceurs mobiles de SAM.
En tout état de cause, même si les sources touchant à ce programme sont peu nombreuses et qu’il reste – ce qui se comprend aisément – entouré par le secret, il faut néanmoins constater que l’on trouve là la concrétisation de concepts imaginés dans les années 1990 et voyant une utilité militaire directe aux techniques de hacking et de cyberguerre.
Encore une révolution ratée pour les États européens, ou le signe d´un manque de confiance à l’égard d’une technologie qui, malgré tout, ferait l’objet de recherches très amont?

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Se Sócrates tivesse tido o apoio do país, não estaríamos aqui...quem disse isto , quem foi ???

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Da série "Frases que impõem respeito" [761]


É caso para dizer «Volta Sócrates, estás perdoado». Era exactamente o discurso de José Sócrates nos últimos tempos de Governo.
        Constança Cunha e Sá, que recorda que o antigo primeiro-ministro também dizia que «o problema era europeu, não era português» (vídeo)

        Da série "Frases que impõem respeito" [761]


        É caso para dizer «Volta Sócrates, estás perdoado». Era exactamente o discurso de José Sócrates nos últimos tempos de Governo.
              Constança Cunha e Sá, que recorda que o antigo primeiro-ministro também dizia que «o problema era europeu, não era português» (vídeo)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

RECESSÃO MUNDIAL

A agência Bloomberg falou hoje de “ansiedade face às eleições (legislativas) italianas”, que se realizarão no próximo domingo (24 de fevereiro) juntamente com a segunda volta das eleições presidenciais em Chipre. Em ambas as contendas eleitorais não é certo o desfecho.
Por outro lado, aguardam-se as previsões de Inverno da Comissão Europeia na sexta-feira. Os resultados económicos preliminares do último trimestre de 2012 fornecidos pelo Eurostat foram maus para a zona euro e para a maioria dos seus membros. A zona euro em termos anualizados esteve em contração, com uma quebra do PIB de 0,9%. Nove dos 17 membros do euro estiveram em recessão, ainda não sendo conhecidos dados para cinco (entre eles a Irlanda e a Áustria). Mesmo países com notação de triplo A, como a Finlândia e a Holanda, estiveram em recessão.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

É URGENTE EXÉRCITO EUROPEU, JÁ !

Mali: A aposta necessária mas arriscada da França

14 janeiro 2013
Presseurop
Libération, Le Monde, Süddeutsche Zeitung & 4 outros
A 11 de janeiro, o Exército francês lançou uma operação militar destinada a travar o avanço para o Sul do Mali dos grupos armados islamitas que controlam, desde a primavera, o Norte do país. A imprensa europeia reconhece globalmente a necessidade da intervenção, mas aponta os riscos desta operação.
Sob o mandato da ONU, as forças francesas levam a cabo bombardeamentos aéreos com o apoio logístico dos britânicos em apoio das tropas do Mali contra o Movimento Nacional de Libertação do Azawad, que luta pela independência das províncias de Gao, Tombuctu e Kidal, e os salafitas de Ansar Dine, e que pretendem instaurar um regime islamita nessa parte do Mali.
"François Hollande pode felicitar-se por ter travado os talibãs das areias", comenta o Libération, que, no entanto, se interroga sobre o que se seguirá à operação "Serval":
Irá a França contentar-se com travar o avanço irresistível dos islamitas no Mali? Irá reconquistar, usando como testa de ferro algumas tropas africanas, o Norte do país, nas mãos, desde há nove meses, dos Loucos de Deus, que impõem um Islão totalmente contrário às práticas moderadas e tolerantes dos malianos? […] Hoje, as tropas francesas talvez sejam bem acolhidas pela população esgotada, que se opõe largamente aos islamitas. Contudo, os malianos não vão, e com razão, suportar durante muito tempo a presença das tropas do antigo colonizador. Não existe uma solução militar e, por maioria de razão, francesa para a crise no Mali.
Perante o avanço dos islamitas, o Presidente francês, François Hollande, optou pelo "mal menor", considera Le Monde. Porque
a passividade não era opção. Ou teria sem dúvida conduzido a uma situação que iria exigir uma ação militar posterior, de maior envergadura. Mas a França não pode ficar sozinha. Ajudar o Mali a reconquistar o seu território é, em primeiro lugar, tarefa dos Estados da África Ocidental. Impedir o estabelecimento de um núcleo *jiadista* no Sahel, é do interesse de toda a Europa.
Ao intervir no Mali, "François Hollande correu um risco", considera o Süddeutsche Zeitung. Segundo este diário de Munique, trata-se, porém, de um risco que não devemos deixá-lo assumir sozinho:
Deve ser criada um força militar operacional internacional, integrada sobretudo por países da União Africana. Por outro lado, a França precisa da ajuda militar dos seus aliados europeus. […] A União Europeia debate, há meses, o problema do Mali, com tão pouco sucesso que até faz corar. […] Neste momento, a Europa já é ameaçada por uma rede terrorista islamita, que se implantou no Norte de África. Aquilo que se passa na outra margem daquilo que, não por acaso, se chama Mare Nostrum não pode deixar ninguém indiferente na Europa. Não se trata do pátio das traseiras negligenciado da Europa mas da sua vizinhança.
"O problema da intervenção francesa é ser francesa", escreve por seu turno o Tageszeitung. Este diário alternativo de Berlim desaprova o "colonialismo de esquerda" e salienta que
Logo – Die Tageszeitung, Berlim
[Nicolas] Sarkozy foi muito criticado pela participação francesa nas intervenções militares na Líbia e na Costa do Marfim, mas, pelo menos, essas operações inscreviam-se num quadro internacional estrito. Quem teria pensado que Hollande poderia representar um passo atrás em relação a Sarkozy?
Além disso, adverte The Independent, a intervenção no Mali irá reforçar o discurso radical dos islamitas sobre mais um ataque do Ocidente contra o Islão. Para o cronista Owen Jones,
il est pour le moins dérangeant de constater comment [le Premier ministre David] Cameron entraîne le Royaume-Uni dans le conflit au Mali sans la moindre ébauche de consultation. On nous dit qu’il n’y aura pas d’envoi de troupes ; mais le terme de “mission creep” [l’extension de la portée originale de l’objectif] a un sens, et une escalade pourrait certainement entraîner un engagement britannique plus profond. L’Occident a la é no mínimo preocupante que [o primeiro-ministro David] Cameron arraste o Reino Unido para o conflito do Mali, sem sequer um simulacro de consulta. Dizem-nos que não vão ser enviados soldados. Mas as palavras ‘mission creep’ [extensão do alcance original do objetivo] têm um sentido e uma escalada poderá levar a um maior envolvimento britânico. O Ocidente tem o terrível hábito de se associar aos aliados mais duvidosos: o lado que escolhemos está longe de ser o dos democratas respeitadores dos direitos humanos… É responsabilidade de todos nós analisar bem aquilo que os nossos governos fazem em nosso nome; se não conseguimos aprender isso com o Iraque, o Afeganistão e a Líbia, então já não há esperança.
Em Bucareste, o Adevărul mostra-se preocupado com as "fortes consequências da operação ‘Serval’ sobre um território imenso em África" e, também, com "a segurança da UE e dos seus cidadãos, no interior e no exterior do espaço comunitário". Apesar disso, refere este diário, a intervenção era necessária, devido ao aumento sem precedentes do número de células islâmicas […] a Norte e a Sul do Saara. Contudo, acrescenta,
Logo – Adevărul, Bucareste
agora que a França se envolveu diretamente nas operações militares, é possível que se verifiquem cenários semelhantes aos do Iraque ou do Afeganistão, mas a uma escala muito mais vasta e complexa.
"Agora, a questão é saber se e como irá a UE mobilizar-se", acrescenta o European Voice. Este semanário com sede em Bruxelas coloca a questão da defesa europeia e pergunta:
Logo – European Voice, Bruxelas
Des pays de l’UE enverront-ils des troupes combattre avec les Français ? L’UE se contentera-t-elle d’entraîner les troupes des autres ? [..] Que les islamistes contrôlent le désert, une base pour de potentielles attaques dans la région et en Europe, est clairement un grand sujet d’inquiétude pour la France et, pense-t-elle, devrait l’être pour l’Europe dans son ensemble. [...] L’intervention et les questions qu’elle va susciter Irão alguns países da UE enviar tropas para combater ao lado dos franceses? Limitar-se-á a UE a treinar as tropas dos outros? O facto de os islamitas controlarem o deserto – uma base para potenciais ataques na região e na Europa – constitui claramente um forte motivo de preocupação para a França e, no entender deste país, deveria sê-lo também para toda a Europa. Outros países da UE talvez não estejam tão preocupados. [...] Mas a intervenção e as questões que esta suscitará irão provavelmente ocupar os espíritos, na grande cimeira de dezembro sobre cooperação em matéria de defesa. […] As questões associadas à capacidade militar da Europa são muito importantes [para o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy]. Com a ‘ajuda’ do Mali, essas questões irão provavelmente ser muito mais importantes para os outros responsáveis políticos e para os cidadãos comuns europeus, até ao fim do ano.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ELITE BRITANICA PERCEBE QUE ATÉ AOS U.S.A. INTERESSA UMA BRITÂNIA INTEGRADA A SÉRIO NA U.E..

Reino Unido: Que se levantem os europeístas, por favor!

14 janeiro 2013
The Guardian
David Cameron apoiado no ministro dos Negócios Estrangeiros, William Hague, e no líder dos liberais democratas, Nick Clegg.
David Cameron apoiado no ministro dos Negócios Estrangeiros, William Hague, e no líder dos liberais democratas, Nick Clegg.
O Reino Unido arrisca-se a ser erradicado da UE por magnatas da comunicação social e políticos eurofóbicos. Os europeístas têm de perder o medo e lançar um debate objetivo sobre a permanência do Reino Unido na UE, lê-se num editorial do Guardian. Excertos.
The Guardian
Teoricamente, uma das funções dos políticos é conduzir, informar e orientar um debate nacional sobre os assuntos do dia. Sem dúvida de que, para o Reino Unido, um desses assuntos é o futuro da União Europeia e a posição do Reino Unido no seu seio. Mas os nossos políticos – e talvez também os nossos meios de comunicação social – revelam-se muito incapazes para essa função.
Devido a uma série de motivos, indissociáveis de questões históricas, geográficas, culturais e linguísticas e com resquícios de uma ilusão pós-colonial sobre a superioridade britânica e a inferioridade continental, são muitos os britânicos que se envolvem na Europa com relutância e desmotivação.
Em parte por essa razão, há demasiados políticos de todas as filiações partidárias que consideram mais fácil papaguear ou apaziguar as opiniões de alguns jornais de direita, cujos proprietários muitas vezes nem pagam impostos neste país e que olham para a "Europa" como para regulamentos que ameaçam os seus interesses de proprietários e pessoas abastadas. Muitos cidadãos são instintivamente mais cautelosos e mais pragmáticos, não só porque não confiam na imprensa, como também porque recebem pouca orientação dos políticos.

Incapacidade coletiva da sociedade civil

O resultado, ao longo de todos estes anos, tem sido o crescimento de um populismo antieuropeu muito vulgar na direita e numa certa esquerda. Isto gerou agora uma espécie de hegemonia eurocética no debate público no Reino Unido. No partido conservador, o ceticismo em relação à Europa está a transformar-se num completo e imprudente desprezo, que alimenta os anseios para que se abandone a UE, e estimula a subida do partido Ukip.
Independentemente das suas filiações partidárias, os políticos ponderados revelam um certo nervosismo. O desfecho, que se torna plausível atendendo às questões extremamente graves da zona euro, é a evidente incapacidade coletiva da sociedade civil, particularmente em Inglaterra (um pouco menos na Escócia), de pensar na relação com a Europa com algum realismo e objetividade.
O anunciado discurso de David Cameron sobre o Reino Unido e a UE deveria ter sido um alerta aos políticos mais europeístas e mais ponderados. Talvez venha a ser daqui a um tempo. Se assim for, tanto melhor. Mas não há indícios de que assim seja por enquanto. É verdade que Ed Miliband proferiu um importante discurso no final do ano passado na Confederação da Indústria Britânica (CBI).

Ausência de um debate político

Também é verdade que Nick Clegg e quase todos os liberais democratas continuam a defender o compromisso com a UE. Mas os trabalhistas receiam a questão europeia e os liberais democratas, por motivos diferentes, lutam pela conquista de uma audiência favorável em relação a qualquer assunto. Esta realidade deixa muita margem para os conservadores eurocéticos, cada vez mais audaciosos. Isto tem de mudar – e rapidamente. A negligência europeísta não pode dar azo a que David Cameron fale em nome do Reino Unido sem ser contestado.
Na ausência de um debate político mais ponderado sobre as vantagens e desvantagens do compromisso com a Europa, há outros interesses que finalmente se fizeram ouvir. Temos assistido a intervenções significativas dentro e fora do país. O primeiro-ministro irlandês afirmou que seria um desastre se o Reino Unido saísse da UE. O ministro finlandês dos Negócios Estrangeiros, à semelhança do que haviam feito os seus homólogos polaco e holandês, lamentou o caminho seguido pelo Reino Unido no debate sobre a UE, que considerou "nada civilizado".

Vozes que não se ouvem deviam fazer-se ouvir

A administração Obama fez notar que o Reino Unido se está a virar para dentro e realçou o facto de que Washington o queria continuar a ver como membro da UE. Um responsável da CDU de Angela Merkel, de centro-direita, afirmou que o Reino Unido não devia tentar chantagear o resto da Europa impedindo alterações aos tratados motivadas pela crise na zona euro. Maior influência teve talvez o facto de um grupo de empresários britânicos ter dito a David Cameron para não pôr em risco a permanência do Reino Unido na União Europeia.
Tudo isto é bem aceite e tem a sua utilidade. Mas os observadores internacionais e os empresários apresentam argumentos que os políticos e os comentadores britânicos, incluindo importantes políticos conservadores e comentadores, também deveriam apresentar. Este país arrisca-se a ser levado pelos conservadores e pela imprensa eurofóbica a abandonar a Europa. Os europeístas deviam acabar com as suas ansiedades. As vozes que há muito não se ouvem têm de se fazer ouvir

TÓQUIO PREOCUPA-SE COM A DEFESA DO PAÍS

O gabinete do novo primeiro-ministro Shinzo Abe anunciou a 11 de janeiro em Tóquio um pacote de estímulos à economia de 20 biliões de ienes, cerca de 169,5 mil milhões de euros. Vale 3,8% do PIB do ano passado. Em termos comparativos, o pacote norte-americano de estímulos aplicados entre 2009 e 2011 ao abrigo do America Recovery and Reinvestment Act correspondeu a cerca de 5% do PIB dos EUA.
Trata-se de um orçamento suplementar para o ano fiscal que termina em março e que visa dois propósitos: aumentar o emprego em 600 mil novos postos de trabalho (apesar do Japão ter uma taxa de desemprego invejável de 4%) e gerar um efeito de 2% no PIB, reforçando a trajetória de crescimento que vem de 2012, em que o PIB se estima ter crescido 2,2%.
O pacote inclui nomeadamente 10,3 biliões de ienes (87 mil milhões de euros) para estímulos para a economia em diversas vertentes, a que se adicionam 2,8 biliões (23,7 mil milhões de euros) para o reforço do novo Fundo de Pensões e um aumento no orçamento da defesa, uma das prioridades do novo governo face à escalada do clima de disputas no Mar da China. O Plano de Reconstrução das regiões afetadas pelo terramoto e tsunami de março de 2011 deverá orçar globalmente 19 biliões de ienes (161 mil milhões de euros) até ao ano fiscal de 2015.
Foi tomada, também, a decisão de aplicar “de um modo regular” uma parte das reservas em divisas na compra de obrigações do Mecanismo Europeu de Estabilidade. O Japão dispõe do segundo maior montante de divisas no mundo, depois da China.

UM AMIGO LÚCIDO

O luxemburguês Jean-Claude Juncker, o presidente cessante do Eurogrupo (reunião dos 17 ministros de Finanças da zona euro), resolveu partir, na quinta-feira (10 de janeiro), a loiça no seu discurso de despedida junto da Comissão de Assuntos Monetários e Económicos (ECON) do Parlamento Europeu. “A opção foi fazer recair o ajustamento nos mais fracos”, “tenho dúvidas” do ritmo de ajustamento que foi “imposto em certos países” e “subestimou-se o drama do desemprego”, disse o luxemburguês que vai com alta probabilidade passar a pasta ao ministro das Finanças holandês Jeroen Dijsselbloem, membro do Partido do Trabalho e governante desde novembro de 2012.
Juncker abandona o cargo na reunião do Eurogrupo de 21 de janeiro depois de ter estado à sua frente desde 2005. Nesta despedida, confessou que o poder, depois de tanto tempo, “perdeu toda a sua dimensão erótica”. “Se o meu país me reeleger, disse mais tarde aos jornalistas, serei um homem livre para poder exprimir os meus próprios pontos de vista sobre os assuntos europeus”.
Na quinta-feira, ao longo de 90 minutos, o primeiro-ministro e ministro das Finanças do Luxemburgo, desencadeou um “ataque furibundo” – como titulou o jornal espanhol Cinco Días – à linha dominante na estratégia europeia em relação à gestão da crise das dívidas soberanas.
Em Portugal o principal eco da sua intervenção perante o Parlamento Europeu centrou-se na sua resposta a uma pergunta colocada pela deputada portuguesa Elisa Ferreira, em que Juncker adiantou que por diversas vezes propôs que houvesse uma alteração no que toca às condições financeiras e orçamentais que acompanham o ajustamento, como parte de “um sistema de recompensa” – sem qualquer conotação “paternalista”, frisou – para os países que cumpriram os objetivos nos planos de resgate.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

PRECIPÍCIO FISCAL ADIADO

Em finais do terceiro trimestre de 2013 saber-se-há como fechou o déficit de 2012 e como vai a execução orçamental de 2013 em Portugal. Curiosamente é nessa altura que serão tomadas as medidas mais difíceis de resolução do fiscal cliff nos U.S.A.. É a altura também de decidir novos avales à Grécia e Espanha, e na Itália e Alemanha a situação política vai estar quente. Na Turquia estarão montados os mísseis patriot nas mãos americanas no meio de um clima económico recessivo....
“O precipício orçamental (fiscal cliff) não foi evitado, no sentido estrito do termo, mas reduzido na sua magnitude. O precipício na sua totalidade teria custado 3% do PIB norte-americano. O acordo realizado no final do ano cortou-o provavelmente para metade”, diz Marc Chandler, analista da Brown Brother Harriman e responsável pelo blogue ‘Marc to Market’. Mas não espera que haja qualquer double-dip (recaída na recessão) em 2013 por parte da economia americana. As previsões atuais do Fundo Monetário Internacional para 2013 relativas aos EUA são para um ligeiro abrandamento do crescimento do PIB de 2,17% para 2,11% e para um desagravamento, também, ligeiro do défice externo de 3,1% do PIB para 3%. O défice orçamental estrutural deverá reduzir-se de 5,9% do PIB para 4,4%, mais de um ponto e meio percentual.
Este professor da Universidade de Nova Iorque, bem como Peter Cohan, consultor independente de Boston, e William Witherell, economista-chefe da Cumberland Advisors, da Florida, e ex-consultor da OCDE, realizaram para o Expresso o balanço do impacto para 2013 do acordo de última hora no final do ano passado alcançado entre a Casa Branca e o Senado e depois aprovado por 257 contra 167 votos na Câmara dos Representantes já no final do dia 1 de janeiro. O acordo fraturou o Partido Republicano (157 deputados votaram contra e 85 a favor), a ponto de alguns analistas falarem de “guerra civil” interna, e, em muito menor grau, o Partido Democrata (16 deputados votaram contra e 172 a favor) na Câmara de Representantes. No Senado o acordo passou por 89 votos a favor, 8 contra (5 republicanos e 3 democratas) e 3 abstenções (2 republicanos e um democrata).
“O acordo fechou apenas o tema do aumento automático de impostos e de cortes da despesa indesejáveis”, afirma, por seu lado, Bill Witherell, que conclui a propósito dos impostos: “Creio que a estrutura de impostos está definida para os próximos anos. Uma eventual reforma fiscal levará anos”. As duas medidas acordadas mais referidas disseram respeito ao IRS e ao imposto sobre dividendos e rendimentos de capitais. Só a partir de rendimentos individuais anuais superiores a 400 mil dólares (300 mil euros) ou de agregados familiares acima de 450 mil dólares (345 mil euros), a taxa de imposto subirá dos 35% atuais para 39,6% (do tempo da Presidência Clinton). A partir destes escalões de rendimentos, o imposto sobre dividendos e rendimentos de capitais subirá de 15% para 20%.
Leis e salsichas, segundo Bismark
Até final de fevereiro terão de ser debatidos dois assuntos cruciais: o primeiro envolvendo 109 mil milhões de dólares (cerca de 84 mil milhões de euros) de cortes na despesa pública, um “sequestro” que ficou adiado, e o do teto de endividamento federal autorizado que foi ultrapassado no final do ano segundo o secretário do Tesouro cessante, Tim Geithner. “Vão ser dois debates muito intensos e ambos os lados, Republicanos e Democratas, vão lançar mão de táticas audaciosas. O chanceler alemão Bismark disse que, em democracia, não deveríamos ver a forma como as leis ou as salsichas são feitas. A democracia parlamentar é uma confusão e a fealdade está à mostra para todo o mundo. Mas, claro, não conheço outro sistema melhor”, ironiza Chandler. “Os Democratas exigirão um aumento do teto da dívida sem condições. Os Republicanos tentarão prender, uma vez mais, um acordo sobre o teto ao corte na despesa pública”, refere Peter Cohan. “Creio que chegarão a mais um acordo de última hora, depois de uma batalha política amarga”, refere Witherell.
Com a convergência dos dois debates politicamente quentes – o que resta do “precipício orçamental” e a nova discussão do aumento do teto da dívida – no primeiro trimestre do ano, muitos analistas temem uma repetição, para pior, do que ocorreu em agosto de 2011, quando a Standard & Poor’s (S&P) decidiu excluir a dívida federal norte-americana do “clube” da notação máxima de triplo A. Bill Witherell admite que possa ocorrer uma “versão suave” desse episódio. Mas Peter Cohan acha que não: “A política mudou em relação a agosto de 2011. Obama já não tem de se preocupar com reeleição. Agora que foi reeleito e aprendeu com a forma como pode usar os seus poderes presidenciais, vai ser, certamente, um negociador mais duro”.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

FISCAL CLIFF DOS USA EMPURRADO COM A BARRIGA PARA A FRENTE. DENTRO DE MESES VOLTAMOS AO MESMO E PREVISIVELMENTE O DÓLAR DEFINHA

Economia: Merkel pastoreia-nos para longe do abismo fiscal

3 janeiro 2013
NRC Handelsblad Amesterdão


As negociações de última hora em Washington, para evitar um défice orçamental, evidenciam que a visão de curto prazo está bem alicerçada na política dos Estados Unidos. Revelam também que, apesar da sua controversa gestão da crise do euro, a chanceler alemã é bastante sábia ao forçar a adoção de soluções de longo prazo.
Citando uma frase que ficou famosa na boca do historiador norte-americano Robert Kagan, "Os americanos são de Marte e os europeus de Vénus" também quando se trata de lidar com questões de saúde fiscal de longo prazo.
O facto de os melhores políticos de Washington conseguirem apresentar, à beira do chamado "abismo fiscal", um acordo despojado e minimalista patenteia a inexistência de um interesse genuíno em resolver o problema do défice orçamental norte-americano de longo prazo.
Não tem a ver com as diferenças partidárias nos EUA (embora isso seja muitas vezes invocado como um facto). Os nossos políticos, independentemente da cor política, não são sérios no que diz respeito à saúde fiscal da nação a longo prazo.
De que outra forma interpretar o facto de a única forma de os políticos de Washington terem sido persuadidos a aceitar uma muito modesta fatia de austeridade fiscal, com vista a garantir a situação a longo prazo, ter sido convencê-los – com artimanhas como o "abismo fiscal" – de que haveria muito mais medidas de austeridade se não estivessem dispostos a aceitar pelo menos uma dose mínima de intervenção orçamental neste momento?

Saltar por cima do abismo fiscal

Se o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o Congresso realmente quisessem consertar o problema do défice orçamental do país, teriam entusiasticamente saltado por cima do "abismo fiscal", com cortes de gastos e aumentos de impostos obrigatórios, em vez de andarem eternamente a contorná-los.
É exatamente o oposto do que está a acontecer na Europa, onde a chanceler alemã, Angela Merkel, está a orientar uma dolorosa carga fiscal de curto prazo, tendo em vista resultados fiscais a longo prazo. Tanto os keynesianos como os desenvolvimentistas discordam, mas Merkel defende inflexivelmente que a Europa não pode voltar ao crescimento sustentável e prosperidade sem antes arrumar a sua casa fiscal – e utiliza criativamente o peso económico alemão para impor as regras alemãs que pretende para a Europa.
Essa – para além do facto de ter sido simultaneamente sábia e corajosa para abraçar o programa de Mario Draghi de compra de títulos, para estabilizar os mercados financeiros, enfrentando a oposição determinada do Bundesbank – é a razão pela qual considero que ela merece ser a personalidade europeia do ano.
Nota para os investidores: 2013 parece ser o ano em que os mercados começarão a perceber que é a "gente de Vénus" que está no caminho certo e os "marcianos" no caminho errado. São os norte-americanos que estão a arrastar a reforma fiscal pela ladeira abaixo e não os europeus.

Uma onda virtual de turbulência

Isso vai colocar a Europa em perigo, a par dos Estados Unidos. A incapacidade de Washington resolver a saúde fiscal dos EUA a longo prazo pode desencadear uma onda virtual de turbulência que atingirá toda a economia global. Vivemos num mundo interligado, em que a "gente de Vénus" pode sofrer graves consequências se a "gente de Marte" não cuidar dos seus negócios.
Um golpe no mercado acionista dos EUA poderia causar danos sérios tanto aos europeus como aos norte-americanos (sem falar dos asiáticos).
Parte da responsabilidade pelos problemas de saúde fiscal dos EUA repousa inequivocamente nos ombros da Reserva Federal dos Estados Unidos, cujas políticas de flexibilização quantitativa – intencionalmente ou não – tornaram mais fácil aos políticos norte-americanos colocar em risco a saúde fiscal da nação a longo prazo.
Para quê fazer reformas fiscais dolorosas para proteger a dívida soberana, quando a compra incondicional do banco central de títulos dos Estados Unidos faz esse papel tão bem? (O BCE está a exigir reformas, antes de gastar um euro que seja na compra de títulos de dívida).
O diretor da Reserva Federal, Ben Bernanke, terá, sem dúvida, relutância em admiti-lo mas as iniciativas de flexibilização quantitativa do seu departamento têm ajudado a deixar o balão da reforma fiscal dos Estados Unidos sem oxigénio.