Domingo, Janeiro 09, 2011Como vai a banca do Reino Unido depois da intervenção do Estado
( copiado do blog CÃMARA CORPORATIVA )
Desde o Verão de 2007 que, face a inúmeras dificuldades sentidas pelo sector financeiro britânico, o Treasury tomou um conjunto de decisões para:
- proteger os depositantes da situação de ausência de liquidez ou insolvência dos bancos;
- manter a liquidez dos bancos, garantindo-lhes a capacidade para respeitar os seus compromissos e para poderem continuar a emprestar dinheiro entre si;
- garantir que os bancos sistémicos tivessem capital suficiente para resistir a uma possível deterioração dos mercados financeiros;
- encorajar os bancos a facultar crédito à economia real.
As acções do Treasury incluíram:
- Recapitalização do Lloyds Banking Group e do Royal Bank of Scotland (em duas fases: Outubro de 2008 e Janeiro de 2009) através de um conjunto de transacções que levaram à aquisição de 83% das acções do segundo (correspondentes a 68 % dos direitos de voto) e 41% do primeiro (tanto das acções como dos direitos de voto). Para tal, foram investidos 65 mil milhões de libras.
- Empréstimo ao Financial Services Compensation Scheme, garantindo os depósitos até 50 mil libras.
- Empréstimo directo a bancos insolventes de forma a que pudessem garantir os depósitos acima de 50 mil libras, incluindo o London Scottish Bank, Dunfermline Building Society e os bancos islandeses (Heritable, Kaupthing Singer and Friedlander, e Landsbanki).
- Nacionalização do Northern Rock¹ e do Bradford & Bingley, protegendo os depositantes e facilitando o cumprimento de todas as suas obrigações.
- Criação do Special Liquidity Scheme em Abril 2008, aumentando a liquidez dos bancos britânicos.
- Introdução do Credit Guarantee Scheme em Outubro de 2008, ajudando a restaurar a confiança dos investidores no financiamento bancário atraves da garantia de certas dívidas em troca de uma fee.
- Criação do Asset Protection Scheme em Janeiro de 2009, para proteger os activos detidos pelos bancos.
Segundo um relatório de avaliação do National Audit Office – Maintaining the finantial stability of the UK banks: Update on the support schemes, datado de 15 de Dezembro de 2010 -, depois de alguns mecanismos de apoio terem expirado, de alguns empréstimos terem sido reembolsados, e de algumas garantias terem sido removidas -, a exposição dos contribuintes (i.e., o montante máximo que o Estado pode ser obrigado a cobrir se tudo corresse pelo pior) ascendia a 512 mil milhões de libras (ver tabela). Este valor, porém, pode vir a ser superior se forem necessárias intervenções futuras em nome da estabilidade do sistema financeiro.
O dinheiro directamente investido no sector financeiro – seja através de recapitalização, seja de empréstimos aos bancos – atinge, segundo o mesmo relatório, os 124 mil milhões. Para mais, o Estado paga 5 mil milhões de libras por ano só em juros para se financiar nos mercados financeiros para garantir o apoio continuado ao sector.
Existe a expectativa legítima que o contribuintes não tenham que cobrir, uma vez vendidos as partes que o Estado tem em seu poder e reembolsados os empréstimos, um valor significativo, mas a verdade é que o valor das acções do Lloyds e do Royal Bank of Scotland (cotados em bolsa) é intrinsecamente volátil², e qualquer derrapagem na gestão pode levar a que o Estado tenha que cobrir possíveis perdas futuras.
É discutível que a gestão deste processo tenha ocorrido de forma célere. Assim, prevê-se que o Northern Rock possa ser posto à venda em 2011 (preferencialmente no primeiro semestre, dependendo do interesse dos potenciais compradores), e o Estado britânico espera poder colocar o preço na fasquia do 1,5 mil milhões de libras (cf. Guardian). Isto significa que, três anos depois da sua nacionalização – completos no próximo mês de Fevereiro -, o banco ainda continua a pertencer na íntegra ao Estado britânico. Já a venda da parte que Estado britânico tem no Lloyds e no Royal Bank of Scotland está prevista ocorrer entre 2012 e 2014 (seguramente antes das próximas eleições legislativas – talvez a data da sua privatização seja mesmo condicionada pela data daquelas) - cf. Guardian.
No passado dia 12 de Novembro de 2010, a consultora PricewaterhouseCoopers estimava (cf. Guardian) que o Estado demorará pelo menos 7 anos a desfazer-se de todas as acções dos bancos onde tem hoje participações, enquanto que o supramencionado relatório do National Audit Office concluía que: “Taxpayers may need to pour billions more into the bailed out banks before the government can start to sell its shares in them”(cf. Guardian), uma vez que as reformas internacionais em curso a nível internacional sobre a regulação do sector bancário podem obrigar a que “as a major shareholder, the Treasury will be called upon to participate in further capital injections into the banks were they to be required” (p.9).
O valor de 512 mi milhões de exposição pública pode vir a ser superior, se forem necessárias intervenções futuras em nome da estabilidade do sistema financeiro.
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¹ O Northern Rock foi o primeiro banco nacionalizado em Fevereiro de 2008 com o custo de 29 mil milhões de libras. Posteriormente, em Outubro de 2009 (cf. Guardian), foi dividido em dois: um good bank financiado por depósitos e onde não estão dinheiros públicos, e um bad bank, que contem depósitos problemáticos e ainda um empréstimo público de 22 mil milhões de libras, e que foi unido às hipotecas do Bradford & Bingley, formando uma holding com o nome de UK Asset Resolution.
² Por exemplo, no dia 1 de Dezembro de 2010, as acções detidas pelo Estado valiam menos 12,5 mil milhões do que no momento em que foram adquiridas
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