sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A MUDANÇA DE PARADIGMA

1-Aqui há tempos perguntei ao meu filho com os seus 34 anos o que é que ele pensava da CRISE, ao que ele me respondeu que esperava no final uma mudança de paradigma. Eu não lhe perguntei o que era lá isso para ele, mas sei que no léxico bloquista - seja lá isso o que fôr - a semântica do termo paradigma quer dizer fim do liberalismo, ou deste liberalismo - consoante a cultura do militante. Mas será isso só que vai suceder? 
 Por que , afinal,  liberalismo há em países comunistas ( China, Cambodja, Cuba etc ), em países autocráticos ( Rússia, México, Ucrânia,etc ), em países monárquicos ( Espanha aqui tão perto ), em países cleptócráticos ( Angola, Moçambique etc ) em países federais ou confederais de democracia a anos luz da que consideramos ( Brasil e U.S.A.), em países de estrutura feudal ( Índia ), ou até em Estados falhados (Somália, Guiné etc ) e assim por diante. De modo que muito mais que soprar o chavão da mudança de paradigma é melhor tentar encontrar as constantes que deverão prevalecer seja qual fôr o regime - desde que não seja carcerário.

2- O "post" abaixo deste e ontem publicado é de Vergílio Ferreira.
Vergílio Ferreira era duma perspicácia extrema que eu pude captar um dia que ele foi fazer uma conferência ao meu hospital sobre a Angústia . E meteu todos num embrulho.Todos. Todos os psiquiatras que era suposto saberem mais e melhor que ele a fenomenologia da angústia, ficaram liliputianos.

3- Nessa conferencia ele chamava já a atenção para o exercício do Poder versus autoridade, e para a diferença entre Tempo versus temporalidade. Dentre outras, ele entendia que a perturbação destas estaria no código genético da angústia e esta ideia marcou-me  ao ponto de desde há uma meia dúzia de anos as minhas congeminações me terem conduzido à conclusão de que aquilo que vai mudar por causa da CRISE passa por aí: por novas formas de concepção e vivência do Tempo e do exercício do Poder.

4- É claro que a subjectiva alteração  ( alterar significa ser outro; daí o alter-ego ) dos factores Tempo  e Poder, inseridos subjectivamente (  através das pesssoas concretas ) na comunhão de consciências que a sociedade é, vai alterar mais longe que simples mudanças de modo-de-ser ( e portanto do fazer e do estar ) de cada sujeito. Não, ela vai levar a mudanças na estrutura da sociedade e, por aí, no organigrama do Poder , quer dizer , na estrutura do Estado, na constituição dos orgãos de soberania, nas funções que lhes competem, no tamanho do Estado e portanto na sua noção ( como a noção nuclear de família alargada e biológica que está nos antípodas das teses do Bloco de Esquerda ) e assim.

5- Mas vai levar a outras alterações, estas funcionais ligadas ao Tempo. Por exemplo, por agora, o Tempo vivido esvai-se aceleradamente na infância da gente e estagna na nossa velhiçe. Na infância somos como a corrente dum rio; na velhiçe como uma albufeira estagnada do mesmo rio.
Não acredito que isto fique assim, desde logo por efeito da inversão da pirâmide demográfica, e não duvido que para adequar a nova temporalidade subjectiva num contexto colectivo vai ser inevitável a mudança da estrutura do Poder. Para ser claro: vão mudar coisas como querer fazer das crianças adultos edonistas (para os meninos tudo! ) , e dos velhos infantes espartanos ( aos velhos aguentar! ).
Ah, como isto vai mudar!

6- O meu neto vai apanhar com estas mudanças - previsíveis já há trinta anos - em cheio, e eu não vou poder intervir grandemente na orientação de vida que ele tem. 
Primazia ao pai que eu só sou o avô.
Mas  não pude orientar o pai dele, porque nos cruzamos num momento histórico e pedagógico em que , por exemplo se achava bem dispensar saber de cor a tabuada..., e quem mandava achava que os que como eu não pensavam assim eram dinossauros que exageravam e deviam estar calados.

7- Ou seja, como não me permitiram orientar o pai do meu neto numa atmosfera espartana ( potenciando o culto do esforço, da austeridade, do despojamento de excessos e de imerecimentos, do rigor, do estético, do ético, do sentido do religioso e do sagrado, das artes - das plásticas e das militares ), temo nunca poder chegar ao meu neto. Mas a vêr vamos.
Todavia e por agora deliciem-se com a sova que Vergílio deu , no texto abaixo, a uma certa estúpida esquerda e direita mal-formadas e abrilescas. Vergílio que era um verdadeiro independente de esquerda

P.S.- Para melhor esclarecimento dos efeitos do que acima fica dito: quando somos educados nos valores espartanos ficamos mais preparados para sobreviver na Vida, logo mais alegres, mais solidários, mais sólidos, mais esquinudos ( plurifacetados ) e menos redondos de personalidade e de discurso. Ficamos mais frontais e com maior com-paixão. Ficamos assim menos individualistas e muito mais capazes de fomentar redes sociais que activem a família para o melhor, os amigos, os vizinhos, enfim todos, para os lados criativos da Vida.
E é tudo ao contrário, e com muito tédio, quando somos educados de modo inverso - infantilmente edonistas. 

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