quarta-feira, 25 de maio de 2011

SEGUIR OS ACONTECIMENTOS GREGOS

O economista Jens Bastian, em Atenas, desenha os cenários em cima da mesa e estima probabilidades. A situação está ao rubro no plano político interno e o plano de resgate, que acabou por funcionar como “experiência piloto” na zona euro, está à beira do fracasso. Seguir a par e passo o processo de crise do resgate grego é fundamental para Portugal. O impacto das soluções que lá forem encontradas sentir-se-á em Portugal e na Irlanda.
Olhar de Atenas
A situação grega esteve ao rubro hoje. Os mercados da dívida deram o seu veredicto: o risco de default (incumprimento da dívida soberana grega) subiu de 67,43% na sexta-feira passada para um pico de 70,92% ontem à hora do almoço, e reabriu hoje em 70,57%, tendo fechado nos 68,99%, depois de um claro desanuviamento durante a tarde. A diferença em relação ao segundo país com maior probabilidade de bancarrota, a Venezuela de Hugo Chavez, é de mais de 16 pontos percentuais. Os juros relativos aos títulos gregos no mercado secundário a 2 anos estão, de novo, acima de 26%, níveis proibitivos para qualquer tentativa de ir ao mercado financiar-se no curto prazo.
A pressão europeia para que haja um consenso político alargado em relação ao 5º programa de austeridade em discussão em Atenas não está a conseguir ser concretizada. Antonis Samaras, o líder da Nova Democracia, partido de direita na oposição, pretende medidas mais radicais que as propostas pelo governo de Georges Papandreou. O partido de governo, PASOK, dispõe de maioria no Parlamento para fazer passar o 5º programa de austeridade, mas as pressões internacionais vão no sentido de um apoio alargado.
O novo Sísifo de Atenas
O que pode empurrar a Grécia para uma situação de beco sem saída, para mais com o risco de uma explosão social. O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung já considerou o primeiro-ministro Papandreou como o novo Sísifo da mitologia grega – de programa de austeridade em programa de austeridade, voltando sempre à estaca zero, com maior fadiga social e maior nervosismo nos mercados financeiros.
Para agravar esta tempestade, a Reuters noticia hoje que o Fundo Monetário Internacional (FMI) não libertará mais tranches do seu financiamento no âmbito do pacote de resgate à Grécia, se a União Europeia (UE) não assegurar uma solução tranquilizadora para 2012 com um financiamento adicional, tema que tem dividido os parceiros europeus e cuja decisão está a ser arrastada para o outono. O governo grego já avisou que sem essa próxima tranche, o estado grego ficará sem liquidez em julho, e um “evento de crédito”, um default de pagamentos, será imediato. O jornal financeiro holandês “Het Financieele Dagblad” noticia que a UE estaria, secretamente, a preparar uma solução de reescalonamento voluntário da dívida com os credores da Grécia – ou “reestruturação suave”, ou “re-profiling” como foi alcunhada, na semana passada, uma inovação linguística criada pelo presidente do Euro grupo, Jean-Claude Juncker.

Sem comentários:

Enviar um comentário