sábado, 7 de maio de 2011

GRÉCIA NEGOCEIA SAÍDA DO EURO E FALÊNCIA

Às 17h46m locais de sexta-feira, o Der Spiegel lança uma “bomba” no jornal online em língua inglesa: “A Grécia equaciona saída da zona euro”. O artigo de Christian Reiermann fala de uma reunião secreta relâmpago no Luxemburgo para essa noite para debater o assunto.
O que ficou no ouvido foi esse título bombástico que imediatamente fez estragos no nível de risco de default do país, que subiu para 67,56%. Mas o jornalista alemão acrescenta “para além da possibilidade de saída da união monetária, uma reestruturação da dívida do país também está na agenda” e refere um relatório do ministro alemão das Finanças Wolfgang Schauble contra essa hipótese de saída do euro.
Um dos pontos do relatório alemão seria que uma saída do euro por parte da Grécia seguida de uma desvalorização de 50% da nova moeda – o dracma (reaparecido) – implicaria um disparo da dívida pública grega para 200% do Produto interno bruto (PIB) e um processo de “contágio” em toda a zona euro.
Reestruturação de veludo da dívida grega
Pouco antes da meia-noite em Atenas, o Ministério das Finanças grego confirma que o ministro George Papaconstantinou esteve de facto no encontro “secreto” no Luxemburgo.
O economista Jens Bastian, de Atenas, comenta que “eu não perderia muito tempo com a contrainformação” do Der Spiegel. “Mais importante do que esse fumo, é que esses artigos estão a contribuir para acções que não estão escritas, ou seja para uma preparação pública de um reescalonamento e reestruturação da dívida grega, a que chamarei de ‘reestruturação de veludo’”, acrescenta.
Os jornais gregos confirmavam hoje a reunião do Luxemburgo – na realidade uma reunião dos ministros das Finanças dos países da zona euro que participam no G20 (Alemanha, França e Itália), a que foi chamado o ministro grego. O diário financeiro Naftemboriki afirma que, no encontro, foi discutida “a extensão dos títulos de dívida com maturidade em 2011 e 2012 que somam 65 mil milhões de euros, de modo a permitir à Grécia respirar”. Por seu lado o diário Kathimerini adianta hoje que a reunião teria discutido dois pontos: o reescalonamento da dívida, bem como o adiamento ainda mais prolongado do programa de redução do défice público no sentido de uma extensão de mais dois a quatro anos, além do calendário já definido.
O chefe do Eurogrupo (grupo dos ministros de Finanças e de Economia da zona euro), o luxemburguês Jean-Claude Junker, confirmou, entretanto, que uma segunda renegociação dos termos de pagamento do resgate grego será discutida na próxima reunião em Bruxelas a 16 de maio (onde, também, será apreciado o Memorando sobre o resgate a Portugal).
O que os mercados da dívida temem
Qual o fogo que está por detrás destes fumos gregos e alemães?
O primeiro estará, certamente, dentro das próprias fronteiras alemãs. “Alguns alemães sonham com um regresso ao marco ou, com mais plausível, a uma zona euro nortenha, limitada aos países disciplinados em termos orçamentais, o que partiria o mercado único”, diz-nos Charles Wyplosz, professor do Graduate Institute na Suíça, em entrevista (a publicar).
O segundo fogo bem real permanece ateado no mercado financeiro ligado à dívida soberana. Um artigo publicado na International Financing Review, no final do mês de abril, trazia um grito de alarme dos investidores no mercado de credit default swaps (CDS, instrumentos financeiros que funcionam como seguro de crédito, no caso de um evento formal de incumprimento da dívida soberana). “Agora que, os rumores abundam sobre a Grécia poder estar a tentar evitar que os CDS disparem quando reestruturar a sua dívida, os defensores mais fervorosos destes instrumentos financeiros questionam o seu real valor”, diz-se no artigo, intitulado sugestivamente: “Para que é que servem os CDS?”.
Adianta o artigo que um dos membros da direção da International Swaps and Derivatives Association avisou que o sector ficará profundamente afetado se “a Grécia reestruturar a sua dívida sem provocar um evento de crédito [formal]“.
Apesar do valor nocional dos CDS envolvidos na dívida grega ser, apenas, de cerca de €4 mil milhões, segundo a Depository Trust and Clearing Corporation, uma gota no oceano comparada com os €223 mil milhões de títulos de dívida grega denominados em euros (de que 50% deverão estar nas mãos do Banco Central Europeu, França e Alemanha), uma reestruturação através de expediente legal, evitando uma reestruturação de jure, terá um efeito de “contágio” global, além de prejudicar o bolso dos investidores envolvidos na especulação sobre a dívida grega.
“O CDS só paga o capital em dívida se ocorrer um evento formal de incumprimento. Se isso não ocorrer, mas a reestruturação for feita, de facto, o CDS poderá perder o seu valor. Os investidores detentores de CDS e de dívida grega poderão sofrer perdas, ou poderão não vir a ganhar tanto quanto anteciparam nas jogadas de especulação”, afirma o economista Ricardo Cabral, professor na Universidade na Madeira. “Ora é possível, de facto, aos governos reestruturar a dívida sem a ocorrência de eventos formais de incumprimento”, adianta.
Como? – de duas maneiras. Primeiro, pode ser feita através de alterações à lei, como por exemplo o Parlamento em Atenas decidir prorrogar a maturidade de todos os títulos. A segunda possibilidade, que é referida na International Financing Review, seria “uma recompra ou uma troca de obrigações antigas que estão a ser transacionadas no mercado secundário muito abaixo do seu valor facial – em alguns casos com um desconto de 40% -, por novas obrigações com valor facial reduzido, e sendo isso feito de um modo voluntário com os detentores de títulos não constituiria um evento formal de default“, explica Ricardo Cabral.

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