segunda-feira, 30 de maio de 2011

BILIÕES FOGEM DOS BANCOS GREGOS

Não houve “casamento” para um consenso alargado em Atenas na reunião de sexta-feira convocada pelo Presidente da República Karolos Papoulias.
O primeiro-ministro socialista Georgios Papandreou (líder do PASOK) não conseguiu convencer os restantes participantes para um apoio ao novo plano de austeridade de mais €6 mil milhões em cortes orçamentais e ao arranque efetivo do plano de privatizações que poderá somar até 2015 cerca de €50 mil milhões. Quem assistiu à reunião entre os partidos diz que o diálogo descambou em combate verbal em estilo de conversa de café ou blogoesfera.
Esta reunião de emergência seguiu-se à ameaça explícita feita por Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) poderá não autorizar até 29 de junho a transferência da 5ª tranche do plano de resgate (que totaliza €110 mil milhões), abrindo uma situação de default eminente. Essa recusa do FMI poderá vir na sequência do relatório que a missão técnica deverá divulgar esta semana.
Levantamentos em massa nos bancos
Soube-se, entretanto, que só na quinta e sexta-feiras da semana passada, os gregos levantaram €1,5 mil milhões dos bancos. O montante levantado em maio já totaliza €4 mil milhões. Em abril haviam saído dos bancos €2 mil milhões.
Um dos principais opositores ao plano do governo – exigido pela troika UE/BCE/FMI – é o partido de direita Nova Democracia que deixou o país numa situação de pré-bancarrota antes de perder as eleições para o PASOK em outubro de 2009. O novo governo ver-se-ia, depois, obrigado a assinar um plano de resgate em maio de 2010. A Nova Democracia exige, agora, cortes nos impostos que poderão enfraquecer ainda mais os cofres do fisco.
As forças à esquerda do governo, o KKE (partido comunista) e o SYRIZA (coligação esquerdista), bem como os sindicatos apostam no agravamento da situação estando previstas uma concentração popular a 4 de junho na praça central de Atenas e uma nova greve geral a 21 de junho.
O bolo das privatizações
Há, também, discordâncias sobre o plano de privatizações que, segundo Juergen Stark, membro da direcção do Banco Central Europeu, poderá valer €300 mil milhões, 6 vezes mais do que o planeado oficialmente. A primeira vaga deste plano abrange as participações do estado nos portos estratégicos gregos, aeroportos, caminhos de ferro, companhias de águas de Tessalónica e Atenas, hipódromos, empresas de telecomunicações e o banco postal. Um dos pontos difíceis de concretizar é a privatização das ilhas.
A Grécia pretende criar um fundo soberano com todos estes activos, mas em Bruxelas fala-se da criação de uma agência independente similar à que na Alemanha tratou da privatização dos ativos da parte leste do país depois da unificação. O comissário Olli Rehn confirmou hoje ao jornal alemão Der Spiegel essa sugestão de implementar o modelo alemão, colocada na semana passada pelo presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker. Além disso, Bruxelas pretende um envolvimento efetivo neste plano.
O governo de Atenas já afirmou, também, que o Tesouro não estará em condições de regressar em março de 2012 ao mercado financeiro para colocar dívida publica, pelo que uma extensão do actual plano de resgate ou um plano adicional (os valores referidos andam entre €30 mil milhões e 65 mil milhões) serão necessários, se não houver algum tipo de reestruturação da dívida grega que se estima que representará 158% do PIB no final deste ano.
A nova reunião do Eurogrupo (ministros da zona euro) está prevista para 20 de junho no Luxemburgo, nove dias antes da data em que a 5ª tranche do FMI para a Grécia deveria ser transferida para Atenas.
Jens Bastian: o fim de uma época
“Esta crise marca o fim de uma época, em que a Grécia era considerada um dos 25 países mais ricos do mundo. Mas o país perdeu a ‘europeização’ que outros fizeram e nunca chegou a fazer uma limpeza política como a Itália fez no final da era Craxi”, diz ao Expresso o economista Jens Bastian, de Atenas.
Mas as condições atuais de mudança não são as melhores: “A classe empresarial é um anão político e o estado permanece altamente clientelar. Mas o modelo colapsou”. “O enquadramento atual para uma solução é altamente irrealista. É necessário um quadro temporal mais realista para uma mudança sistémica”, acrescenta.
No entender de Bastian, a “limpeza do passado” é pouco provável que se faça, a adopção de medidas socialmente aceitáveis é problemática, e há falta de novas lideranças – apenas os novos presidentes de câmara de Atenas e Tessalónica são uma lufada de ar fresco. “Uma visão para o futuro, numa escala de 0 a 10, está entre 0 e 5″, ironiza.

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