quinta-feira, 12 de maio de 2011

CALAMIDADE

O reconhecimento da possibilidade de uma reestruturação da dívida grega bem como o regresso de dúvidas sobre a Irlanda e Portugal estão a marcar o dia. Portugal com juros à beira dos 12% e Espanha ultrapassa risco de 20%.
As notícias à sobremesa do almoço não são as melhores. O risco de default (incumprimento da dívida soberana) da Grécia subiu para 67,85% e o custo dos seguros contra a probabilidade da sua bancarrota dispararam para mais de 1500 pontos base, segundo dados da CMA DataVision. Os juros dos títulos gregos no mercado secundário estão a subir desde a abertura hoje de manhã, e os com maturidade a dois anos estão acima de 25%, segundo dados da Bloomberg.
No entanto, os juros que estão mais pressionados pelo mercado secundário são os dos títulos irlandeses a 2 anos, que já estão acima de 12%, com um aumento durante o dia de quase 5%. A pressão exerce-se, em seguida, sobre os juros em todas as maturidades das obrigações espanholas e, finalmente, sobre os juros das obrigações do Tesouro (OT) portuguesas. Os juros das OT a dois anos aproximam-se dos 12%.
O risco de incumprimento por parte da Irlanda subiu para 43,77%, o de Portugal para 42,66% e o de Espanha voltou a galgar a linha vermelha dos 20% (uma linha que coloca o país na antecâmara de poder entrar no “clube da bancarrota”, o TOP 10 de países com risco superior atualmente a 21,8%, o risco do Egito).
S&P baixa rating da Grécia
O que está por detrás deste disparo do risco e dos juros nos quatro países conhecidos pelo acrónimo jocoso de PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha)?
A decisão da agência de rating Standard & Poor’s de baixar a notação da dívida soberana de longo prazo da Grécia para B indicia, como a própria agência refere, a eminência de um “default seletivo” no horizonte.
A notação da Grécia, que já estava em estatuto de “dívida especulativa” (vulgo, “lixo”), baixou de BB- para B. Este rating de B significa que há já um risco claro de um evento de default no futuro. Esta decisão da S&P não admira, depois da reunião “secreta” no Luxemburgo na sexta-feira passada que indicava a probabilidade do que o analista Jens Bastian, de Atenas, chamou de tentativa de uma “reestruturação de veludo” em declarações anteriores.
Irlanda a caminho da bancarrota, segundo professor de Dublin
Para incendiar, ainda mais, o mercado da dívida, um artigo de opinião publicado hoje no jornal irlandês The Irish Times, assinado pelo professor Morgan Kelly, do University College, levantava a “inevitabilidade” do atual plano de resgate para o país conduzir a uma bancarrota.
O artigo está a desencadear um terramoto político em Dublin. O analista Mark Coleman considerou a intervenção de Kelly “ridícula e sem credibilidade”. “O artigo é mais um exemplo de como a reputação da Irlanda está a ser destruída, sem necessidade, por argumentos baseados em pressuposições feitas por quem não habita o mundo real”, declarou Coleman, com contundência, ao Expresso. No entanto, a opinião de Kelly teve um efeito imediato nos mercados e está a ser debatida nos media financeiros de todo o mundo.
Também estão a pesar no clima geral sobre o andamento dos resgates aos países em crise da dívida as dúvidas sobre o sentido dos resultados eleitorais nas eleições de 5 de junho em Portugal e a sua implicação no desenho da futura solução governativa para implementar o Memorando de Entendimento negociado com a troika da EU/BCE/FMI, caso seja aprovado a 16 de maio na cimeira do Ecofin.

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