domingo, 29 de maio de 2011

AMÉRICA JÁ ESTÁ EM ESTAGNOFLAÇÃO mistura de estagnação económica, inflação e desemprego

O debata acalorado sobre a situação americana regressou em força na blogoesfera dos académicos e nos media. O pessimismo regressou.

Facilitismo monetário e estagflação

Ronald McKinnon, da Universidade de Stanford, afirma, em coluna de opinião no The Wall Street Journal, que a economia da primeira potência mundial já entrou em estagflação, o palavrão de economês que significa que a economia vive uma mistura de estagnação económica com inflação e alto desemprego.

McKinnon salienta que o índice de preços dos produtos acabados – excluindo serviços e preços da habitação – aumentou 6,8% em abril e que o desemprego atingiu os 9%.

O professor de Standard alertou para um padrão similar ao dos anos 1970: “A estagflação derivou de uma política monetária facilitista conjugada com tentativas de desvalorizar o dólar, o que levou à saída massiva de dinheiro quente que desestabilizou os sistemas monetários dos parceiros comerciais da América. Ainda que a estagflação de hoje não seja idêntica, as parecenças são chocantes”.

Krugmam: uma terceira longa depressão

Por seu lado, Paul Krugman vai mesmo mais longe. “Temo que estejamos a viver a fase inicial de uma terceira depressão”, afirma o professor de Princeton, esta semana, na sua coluna “The Conscience of a Liberal” publicada no The New York Times.

O Nobel de Economia alvitra que poderemos estar a atravessar um período similar ao da longa depressão da segunda metade do século XIX, entremeado por alguns períodos de retoma que nunca conseguiram reparar o estrago inicial e que acabaram em recaídas.

Na segunda metade do séc. XIX, o PIB mundial contraiu quase 1% em 1876 e 1,1% em 1893, segundo dados do falecido Angus Maddison (“Contours of the World Economy”, Oxford). Trata-se de uma quebra superior à de 2009 (quebra do PIB mundial de 0,8%, segundo dados do World Economic Outlook, do FMI, de 26/01/2010).

Em termos de “catálogo” histórico, viveu-se uma recessão global entre 1890-1893, a partir da crise financeira desencadeada pelo Baring Brothers na City londrina, segundo o estudo de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff (“This Time is Different”, Princeton University Press). Uma crise financeira importante nos países desenvolvidos ocorreu, também, em 1873, que teria um “eco” recessivo em 1876.

Muitos historiadores económicos insistem na observação do padrão de crises ocorrido entre 1870 e 1893 em termos de “benchmark” com a situação atual, mais do que na comparação, usual, entre o que ocorreu desde 2007 e a Grande Depressão de 1929/1933.

Krugmam cita o economista Brad DeLong, da Universidade de Berkeley, que escreveu, esta semana, um post sugestivamente intitulado: “Time to Panic”. A razão do pânico nos Estados Unidos: não houve fecho do fosso (entre o crescimento real efetivo e o crescimento potencial) nos últimos seis trimestres desde o final de 2009, depois de uma recuperação desde o pico da recessão em 2008.

Sem comentários:

Enviar um comentário