sábado, 12 de março de 2011

UM ANO DEPOIS DA INTERVENÇÃO DO FMI NA GRÉCIA :

Grécia

A grande fúria do povo

11 março 2011 To Vima Atenas
Uma rua de Atenas após uma manifestação, a 23 de fevereiro de 2011. No muro: "Greve geral".
Uma rua de Atenas após uma manifestação, a 23 de fevereiro de 2011. No muro: "Greve geral".
 
Após um ano de rigor, o Governo de Georges Papandréou continua a enfrentar o risco de falência, a desconfiança dos mercados e a ausência de solidariedade de alguns países europeus. Os cidadãos, por seu lado, manifestam cada vez mais a sua desconfiança na política, inquieta-se um editorialista.

 
A maior parte dos gregos está furiosa. Estão furiosos com os políticos “que gozam connosco” e mergulharam o país na atual situação simplesmente porque protegeram os seus interesses através da corrupção, do nepotismo e da má administração dos dinheiros públicos. Fúria contra os políticos que, desde há muitos anos, veem os escândalos rebentarem um atrás do outro sem nada fazerem, sem que ninguém seja condenado, como se pertencessem a um clube que lhes garante a imunidade. Fúria contra os políticos que, sem participarem, encorajam a injustiça de uma economia que penaliza quem produz e prefere proteger os aproveitadores que vivem do dinheiro do Estado ou vendem ar.
Fúria contra o Governo do PASOK (o partido socialista no poder) que, mesmo neste período de crise, não está à altura das expectativas das pessoas e não é capaz de explicar a verdadeira extensão do problema. Acusam-se uns aos outros e, na maior parte do tempo, ficam paralisados perante os problemas que têm de resolver.
Fúria contra a oposição conservadora que, quando estamos à beira do abismo, continua a vender promessas mentirosas e a desabar num crescendo de irresponsabilidade. Fúria, talvez, contra a esquerda que escolheu o caminho fácil do “não a tudo” sem propor soluções.
Podemos perguntar-nos por que é que, se estamos tão furiosos, não mudamos os políticos. Mas a realidade não funciona assim. O que continua estável, pelo contrário, nestes últimos anos, é a impossibilidade de mudarmos, de modernizarmos o nosso sistema político, a repetição dos mesmos problemas, do mesmo comportamento, agora e sempre.
A fúria mantém-se mas torna-se uma das piores conselheiras. Muitos, por exemplo, percebem que os sacrifícios são inevitáveis. Mas são ainda mais numerosos os que, mesmo que no fundo estejam de acordo com as medidas de rigor, esperam que a justiça seja feita, que os responsáveis paguem, pelo menos aqueles que são apontados a dedo [principalmente o antigo primeiro-ministro Costas Karamanlis]. Quer queiramos quer não, ambos coexistem e um não pode ser pretexto para esquecermos o outro.

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