sexta-feira, 25 de março de 2011

POR QUE É QUE NÃO POSSO SER DEMOCRATA MAS NÃO DESISTO DE SER SOCIALISTA - 3

No segundo"post" deste pequeno ensaio sobre a DEMOCRACIA, tentei que os meus dois leitores e meio captassem o paradoxo ideológico em que navega o barco da ideologia democrática. Como os teóricos da democracia costumam enfatizar : " a minha liberdade termina onde começa a liberdade do Outro !"

Pois é . Mas se esta legenda democrática é aplicada pelos democratas a tudo e todos , há uma pequena aldeia ideológica que continua a resistir. Ela chama-se democracia, nem mais!. Ou seja o único aspecto onde os teóricos democratas não permitem aquela asserção é justamente, paradoxalmente....na democracia.

Com efeito, quando o voto de Einstein ou dum professor de politologia vale tanto como outro qualquer , e esse outro qualquer vai inexoravelmente influir na vida de Einstein ou do politólogo sem que estes o possam impedir, estamos caídos naquela situação de o exercício da minha liberdade estar a ser obstaculizado ou desviado pela orientação que outro, (que até pode votar às cegas - como se fosse um totobola ) , está a impôr com  seu voto. Temos portanto e em tese que se um oligofrénico resolver votar e lhe couber a ele o desempate resultante de uma votaação, pode  alterar a minha vida para destinos que me são alheios e que objectivamente são estúpidos e prejudicam a maioria.

Daqui resulta aquilo a que chamo a doença infantil da democracia: a demagogia.
De facto, quando a diferença de informação e de formação cultural é muito grande entre eleitores e eleitos surge naturalmente a tentativa de manipular os eleitores por narrativas demagógicas. Se imaginásse-mos um povo em que nenhuma diferença de conhecimentos houvesse entre eleitos e eleitores , a demagogia tenderia para zero, já que seria infrutífera ( uma vez que todos conheceriam por igual a comum realidade e não haveria espaços vazios onde promessas impossíveis ou omissões propositadas pudessem caber ). Em última análise pode dizer-se que a demagogia na democracia varia na razão directa das diferenças de conhecimentos entre eleitores e eleitos. Daí a importância da educação permanente e universal - que só pode ocorrer dentro de quadros socialistas. 



Mas a coisa complica-se mais quando vamos mais fundo.
Na verdade a grande vantagem e o maior fundamento filosófico da democracia (parlamentar ) é permitir evitar guerras civis ou graves conflitos internos aos Estados.
Na Grécia antiga esta questão era muito valorizada e, a meu vêr, com toda a razão. Quando numa cidade-Estado surgiam conflitos é comprensível que a turba enfurecida pelo achar-se prejudicada por um acto do directório da cidade, entendesse repôr a ( sua ) justiça por seus próprios meios. Naturalmente que , ao invés, se essa cidade tiver um directório que resulte de uma eleição em que a maioria da população se reveja, em situação de conflito os eleitos, quer pela sua presumida superioridade intelectual e parcimónia de maneiras, quer pelo seu pequeno número, podem facilmente chegar a um acordo negociado entre as facções em conflito.

Assim aqui teríamos a democracia (partidária ) no seu melhor, resolvendo questões que doutro modo tenderiam a ser resolvidas por multidões incendiárias e com violência. Mas isto presume que os eleitos sejam do conhecimento dos eleitores sem o que não haverá confiança de uns para a resolução dos problemas dos outros.

O que sucedia nos primórdios da democracia era que sendo a população da Polis pequena, era fácil conseguir esse elo entre eleito e eleitor. Mas com o crescimento da população e complexidade dos assuntos a resolver, a desconfiança ou falta de confiança - o que não é o mesmo - tende a instalar-se.
É a meu vêr o que sucede nas sociedades mais desenvolvidas, nos grandes e médios países. e é  isso que explica as cíclicas tentativas de mudar a Lei Eleitoral acrescentando círculos uninominais ( em Portugal como no resto dos países democráticos ) e também explica que outros países de óbvia superioridade democrática, como a Suíça, tenham tanta relutância em mudar o seu sistema parcial de referendos nos vários cantões ( o exemplo mais acabado que conheço é o do cantão suíço de Appenzel onde quase tudo que é importante é resolvido em dua voltas : primeiro pelos políticos que apresentam as causas e os argumentos e depois em votação pública e de braço no ar na praça grande do cantão ).

A questão é que , por via das praxis partidárias a que me referirei no próximo "post"  os políticos vão construindo uma "carreira" semeada de ódios de estimação que levam ao ponto do próprio corte de relações pessoais. É o que tem acontecido entre Sá Carneiro e Eanes, Eanes e  Pinto Balsemão, Cavaco e Soares e assim por diante . E não só cá em Portugal mas um pouco pela maioria dos países católicos ( creio que católicos bem mais que por serem  latinos - mas a este tema voltarei noutro "post " adiante.
O recente acontecimento de Passos Coelho apelando a uma maioria constituída pelos partidos do arco chamado "de governo " incluindo um PS mas sem Sócrates é de tal modo uma intromissão de um Partido na vida doutro que faz cair por terra a vantagem de a democracia servir para evitar guerras civis através da eleição de uns poucos sábios e controlados homens que os cidadãos elegiam seus representantes para em paz defenderem os seus interesses grupais. A conclusão perante isto é só esta: no meu país já há nas cúpulas dos partidos gente que é anti-democrata visceral a dar a cara pela democracia.... o que é que isto augura?

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