terça-feira, 8 de março de 2011

E SE NÃO LHES PAGÁSSEMOS O QUE LHES DEVEMOS ?

Crise da dívida

Bancos? Que bancos?

7 março 2011 Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung Francfort
Balaban
A Europa vai reunir-se outra vez em breve, para tratar de planos de salvamento e de pactos de competitividade. Mas os responsáveis políticos continuarão sem abordar o problema fulcral da crise do euro: a fragilidade dos bancos.
Março deve ser o mês das decisões. Os dirigentes europeus têm já previstas três cimeiras. A primeira realiza-se esta sexta-feira em Bruxelas. Angela Merkel, Nicolas Sarkozy e os seus homólogos dos 17 Estados-membros da zona euro querem superar a crise. Vão falar do aumento dos fundos europeus destinados aos países fragilizados, bem como das regras orçamentais que os Estados deverão passar a aplicar. Sem esquecer o tema preferido de Angela Merkel: o pacto de competitividade.
Só um assunto não está nas agendas: a fragilidade dos bancos. Os responsáveis políticos europeus transmitem a impressão de que esta crise é há muito um problema do Estado, nomeadamente dos da periferia da zona euro, como a Grécia, Portugal e a Irlanda.
Mas não é justo. Esta questão tem muito a ver com os bancos, incluindo os bancos alemães. Recordemos o apoio à Irlanda, no outono passado. A Europa forçou a Irlanda a colocar-se sob a proteção europeia. Porquê? Porque, nessa altura, a chanceler alemã defendia que salvar a Irlanda, era salvar o euro. “Para manter a posição de força do euro, devemos suprimir qualquer fraqueza.”

A crise regressou aonde tinha começado

Contudo, entre os economistas circula uma explicação mais plausível: o Governo irlandês tinha pensado em recusar a ajuda da Europa e pretendia declarar a insolvência dos seus bancos, então à beira do abismo. Isso teria dado um rude golpe nos credores dos bancos irlandeses, que teriam de renunciar a uma parte do seu dinheiro. Os bancos alemães teriam levado um grande rombo. Não admira, pois, que a ideia suscitasse uma violenta rejeição por parte do Conselho Europeu, nomeadamente da Alemanha.
A crise regressou aonde tinha começado: aos bancos. Até agora partia-se da ideia de que a crise financeira se tinha transformado em crise económica mundial, depois em crise da dívida e da moeda. Hoje, percebe-se que, no centro da crise do euro, está uma dupla crise bancária: em países como a Irlanda, foram os bancos que levaram o Estado a endividar-se em proporções vertiginosas. Quanto à fraqueza dos bancos em países como a Alemanha, é impeditiva de que os credores do Estado não participem no re-embolso das dívidas, como deviam.
“Uma das razões pelas quais nunca ousaram re-estruturar a dívida da Grécia ou da Irlanda é que o setor bancário não teria solidez suficiente para amortecer essas perdas”, explica Clemens Fuest, especialista em Finanças, de Oxford. A Europa decidiu que os cidadãos pagariam a fatura e que os bancos sairiam sem prejuízos. Dívidas privadas tornam-se assim dívidas públicas. E quando os Estados não aguentarem, outros virão dar-lhes uma mão. Os Estados ricos salvam os Estados pobres com dinheiro que lhes emprestam os seus bancos. Um ciclo (monetário) que custa muito caro.

Bancos tornaram-se incrivelmente poderosos

Este sistema funciona apenas porque os bancos se tornaram incrivelmente poderosos em relação aos Estados. “Na Irlanda, só a salvação do Anglo Irish Bank custou o equivalente a 20% do PIB anual”, explica Fuest. Na Espanha, subsistem dúvidas sobre os valores dos créditos das caixas de aforro. Com efeito, os bens imobiliários que serviram para financiar veem o seu valor descer a pique. “Ninguém sabe quanto isso irá custar”, indica Fuest, “mas teme-se que essas somas representem entre 5% e 40% do PIB anual”.
Quanto à situação dos bancos alemães, é provavelmente um dos segredos mais bem guardados. Os preparativos para novos “testes de stresse” começaram na sexta-feira passada. Pretende-se, com eles, refletir os riscos que pesam sobre os bancos por toda a parte onde ocorre uma situação dramática.
Não seria uma má ideia, se fossem efetuados com rigor. “Testes precisos demonstrariam que muitos dos bancos continuam a ter muito que eliminar dos seus ativos”, explica Hans-Werner Sinn, chefe do Instituto de Investigação Económica de Munique (Instituto IFO).

E se um país europeu se declarar realmente em falência?

Claro que os bancos não têm qualquer interesse em aceitar testes vinculativos e influenciam a sua preparação. Utilizando até a chantagem: se os testes forem demasiado rígidos, grande número não passará. Os clientes retirarão o seu dinheiro, os bancos vão à falência e os Estados terão de os socorrer. Daí que, ao que se prefigura, um cenário não será contemplado pelos testes: e se um país europeu se declarar realmente em falência?
Seja como for, os irlandeses querem renegociar o seu plano de ajuda. “Aceitando a ajuda europeia, a Irlanda endossou uma responsabilidade que cabe à Europa. Daí que os outros Estados-membros devam propor-lhe uma taxa de juro reduzida”, afirma Edgar Morgenroth, economista irlandês. Os irlandeses salvaram os vossos bancos, é a vossa vez de se mostrarem agradecidos.

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