quinta-feira, 31 de março de 2011

PORQUE É QUE EU NÃO POSSO SER DEMOCRATA MAS NÃO DESISTO de ser SOCIALISTA -7

No "post" nº 6 prcurei mostrar como é que a democracia, exigindo grande burocracia, leva a perdas de tempo que podem fazer toda a diferença com países emergentes que podem tomar rapidamente as solúções adequadas, bem como é de prever uma tendencia acrescida para a corrupção que se alimenta da burocracia nos países democráticos.

Tentarei hoje explicar porque é que não acredito que num país católico como o nosso ( mas podia ser qualquer outro ) a democracia - que em épocas favoráveis não nos serviu - poderá agora , na maior crise dos últimos trezentos anos e em circunstâncias mundiais muito desfavoráveis fazer-nos sair da CRISE.

Como é sabido e consensual, o capitalismo resulta do cruzamento da revolução industrial inglesa, americana e alemã ( prussiana ) com o protestantismo, resumido este na máxima " a riqueza vista como sinal de salvação ". Em contrapartida a estes três países protestantes e com carvão e ferro suficientes para arrancar coma revolução industrial, em Portugal nunca houve uma revolução industrial nem nunca o protestantismo medrou ( pelo contrário o catolicismo proclamava como regra que dos " pobres será o reino dos Céus" ).
Por issso quando olhamos para o crescimento económico de Portugal ( ou outro país claramente católico ) o que vemos nós? . Que o país só avançou quando a democracia foi mais ou menos suspensa e uma elite católica subiu ao Poder , sendo que esta elite tem muito pouco a vêr com o povo portugês.

Explicando melhor: a cultura protestante é uma cultura masculina  onde predomina a livre iniciativa, o risco, o gosto masculino por acrescentar mais riqueza, a tendência para maior agressividade das relações sociais, menor complaçência com a falta de rigor ( a começar no cumprimento de horas marcadas ), prevalêcia da acção sobre as emoções,  aceitação da dureza no trabalho etc.
Ao contrário, no mundo católico prevalece uma cultura feminina: os protestantes adoram Deus, os católicos antes Dele e antes de Cristo adoram a Virgem Maria. Não é por acaso que os santos padroeiros sejam sempre figuras femininas, em Portugal Nª Sª da Conceição , no Brasil a da Aparecida, por exemplo ( não estou aqui a inventar nada que teólogos como Joseph Ratzinger ou Hans Balthasar não tivessem defendido ).

Por isso, enquanto nos países do Norte da Europa , Inglaterra ( mas não na Irlanda católica ) o protestantismo rejeitou a veneração dos Santos e também de Maria para se concentrar em Cristo ( ( "Solus Christus"), no sul católico a cultura ( feminina ) dominante vai no sentido de menor agressividade nas relações sociais, menor propenção ao risco, maior tolerância ( "ter pena de" ) com os falhados e incapazes, predomínio da emoção sobre a razão, privilégio das palavras sobre a acção, tendência ao culto dum carácter protector pessoal ( em casa do meu avô, no Douro , as minhas tias tinham "os seus pobres "- gente que por lá passava diariamente a receber os tostões da praxe; e todas as famílias que se prezassem tinham os pobres deles ), e , sobretudo um carácter muito pessoalizado de viver.

Daqui resultou quase sempre que as elites que tiveram sucesso ( veja-se a gente ministeriável do "Estado-Novo" ) era gente muito diferente do seu povo. Enquanto os governantes de países protestantes eram e são fotografias do povo, por cá nos melhores tempos, vimos elites que tinham características desfasadas dos comuns cidadãos: primeiro eram constituídas por homens exclusivamente; a origem destes homens era sobretudo das classes mais humildes  ( Cavaco, Salazar , Eanes etc ) com predominância para profissionais médicos, advogados ou professores; habitualmente foram homens de estudo e reflexão; pessoas pouco sociáveis mas benevolentes e tolerantes com os "vícios nacionais"; inflexíveis em relação aos valores próprios da sua educação católica na sua vida privada ( poucas vezes vivida sem culpa ) transpuseram-na para a vida pública ( onde geralmente cumpriram ); pessoas com uma elevado sentimento de justiça -virtude que em muito falta ao povo católico ; grande capacidade de pensamento abstracto e verdadeiro altruísmo ( ao contrário do que geralmente acontece com o povo católico ): finalmente uma profundo sentimento de missão ( também aqui " à outrance " do que se passa com o mundo católico.

É assim a elite católica que - muito ao contrário do que é comum no povo católico , e por isso mesmo é uma elite - consegue uma espécie de síntese entre o sentir católico e o agir católico. É esta, a meu vêr a característica laica da governação em países católicos.

A meu vêr, sem estas elites a governá-la , os povos de cultura católica prestam-se a todos os excessos por falta de real altruísmo, que na política se chama de serviço de missão ou serviço público,  a uma radical falta de sentido intrínseco de justiça, e até de falta de capacidade de previsão "vivida" de sofrimento projectada no futuro.

Por tudo isto, entendo que dificilmente a democracia pode alavancar a economia dum país católico, daí advindo a tão grande diferença entre os resultados práticos entre as democracias em países protestantes e as mesmams em países católicos. E penso que demorará gerações até que isto mude. Por esta mesma razão ao cubo, não creio que os países islámicos do Norte de África lucrem com a democracia em termos de crescimento ou mesmo de desenvolvimento social

Quem isto escreve é católico assumidamente. Esta não é uma crítica à religião que professa. Mas é uma observação que lamenta.

Também quem isto escreveu com os erros naturais de quem escreve ao correr da pena motivado pela pessoal revolta sobre a situação dramática a que chegou o seu país, tenciona acrescentar algo mais a este ensaio, corrigir erros , aclarar ideias e publicá-lo depois em livro.

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