quinta-feira, 24 de março de 2011

POR QUE É QUE NÃO POSSO SER DEMOCRATA MAS NÃO DESISTO DE SER SOCIALISTA - 2

À hora a que o primeiro-ministro do meu país apresentava a sua resignação ao Presidente da nossa República , gente do meu país celebrava com champanhe a queda "do Sócrates "!

Vamos a vêr se me explico.
Quando a democracia nasceu em Atenas , cidade-Estado  da Grécia, podia votar  para o directório dela cerca de um terço dos homens e nenhuma mulher. E os homens que votavam obedeciam a duas condições para votar e serem elegíveis: serem pessoas de posses ( et pour cause...), e serem gente sábia.

Nunca oligofrénicos votaram na Grécia , e por que os gregos achavam que as questões da Polis ( da cidade e da política ) eram eminentemente racionais e não emocionais , não votavam as mulheres.

Os tempos correram e hoje , desde há cerca de setenta anos nuns casos e cinquenta noutros, não faz sentido que as mulheres não votem para a coisa pública. Na verdade elas são cada vez mais racionais e até Atenas teria aceite estas hodiernas mulheres como votantes legítimas.

Todavia, nunca os atenienses teriam aceitado que mentecaptos , arrivistas ou atrasados mentais ( oligofrénicos ) pudessem votar e, dessa forma, influir na vida de todos e da comunidade. Em boa verdade, isso foi assim no segundo alfôbre da democracia - a britânica - até há cerca de cinquenta anos.
Mas em Portugal, a partir do 25 de Abril o voto tornou-se universal , e lembro-me, de até no Hospital do Conde de Ferreira onde trabalhava, as senhoras assistentes sociais, numa ânsia democrática feita de clichês e absurdos, levarem os oligofrénicos ( grandes atrasados mentais ) que mal falavam, e os psicóticos com defeito ( os esquizofrénicos e outros com delírios e alucinações ) uns e outros sem nenhuma informação nem compreensão sobre o que se lhes pedia de opinião , a votar!

Ontem, com gente emotiva que só sabe que odeia José Sócrates, mas não sabe o que se passa no mundo, muito menos o que aí vem, brindou-se ao fim do homem. Como num cerimonial arcaico de dinossáuricas figuras que - à boa maneira portuguesa - adoram estar no fio da navalha, numa flagelação masoquista sempre ao pé do precipício, num tropismo afagado de adrenalinas, tem-te -que-.não-caias, num orgasmo infindável feito de masoquismo temperamental,  de onanismos e solilóquios, com cheiro a salsa-parrilha, manjericos e S. João.
 Não é que eu não goste do S. João e suas bebedeiras. Antes pelo contrário. Mas , nas coisas da POLIS, não brinco nem tenho clubites ou ódios de estimação: é coisa demasiadamente séria.

Por tudo isto, já tenho idade e prestígio suficientes para me declarar não democrata sem nenhum receio das consequências.
 Não entendo que o voto de idiotas, cretinos ou imbecis valha o meu voto. Nem tão-pouco que gente eventualmente licenciada universitariamente mas ignorante na política e nas coisas da Polis ou com inconfessáveis interesses e frustrações, valha o meu voto. Foi , aliás com gente assim que Hitler chegou ao poder: acenou aos videirinhos alemães - que também os há - com o dinheiro dos judeus; e a estúpida cupidez , a inveja e a frustraçaõ de quem não suporta que lhe mostrem  incapacidades  próprias   fez o resto. : e  os nazis ganharam.

Acresce a tudo o que fica dito um elemento suplementar.
Nas primeiras democracias, aquilo que os directórios das cidades-Estado tinham para decidir eram coisas muito simples. Podemos equipará-las ao que hoje em dia é necessário que o antigo regedor ou o actual presidente de junta decida: um fontanário aqui ou ali? Um alargamento dum caminho ou não ? Uma mobilização popular para ajudar um velho caído em desgraça ou não ? Uma norma para os dejectos desta ou daquela forma?.
Todavia , com o passar do tempo, as questões da Polis tornaram-se muito complexas; novas e permanentemente novas tecnologias geraram novas indústrias que impuseram novos problemas nunca sonhados; questões de ordem moral que transcendem em muito a velha infidelidade conjugal impuseram-se à sociedade com consequências que só quase especialistas entendem na sua plenitude. Em resumo , tudo se tornou exponencialmente mais complexo a exigir muito mais erudição de eleitores e eleitos, muito mais estabilidade emocional e capacidade pessoal de controlo a uns e outros.
Ou seja, enquanto pela via da complexificação das coisas da vida seria de esperar um maior espartilho a quem pode decidir da nossa vida colectiva , aquilo a que assistimos é a uma universalização do voto pulverizado em doxas ( "opiniões", no grego ). Sendo que , se as opiniões ( pensamentos não assentes em nenhuma argumentação e basicamente emotivos )  chegavam para a governança da coisa pública em sociedades com organizações simples, são hoje incapazes para as sociedades complexas em que vivemos.

Por isso abrir champanhe, está bem  para celebrar a vitória do nosso clube que de nós só exige emoção;  mas não para celebrar dionisicamente o pedido de demissão dum governo que estudou os dossier, mostrou coragem reformista e lutou arduamente - dentro duma difícil formatação democrata - para salvar Portugal num tempo em que as novidades se sucedem, as surpresas espreitam e as certezas políticas sumiram. Deus ajude José Sócrates.

Em próximos "posts" continuarei, se Deus quizer, a expressar o meu antagonismo à democracia. Desta vez falei da falta de fundamentação ideológica dela. Da próxima falarei - também a propósito da situação que o país vive - da sua (falta) de fundamentação filosófica: para que serve a democracia ?. E mais tarde da prática democrática que leva ao seu inevitável falhanço. 

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