quarta-feira, 30 de março de 2011

PORQUE É QUE EU NÃO POSSO SER DEMOCRATA MAS NÃO DESISTO DE SER SOCIALISTA - 6

Neste breve ensaio sobre a DEMOCRACIA que em boa verdade escrevi inspirado pela crise que todos vivemos e parece não ter saída, falei da irrazoabilidade da tese "um homem,um voto ", da incapacidade da democracia para impedir graves convulsões sociais ( que era o que ela teria de melhor ), da incapacidade de os partidos gerarem gente com as condições para governar, e da burocracia democrática que num mundo em permenente mudança e exigindo resoluções rápidas só encontra por parte dos regimes democráticos respostas cada vez tendencialmente mais tardias.

Acerca deste último ponto, longe de mim supor que a falta de timings oportunos de resposta aos problemas não acontece exclusivamente dentro dos Estados. Não. Na relação entre Estados também as soluções chegam habitualmente tarde. Atente-se na crise do deficite português e veja-se o que se passou a 24 e 25 deste mês em Bruxelas. A flexibilidade do fundo de ajuda que o governo perseguia não foi alcançado. E não o foi não só porque o nosso governo chegou lá com o véu de demissionário, como, ainda por cima ,o governo finlandês também tinha caído , e sendo a Finlândia um dos países relutantes quanto à ajuda aos países do Sul, e tendo esta resolução ter que ser tomada por unanimidade, adiou-se para depois de 25 de Junho a decisão do que fazer, ou seja para a seguir às eleições finlandesas. Aí a nossa ajuda poderá vir ( se não houver outro governo que caia entretanto , ou se Portugal ainda existir como o conhecemos....).

Todavia , é mesmo dentro dum mesmo Estado que a democracia pode exibir esta disrupção temporal entre o surgimento de problemas e a sua resolução. É claro que em Estados cleptocráticos , por exemplo a resposta aos problemas pode ser excepcionalmente rápida...., ou inexistente de todo. Mas não é com regimes políticos assim  que devemos comparar a democracia parlamentar.

Podemos e devemos compará-la com os países ditos emergentes.
E aqui, quando comparamos as taxas de crescimento e também de desenvolvimento social ( de alguns )com as taxas equivalentes das democracias , a coisa fica muito clara : enquanto, Brasil, China, Rússia, Índia, África do Sul ou México não param de crescer inclinando cada vez mais a geopolítica mundial para fora do que chamavamos  o  mundo ocidental ( aí incluindo países asiáticos ocidentalizados como o Japão, Taiwan ou Coreia do Sul ), os ocidentais não param de se afundar em deficites que os outros compram.
Na verdade o que diferencia o relativo atraso dos países do mundo ocidental dos países emergentes é sobretudo a facilidade maior e o ganho de tempo nas decisões políticas tomadas pelos dirigentes mais ou menos autocráticos dos países emergentes. Na Rússia de Medvedev e Putin ( que combinaram trocar entre si os dois lugares de primazia do Estado para se manterem no cargo ad eternum ), na China do politburo comunista que dirige tudo e todos, na Índia das castas onde a frequência dos cursos universitários de qualidade que permitem acesso à governação do país está ao alcançe apenas das castas superiores, no Brasil dos votos electrónicos para uma população iletrada que vota pelo dedo dos "coroneis", no México do tradicional partido único que "absorveu" o maior partido da oposição para se manter único, na União Sul Africana em que o partido de Mandela se mantem inexoravelmente com mais de 80% dos votos , em todos estes grandes países é mais fácil tomar decisões políticas atempadas.

Ao contrário, nos Estados Unidos, na Europa, e nos países asiáticos que nos copiaram  as normas democráticas,  estas normas  são,  nestes tempos de aceleração histórica, um permanente travão. Dir-se-á: pois é, mas ao menos nas democracias temos mais garantias de direitos cívicos. É verdade , mas o pior é que só pode haver garantias de Estado de Direito e de direitos cívicos, bem como estado social, se houver estabilidade e desenvolvimento económico, pelo que vamos inexoravelmente correr para o desastre da perda desse mesmo Estado de Direito e derivados.

Por outro lado, o sentimento colectivo em todos os povos ocidentalizados leva ao crescimento de políticas proteccionistas , quer de tipo xenófobo ( no plano dos comportamentos ) quer de tipo proteccionista ( no plano ffinanceiro ). Como consequência, é de esperar o surgimento de partidos que ainda no quadro da democracia formal se proponham acabar com ela : partidos da direita extremista. Só para que conste: na Finlândia o partido dos Verdadeiros Finlandeses de Timo Soini que as sondagens colocam em primeiro lugar para as eleições de Junho; na Dinamarca o PPD de Pia Kjaersgaard que exige o fim das mesquitas e a obrigatoriedade de se cantarem salmos nas escolas; na Suécia os Democratas da Suécia que entraram há um ano pela primeira vez no parlamento ,e  vestidos com os trajes tradicionais dos camponeses suecos não param de subir nas sondagens ; nos Países Baixos, Geert Wilders do PL é tão forte que o governo já se viu obrigado a celebrar um acordo com ele; na Bélgica o Vlaams Benag cresce; na Inglaterra desde 2009 que o Partido Nacional consegue meter deputados no parlamento; em França Marine Le Penn e a sua Front Nationale está em segundo lugar nas sondagens para a presidência da república.
Chega? 

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