sexta-feira, 4 de março de 2011

O INTERESSE DE SABER QUE VAI HAVER GUERRA É PREPARAR A GUERRA


1- CONSIDERAÇÕES GERAIS sobre o ÓBVIO.

muito tempo que os meus dois leitores e meio sabem que não duvido que a actual crise económico/ financeira/ social e militar mundial se resolverá com uma guerra de características mundiais.

Os relatórios recentes do Wikileaks que o semanário EXPRESSO começou a publicar mostram que os sucessivos embaixadores americanos em Portugal entendem que só por baixa auto-estima e vergonha é que nos dispomos a comprar brinquedos de guerra caros - são expressões dos americanos. Dentre eles, fragatas e submarinos, caças e tanques. Ou seja material próprio de guerras convencionais.

O que resulta dos relatórios americanos é que não só aquele material e aquela força militar não serve para nada ( não"projecta" poder militar ) como ainda - por questões de atrasos tecnológicos em relação às forças americanas e diferenças de telecomunicações - são um estorvo nas manobras comuns e , por isso nem chamadas são para teatros de operações militares ( Iraque, Irão, etc, onde uma companhia da GNR serve melhor ).

No orçamento de 2010, o país dotou com cerca de dois biliões e quinhentos milhões de euros as nossas forças armadas - preparadas para guerras convencionais - sendo que se entrarmos numa qualquer será para perder.

Dos 2,5 bns de euros cerca de setecentos milhões são para o exército e o restante para a marinha, força aérea, saúde, reformas, ordenados e afins.

Nos relatórios americanos refere-se que em Portugal há um general e um almirante para cada grupo de duzentos soldados e marinheiros - quase quatro vezes mais que nos USA. Boa parte deste e de outros oficiais nem sequer estão no activo (mas passaram à reserva) e estão em casa sem fazer nada mas a receber como se trabalhassem.

Nos mesmos relatórios, os americanos -sucessivos embaixadores- entendem que só por um arcaico ( que vem do final da monarquia e se agudizou com a guerra do  Ultramar e o PREC ) entendimento e medo dos militares por parte da  classe dos políticos se justifica que estes últimos não cortem nas despesas militares.


2- O QUE SÃO AMEAÇAS MILITARES contra PORTUGAL

Quando imediatamente a seguir ao 25 de Abril estive na tropa, na Força Aérea, ainda havia umas sessões " da psique" - ou seja uma espécie de lavagem ao cérebro dos mancebos ( realmente o meu pelotão na Base da OTA era somente constituído por médicos ), com sessões de duas horas, duas vezes por semana.

Eu  e os meus colegas médicos, eramos pessoas altamente politizadas pela frequência da Universidade nos tempos do Salazarismo e do Marcelismo e do combate  contra ou a favor da guerra em África , e depois nos conflitos do PREC que quase levaram o país à beira da guerra civil. Por isso, quando nos colocaram pela frente um capitão a debitar baboseiras sobre o interesse das Forças Armadas, ocorreu o que seria de esperar.

Na terceira sessão da "psique", um dos meus colegas que tinha sido dirigente do MRPP antes do 25 de Abril e passara a anti-comunista (PPD ) depois dessa data, combinou apertar com o capitão ( de Abril ). E pediu a palavra para perguntar ao capitão qual era , agora ( depois da guerra em África) o inimigo. Se seria Espanha , único país com que fazíamos fronteira.

O capitão engoliu em seco, uma duas três vezes, até que assentou que era. E o meu colega , Carlos Montarroio, perguntou-lhe se nos Altos Estudos Militares havia, como dizer..., estudos que garantissem que podíamos resistir aos espanhóis. Perguntou isto ( sem se rir ) enquanto lembrava ao capitão ( de Abril ) que a tese de final de curso do Generalíssimo Franco nos Altos Estudos Militares Espanhóis foi assim intitulada:"Como Invadir e Ocupar Portugal em Três Dias ". E mais, disse tudo isto enquanto lembrava ao digno capitão ( de Abril) que fôra por causa desta e outras que Salazar mantivera sempre desconfianças sobre Espanha e Franco, apenas ajudando os "nacionalistas" no estritamente necessário para estes destruírem os anarquistas republicanos e os (poucos ) comunistas.

A resposta do capitão foi ....que sim, resistiríamos três dias.

A resposta dos dois pelotões de recruta ( um de médicos e outra de outros licenciados ) foi uma enorme gargalhada.


3- A HISTÓRIA recente,  O CONFLITO MUNDIAL E A NOSSA POSIÇÃO

No último século ( com excepção da I Grande Guerra  que os republicanos nos obrigaram a travar com o objectivo de que nos não desapossassem do nosso Ultramar ) conseguimaos manter uma posição neutral em relação às grandes crises que o mundo enfrentou.

Foi sempre, no entanto, uma constante da política externa portuguesa manter uma aliança com a potência marítima dominante, primeiro para manter abertas as ligações do Continente às nossas posseções ultramarinas - como forma de controlar força humana e riqueza que permitissem contrabalançar o potencial espanhol - e depois, para podermos sustentar o nosso imenso mar territorial ainda inexplorado a sério mas que se pensa possuir recursos riquíssimos.

Foi o que fez a República, o Estado Novo e no pós-25 de Abril, com menos evidência, ainda ssim se tentou.
Porque a questão permaneçe a mesma: a fronteira é só uma, com Espanha, donde ciclicamente surgem apetites imperiais, mas agora, no actual contexto, donde podem vir outros inimigos ( europeus, magrebinos ou outros ). Isso já aconteceu duas vezes : primeiro com as invazões napoleónicas , as quais  ocorreram com apoio espanhol , e na segunda Grande Guerra quando os exércitos nazis pararam nos Pirinéus mas estiveram à porta de os atravessar com - uma vez mais - o apoio espanhol ( de Franco ). O que só não ocorreu quando Hitler se compenetrou que se isso ocorresse a América ocuparia as ilhas portuguesas do Atlântico e as províncias ultramarinas e tomaria posse das suas riquezas minerais.

Mas hoje estamos na União Europeia  - sopram-me ao ouvido os idiotas úteis - e isso é impossível.
Ora, em política nada é impossível, nem mesmo a dissolução da União Europeia e muito menos a do Euro. Acresce que o mundo está em fase de recomposiçõ de forças e ninguém adivinha como será no próximo futuro.

Mas há duas  coisas que se sabem. Portugal não tem dinheiro para suportar um exército nem tem interesse em perder a sua soberania.

Isto quer dizer que , à medida que o Ocidente for empobrecendo em relação ao velho Oriente que - excepto durante os últimos mil anos não foi a área geopolítica, geoeconómica e geocultural  dominante,...ah, pois é! - cada vez teremos menos dinheiro para comprar material de guerra sofisticado. Mas será que precisamos dele para nos defendermos?

Desde o tempo da ocupação romana que sabemos que não.
Somos um país que só é independente de Espanha pela sua orografia, os seus montes e vales, os seus rios e enseadas e o seu mar - contra a failmente transitável meseta espanhola.

Sabemos que um território assim está fadado para uma guerra de guerrilha. E sabemos também que somos capazes de a travar .- desde o tempo dos romanos até à guerra do Ultramar.
Na verdade, uma guerra destas necessita de pouco: vontade nacional, preparação prévia, e uma estratégia clara militar: não faremos nada para que nos invadam, mas  faremos tudo para que os que entrarem cá fiquem enterrados. Isto é a guerrilha que derrotou franceses e americanos na indochina, ingleses na Pérsia e na guerra Boer, ou os naziz na Rússia de Estalinegrado.

Ora, no post que os meus dois leitores e meio , sobre o exército Suíço, podem e devem lêr (vá lá, leiam por favor porque é um texto russo e os russos sobre estes temas sabem do que falam ), explica-se que , para além de desde há dois séculos serem neutrais e não terem guerras, os Suíços não as tiveram porque todos os cidadãos masculinos entre os 18 e os vinte anos fazem uma recruta de 4 a 5 meses; que depois disso , todos os anos até aos 42 de idade fazem 3 semanas de re-treino militar; e que depois dos 42 anos podem ficar com uma metrelhadora em casa; donde, portanto em todas as casas suíças há uma arma de guerra com quem a sabe utilizar.
Acontece que é hoje um dado histórico que Hitler só não fez um anchsluss à austríaca lá porque lhe disseram que entrar era fácil mas sair difícil.

4 - SOBRE CUSTOS E A questão ORÇAMENTAL.

Não sei quanto gastam os suíços com este modelo de defesa eficaz militar, mas sei que é muito menos do que Portugal gasta , neste caso ineficientemente.

Na verdade, a dotação orçamental em 2010 para as força armadas portuguesas foi de cerca de dois biliões e quinhentos milhões de euros sem contar com despesas da Lei de Reprogramação Militar. Cerca de 700 milhões para o exército  e o restante para as outras armas e despesas satélites.

No total, em Portugal há cerca de 40 mil militares que gastam desalmadamente, protestam como funcionários públicos e trabalham dessa maneira e, last but not the least, não são voluntários mas sim profissionais . Em contrapartida , um país riquíssimo, a Suíça, tem tropas exclusivamente constituídas na base do serviço militar obrigatório e não pago, treinado por mil e duzentos oficiais ( não generais ) profissionais, e capaz de pôr em armas dois milhões e meio de homens de um dia para o outro, em vez dos trinta mil portugueses porque os outros dez mil são escriturários !

Sem contar com a importância do serviço militar  obrigatório para o crescimento duma consciência colectiva nacional - coisa que acabou com o argumento de que as novas armas eram tão sofisticadas que só profissionais podiam lidar com elas -, sem contar com este argumento que não dirá grande coisa aos políticos, fica outro grande argumento que é este : e se em vez de gastarmos 2,5 mil milhões de euros por ano para nada, gastásse-mos apenas 100 ou 300 milhões, como os Suíços  acrescidos de mais algum para uma dúzia de boas lanchas costeiras e umas dezenas de helicóteros?

E não me venham com os compromissos da NATO. Porque ao ler os telegramas e relatórios dos embaixadores americanos todos percebem que era um alívio para eles que lhes não tolhessemos os movimentos.

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