terça-feira, 12 de julho de 2011

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O facto mais marcante de 11 de julho – uma data a fixar – foi a “subida” da Itália – 8ª economia do mundo e 4ª da União Europeia – para o “clube” da bancarrota, o grupo de 10 países com maior grau de probabilidade da sua dívida soberana entrar em incumprimento. A Itália subiu diretamente para o 9º lugar, logo abaixo de Espanha, e as yields (juros) dos títulos italianos dispararam no mercado secundário, com subidas jamais vistas.
Com a sua entrada o referido “clube” fica com cinco membros oriundos da zona euro, metade desse ranking atualizado várias vezes ao dia pela CMA DataVision. Por ordem decrescente: Grécia em 1º lugar, Portugal em 2º, Irlanda em 3º, Espanha em 8º e Itália em 9º. Se fosse recuperada a sigla jocosa de PIIGS dir-se-ia que, finalmente, partilham todos do mesmo grupo.
E esta entrada de Itália operou-se no meio de um movimento de subida do risco de default e dos juros da dívida soberana dos seis países (Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália e Bélgica) da zona euro sob observação destes mercados.
Foi o murro no estômago mais violento desde que a Moody’s decretou a “morte lenta” da Grécia e Portugal em janeiro de 2010, precipitando uma dinâmica de crise de dívidas soberanas na zona euro.
O rol de eventos diários, para além da estreia da Itália no “clube”, é revelador da gravidade do que ocorreu nesta segunda-feira:
- A Grécia ultrapassou a linha vermelha dos 2500 pontos base no custo dos credit default swaps (cds, seguros financeiros contra o risco de incumprimento de uma dívida). Esse limiar foi o ponto de não retorno no caso da Argentina em julho de 2001, cinco meses antes do default formal. O atual custo dos cds relacionados com a dívida helénica (130% do PIB, a mais alta na zona euro) é de 2539,27 pontos base. O risco de default grego está em 86%, um nível muito acima do atingido durante a crise anterior à aprovação dos planos de austeridade e privatizações em final de junho. Os juros dos títulos gregos a 2 anos atingiram um nível superior a 31% no mercado secundário. Ou seja, um comprador de dívida grega exige uma taxa de remuneração que é mais de 1/3 do que empresta.
- Portugal chegou a 62,48% de risco de incumprimento, com um custo de cds na ordem dos 1200 pontos base. Os juros das obrigações do Tesouro (OT) a 3 anos chegaram aos 20%, mas acabaram terminando o dia ligeiramente abaixo, em 19,88%. Os juros das OT a 10 anos fecharam em mais de 13% – onde estão longe os famosos 7% de linha Maginot definida pelo ex-ministros das Finanças Teixeira dos Santos.
- A Irlanda subiu para mais de 58% de risco e os juros dos títulos irlandeses a 2 anos estão em 17,77% e os a 10 anos em 13,20%, valores próximos dos juros portugueses para as mesmas maturidades.
- A Espanha agravou o seu risco de default em 2 pontos percentuais num só dia, fixando a probabilidade de incumprimento da sua dívida em 26,44%. Os juros das obrigações espanholas (OE) dispararam quase tanto como no caso de Itália. Os juros das OE a 10 anos ultrapassaram, pela primeira vez desde 1997, a barreira dos 6%.
- A Bélgica, que ainda permanece distante do “clube” do default, viu a sua probabilidade de incumprimento subir até aos 16,35%. Também os juros dos títulos belgas subiram significativamente, em particular nos casos das maturidades a 2 e a 3 anos.
Maior aumento diário de índice europeu
No entanto, o processo de degradação da situação das dívidas soberanas é mais vasto do que o circuito de “contágio” que envolve os seis países referidos.
Segundo a Markit, o índice iTraxx SovX Western Europe, que abrange dívidas soberanas de 15 países europeus (11 da zona euro, 3 da União Europeia não aderentes ao euro, e um fora da EU), teve o maior aumento diário de que há registo para este índice. Aumentou 37 pontos base fixando-se em 293 pontos base.
Sublinhe-se que o risco da Alemanha subiu de 4,4% para 4,74%, aparentemente algo insignificante, mas que, em termos relativos, significou o 2º maior aumento diário do risco depois da Itália.
Também o índice mais vasto iTraxx Europe (que abrange as dívidas de 125 empresas europeias em cinco setores, incluindo a Portugal Telecom International Finance BV e a EDP-Energias de Portugal) atingiu o nível mais elevado nos últimos doze meses.
Para fechar o ramalhete, as bolsas por toda a Europa estiveram em queda, com crashes mais acentuados no caso da bolsa de Lisboa (PSI 20 caiu 4,28%, a maior queda na Europa), da Itália (índice MIB caiu 3,96%) e da Grécia (índice FTSE/ASE 20 caiu 3,48%).
Agenda de 3ª feira
O desconhecimento de decisões tomadas nesta 2ª feira quer na reunião de alto nível da União Europeia convocada pelo presidente do Conselho Europeu como na reunião do Eurogrupo (grupo dos 17 ministros das Finanças da zona euro) não tranquilizou os investidores nas dívidas soberanas e poderá ser mais um elemento de agravamento da situação na 3ª feira, em que deverá reunir o Ecofin (reunião dos ministros de Finanças dos 27 membros da UE).
A agenda de terça-feira está recheada. Além do Ecofin, o Tesouro norte-americano procederá a um leilão de 12mil milhões de dólares em bilhetes com maturidades a 3 anos.

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