domingo, 19 de dezembro de 2010

TANTO ou, PORTANTO

"Fui a única candidatura que tomou uma posição portanto que este orçamento portanto não devia ser aprovado. Portanto o rumo do País tem que ser outro e há uma responsabilidade portanto do PS e do PSD portanto que está muito patente neste orçamento."
Francisco Lopes

Esta tirada do debate entre Alegre  e o comunista Francisco Lopes é  paradigmática dum modo de ser comunista.
Se repararem bem nos discurso dos principais dirigentes comunistas , o "portanto" está lá sempre a despropósito seja do que fôr. Já era assim com Cunhal e assim continuou.

Este fenómeno - sobre o qual escrevi em " Bases Psicoterapêutas na Prática Clínica " há vinte e cinco anos - chamei-lhe eu de mimetismo ao chefe.

Ministros salazaristas falavam no tom lento , professoral e grave do seu chefe, que copiavam nos slogãos e sua entoação tipo " - um país uno e in-di-vi-sííível ", e na gestualidade.

Foi assim com Marcelo Caetano que nas suas Conversas em Família usava pôr aquele ar consado, de missão, assim tão cansado que começava sempre cada frase por " Pois ...," ao que se seguia, após um espaço temporal que pretendia mostrar esforço cansado, qualquer coisa. E todos os seus ministros depressa o imitaram ( até porque era bom ganhar tempo para pensar, e não dizer demasiadas palermices ) e começavam mais ou menos assim na resposta a qualquer pergunta dum jornalista :- " Poisssssch,,,,, o governo e o senhor Presidente do Conselho de Ministros , poisssssch,,,, para inverter a situação vigente, sabendo todos que sacrifícios serão pedidos a todos os portugueses, tra-la-la, tral-la-la, tra-la-la.

Depois veio Sá Carneiro e o tom tornou-se agressivo a assertivo, tom que um pouco à sua volta , no PSD, se foi disseminando, sendo que não houve tempo para refinar o estilo.

Até que com Cunhal, chegou o " portanto " que ele próprio foi simplificando com o passar do tempo para " tanto " , como se deveria melhor lêr naquela frase do Francisco Lopes que encima este texto. Só que, neste caso há um aspecto muito particular: Cunhal podia ter arranjado muitas outras interjeições, mas escolheu "portanto", e portanto cabe-nos agora tentar perceber porquê. Tenho para mim que a resposta está na lógica duma maior racionalidade de pensamento ( explorada até aos limites nos textos de Marx , Lenin e Rosa Luxemburg ) pretendendo marcar distâncias com os textos dos socialistas românticos sobretudo franceses, portanto , ( estão a vêr o efeito? ) manifestando uma superioridade de pensamento racional lógico-dedutivo, portanto, ( estão a vêr ? ) denotanto , por nada que se diga, a profundidade e inatacabilidade racional do que se ( não ) diz.
Portanto....superioridade comunista na razão.

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