terça-feira, 14 de dezembro de 2010

OS ALEMÃES PODEM MESMO DEIXAR O EURO

Moeda

A tentação do marco

14 dezembro 2010 Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung Francfort
Nick Rowe/Getty Images
  • Abandonar o euro e regressar à moeda nacional: um número crescente de alemães deseja esta opção como forma de sair da crise. Uma hipótese arriscada, mas não fantasista, a acreditar num dos inúmeros artigos alemães sobre o assunto.
A maioria dos alemães está de acordo: devíamos ter mantido o “deutsche mark”! Segundo um estudo recente, 57% dos alemães teriam preferido não ter passado para o euro. E mais de um terço deseja regressar agora ao marco.
Já não são os nostálgicos os únicos a pensar assim. Cada vez mais adeptos da frieza dos números vêm engrossar as fileiras eurocéticas, nas quais se veem economistas, gestores e diretores de empresas.
Para Volker Nitsch, professor na Universidade Técnica de Darmstadt que estudou o desmoronamento das uniões monetárias ao longo da história, “a probabilidade de ver em breve um país sair da zona euro é de 20%”.
Até agora, só os estrangeiros ousam falar publicamente no marco. O famoso economista norte-americano Barry Eichengreen declarou recentemente que a Alemanha fazia parte dos raros países europeus em que a reintrodução da antiga moeda não seria acompanhada de uma catástrofe financeira.

Os obstáculos técnicos superáveis

O que significaria o regresso do marco? A primeira coisa é saber se a Alemanha pode tomar tal decisão. A pergunta faz sorrir Volker Nitsch. “Não tem problema nenhum. Já houve várias violações dos tratados.” Bastaria uma autorização do Parlamento ou do chefe do Governo.
Os obstáculos técnicos também não têm nada de insuperável. Para criar uma nova moeda, é necessário um banco emissor e máquinas para imprimir as novas notas e cunhar as novas moedas. O que não representa um problema. A verdadeira questão tem a ver com as consequências económicas de uma saída do euro.
A evolução das taxas de câmbio desempenha um papel primordial. É provável que, a princípio, o marco subisse de valor, para cerca do dobro. Os produtos alemães ficariam claramente mais caros aos países compradores estrangeiros.
A longo prazo, exportaríamos menos para os nossos vizinhos europeus. A história mostra que o fim de uma união monetária se traduz sempre numa redução das trocas comerciais entre antigos parceiros.
Mas isso é um problema? Antes de mais, as exportações alemãs não deveriam diminuir por muito tempo. Quando a moeda é forte, as matérias-primas são mais acessíveis. Resultado, os produtos alemães podem ser fabricados a um menor custo e vendidos a melhor preço no mercado.
Em segundo lugar, as exportações não são o único objetivo da nossa economia. O regresso do marco teria um efeito positivo no consumo, o que deveria igualmente apoiar a economia.

O fim do euro ou o início da pior crise financeira da história

Outros aspetos dessa decisão poderiam, no entanto, revelar-se muito dispendiosos. Os alemães têm – frequentemente sem o saber – uma parte significativa do seu património colocada no estrangeiro. As seguradoras, os bancos e os fundos de investimento aplicaram muito capital na zona euro. Regressadas ao marco, essas aplicações alemãs no estrangeiro perderiam 158 mil milhões de euros de valor, ou seja 7% do PIB. Algo que não deveria agradar muito aos poupados alemães.
Mas quanto nos custará o euro, se o conservarmos? E se países maiores – que a Grécia ou a Irlanda – nos vierem pedir ajuda? A Alemanha podia ver-se obrigada a garantir somas cada vez mais inimagináveis. Não é preciso ser um grande matemático para compreender que, a prazo, não dá a mecha para o sebo.
Mas há um senão: o que se passará a curto prazo se a Alemanha sair da zona euro? Todos os cenários são unânimes: não será uma atitude pacífica. É mais ou menos garantido que a reintrodução do marco e a desvalorização do euro sem a Alemanha marcariam o início de um vasto movimento de fundos para o estrangeiro.
Gregos, espanhóis e irlandeses procurariam imediatamente depositar o seu dinheiro na Alemanha. Para evitar isso, seria necessário recorrer a meios radicais: fechar os bancos, limitar as transferências de capital, talvez mesmo fechar as fronteiras. Para Barry Eichengree, o fim do euro desencadearia o início “da pior crise financeira da história”.

As uniões monetárias, uma questão sempre política

Não quer dizer que a situação derrape a este ponto. No entanto, o medo de tal caos social continua a ser mais importante que o temor de ver o euro custar-nos todos os dias mais caro. Para o historiador Michael Bordo, haveria contudo uma circunstância em que a Alemanha estaria pronta a aceitar este risco: “Se um dos países fundadores do euro, a Itália, por exemplo, entrasse em situação de rutura, isso poderia incitar a Alemanha a quebrar os tratados europeus”.
A isso acrescenta-se o aspeto político da questão. Os raros trabalhos dos economistas em matéria de união monetária ensinaram-lhes pelo menos uma coisa, explica Bordo: “As uniões monetárias são constituídas por razões políticas, são aprofundadas por razões políticas e acabam sempre por se desmoronar por razões políticas”

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