quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MÃE

Imaculada Conceição Padroeira de Portugal


A minha mãe faz anos hoje.
Hoje liguei à minha mãe porque sou filho dela.
E disse-lhe das boas : que passam-se semanas em que ela parece que não se lembra de mim e assim....., Sempre que as coisas coisas me correm mal a minha mãe nunca anda por perto! -e eu disse-lho.

A minha mãe, para meu grande espanto , deu-me um beijo. Um não , três beijinhos chupadinhos , quase de veludo na minha testa porque ela , lá onde está , não tem forças para me fazer chegar um beijo de posse. Mas fez o que pôde: deu-me três, de maior autoridade.

A minha mãe queria pedir-me - eu percebi logo isso - desculpas, por durante os cinquenta e três anos em que privou comigo de mais perto , se ter emiscuído demasiadamente na minha vida ( disse-me ela num frágil mussitar de voz que já não é ).

E  eu até concordei.

Por que, como poderia eu não saber já, que a minha mãe tem sempre razão?

A minha mãe , no fim da nossa conversa de hoje, enlaçou-me num daqueles abraços dela, da minha mãe, e recordou-me que tinha deixado escrito , antes de partir para a grande viagem para que nasceu, um conjunto de pequenas frases quando estava naquela fase terminal do cancro que eu não entendi que era o princípio da sua viagem.
Fui vêr aquela pequena agenda azul , e lá estava escrito o que já não lembrava ( a minha mãe nasceu para durante o apeadeiro de oitenta e tres anos, me deixar isso escrito ). Dizia, numa caligrafia de professora primária com o trémulo próprio das maduras certezas:
-  " Um dia, quando morrer,
      Não tenham pena nem dó/
      A vida faz-nos sofrer
      ( mesmo com filho e netos )/
      Não compensa ser avó."

Mas quando me viu suspender a minha mão na página da agenda onde escreveu isto, logo num último fôlego assoprou a minha atenção para aquio que interessva. Dizia assim e andava repetido por muitas outras páginas da agenda azul:

-" Viver acompanhada, mas sem marido, é sempre viver só!" ( e tinha à frente um grande ponto de admiração ).
Acho que era o que ela, a minha mãe, queria que eu fixasse.

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