sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

cavaco e a lisura moral

Faria de Oliveira e Norberto Rosa, governantes de Cavaco
que estão na administração da Caixa e do BPN


Mais tarde ou mais cedo, teria de acontecer. Quando se soube da roubalheira do BPN, Cavaco fez-se desentendido. Depois, o ainda Presidente da República segurou até limites impensáveis o homem que o acompanhava desde que se fez político: Dias Loureiro. Agora, quando se está a tentar recuperar o BPN, Cavaco atira-se à actual administração, deixando em sossego a gatunagem que levou o banco à ruína.

Para os mais distraídos, convém recordar

Cavaco e o banco do cavaquismo [2]




1. Quando rebentou o escândalo do BPN, Cavaco veio a público dizer que não tinha nada a ver com este banco. Depois, soube-se que tinha acções da SLN, que é proprietária do BPN. Nunca ninguém lhe perguntou por que não disse isso logo nessa altura e andou a fazer-se desentendido. Mas há mais questões que Cavaco nunca esclareceu, por mais que se passe a pente fino o célebre site da Presidência da República, como, por exemplo, estas:
    • Não estando a SLN cotada em bolsa, aonde é que comprou as acções e a quem? • Como é que deu a ordem de compra? • Quem é que vendeu as acções e quem fez o preço? • Nesse dia ou nessa semana, houve outras transacções fora da bolsa a esse valor?
Sabe-se apenas, salvo erro através do Expresso, que a família Cavaco sacou a Oliveira Costa, presidente da SLN/BPN, as seguintes mais-valias:
    • Cavaco a mais-valia de 147.500 euros, uma vez que, tendo comprado 105.378 acções da SLN/BPN, a um euro cada uma, vendeu-as a 2,4 euros; • A filha de Cavaco a mais-valia de 209.400 euros, tendo vendido as suas acções ao mesmo tempo que o pai e pelo mesmo valor (2,4 euros).
Perante as dúvidas suscitadas, é inaceitável que Cavaco se refugie em sucessivos jogos de palavras e que a comunicação social confirme que, em relação ao ainda inquilino de Belém, tem um comportamento muito suave.





2. Cavaco tem não só a obrigação de explicar como se processou a negociação privada com Oliveira Costa para a compra e a venda das acções — porque a SLN/BPN não estava cotada em bolsa — como também tem a obrigação de esclarecer se realizou outras operações com a SLN/BPN, designadamente a obtenção de empréstimos, e se foram cumpridas as condições que a lei impõe para a sua concessão.

Uma vez que tanto Cavaco como a sua filha compraram e venderam acções da SLN/BPN na mesma data, parecendo ter-se tratado de operações feitas em conjunto, o esclarecimento sobre eventuais outras operações realizadas com a SLN/BPN deve naturalmente abranger aqueles que lhe são próximos.



3. Hoje sabe-se que o banco do cavaquismo foi criado a partir dos múltiplos perdões fiscais “de favor” concedidos pelos governos de Cavaco Silva, era Oliveira Costa então o secretário de Estado do Assuntos Fiscais. A coisa teve direito, nos anos 90, a uma comissão parlamentar de inquérito, presidida por Rui Machete (do PSD), que depois surge, como que por encanto, nos órgãos sociais do BPN.

A única conclusão a tirar é que Cavaco, na sequência da derrota com Jorge Sampaio nas eleições presidenciais, pensou retirar-se da política e ir ganhar a vidinha. Depois, em 2003, reconsiderou. Para preparar a candidatura às eleições de 2006, Cavaco procurou cortar os laços às malfeitorias do cavaquismo, alienando as acções da SLN/BPN. Vamos aguardar para ver se a telenovela não tem outros episódios ainda não conhecidos. que os bancos ingleses com que Cavaco quis comparar o BPN estiveram em dificuldades por força da crise internacional — e não devido a pilhagem dos seus activos, como no caso do BPN.

Por outro lado, fazem parte da actual administração da Caixa Geral de Depósitos elementos da área política de Cavaco, sendo que dois deles fizeram parte dos governos do próprio Cavaco:

• Faria de Oliveira, actual presidente da Caixa, que esteve, sem interrupções, nos três governos de Cavaco (de 1985 a 1995); e
• Norberto Rosa, vogal da Caixa e agora vice-presidente do BPN, que foi secretário de Estado do Orçamento de Cavaco (1993 a 1995) e de Manuela Ferreira Leite (de 2002 a 2004).
Quando se trata de salvar a sua pele, Cavaco não hesita em atirar ao tapete nem aqueles que estão próximos de si. Fernando Nogueira que o diga. A Dr.ª Manuela também, que ficou pendurada no arame, em vésperas das eleições legislativas, com o caso da inventona de Belém.

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