sábado, 13 de novembro de 2010

A REUNIÃO DOS G 20 AFASTA AS POTÊNCIAS

A cimeira de Seul remeteu o tema quente das divisas e dos desequilíbrios externos para um grupo de trabalho que vai ser apoiado pelo FMI. Obama parece ter saído de mãos a abanar.
A 5ª cimeira de Chefes de Estado do G20 (o actual grupo líder da política mundial) em Seul acabou com um recuo dos Estados Unidos que fizeram da guerra de divisas a sua bandeira de combate, acabando por gerar uma ampla frente de oposição por parte da China, Alemanha, Rússia e Brasil. A má estrela de Washington DC nesta cimeira levou o Presidente Obama a vir de mãos vazias em relação inclusive a um acordo de comércio livre com a Coreia do Sul, o país anfitrião, que foi tratado à margem deste fórum.
Muitos analistas criticaram a retórica do comunicado final desta reunião de dois dias na capital da Coreia do Sul e até a primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard, se manifestou enfadada com a diplomatease, o estilo diplomático gongórico das conclusões preparadas ao milímetro pelos sherpas diplomáticos que trabalham nos bastidores. O consenso entre os analistas é que Seul obteve um “acordo minimalista”.
Sinais de um declínio
Contudo, o declínio americano voltou a manifestar os seus sinais. A capacidade de manobra da superpotência no quadro do antigo G7 (o antigo grupo das sete potências industrializadas) ou mesmo do G8 (juntando a Rússia) não se “transferiu” para o novo terreno do G20. O presidente coreano, o anfitrião, bem colocou junto do presidente Obama os presidentes da China, a chanceler da Alemanha, o presidente russo e o brasileiro, mas da “intimidade” à mesa do jantar de trabalho aparentemente nada brotou.
A proposta do governo americano para lidar com o fosso entre países com défices e países com excedentes, fixando tetos de 4%, acabou por ficar fragilizada politicamente em virtude da recente decisão da Reserva Federal (FED) americana – que, sublinhe-se, é um organismo independente do Presidente e do governo – de avançar com uma segunda vaga de estímulos monetários à economia americana, o que é designado por quantitative easing (alívio quantitativo), na ordem de 420 mil milhões de euros, o que foi interpretado pelo mercado como uma manobra contra os concorrentes.
Orientações indicativas
A cimeira acabou por remeter o assunto para a criação de um Processo de Avaliação Mútua (MAP, no acrónimo em inglês) que terá o apoio técnico do Fundo Monetário Internacional e que elaborará umas “orientações indicativas”, cujo progresso de definição será apreciado pelos ministros das Finanças dos 20 e pelos banqueiros centrais ainda no primeiro semestre de 2011. O Canadá liderará este grupo de trabalho. Caberá, depois, à presidência francesa do G20 durante 2011 operacionalizar o primeiro processo de avaliação.
Este processo pretende funcionar como um sistema de alerta precoce identificando desequilíbrios que requeiram acções preventivas e de correcção. Para essa identificação utilizar-se-á uma bateria de indicadores, não tendo sido dados mais detalhes. De qualquer modo, na linguagem típica destes comunicados, sublinha-se a necessidade de “tomar em linha de conta circunstâncias regionais ou nacionais, incluindo grandes produtores de matérias-primas”. O comunicado reconhece a existência de assimetrias no mundo que mantém em cima da mesa “riscos”, como a “tentação de divergir de soluções globais para acções não-coordenadas”. A cimeira reconhece que esse caminho “apenas conduzirá a piores resultados para todos”, o que a história abundantemente ilustra.
O Plano de Acção de Seul fala ainda da necessidade de estabilização na área dos câmbios insistindo em que deverão basear-se no mercado (uma indirecta para a China e a sua política de valorização muito lenta do renminbi) e facilitar a flexibilidade, fugindo às “desvalorizações competitivas das divisas” e prevenindo a “volatilidade excessiva nos fluxos de capital em direcção a alguns países emergentes”.

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