segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O PROTECIONISMO ESTÁ DE VOLTA

Nas vésperas da cimeira do G20, o organismo internacional deixa avisos para as probabilidades de guerra de divisas e de manutenção de programas nacionais de subsidiação do sector financeiro e do tecido empresarial para além do período de emergência.

O investimento directo internacional continua muito baixo em relação aos níveis de 2007, apesar da recessão mundial ter terminado. Os fluxos deste investimento no segundo trimestre de 2010 atingiram, apenas, os 200 mil milhões de dólares face a quase 400 mil milhões no mesmo trimestre de 2007, segundo um relatório conjunto da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico) e da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) agora divulgado.

“Um boom do investimento directo estrangeiro (IDE) continua a ser uma perspectiva distante”, diz o relatório “Quarto relatório sobre as medidas de investimento no G20”. “Os fluxos para o conjunto de 2010 apontam para uma estimativa de estagnação. Continuam 25% abaixo da média dos últimos três anos anteriores à crise (2005-2007)”, sublinha. Os dados referem-se a 67 países que representam 90% do IDE mundial.

Elaborado na preparação da cimeira do G20 que decorre na Coreia do Sul na próxima quinta-feira, o relatório realiza um balanço das medidas positivas e negativas face ao investimento internacional tomadas entre meados de Maio e meados de Outubro pelos membros do G20.

Ainda que o relatório não tenha encontrado casos de medidas “abertamente discriminatórias face a investidores estrangeiros”, alerta que o proteccionismo poderá observar-se na execução delas. O relatório lista medidas positivas tomadas, durante este período, no Canadá, China, Índia, Indonésia, Coreia do Sul e Arábia Saudita, mas também negativas, de restrições adicionais, na Austrália, Brasil, Indonésia e Coreia do Sul.

O risco da guerra de divisas

A OCDE e a UNCTAD alertam para dois riscos: uma espiral proteccionista se os desequilíbrios actuais entre balanças comerciais não forem resolvidos de “um modo credível” e se assistirmos a uma “fragmentação dos mercados de capitais internacionais”.

As desvalorizações competitivas de divisas directa ou indirectamente (como o está a fazer a Reserva Federal americana através do anúncio da continuação do seu programa de “quantitative easing”) vão ser um dos temas quentes da cimeira, pairando o risco de uma guerra de divisas, ainda que o relatório não mencione a expressão explicitamente.

O relatório alerta, ainda, para as políticas de subsidiação de apoio aos tecidos financeiro e não financeiro nacionais através dos programas anticrise postos em prática, a título de emergência, desde 2008. Em 15 de Outubro passado, tais programas ainda em vigor somavam 2 biliões de dólares (3,2% do PIB mundial estimado para este ano) no conjunto do G20. Sublinhava que, no caso das entidades financeiras apoiadas a título de evitar o risco sistémico, apenas 15% re-embolsaram completamente os empréstimos. No conjunto do G20, segundo o relatório, cerca de 30 mil empresas beneficiaram ou continuam a beneficiar de apoio governamental. No final, estima-se que terão sido 40 mil.

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