segunda-feira, 25 de abril de 2011

TEMPOS DE MEDO



Há muitos meses que venho refletindo que vivemos um tempo histórico em que o medo está presente 24 horas por dia nas nossas vidas.
Hoje, na socidade laica e democrática, vivemos o tempo do medo . Como antes, na sociedade católica e da ditadura do Estado Novo, vivíamos o tempo da culpa.

Na sociedade católica da Ditadura, a absolutização dos valores e do Poder dava ao tempo a candura da solidez da vida futura, assente na (natural) absolutização dos valores - que trazem consigo certezas e por isso afastam o medo; em contrapartida , o tempo do Estado Novo católico gerava fáceis sentimentos de culpa recuperado do nosso subjectivo passado.

No sociedade actual, é o inverso. A relativização das opiniões ( que não dos valores porque esses na generalidade já se foram ) leva à fácil captação por todos nós da instabilidade social e política gerais e, portanto, da inevitável mudança futura ( e não do passado )- para algo ou sítio desconhecido. E sendo que toda a mudança remete para angústia, receio ou medo, e também porque as certezas religiosas que são sempre securizantes deram sumiço, o medo espreita.

Espreita no que comemos ( nem peixe que tem mercúrio, nem bivalves que tem digoxinas, nem porco que tem brucelose,nem pitos que têm hormonas antibióticos e assim...,nem queijos ou leite que matam pelo lado do colesterol, etc ); nem andar de metro é grande coisa porque há sempre quem se lembre de lá deixar pó de antrax ; nem sair à noite que os assaltos estão do lado de lá da esquina, nem acreditar num negócio que nos proponham porque selá-lo com um aperto de mão parece coisa do tempo dos mamutes ; nem subir de elevador porque afinal as tecnologias falham, nem dar nas vistas, nem andar de avião....nem fumar por causa do cancro, nem beber pelo mesmo motivo e dezenas de outros, nem irritarmo-os que o stress mata o coração...,nem dormir demais nem de menos porque se morre mais cedo, nem fazer pouco sexo nem sexo àvontade por causa da sida e da atrofia prostática, nem casar porque o raio do divórcio sai caro, nem nada, nem gostar muito dos pais ou dos filhos porque ficamos filhos da mamã ou fazemos meninos da mamã!
É por isto e muito mais, que este não é o meu tempo.
Detesto viver com medo, mas aceito a culpa como um sinal vermelho de alguma desafinação da conduta que promova a minha introspecção e permita pensar em mim ...( e não nas coisas ou no que me rodeia - como sucede quando o sentimento predominante é o Medo ) tendo aí a prova de que existo!
É também por isto que este não é o meu tempo.

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