quinta-feira, 14 de abril de 2011

GRÉCIA PREPARA-SE PARA NÃO PAGAR

A reestruturação da dívida grega poderá implicar um “corte de cabelo” (hair cut, na designação técnica, envolvendo uma diminuição do valor facial em dívida) de 40 a 50%, segundo o jornal alemão Die Zeit, citando hoje fontes da União Europeia. Moritz Craemer, da agência de notação Standard & Poor’s, é citado, também, no jornal alemão como tendo apontado para um valor de 50 a 70% para o “corte de cabelo”.
Este cenário de emagrecimento brutal da dívida soberana grega se é útil à procura de uma “estabilidade da dívida” a médio prazo, coloca os investidores à beira de um ataque de nervos. Desde o pedido de resgate de Portugal que o risco de default da Grécia disparou, estando próximo dos 60%. O custo dos credit default swaps (cds, seguros financeiros contra a probabilidade de incumprimento) está a atingir valores surpreendentes – hoje abriu nos 1128 pontos base, 27 vezes mais do que o custo dos mesmos seguros financeiros para a dívida alemã, que serve de referência na zona euro. Mesmo em relação ao custo dos cds para a dívida portuguesa ou irlandesa, o nível grego é cerca de 2 vezes superior. As yields (juros implícitos) dos títulos gregos no mercado secundário estão em alta e em valores proibitivos: 17% para maturidades a 2 anos; 18% para maturidades a 3 anos; 15% para maturidades a 5 anos; e 13% para maturidades a 10 anos.
Reestruturação da dívida na berlinda
Os primeiros rumores “oficiais” de que a União Europeia (UE) estuda uma hipótese de reestruturação da dívida soberana grega, apesar da intervenção em curso de Bruxelas e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Atenas, surgiram na última reunião do Ecofin (que junta os ministros das Finanças e Economia dos 27 membros da UE) em Budapeste. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, teria levantado a questão nessa reunião e afirmou, mais tarde, ao jornal alemão Die Welt que aguardava um “estudo detalhado da Grécia a ser preparado pela Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE)”. Posteriormente, a chanceler alemã Angela Merkel teria defendido uma “re-estruturação voluntária” da dívida grega, apesar das complicações técnicas que levanta, segundo o analista Wolfgang Munchau.
O mal-estar na rua grega é crescente. Face a este cenário, “a Grécia não deve entrar, e muito menos liderar, esta discussão”, diz-nos Jens Bastian, economista da Fundação Grega para a Política Europeia e Internacional. “O governo grego deve focar-se no seu trabalho de casa e em implementar o acordo sobre o pacote de resgate de maio do ano passado – ou seja prosseguir na consolidação orçamental, nas privatizações, incluindo venda ou leasing de propriedade fundiária, e nas reformas estruturais. Não deve afastar-se um milímetro da sua agenda”, sublinha o especialista em Atenas.
Um período crítico até 2013
No entanto, Bastian reconhece que o processo está em marcha, “sobretudo em virtude do ruído que fazem os políticos alemães, finlandeses e austríacos”. A barreira, até à data, tem sido o BCE e o FMI, refere o especialista, que pretendem continuar a ter fora do menu “qualquer perspetiva de reestruturações de dívidas soberanas”.
No entanto, a Grécia vai atravessar um período crítico nesta matéria pois o próprio governo de Papandreou pretende ir ao mercado financeiro colocar dívida já em 2012. “Mas quem é que vai comprar dívida soberana grega sabendo que uma re-estruturação pode estar incluída no novo Mecanismo de Estabilização Europeia (MEE) a vigorar a partir de meados de 2013?”, interroga-se o economista. Um outro cenário “intermédio” poderá ocorrer: “Se a Grécia não conseguir em 2012 colocar dívida no mercado, onde vai buscar, então, os financiamentos? Será que prevê recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), criado depois do pacote especial para a Grécia? E a que preço?”.

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