sexta-feira, 24 de junho de 2011

VERMELHO - CÕR ASSASSINA

Vermelho é mais recente palavra que incendiou os mercados da dívida. À conta dela, no dia seguinte, os indicadores de risco europeu dispararam, os juros dos títulos no mercado secundário e a probabilidade de bancarrota de vários membros da zona euro subiram em flecha. Mais um dia negro
À saída na quarta-feira de uma reunião em Frankfurt do recém-criado European Systemic Risk Board (ESRB), Jean-Claude Trichet, o presidente do novo organismo e também chefe do Banco Central Europeu, proferiu “a título pessoal”, como frisou, uma palavra assassina: vermelho.
Explicando que o novo organismo – o ESRB – terá em permanência um sistema de alarme com cores para monitorizar os riscos sistémicos da situação financeira, foi-lhe perguntado que cor atribuiria à situação atual, a que respondeu que seria o vermelho. Ou seja, estamos em alerta vermelho.
Adiantou, ainda, à saída dessa reunião, que a “interligação” entre as vulnerabilidades de finanças públicas de alguns membros da zona euro e o sistema bancário poderia gerar efeitos “potenciais de contágio dentro da União Europeia e para além dela”.
No mesmo dia, o presidente da Reserva Federal americana, Ben Bernanke, do outro lado do Atlântico, juntaria mais algum petróleo à fogueira ao salientar que um default na Grécia “perturbaria os mercados financeiros” em todo o mundo.
Efeito sistémico
Em suma, a ideia gerada é que um “acidente financeiro” (um termo do jargão técnico) na Grécia poderia funcionar como um “evento Lehmam” com efeitos sistémicos, jogando na similitude com a declaração de bancarrota do banco americano Lehman Brothers em setembro de 2008 a que alguns atribuem o despoletar da grande crise financeira.
O impacto destas frases do dia anterior não se fez esperar hoje. O indicador da Markit designado por iTraxx Sovx Western Europe, um índice relativo a credit default swaps (cds, que funcionam como seguros contra incumprimento) de dívidas soberanas da Europa Ocidental, passou hoje, nas maturidades a 5 anos, os 240 pontos base, o que acontece pela segunda vez na história deste índice, depois de ter ocorrido o mesmo recorde há precisamente uma semana.
Também o iTraxx Europe Crossover série 15 da CMA DataVision revela o nervosismo dos últimos trinta dias em relação aos cds de entidades europeias: o índice nas maturidades a 5 anos aumentou 22,19% e o nas maturidades a 10 anos subiu 33,34%.
Vendaval no risco e nos juros
Os seis países europeus sob observação dos mercados financeiros – Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália e Bélgica – foram varridos por um vendaval no mercado dos credit default swaps ligados à dívida soberana e no mercado secundário dos títulos soberanos.
O risco de bancarrota da Grécia subiu ao longo do dia de 82% para mais de 83%, o de Portugal de 49,81% para 51,24%, o da Irlanda de 48,54% para 49,76%, o da Espanha de 22,81% para 23,9%, o de Itália de 15,6% para 16,48% e o da Bélgica de 13,01% para 13,84%, segundo dados da CMA DataVision. As maiores variações diárias do risco observaram-se nos casos da Bélgica e da Itália.
As yields (juros implícitos) dos títulos soberanos no mercado secundário também dispararam. A maior pressão foi exercida sobre os juros das obrigações do Tesouro portuguesas a 2 anos e sobre os juros das obrigações espanholas com a mesma maturidade.

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