quarta-feira, 15 de junho de 2011

PLANO F - o mais provavel

O impasse é a nota dominante nas negociações no seio da União Europeia – e particularmente dentro da zona euro – sobre o novo plano de resgate para a Grécia. Uma solução de compromisso deverá ser tentada por Angela Merkel e Nicolas Sarkozi, o “diretório” da zona euro, na sexta-feira, a que se seguirá uma reunião do Eurogrupo no domingo. T
Compromisso tanto mais necessário já que os mercados financeiros estão ao rubro – o risco de default da Grécia subiu hoje para quase 77%, o de Portugal para quase 48% e o da Irlanda para mais de 47,5%, novos recordes. Espanha “sente” o contágio com um risco próximo de 22%, ainda que muito distante da situação dos outros três. Os juros das obrigações do Tesouro portuguesas a 3 anos dispararam para 13,59% e os dos títulos gregos com a mesma maturidade para 28,40%.
Uma coisa parece certa: o “plano A”, a estratégia de resgate gizada em maio do ano passado e transposta para o MoU (memorando de entendimento) da troika com Atenas, é considerada um fracasso. Em virtude desta constatação, dirigentes da zona euro começaram a falar na necessidade de adicionar um segundo pacote de resgate (um segundo empréstimo a somar aos € 110 mil milhões iniciais) com novas condições associadas. Entre as novas condições a ideia de um “envolvimento dos privados” nesse segundo pacote.
Plano B: o re-profiling com “envolvimento dos privados”
Assim surgiu o Plano B: o “envolvimento dos privados” traduzir-se-ia por uma troca de títulos gregos que vençam e que estejam na mão de bancos, fundos de pensões e seguradoras por novos títulos com um novo prazo de mais sete anos. Ou seja, com essa aceitação de um reescalonamento dos prazos da dívida, os privados ajudariam a Grécia em cerca de €30 mil milhões, segundo as estimativas. Jean-Claude Juncker, o primeiro-ministro luxemburguês e presidente do Eurogrupo (reunião dos ministros das Finanças da zona euro), chamou-lhe em maio um re-profiling (um termo inexistente no léxico dos mercados financeiros e das agências de notação) da dívida e os alemães, pela voz do ministro das Finanças Wolfgang Schauble, tornaram este Plano B em doutrina oficial de “reestruturação suave”. Holandeses e austríacos apoiam esta solução, atendendo à justificação política de que não só os “contribuintes europeus deverão ser envolvidos na fatura, mas também os investidores privados”.
Mas esta solução tem colhido a oposição das agências de rating (que consideram tal mecanismo um evento de crédito seletivo, como o deixou bem claro recentemente a Standard & Poor’s, que calcula um “corte de cabelo” associado de 50 a 70% do valor facial dos investimentos dos privados), do Banco Central Europeu (BCE), da Comissão Europeia e da França, o segundo pilar do “diretório” europeu. A Moody’s avisou claramente os franceses que a notação dos seus principais bancos seria afetada dada a exposição à dívida grega e um relatório confidencial da Comissão Europeia apontava para um custo adicional desse re-profiling na ordem dos €20 mil milhões só para recapitalizar a banca grega.
Face a esta oposição, os alemães e Juncker procuram um compromisso. Steffen Kampeter, secretário de Estado de Schauble, disse ontem explicitamente que “não faremos nada que vá explicitamente contra a opinião do BCE”.
Plano C: Adaptar a Iniciativa de Viena
Pelo que os protagonistas procuram um Plano C. Uma das ideias que eventualmente poderia obter consenso seria uma solução do tipo da “Iniciativa de Viena”. Mario Draghi, o indigitado presidente do BCE depois do final do mandato de Jean-Claude Trichet em novembro, inclinou-se para esta solução como uma plataforma negociável. O comissário Olli Rehn, finlandês, falou, também, no mesmo sentido: “um acordo na base da Iniciativa de Viena, em que os bancos prolongam a duração dos seus empréstimos [à Grécia] de maneira voluntária”, ou seja uma recondução voluntária das dívidas gregas que cheguem ao seu término (ao rollover) por parte dos credores privados.
A “Iniciativa de Viena”, denominada European Bank Coordination Initiative, dirigiu-se a cinco países do leste europeu – Bósnia, Hungria, Letónia, Roménia e Sérvia – e propunha que os bancos transfronteiriços europeus e outras entidades expostas à dívida destes países conservassem a sua exposição, e não debandassem. A iniciativa foi lançada em janeiro de 2009 e pretendia evitar os erros do que ocorrera em crises da dívida nos anos 1990. Foi um programa conjunto do BERD- Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Europeu de Investimento, do Banco Mundial e da União Europeia, com o Banco Central Europeu como observador.
Curiosamente, por imposição dos finlandeses, essa condição acabou por ficar em letra de forma no MoU do plano de resgate a Portugal: “As autoridades portuguesas deverão encorajar os investidores privados a manterem a sua exposição global numa base voluntária”. Foi a primeira vez que se colocou uma condição destas nos resgates aos países da zona euro, salientam os analistas. E cuja substância pode ser mais do que simbólica – como se está a ver agora.
Plano D: Reestruturação com filhos e enteados
Mas as propostas não se ficam por aqui. Um Plano D foi apresentado esta semana por Sony Kapoor, diretor do think tank europeu Re-Define, num comentário no Financial Times a uma análise de Nouriel Roubini sobre a probabilidade de uma reestruturação em breve da dívida grega e de outros membros da zona euro.
Kapoor pensa que uma re-estruturação é inevitável e que é preferível, agora, do que em meados de 2013, como politicamente parece ser tentador, adiando por ora o problema. Mas coloca um conjunto de condições que passam pela “diferenciação dos vários grupos de credores” – em que os credores oriundos do BCE, dos veículos financeiros europeus e dos bancos gregos deveriam ser tratados “preferencialmente”. No fundo, o fardo deveria ser concentrado nos credores privados externos, nomeadamente os bancos franceses e alemães, que Kapoor acha que aguentariam o embate. O “corte de cabelo” (hair cut, no jargão financeiro) provável será na ordem dos 50% desses investimentos feitos por bancos e outros investidores privados institucionais. Mas é preferível, agora, do que depois de julho de 2013, altura em que o “corte de cabelo” deverá andar na ordem dos 75%, diz Kappor.
Para evitar o contágio aos outros, Kapoor sugere que seja introduzida no Mecanismo Europeu de Estabilização a funcionar depois de meados de 2013 uma cláusula que permita este tipo de reestruturação quando o peso da dívida pública no PIB for superior a 120% e quando o peso do serviço de dívida no PIB ultrapassar os 6%. O que, por ora, deixaria de fora, diz Kapoor, a Irlanda e Portugal.
Plano E: Eurobonds quando o tempo for oportuno
A ideia de eurobonds (e-bonds) como um novo instrumento europeu de dívida voltou a surgir esta semana no Parlamento Europeu quando o indigitado presidente do BCE, Mario Draghi, interrogado sobre o assunto, respondeu que se trata de “algo completamente legítimo de se pensar logo que haja uma união mais estreita”. Draghi acentuou que tal união é “um pré-requisito para uma divida partilhada”. Mas o banqueiro central italiano logo acrescentou que “por ora, a zona euro deverá reforçar as suas regras em vez de pensar em instituições adicionais ou mesmo em orçamentos partilhados”.
A proposta dos eurobonds foi avançada a 5 de dezembro do ano passado no Financial Times por Jean-Claude Juncker e pelo ministro de Economia e Finanças italiano Giulio Tremonti na sequência da ideia de criar uma Agência de Dívida Europeia que substituísse a Facilidade Europeia de Estabilização Financeira em 2013. O novo instrumento de dívida deveria ir substituindo progressivamente as dívidas nacionais dos estados membros da zona euro e permitiria criar um mercado de títulos, em dimensão e em liquidez, similar ao norte-americano.
A proposta foi, no entanto, imediatamente rejeitada pela chanceler Merkel e pelo presidente Sarkozy. Alguns analistas comentaram que se tratava de uma boa proposta provavelmente ainda fora do tempo. Resta saber se a crise grega a recolocará na agenda.
Plano F: Simulação de um “Jubileu” da dívida soberana na Europa
O professor inglês Anthony Evans e os colegas da Europe Business School (ESCP), em Paris, lançaram em maio como simulador para os seus estudantes a solução de um “jubileu” da dívida soberana , através de um processo de liquidação mútua das dívidas entre os membros da União Europeia, por exemplo de um modo bilateral ou mesmo tripartido.
Segundo a simulação de Evans, a dívida soberana dos 8 países estudados (Alemanha, Irlanda, Itália, Espanha, França, Grécia, Portugal e Reino Unido) poderia ser reduzida em 64% através do cancelamento cruzado das dívidas, baixando a dívida total em relação ao PIB de 40,47% para 14,58%. Seis países – Alemanha, Irlanda, Itália, Espanha, França e Reino Unido – poderiam eliminar 50% da dívida existente. A rede de cruzamentos de dívida (valores em dólares) foi publicada pelo The New York Times recentemente.
No caso português, a simulação dos cruzamentos implicaria uma redução de mais de 1/3 da dívida.
Esta simulação tem granjeado enorme interesse na blogosesfera económica.

Sem comentários:

Enviar um comentário