segunda-feira, 8 de agosto de 2011

PANGEFRMÂNIA - concordo plenamente

Uma Europa alemã?

• José Loureiro dos Santos, À terceira oportunidade, uma Europa alemã? [hoje no Público]:
    ‘(…) E se afinal a chanceler Angela Merkel não for a líder tão fraca que os restantes líderes da UE e os outros chefes de governo pensam que é? Se, pelo contrário, for uma chefe de governo que actue na esteira dos seus antecessores mais ilustres desde a reunificação, isto é, em proveito do Estado alemão, defendendo convictamente os seus interesses e procurando impor aos parceiros europeus a sua vontade, com a finalidade de transformar a Europa (pelo menos a Europa continental) no novo "império" germânico? Se for assim, será mais fácil entender-se a linha estratégica do Governo alemão na crise das dívidas soberanas europeias. Recordamo-nos que Helmut Kohl teimou, contra tudo e contra todos, alcançando a reunificação da Alemanha, veementemente detestada por Mitterrand e Thatcher (agora, há quem lhes dê razão), e Schroeder impôs em Maastricht que o peso alemão descolasse do da França (deitando às malvas o tão badalado eixo franco-alemão) nas votações da UE por maioria relativa. Por que razão Merkel não deveria ter preocupações idênticas e não haveria de conduzir uma política que, na linha dos seus antecessores, entregue a Berlim o poder de ditar a sua vontade aos outros estados europeus? Olhada por este prisma, a estratégia de Merkel tem sentido. A sua orientação incorpora a preocupação central de atrasar as decisões sobre as medidas a tomar, sempre que se torna necessário desatar cada um dos sucessivos nós que vão levando os parceiros da União à urgente necessidade de serem ajudados (no que a Alemanha tem a última e decisiva palavra), "esticando a corda" o mais possível, gerando ansiedade nas opiniões públicas e provocando normalmente a escalada dos juros das dívidas entretanto contraídas pelo Estado em causa. Este "esticar de corda" mantém-se sempre até à situação em que os parceiros, de tão desesperados que estão, se sujeitam a aceitar todas as condições que Berlim quiser impor, em contrapartida dos biliões de euros com que paga a submissão admitida por quem precisa. Desta forma e com uma estratégia surpreendentemente astuciosa, aparentando indecisão e fraqueza, o que Merkel está realmente a tentar fazer é, aproveitando a oportunidade conferida pela movimentação tectónica dos fluxos de poder mundial que se encontram na base de um processo de profunda alteração da ordem internacional, procurar atingir o objectivo que nem o Kaiser nem Hitler conseguiram alcançar: posicionar-se como a sexta grande potência global do próximo futuro com assento no restrito grupo de governo mundial, o que só será possível se a sua vontade política se alargar incontestada a todo o continente europeu ocidental, até às praias do Mediterrâneo e do Atlântico.’

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