quinta-feira, 2 de julho de 2009

HOJE APANHEI UM POLVO

Hoje apanhei um polvo!
Hoje mal cheguei à minha ( sim, minha! ) praia de Nª Sª da Guia, em Vila do Conde, às duas da tarde, ela estava como a alcofa confortável do menino Jesus: escassa gente metida com os seus botões, e um silêncio a pressagiar uma qualquer epifania. Por cima da minha cabeça, um sol de afagar, daqueles que não nos fazem suar peguinhentos que nem sapos. E um mar sem ondas, de uma serenidade quase eucarística.
Tive uma premonição: era um dia irrepetível! Entrei logo no mar com os óculos de mergulho mas sem a espingarda que ficara em casa. Água a vinte e tal graus, translúcida dum verde raiado pelo reflexo das tonalidades das algas dos fundos, e da refração da luz numa flora feita de flores amarelas, talvez roxas, outras lilazes ou por aí, que eu sofro de discromatopsia, o que me faz não reconhecer côres transitórias mas me dá o privilégio de captar o brilho das coisas.
Entrei no mar como faca em manteiga. E com os óculos postos fui nadando seguido por um enorme cardume de uns pequenos peixes totalmente brancos que me cercavam e me provocavam para a brincadeira, e eram do tamanho duma moeda dum euro e tão transparentes que podia ver-lhes a coluna e as espinhas. Palavra de honra.
Volta e meia, e de súbito, passavam por nós, majestáticos casais de robalos. E eu, sem a minha espingarda submarina!...Mas ele há dias assim, em que Deus nos propõe e nos obriga à contemplação. Mas Ele mudou de ideias e fez de mim um "homo nautilus" caçador: foi quando vi um polvo lá num fundo, entre duas rochas a mudar de côr e a mingar de tamanho no seu melhor disfarçe. Deve ter sido porque não gosto de seres que andem disfarçados, mas , uns segundos a pensar, hesitante pelas consequências, e decido-me: dobro a coluna, faço pender a cabeça para baixo, dou impulsão com os pés e mergulho uns três metros para apanhar o polvo com a mão. As ventosas agarram-me o braço mas quando chego à superfície para nadar em direcção à praia o meu braço vai no ar com o orgulho dum porta-bandeira das suas hostes.
Um ex-pescador ensina-me, já no areal, a matar o polvo com um murro na cabeça ( do polvo ).
Ora isto encheu-me o dia! Porque não é sempre que tanta beleza se associa a tanta novidade.
Foi em Vila do Conde, mas não digam nada que para isto se manter assim tem de ficar em segredo.
E depois não é todos os dias que a gente vai nadar e apanha um polvo à mão. É mais raro que fazer amor! mais raro que arranjar emprego! Mais raro que ser progenitor! E como o que é raro é caro, vejam bem , hoje apanhei um polvo!
P.S. E esta, meu amigo Manuel de Sidney, Austrália, aí também há praias assim ?

2 comentários:

  1. olá sou a Inês( a afilhada da Helena)

    quando estive em casa do Sr. Dr. , disse-me paraeu lhe mandar um beijinho .... pois aqui vai um dos grandes!!!!!

    gostei muito de estar aí!!!ahe também da história do polvo!

    a madrinha tambem manda beijinhos

    xau

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  2. És um amor, Inês. E atua madrinha também!
    Oha que a história do polvo é verdadeira. E um amigo com um simples ferro apanhou um linguado. É a água quente e o clima a mudar... e os tubarões a chegar.
    Bjs para as duas.

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