quinta-feira, 28 de maio de 2009

DE PROFUNDIS II

Quanto mais penso no meu amigo que está com cancro do colon mais penso no modo de ser dele.
Quando qualquer coisa de semelhante acontecia na minha adolescência, ouvia os meus pais encarregarem-se de chamar o destino à colação. "Era o destino".
Para o meu voluntarismo isso era uma espécie de tortura : então onde pairava o livre arbítreo, tão importante para a consistência da minha vivência de católico?
Com o tempo, e a formação médica e psiquiátrica fui encontrando as "evidências", como hoje se diz, na medicina. Raramente ouvi coisas verdadeiramente novas na psiquiatria que já não estivessem ditas pelos clássicos. E uma delas era a correlação entre modos de ser e o padecimento de determinadas doenças. Por exemplo, um corpo esguio com uma face seca e rugosa de tensões e emoções associada a traços de grande meticulosidade e escrupulosidade, e o surgimento de certa patologia digestiva. Então onde se escondia o livre arbítreo?
Não tenho a certeza, mas tenho uma pista: se não posso mudar a biotipologia do meu corpo posso provavelmente mudar o modo de fazer a vida : com outra vivência do Tempo, mais dilatada, e outra forma de ser mais solta e menos sôfrega do fazer. Não lutando contra a Natureza, mas apoiando-me nela para meu proveito.

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