terça-feira, 13 de setembro de 2011

O verão foi “quente” mas o outono vai ser de esturricar.

O verão foi “quente” com as derrocadas das bolsas em todo o mundo. E o “calor” promete continuar.
Em agosto a derrocada bolsista somou 7,5% nas bolsas de todo o mundo, se olharmos ao índice MSCI All-Countries Worlde Index. Em setembro, o crash acumulado entre dias 1 e 9 já soma 6%. Na semana passada, a quebra bolsista mundial foi de 3,3%, com destaque para o DAX (da bolsa de Frankfurt) e para o CAC 40 (da bolsa de Paris) que caíram mais de 5%.
No mercado secundário dos títulos soberanos assistimos a um contraste colossal crescente – por um lado, as yields (juros implícitos) dos títulos alemães, os Bunds, e dos títulos do Tesouro norte-americano a 10 anos desceram a mínimos históricos (1,77% e 1,93% respetivamente na sexta-feira, dia 9 de setembro) denotando uma procura massiva como “ativos de refúgio”; e, por outro, os juros implícitos dos títulos gregos atingiram, de novo, níveis recorde (97,96% para os títulos a 12 meses e 56,98% para os títulos a 2 anos, nos valores de fecho de sexta-feira) mostrando que estes papéis valem miseravelmente e que a sua procura começa a ser um deserto.
A tendência altista nos juros dos títulos dos outros países “periféricos” – Portugal, Irlanda, Itália e Espanha – da zona euro manteve-se, para além do caso extremo da Grécia.
O risco grego e o efeito dominó
Esse panorama traduziu-se no disparo das probabilidades de incumprimento das dívidas soberanas dos “periféricos” da zona euro.
A Grécia, uma vez mais, foi um caso extremo. Segundo dados da CMA DataVision, o risco de default desse país subiu para 93,69%, virtualmente em situação de incumprimento iminente, referida por diversas agências financeiras. Apesar dos elogios da chanceler alemã Ângela Merkel ao andamento do cumprimento do MoU português com a troika, a subida do risco da dívida portuguesa fez-se sentir também, com um valor de fecho na sexta-feira de 61,31%. E, também, apesar dos elogios públicos do presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, ao exemplo irlandês, o risco de incumprimento para a Irlanda subiu para 51,31%. Os riscos referentes a Itália e a Espanha subiram, também, com destaque para o caso italiano.
Como há um movimento sincronizado, desde há muito, deste grupo de países, os analistas falam da possibilidade de um efeito de dominó. E sabe-se quem os mercados financeiros acham que vem a seguir à Grécia.
Os níveis atingidos pelo risco grego foram suficientes para detonar rumores de que o país entraria em incumprimento este fim de semana e que países, como a Alemanha, já teriam em marcha um plano de contingência face a um default em Atenas e a um corte brutal no valor facial dos títulos gregos existentes nos portefólios dos bancos germânicos.
Os governantes em Atenas, naturalmente, desmentiram. O que levou muitos analistas a citarem uma frase célebre da série de humor britânica ‘Yes, Prime Minister’: “Nunca acredite em nada na política antes que seja oficialmente negado”. Na realidade, uma frase atribuída ao chanceler alemão Otto von Bismark.
Recomeço das negociações com a troika em Atenas
No entanto, a próxima semana tem vários dias de alto risco. Dia 14 de setembro, retomam-se as negociações em Atenas entre a troika e o governo grego. Os seus resultados são fundamentais. Muitos analistas, este fim de semana, alegam que poderá desencadear um “acidente financeiro” se a troika der sinais de voto negativo. Nesse dia, poderá decorrer uma reunião de emergência do Fundo Monetário Internacional (FMI), ainda que, oficialmente, a reunião do fundo para atribuir a nova tranche do empréstimo à Grécia só ocorra a 27 de setembro, já depois das reuniões mundiais do FMI e do Banco Mundial e dos ministros das Finanças do G20.
E o dia seguinte, 15 de setembro, é o 3º aniversário do pedido de falência do banco nova-iorquino Lehman Brothers, um “momento” em 2008 que é considerado ter precipitado a grande crise financeira, e que continua a ter alguma carga psicológica.
As circunstâncias em que ocorre este 3º aniversário são especiais: o clima de pânico bolsista tem-se acentuado; a psicologia de que a economia dos países desenvolvidos está a entrar num período de estagnação, ou mesmo de recaída na recessão, alastra entre alguns dos principais protagonistas da cena internacional (FMI, BCE, Reserva Federal); o comércio internacional declinou substancialmente em junho (o dado mais recente conhecido); os ativos de refúgio atingem sobrevalorizações (como o ouro) ou descem a níveis históricos de remuneração (como os títulos alemães e do Tesouro americano); e uma das divisas de refúgio, o franco suíço, avança para um primeiro tiro da guerra de divisas.
No dia 16 de setembro decorre uma reunião informal do ECOFIN (ministros das Finanças da União Europeia) na Polónia, onde o tema da Grécia poderá ser discutido e espera-se que as regras básicas do Fundo Europeu de Estabilização Europeia sejam finalizadas.
Ativos de refúgio?
Mas mesmo os ativos de refúgio referidos colocam muitas interrogações, como nos sublinha Doug Short, editor de dshort.com, um dos blogues de referência internacional em matéria de mercados financeiros. “Com yields a um nível tão baixo [para os títulos do Tesouro americanos e os Bunds], e que poderão continuar assim por muito tempo, muitos investidores, desesperados para poderem aumentar o seu capital, irão atrás do mercado de ações, em situação de risco, o que pode ser bem horrível”. Por outro lado, o mercado dos metais preciosos, nomeadamente do ouro, parece começar a estar “superpoavado”.
“Vejo muito difícil que a Fed (Reserva Federal) e o BCE consigam descortinar políticas que nos tragam de volta para os velhos níveis de estabilidade de gestão do risco. Muito vai depender se os ganhos nas empresas se vão manter ou subir acima dos níveis atuais. Se começarmos a receber uma onda de revisões em baixa no final deste mês, poderemos assistir a declínios posteriores nos mercados e mesmo a uma recessão global”, conclui Doug Short.
Em matéria de psicologia de massas, a semana seguinte (19 a 23 de setembro) poderá ser crucial nos EUA. A Fed volta a reunir, agora por dois dias (20 e 21 de setembro), alimentando ou furando as expectativas de muitos agentes do mercado financeiro. No final da semana (23 a 25 de setembro), aguardam-se os sinais das reuniões do FMI, do Banco Mundial e dos ministros das Finanças do G20. Um dos pontos controversos refere-se às necessidades, ou não, de recapitalização adicional nos bancos da zona euro, problema já negado por Jean-Claude Trichet.

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