sábado, 2 de outubro de 2010

O MUNDO QUE PERDEMOS

"Hoje é costume desdenhar-se o Estado-providência do século XX como Europeu e “socialista” – geralmente em formulações como: “Creio que a história registará que foi o capitalismo chinês que pôs fim ao socialismo europeu”. (…) “Socialista”? O epíteto mais uma vez revela uma curiosa ignorância do passado recente. Fora da Escandinávia – na Áustria, Alemanha, França, Itália, Holanda e outros países – não foram socialistas mas democratas-cristãos os principais responsáveis pelo estabelecimento e administração das instituições fulcrais do Estado-providência activista. Até na Grã-Bretanha, onde no pós-II Guerra o governo trabalhista de Clement Attlee inaugurou de facto o Estado-providência como então o conhecemos, foi o governo de tempo de guerra de Winston Churchill que encomendou e aprovou o Relatório de William Beveridge (ele próprio um liberal), que estabeleceu os princípios do fornecimento da providência pública: princípios – e práticas – reafirmados e garantidos por todos os governos conservadores que seguiram até 1979.” - Tony Judt, O mundo que perdemos”.

Na verdade, o que me parece sobre as medidas de austeridade que o governo tomou, depois de propositadamente deixar passar uns dias para pensar, é que:
1- O primeiro-ministro, desta vez, teve o cuidado _ é só voltar a ver os vídeos da entrevista com a laranginha judite de sousa - de nunca dizer que não haveria mais medidas; o mais que disse é que estava convencido que estas chegavam....
2- se estas chegarem para remeter o déficit orçamental do próximo ano para os tais 4.6%, ainda fica por conseguir baixar o mesmo para menos de 3% em 2013, e sobretudo, começar lá para 2015 o combate de todos os anos ir ao orçamento anual buscar mais algum para pagar a dívida externa - superior ao PIB (e da ordem  actualmente de 200 mil milhões de euros ).
3 - ou seja , se tudo correr como deve ser, os próximos dez anos serão para pagar dívidas ( aceitando-se como razoável uma permanente dívida soberana de 40 a 50 mil milhões ).
4- tudo isto dando de barato que os americanos não conseguem desvalorizar mais o seu dólar, os chineses também, e a inflação sobe para 2% ou 3% com  um período provável de recessão em toda a zona euro. Porque senão, será pior.
5- dado que vai ser preciso amealhar mais - para pagar a dívida externa que é superior ao que Portugal produz durante um ano - não é difícil adivinhar que serão necessários mais cortes.
6- como o primeiro ministro deixou em aberto, durante este período , já com outro governo ( provávelmente do PSD ou com ele ) virão cortes sobre as reformas para atacar os gastos do Estado; com os cortes à função pública "apenas" são atingidos 450 mil funcionários; com cortes identicos ( acima de rendas de mil e quinhentos euros serão uns 400 mil pensionistas) - se entretanto, como é de prever, o governo não impedir as reformas antecipadas.

Eu cá estive a pensar que, se não fosse doente, emigrava.
Mas depois pensei para onde. Para a Espanha , França, Inglaterra ou Alemanha não, porque lá ou se trabalha até aos setenta ou para lá se vai caminhar; para os outros países da europa também não, porque uns não me deixam ir para lá (os nórdicos ) e outros ameaçam pegar-se à pancada por causa das minorias ( e não me refiro aos ciganos ) e das fronteiras.
A áfrica seduz-me com aquele pôr-do-sol para o retired people (Ah!, África Minha !...com aqueles calções e aquelas botas de caça e aquela blusa caqui que ficam tão bem à Nicole Kidman que nunca lá viveu, num rancho boer que já não há... ), mas depois lembrei-me que um tipo quando vai para velho tem de cuidar dos sobressaltos do coração e isto de governos que começam sempre com revoluções militares e terminam sempre com outras populares, e andam sempre a lutar contra guerrilhas, mais tifo , cólera e ausencia geral de cuidados de saúde não é para mim.
Claro há sempre a áfrica do norte, mais limpinha, e os países árabes ,mas aí não posso ler Fanny Hill de jonh cleland, nem Lady Jane de Jonh Thomas, nem rir com a Gaiola Aberta do vilhena , os seus textos eróticos e os seus desenhos que também metem árabes e mujahedines.
Pensei na américa latina, entre cubas-livres e petróleo a esmo, caipirinhas e matérias-primas a esmo, rum das caraíbas e bananas a esmo, mas depois lembrei-me do coração: não aguenta o rítmo das revoluções dos coronéis, das grandes expectativas ( olhem para o Brasil e daqui a tres anos falamos ) e maiores frustrações - embora a coca e outros opiáceos locais ajudem, mas a gente tem de estar sempre à cuca de saber se o nosso produtor ainda está vivo.
E, helás! um insight deeply overcoming to myself : a china e a Índia, as potências do futuro! Mas porra, na china não se fala inglês nem português e lá se me vai a leitura substituída por doze horas de trabalho por dia para a educação de turistas mesmo reformados porque senão são quatorze, e na índia até posso lêr ,mas como sou alérgico aos tufos de pó que se levantam das estradas de macadame como pequenos tornados, e a até a água do ganges anda poluída quando devia ser pura....também não dá para a minha asma e o meu colon.
Sobrava a rússia mas como o primeiro-ministro Putin começou a andar zangado com o seu primeiro-ministro Medvedev ( do que os jornais portugueses ainda não falaram ) e estas coisas por lá terminam sempre à porrada.... preferi ficar cá e ir ao Porto-Benfica que aí vem onde ainda tenho hipóteses de mesmo pobre saír de lá vivo e, se , combalido, recorrer a um hospital  embora pagando, pagar pouco e ser bem tratado.
E na minha língua!, que é para eu ter o prazer de protestar, insultar  o governo que me anda a roubar e não ir preso, e declarar com a omnisciência que deus me deu, que isto só se passa neste país!, carago!

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