quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O ANO QUE NOS ESPERA

No próximo ano vamos assistir a uma desaceleração do crescimento económico em várias zonas do globo. O comércio mundial vai desacelerar ainda mais do que o produto. A Europa vai concentrar o foco das atenções. São conclusões do relatório do FMI.
Em 2011, a economia mundial vai desacelerar o crescimento de 4,8% para 4,2%, um abrandamento de 12,5%, segundo o World Economic Outlook (WEO), divulgado, ontem, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
O FMI coloca de lado a possibilidade de um double-dip, ou seja de uma recaída global na recessão (com um decréscimo do produto mundial, como ocorreu em 2009), mas a leitura das estimativas divulgadas revela que o abrandamento do crescimento vai ser particularmente agudo no Brasil e nos “tigres asiáticos”, com uma desaceleração de 45% e de 42% respetivamente. No caso dos “tigres” (Hong Kong, Coreia do Sul, Taiwan e Singapura), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) desce de 7,8% este ano para 4,5% e no caso do Brasil de 7,5% para 4,1%.
Efeito no comércio mundial
Todas as regiões do mundo assistem a uma desaceleração do crescimento do PIB, incluindo os países que puxam hoje em dia pela economia mundial, a China e a Índia, que baixarão um patamar. A China passará de 10,5% este ano para 9,6% e a Índia de 9,7% para 8,4%.
Mas mais grave será o efeito desta desaceleração do crescimento no comércio internacional. Ainda que esteja colocada de lado a possibilidade de uma contração deste (como ocorreu em 2009), o comércio mundial vai desacelerar 39%, baixando de uma taxa de expansão de 11,4% este ano para 7% em 2011. O que gerará um efeito de contágio global nos fluxos de exportação e importação, devidos à elevada integração atual das cadeias de fornecimento e dos hubs logísticos.
Europa no foco de atenção
Com particular acuidade na região em que nos situamos (a União Europeia e a zona Euro), os níveis mais baixos de crescimento mundial vão concentrar-se precisamente na Europa. A zona Euro assistirá a um abrandamento do crescimento de 1,7% este ano para 1,5% em 2011 e com dois países no arco da recessão: precisamente Portugal (-1,4%, se contabilizado o efeito do pacote de austeridade) e Grécia (-2,6%).
A Europa vai concentrar o foco das atenções em virtude de uma conjugação negativa de tendências, que o relatório analisa:
a) o facto de ser a zona do mundo com nível de crescimento mais baixo;
b) a gravidade do problema da dívida soberana com 9 países da União Europeia com probabilidades de default num horizonte de cinco anos superiores hoje a 18%;
c) altos níveis de desemprego no mundo;
d) dependência extrema do sistema bancário dos financiamentos do Banco Central Europeu e com uma larga exposição aos riscos de dívida soberana;
e) necessidades elevadas de refinanciamento das dívidas soberanas que chegam à maturidade entre outubro de 2010 e dezembro de 2011, com cinco países (Grécia, Itália, Bélgica, França e Portugal) com volumes acima dos 20% do PIB e outros três com níveis entre 15% e 20% (Espanha, Holanda e Irlanda); e
f) atraso no sistema de integração europeu de “estabilidade financeira”.
Ramalhete adicional de problemas globais
O WEO foca, em termos globais, a manutenção de um conjunto de problemas que tornam a economia mundial “vulnerável a riscos”, destacando:
- a continuação de um clima de volatilidade nos mercados;
- o risco soberano (com o foco atual na União Europeia);
- problemas no financiamento bancário (vai ser necessário refinanciar nos próximos 24 meses cerca de 4 biliões de dólares);
- uma reforma financeira inacabada e, segundo alguns, muito débil;
- o aumento do desemprego e o impacto na instabilidade social;
- a não descolagem do mercado imobiliário (com um risco inclusive de um agravamento nos Estados Unidos); – a diminuição dos estímulos keynesianos;
- e o canal de contágio das consolidações orçamentais em simultâneo em várias partes do mundo.
Ben Davies, da Hinde Capital, uma firma financeira londrina, em entrevista que publicaremos mais tarde, adiciona, ainda, o risco de, em 2011, assistirmos a uma conjugação da escalada de “guerras de divisas” com o reforço de políticas monetárias de quantitative easing (aumento da massa monetária) por parte da tríade, Reserva Federal, Banco do Japão e Banco de Inglaterra, agravando os desequilíbrios mundiais e aumentando o nível de protecionismo.

JÁ AQUI ESCREVI HÁ CERCA DE UM ANO UMA FÓRMULA QUE NOS PERMITE ANTEVER O FUTURO. ELA ENTRA EM CONTA COM TRÊS VARIÁVEIS: DEMOCRACIA, GLOBALIZAÇÃO E ESTADO-NAÇÃO:
ASSIM:
 se os países fossem todos democráticos, DEMOCRACIA mais ESTADO NAÇÃO = GOVERNO MUNDIAL ( uma nova ONU com poderes reforçados );
 se juntarmos GLOBALIZAÇÃO com ESTADOS NAÇÃO = DITADURA ( caso da china ou rússia, uzbequistão, cambodja, venezuela, etc );
 se  juntarmos DEMOCRACIA com GLOBALIZAÇÃO = PROTECCIONISMO ( como em todos os países europeus, estados-unidos, brasil, canadá, austrália, japão,etc).
Fica claro que o que temos, é, no OCIDENTE, um futuro de proteccionismo. Mas como o proteccionismo arrasta sempre grandes tensões entre os povos, vamos assistir ao (quase ) inevitável conflito entre quem constrange e quem é mais constrangido. Como na primeira e  na segunda grandes guerras, ou antes, na franco-prussiana ou na guerra da crimeia, e assim por diante. A minha esperança é que desta vez ocorra lá para o extremo-oriente.

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