quarta-feira, 6 de outubro de 2010

AS DÍVIDAS SÃO 600 % do PIB ???

“A zona Euro está entulhada num passivo horrendo que vai muito para além das dívidas nacionais de que se tem falado” e o mesmo acontece para o Reino Unido e os Estados Unidos, refere, em exclusivo ao Expresso, Ben Davies, CEO e cofundador da Hinde Capital, uma firma de gestão de investimentos, sediada em Londres, a funcionar desde 2007.
O nível de responsabilidades reais dos designados pejorativamente por PIGS (acrónimo para Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) é muito superior ao que se julga – no caso português o valor líquido real negativo do governo é de 600% do PIB, atendendo a um estudo recente da Morgan Stanley Research, uma firma financeira global, na sua primeira edição de ‘Sovereign Subjects’.
Mas a situação portuguesa nem é a pior – a Grécia atinge 1500% do PIB, a Irlanda 1400%, a Espanha mais de 1000%, o Reino Unido 1000% e o Estado federal dos EUA 800%. Portugal e França encontram-se em patamares similares, de 600%, e a Alemanha nos 500%.
Situação insustentável
“Trata-se de uma situação insustentável. Os problemas na Europa estão, apenas, a começar, e este problema não é, apenas, dos PIGS, nem da zona euro – é global, no Ocidente. No caso da zona Euro, os países membros têm a condicionante de não dispor da vantagem imediata da desvalorização da moeda e os países da periferia da zona euro apenas conseguirão um ajustamento através de preços e salários mais baixos, para serem competitivos”, refere Davies. E acrescenta: “Mas até poderão ser os mais felizardos, pois o desejo político de manter o euro é muito forte”, o que poderá levar o Banco Central Europeu (BCE) a enveredar “pela criação de moeda de modo a desvalorizar o valor das dívidas em relação à inflação”.
O BCE resiste à tentação dessa deriva “de monetização plena” da dívida, “mas suspeito que acabará por não ter outra opção”, diz Davies. “Contudo, o BCE está já envolvido efetivamente num esquema de quase subsidiação orçamental dos governos da zona euro”, através da aquisição de títulos do Tesouro junto da banca, ainda que o banco central alegue que “esterilizou” essas compras, o que o leva a alegar que não se trata de política monetária idêntica ao quantitative easing da Reserva Federal americana. O quantitative easing é uma política monetária de último recurso quando as taxas de juro estão já perto de 0%, e os bancos centrais decidem aumentar a oferta de moeda.
No caso português, o financiamento através do BCE subia a 49,1 mil milhões no final de agosto, ou seja 29,5% do PIB estimado para este ano. No caso irlandês e grego era superior em termos absolutos e relativos face ao PIB.
Segundo referia, esta semana, o Financial Times Deutschland, as aquisições de títulos públicos por parte do BCE já representam 14% de toda a dívida soberana desses países, tornando o banco central a força dominante nesse mercado da dívida na zona euro.
Uma avaliação da situação líquida diferente
Ben Davies socorreu-se do estudo recente da Morgan, da autoria de Arnuad Mares (“Ask Not Wheter Governments Will Default, but how”) que aponta para uma avaliação da situação líquida de um dado país que vai para além da contabilização tradicional da dívida em relação ao PIB (seja a dívida pública, seja a dívida externa total, privada e pública), a qual não “captura” um largo espetro de responsabilidades que são, também, dívida. As estimativas da Morgan, agora realizadas, apontam para a inclusão de três indicadores – a dívida bruta face ao PIB, o défice estrutural e as estimativas dos encargos para as contas públicas do envelhecimento populacional.
O estudo da Morgan aconselha, ainda, o uso de um outro indicador, o da dívida pública em relação às receitas estatais. Nesse caso, para 2009, os EUA estão acima de 350%, a Grécia acima de 310%, a Irlanda nos 248%, a Itália nos 187,5%, Portugal nos 184,5%, o Reino Unido nos 169,2% e Espanha nos 153,2%. Ou seja, no caso português, seriam necessários quase dois anos de receitas (idênticas às de 2009) para pagar a dívida pública. Mas há situações manifestamente piores.
A Morgan conclui que a discussão não é tanto se os governos entrarão em situação de incumprimento (de default), mas sim como o farão e avisa os credores das dívidas soberanas, os detentores de títulos do Tesouro, que deverão preparar-se para uma “era de opressão financeira”, uma alternativa ao default puro e simples. O que já aconteceu no passado, recorda a Morgan, que dá exemplos históricos. Tal “opressão” poderá ocorrer pela imposição de taxas de remuneração reais dos títulos negativas ou artificialmente baixas, pelo pagamento da dívida através de divisas desvalorizadas, e pela “distorção dos preços da dívida a favor dos governos”, enumera a Morgan.

NOTA  DE CSP: evidentemente que se estes números retirados do Expresso on-line, forem correctos, podemos começar a contar os meses para o fim do euro quer através de de um duplo euro ( um forte para a alemanha , holanda e mais dois ou três , e outro fraco para os restantes com cotações diversas )  quer pela saída da alemanha, quer pela expulsão de países em grandes dificuldades.
No caso de , por milagre, isso não se verificar, teremos uma enorme desvalorização do preço do trabalho por qualquer das formas possíveis de desvalorização real dos salarios.
Mas mais importante: se isto é verdade, podemos contar com uma enorme pressão de todo o Ocidente contra a China , Índia e Brasil para que revalorizem as suas moedas. E essa pressão irá - é da História - até onde fôr preciso.

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