sexta-feira, 22 de outubro de 2010

CHINA - SUPERPOTÊNCIA PÁRIA

China, uma superpotência económica pária
por Paul Krugman, Publicado em 22 de Outubro de 2010.
.Em violação das leis internacionais, a China tem usado politicamente o monopólio das terras raras, numa demonstração de que não está preparada para as responsabilidades de superpotência
.O mês passado, uma traineira chinesa colidiu com duas embarcações da guarda costeira do Japão em águas territoriais japonesas. O Japão deteve o capitão da traineira e a China respondeu cortando-lhe o acesso a matérias-primas cruciais. Não havia outro modo de as obter: a China domina 97% da produção de terras raras, minérios com um papel essencial em muitos produtos de alta tecnologia, incluindo equipamento militar. Como é bom de ver, o Japão depressa libertou o capitão.

Não sei o que pensa o leitor, mas esta história parece-me profundamente perturbadora, tanto pelo que mostra da China como pelo que mostra de nós. Por um lado, o caso mostra a uma luz crua a inaptidão da política externa norte-americana, que nada fez enquanto um regime que não oferece confiança se apropriava de matérias-primas fundamentais. Por outro lado, o incidente revela uma China perigosamente disposta a recorrer à força e a desencadear uma guerra económica ao menor pretexto.

Façamos um parêntesis para uma informação importante. As terras raras são elementos com propriedades únicas, fundamentais em aplicações que vão dos motores híbridos às fibras ópticas. Até meados dos anos 80, os Estados Unidos dominaram a sua produção, mas depois a China avançou e ocupou o lugar. "No Médio Oriente há petróleo, na China há terras raras", declarou Deng Xiaoping, o arquitecto da transformação económica da China, em 1992. E de facto situam-se na China cerca de um terço dos depósitos de terras raras do planeta. Esta abundância relativa, somada aos baixos custos de extracção e processamento - um reflexo tanto dos baixos salários como do baixo nível de respeito pelo ambiente -, permitiram que os produtores chineses torpedeassem a indústria norte-americana rival.

É impossível não ficarmos intrigados com as razões por que ninguém fez soar o alarme, quanto mais não fosse com base em questões de segurança nacional. A verdade é que os responsáveis políticos ficaram simplesmente a ver enquanto a indústria americana de terras raras fechava. Pelo menos num caso, em 2003 - portanto numa altura em que, a acreditar na administração Bush, a segurança nacional dominava a política externa americana -, os chineses empacotaram literalmente todo o equipamento de uma fábrica e meteram-no num barco para a China.

O resultado de tudo isto foi um monopólio que excede de longe as mais desvairadas expectativas dos maiores tiranos do petróleo do Médio Oriente. Mesmo antes do episódio da traineira, a China sempre mostrou predisposição para explorar ao máximo esta vantagem. A United Steelworkers apresentou recentemente uma queixa contra as práticas comerciais chinesas, uma matéria em que as empresas americanas têm receio das retaliações da China. À cabeça da lista o sindicato pôs as restrições às exportações e os impostos sobre terras raras - que dão à produção do país numa série de indústrias uma importante vantagem competitiva.

Depois veio o caso da traineira. As restrições da China às exportações de terras raras já violavam os acordos assinados antes da entrada do país na Organização Mundial do Comércio, mas o embargo ao Japão foi uma violação ainda mais flagrante da lei internacional.

Ah, e os responsáveis chineses não melhoraram as coisas ao insultar a nossa inteligência dizendo que não havia nenhum embargo. O que aconteceu foi apenas que todas as fábricas de terras raras da China - algumas pertença de outros países - decidiram ao mesmo tempo suspender as exportações para o Japão devido à sua indignação com o país.

Quais são então as conclusões a tirar deste caso? A primeira e mais óbvia é que o mundo precisa de fontes não chinesas destes produtos. Há depósitos consideráveis de terras raras nos Estados Unidos e noutros países, embora para os explorar e tratar seja preciso tempo e apoio financeiro. O mesmo se passa com uma importante alternativa, a mineração urbana, isto é, a reciclagem de aparelhos electrónicos usados.

Em segundo lugar, a resposta da China ao incidente, lamento dizê-lo, é mais uma prova de que a nova superpotência económica não está preparada para assumir a responsabilidade associada ao estatuto.

As grandes potências económicas, apercebendo-se do seu peso no sistema internacional, costumam hesitar em recorrer à guerra económica, mesmo quando seriamente provocadas - basta ver a indecisão dos responsáveis políticos americanos sobre as medidas contra a política cambial grosseiramente proteccionista da China. Não foi essa a atitude da China no caso. Junte-se isto ao comportamento do país noutras frentes, acima de tudo na política cambial, e desenha-se o retrato de uma superpotência económica pária, que se nega a obedecer às regras. A questão que se levanta é que medidas vamos tomar em relação a isso.

Economista Nobel 2008

Exclusivo i/The New York Times

CHINA DELENDA EST !!!

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