domingo, 5 de setembro de 2010

OS AVISOS SUCEDEM-SE

PRIMEIRO PLANO
O monstro continua imparável ( retirado do jornal i )

por Ricardo Reis, Publicado em 04 de Setembro de 2010 .Enquanto a despesa caiu 14% na Grécia, 2,9% na Irlanda e 2,5% em Espanha, em Portugal subiu 4%. Quando é que se controla o monstro?

Na sua curta existência, este jornal tem lutado por algumas causas. Como é obrigatório num órgão de informação isento e rigoroso, por trás das causas está, acima de tudo, a busca da verdade e o confronto da propaganda com os factos.

No final do ano passado, o recém--eleito governo insistia que os impostos não iriam subir. Vários editoriais deste jornal, muitos assinados pelo então director Martim Avillez Figueiredo, insistiam que os impostos iriam muito provavelmente subir. Afinal, na história portuguesa das últimas décadas, os défices públicos tinham sido quase sempre corrigidos através de um aumento dos impostos.
Menos de um ano depois, é claro quem tinha razão. Em 2010, o IVA subiu para todos os portugueses e o IRS para muitos. Este foi só o começo, pois no orçamento para 2011, entre novos escalões para os mais ricos, redução de deduções fiscais que atingem a classe média, e cortes em vários apoios sociais aos mais pobres, a carga fiscal efectiva aumenta para todos. Talvez tenha sido apenas sorte, mas a verdade é que o i previu aquilo que o governo acabou por fazer, e que o próprio governo na altura achava ser improvável.

Na cobertura das medidas de combate do défice, o i também se distinguiu pelo seu cepticismo. Olhando para cada uma das medidas, os jornalistas e colunistas do i tiveram sempre grandes dúvidas que elas surtissem efeito. Pessoalmente, confesso que ao ler esses artigos, pensei que o jornal estava a ser pessimista. Praticamente todos os economistas com dois palmos de testa em Portugal já escreveram que a solução para a situação fiscal do Estado português tem de passar pelo corte da despesa. Alguns afirmaram isto mais vezes do que outros, alguns mais cedo do que outros, mas apesar das enormes discordâncias acerca dos problemas da economia portuguesa e das soluções a seguir, neste ponto há quase unanimidade. O Ministério das Finanças tem hoje muitos excelentes economistas, a começar pelo ministro, pelo que havia algumas razões para optimismo acerca do controlo da despesa pública.

Na quarta-feira, uma nova peça do i olhou para os dados da despesa pública portuguesa nos primeiros sete meses do ano e comparou-os com os da Irlanda, Grécia e Espanha. O que têm feito estes países sob a intensa pressão dos mercados internacionais e de Bruxelas? Na Grécia, até Julho, a despesa tinha caído 14%; na Irlanda 2,9%; em Espanha 2,5%. Então e em Portugal? A despesa subiu 4%.
Este número é demolidor. Se mesmo nestas circunstâncias, com todos os especialistas a concordarem na receita, com pessoas competentes nas finanças, e com intensa pressão do exterior, não se consegue controlar o monstro que é a despesa pública portuguesa, então quando é que isso acontecerá? Uma coisa é certa: a economia portuguesa não aguenta esperar muito mais tempo.

Nota de C.S.P. :o autor deste artigo publicado no jornal i é professor em duas universidades americanas , não tem grandes interesses económicos em Portugal, seu país, e tem mantido desde que o leio, um tom que foge aos radicalismos facciosos a que os economistas dos partidos nos habituaram.

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