segunda-feira, 21 de junho de 2010

PARA ENTENDER O QUE SE PASSA

Há um dominó da crise interessante: a banca espanhola está “exposta” à dívida portuguesa e a banca francesa e alemã está “exposta” à dívida espanhola. Elos que revela o último relatório do Banco Internacional de Pagamentos (mais conhecido por BIS, Bank for International Settlements).

 
Portugal era o quarto país no grupo dos PIGS (acrónimo humorístico pejorativo para Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) com maior dívida junto da banca da zona euro, segundo o relatório trimestral do Banco Internacional de Pagamentos (BIS, no acrónimo em inglês) divulgado ontem.



A “exposição” da banca da zona euro ao nosso país, no final de 2009, somava 244 mil milhões de dólares (107% do PIB português em 2009 e cerca de 46% do stock da dívida externa portuguesa no final de 2009, avaliados em dólares).



Os bancos espanhóis eram os mais “expostos” a Portugal, com 45% desse montante. Essa “exposição” espanhola dirige-se em 2/3 ao sector privado não bancário. Seguem-se, por ordem decrescente de exposição ao endividamento português, a banca de França e da Alemanha. Fora da zona euro, a banca americana e inglesa somava uma exposição de cerca de 80 mil milhões de dólares em relação a Portugal.


Nesta dívida de cada país à banca estrangeira estão incluídos os sectores público, bancário, privado não bancário e outros segmentos financeiros (por exemplo, contractos de derivados e garantias).






Razões do nervosismo mundial






Tem subido de tom o nervosismo que percorre a banca europeia face aos riscos de default nos quatro países, apesar das medidas tomadas por Bruxelas em acordo com o Fundo Monetário Internacional aquando da crise de Maio [com a acriação do veículo financeiro especial European Financial Stabilization Facility] e dos vários “pacotes de austeridade” entretanto aprovados ou anunciados, alguns já com efeitos em 2010.





São os bancos sedeados na zona euro que detêm a grande fatia da “exposição” da banca mundial aos quatro PIGS, refere o relatório trimestral do BIS (BIS Quaterly Review, June 2010). A banca mundial está “exposta” em cerca de 2,6 biliões de dólares (triliões, na designação anglo-saxónica) ao grupo dos PIGS, algo como 16% do PIB da zona euro.



No final de 2009, os bancos da zona euro arcavam com 62% dessa exposição, ou seja tinham a haver cerca de 1,6 biliões de dólares junto dos quatro países da zona euro sujeitos a maior stresse financeiro nos mercados da dívida e cujas probabilidades de default (de incumprimento da dívida soberana) variam hoje entre quase 18-19% (Espanha e Irlanda) e mais de 48% (Grécia).






Banca francesa e alemã de olho em Espanha






O país com maior dívida junto dos bancos da zona euro é Espanha que “absorve” 727 mil milhões de dólares (46% da exposição total dos bancos da zona euro), seguida a alguma distância da Irlanda, com 402 mil milhões (25%), de Portugal com 244 mil milhões (15%) e Grécia com 206 mil milhões (13%).



Os bancos franceses estão expostos em 50% a Espanha, e sobretudo ao sector privado não bancário, enquanto os bancos alemães estão expostos em 43% ao nosso vizinho, mas sobretudo ao sector bancário espanhol.



Por isso, o tema “Espanha” e todos os rumores que têm campeado esta semana sobre a eventual negociação em curso de uma intervenção “à grega” num montante de 250 mil milhões de euros (1/3 da provisão para empréstimos disponível na Facilidade Financeira Europeia de Estabilidade) estão a deixar a banca francesa e alemã à beira de um ataque de nervos, como se pode observar nos reflexos na imprensa local.


Compreende-se que Espanha seja um tema mais sensível que Grécia – pesa, literalmente falando, mais de três vezes na banca europeia. Os “estouvados” da periferia foram financiados por provavelmente alguns “loucos” bancos do núcleo central da zona euro. Actuar junto do receptor ajudará a resolver os problemas a montante.



No caso específico da Irlanda, são os bancos ingleses os mais expostos em particular em relação ao sector privado não bancário.



A dívida pública conta com uma pequena parcela nesta situação – apenas 16% da “exposição” agregada da banca da zona euro ao conjunto do grupo dos PIGS.



No caso português, a banca francesa está exposta ao sector público português em 21 mil milhões de dólares e a banca alemã em 10 mil milhões. Migalhas no stock de mais de 530 mil milhões de dólares de dívida externa bruta total do país em finais de 2009.

Sem comentários:

Enviar um comentário