terça-feira, 8 de junho de 2010

O PRECONCEITO DE NÃO SERMOS PRECONCEITUOSOS

Eu tenho um bom amigo - o Zé Vilarinho - que é um gajo porreiro.
É um tipo apaixonado!, O que nos tempos que correm ....de acomodação, muito neutros, muito tudo contas à vida, muito condescendências se faz favor, muito politicamente correcto, muito sabujo enfim, é coisa rara.
E como o que é raro é caro, a gente quando tem um amigo assim deve preservá-lo na autenticidade dele e nossa.

Acontece que o meu amigo Zé é um tipo que sendo um apaixonado da vida ( como eu,...por isso é que o compreendo bem), é um extremista ( como todos os apaixonados) e está sempre preocupado com isso. Ele que é ( como eu ) um indefectível portista quando vê o FCP na TV dá meia dúzia de pontapés no ar por jogo, grita duas dúzias de impropérios nos noventa minutos e fica a remoer a culpa durante as doze horas seguintes por ter vindo cá fora gritar aos vizinhos VIVÓ POOOOOOOOORRRRRRRRTTTTTTTTTTO!não é bem isto que ele grita mas assim fica melhor).

Porque o Zé é dado à culpa porque é um apaixonado! E porque sendo um apaixonado é radical e é de extremos. O que ama, ama mesmo!
Ou seja, se por exemplo fôr do Porto o que já disse ser o caso, ideentifica-se com este objecto da sua paixão até ao fim, quer dizer, se o jogo corre mal fica-se muito preocupado com o facto de " ter perdido a racionalidade". Como se as paixões coubessem num cesto de racionalidades!

Como tem  formação científica e das boas porque é médico, fica ainda mais preocupado com as suas atitudes "irracionais".
Ora esta postura é muito vulgar e até corrente em gentes inteligentes e com formação científica, ou seja eminentemente racional. É por isso que o Zé é um amigo que não podemos esquecer porque ´como disse é caso raro: racional e apaixonado.

Por tudo isto não me surpreendeu a sua surpresa quando me viu escrever preto neste blogue referindo-me a pretos ( que ele acha que devem ser tratados por negros ), e me perguntou se eu era racista e lhe respondi que não mas era xenófobo. Que não, que não acreditava, que um tipo socialista não podia ser, que depois da Declaração dos Direitos do Homem já ninguém podia ser!- disse-me ele.

E este episódio fez-me lembrar duas coisas importantes.
A primeira é um quadro que guardo na retina da memória de há cinquenta anos, de um preto que parava e mendigava muito perto da , (de boa memória), A Brasileira, um café à entrada de Sá da Bandeira no Porto e que "pousava" quase lado a lado com um boneco preto que abanava a cabeça e dizia frases com graça e tinha por nome, que a minha mãe lhe dava, o "pretinho da Guiné". E isto era dito com uma enorme dose de carinho e nenhuma humilhação.
Pela mesma época a vida corria quotidianamente, muito lânguida, feita de pic-niques aos domingos e visitas à Feira Popular no Palácio de Cristal sábado à noite, a jogar uma dourada nas caixas de picar da Regina  porque ainda não havia semana-inglesa. E tranquilamente a gente ia andando embalada ao ritmo dos anúncios duma voz de veludo que dizia a imitar brasileiro: -" Leitchi di colónia prá belêza rrealçarrr.....": e logo depois :- "restaurador Olex, um preto de cabeleira loira e um branco de carapinha preta!". E evidentemente ninguém via nisto ponta de racismo ....porque pura e simplesmente não havia. Mas,já nessa altura um pai, um pai português, não via com bons olhos que a filha casasse com um inglês, um alemão, um russo, um chinês, ou um preto. Ou seja um bom pai português não se sentia " confortável" como agora dizem os banqueiros, porque o vizinho da rua, esse, a gente conhecia-o bem, sabia das manias dele, sabia que era parecido, ora bem! Não era superior, nem inferior, não tinha hábitos desconhecidos da gente, era como nós simplesmente. E por isso, não metia confusão que nos levasse a filha porque ia para um mundo que conhecíamos.
Ora isto não é racismo que é um pensamento ( de raça superior ), mas é xenofobia e não tem nenhum mal que seja. Porque xenofobia quer dizer não ter simpatia ou "não se sentir confortável" com gente doutra raça.É por isso um sentimento e não um pensamento.
É por isso que acho piadético que as gentes socialista ( que não as comunistas que essas vêm do povo profundo e não se baralham facilmente) e bloquistas, façam da xenofobia um asco e obriguem o Estado a fazer dum sentimento um crime! Os mesmos que lutam contra delitos de opinião!
A diferença está em que a xenofobia é um sentimento e ninguém se pode impedir ter sentimentos: ódio ou amor, simpatia ou antipatia são fenómenos subjectivos que nem por decreto ou bula Papal podem apagar-se; já o racismo implica um certo pensamento (mais que sentimento ) de superioridade rácica que pode levar a descriminações por acções. E isto faz toda a diferença, independentemente do que diga ou não diga a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

OU outra qualquer Declaração - e esta é a segunda coisa muito importante.
É que por vezes esquecemos que estas declarações e "outras conquistas" são feitas exclusivamente, produzidas exclusivamente por homens comuns num determinado contexto histórico. E esse contexto muda. Muda sempre. E quando muda o que era Historicamente adequado para um povo deixa de ser. Porque os povos guiam-se sempre pelos princípios gerais de sobrevivência que obedece a uma tectónica de necessidades: por exemplo, a mim dá-me imenso prazer escrever com a liberdade com que escrevo o que me dá na real gana, mas ,se algum dia tivesse que optar entre esta liberdade ou a segurança pessoal, queria lá saber da liberdade! É que - já Maslow o disse com clareza - as necessidades sofisticadas só fazem sentido para toda e qualquer pessoa depois de conquistadas as necessidades básicas.
Por isso, se em Portugal queremos preservar as "mais amplas liberdades" é melhor vêr o que se passa à nossa volta e que eu abordo nos três "posts" seguintes deste dia: tudo à nossa volta está a mudar  e não é no sentido de mais completas Declarações de Direitos mas sim de mais específicos Deveres, a bem da sobrevivência , infelizmente.
Por tudo isto, o Zé Vilarinho deu-me um bom exemplo dos conceitos antes das realidades - os preconceitos- coisa horrível que me acompanhou quase toda a vida. Primeiro na Universidade quem não era comunista era estúpido; no PREC, quem não cavalgava aquele delírio era estúpido; a partir dos anos oitenta quem não era Yupie era estúpido; e agora quem não defende direitos adquiridos ( nem que sejam Declarações Universais escritas por homens), é estúpido!
Eu estive,com excepção de uns dez anos, entre finais dos setenta e os primeiros dos oitenta, sempre a apanhar com o rótulo de estúpido. Aconteceu com mais alguns.

É que não é fácil quando somos seres apaixonados - o que é bom - não ter o preconceito de que não somos preconceituosos.

P:S: DELENDA  CHINA  E  MADEIRA  EST!

2 comentários:

  1. PEDIDO DE CONTACTO

    Como é possível contactar com o Dr Couto Soares Pacheco, autor do livro "CIÚME"?
    MB

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