sexta-feira, 18 de junho de 2010

O DISTRITO DO PORTO, O 25 DE ABRIL E O REGIME CORPORATIVO

Há dias uma pessoa amiga fez-me chegar por e-mail um texto que só não publico aqui por mera incapacidade minha para o copiar e publicar na íntegra neste blogue ( se um dia alguém me ajudar nessa tarefa publico-o aqui ).. Em síntese, o texto que tem como título O PALHAÇO DO SÓCRATES, é um desfilar de frases soltas de Medina Carreira a avisar tudo e todos para a catástrofe que aí vinha.
E o curioso é que quem me enviou o dito texto é uma pessoa bloquista que ainda há dois anos dizia que as medidas de contenção dos vários deficites que o primeiro governo do José Sócrates levou a cabo mais as necessárias reformas ( por exemplo da educação ) eram um "roubo" (sic). Agora acha, pelos vistos que o ardor depressivo do ex-ministro Medina Carreira era ténue e devia ter servido de farol ao nosso primeiro-ministro.



O texto em si destila ódio contra Sócrates e lateralmente contra outros ex-primeiro ministros, e é uma truncagem de frases que (em maioria ) eu ouvi a Medina Carreira na TV. Só que fora de contexto, sendo que, de si, o ex-ministro dificilmente diz o que quer que seja com um mínimo de "contexto". Logo portanto, são frases ocas, de gente ressabida com a vida, com tropismo para as "crónicas de escárnio e mal-dizer"e alma sempre escura. E com um "fundo" que é constante: o 25 de Abril não foi cumprido! ( mas como é que um ministro do 25 de Abril não pára de  gritar isto? Quem é que havia de o cumprir ..., o amanuençe das finanças lá do Terreiro do Paço?).



Sendo claro: quem me mandou o mail é uma ex-professora liceal muito zangada com a ex-ministra da Educação e José Sócrates, porque a andaram a roubar....



Entretanto leio um caderno do Expresso chamado Distrito do Porto, onde se dá a palavra a autarcas e a páginas tantas  um tal Manuel Moreira presidente de Câmara de Marco de Canaveses declara:"considero que o meu Concelho se deve desenvolver em harmonia com os seus dois rios internacionais, o Douro e o Tâmega, através da criação  do parque fluvial do Tâmega, com cerca de três kilómetros de percursos pedonais, uma fluvina para 50 embarcações, um restaurante e dois bares, um centro náutico, plataformas de pesca desportiva,, uma delas com 300 metros quadrados que serve de palco para eventos culturais. Nas freguesias do Douro, foi ainda construído no Cais de Bitetos uma casa de Produtos Tradicionais / Posto de Turismo. Estas obras implicaram um investimento superior a 1 milhão e setecentos mil euros"..
Outro exemplo retirado da gaveta pelo executivo liderado por Manuel Moreira, possibilitou uma construcção das Piscinas Municipais de Alpendurada e Matos, um investimento de cerca de 1 milhão e 500 mil euros. Seguiram-se outros investimentos como a da construcção do Museu da Pedra, designadamente do granito, o único existente no país dedicado exclusivamente à indústria extactiva e transformadora". E eu pergunto-me:-Ó homem e não falas das rotundas?!.



Pois é.
O que liga os dois parágrafos anteriores é muito simples. A megalomania coorporativa. Num caso os eleitos autárquicos que perderam noites após o 25 de Abril, a tentar descobrir como esbanjar o dinheiro de Bruxelas sem compreender que ele assim investido não era um investimento porque não gerava retorno que se visse para o seu Concelho; e no outro fica exemplificado como as corporações de interesses profissionais ( no caso os professores, mas podiam ser os médicos, os embaixadores, os juízes, os farmacêuticos, os gestores de empresas públicas, etc ) impediram as grandes reformas estruturais do nosso país. Sem pensar que o que sobe desce sempre, e o que se gasta sempre se paga.



Mas esta questão merece uma outra reflexão complementar: o 25 de Abril veio acabar com o regime chamado do Estado Novo instituído pela Constituição democrática ( porque votada em referendo sem roubalheira ) que postulava um Estado Corporativo, ou seja um Estado que não só era governado por um parlamento ( a Assembleia Nacional embora de partido único ), mas também por uma segunda câmara a Câmara Corporativa, onde tinham assento as várias corporações profissionais e de interesses ). Embora sabendo que quem efectivamente mandava era o ditador Oliveira Salazar a verdade é que no início do seu consulado este ditador tinha de facto em mente um regime em que as corporações de interesses ( e o que são os lobbies na América de hoje ?) podiam e deviam discutir entre si as melhores soluções legislativas para Portugal. Ou seja, no Estado Novo o regime era "de jure" corporativo, enquanto na Terceira República, que nos governa agora, o regime é parlamentar mas "de facto" corporativo no que de pior tem esta palavra!



Para culminar, lembro-me de há três dias ter ouvido uma individualidade de segunda linha do Bloco dizer cobras e lagartos do Estado Novo comparativamente com "a impoluta (sic)" primeira república ( durante a qual não morreram os tais setanta portugueses presos/assassinados por razões políticas..., mas uns largos milhares....( lembram-se da Formiga Branca? ). E, como tamanho disparate não bastasse, o erudito cujo nome não recordo infelizmente, declarou ipsis verbis em defesa dos 100 anos da República: - " E mesmo esse chavão do homem providencial ( Oliveira Salazar ) que nos salvou da II Grande Guerra é pura estultícia porque só ficamos a perder por não termos entrado nela e ficado do lado certo da História!".
Palavra de honra que ouvi isto.

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