quinta-feira, 18 de junho de 2009

OS 5 PECADOS MORTAIS DA CONDIÇÃO LUSA : A INVEJA

A inveja é o primeiro pecado mortal da condição lusitana. É um universo de motivações e de paradoxos. E de ignorâncias, porque, por definição, é inconsciente.

O invejoso não sabe que foi mordido pelo ingrato sentimento. Por isso necessita de se auto-justificar inventando um diálogo circular entre o seu Eu e o seu Mim. Para que o seu Eu conserve o seu valor acrescentado e se não desvalorize, precisa que o Mim lhe dê valores morais para sentir aquela indignação. Ora esses motivos assentam sempre numa distorção do sentido de justiça.

Para vêr-se livre do amargo sentimento, o invejoso seleciona uma das muitas estrelas apagadas do universo da sua existência. E projecta-a. Contradizendo-se. Mas obedecendo, paradoxalmente a uma lógica: a que transporta um homem da sombra dos seus fracassos até à auto-justificação e conforto por via do disfarçe da justiça das coisas.

E diz:-" Fulano ou beltrano foram bafejados pela sorte". Porque a sorte do outro sendo apercebida como o azar próprio, passa a ser o atestado íntimo da injustiça cósmica : -"Porquê ele e não eu?"....

E assim o invejoso vai alargando o seu universo feito de estrelas cadentes que iluminam a sorte dos outros e o azar próprio. E um universo destes é cada vez mais um caos e cada vez menos um cosmos. E, sendo um caos, está justificada a aleatoridade das coisas E, por aí, exorcizados os sentimentos secretos de fracasso próprio.

Resta todavia a o azedume duma desilusão que exige, para poder ser tolerada, que o invejoso apele para a (in)justiça sempre que fale dos invejados.
Ou se lamente da ingratidão do Mundo.

Ou da falsidade dos juízos humanos.

Ou, principalmente, do excesso de reconhecimento público dos outros.

Mas verdadeiramente o invejoso não quer justiça. Porque esta pressupõe sempre o confronto ( o desafio ) que ele teme. Ele quer simplesmente fortuna. Não quer equidade, mas privilégio
A tentativa de se convencer a si mesmo e aos outros de que é mal olhado pelo destino, faz parte da dinâmica inconsciente da inveja que tem como objectivo último eliminar o confronto. O confronto em equidade, em terreno neutro, sem handicapes de parte a parte. O invejoso não quer, definitivamente, o confronto transparente.

É por isso que os sistemas sociais ( políticos mesmo que não partidários ) que instalam uma mesma clientela ( ou partido ) durante anos-a-fio na governação dum organismo social ( ou na Administração Pública ) tendem a fomentar a inveja generalizada. Porque tendem a impedir a tranparência no confronto ( democrático ) através do controlo da informação, ou seja do conhecimento, ou seja, do saber.

É assim que surgem os invejosos da oposição, pelo ressabiamento. Mas sobretudo surgem os invejosos nos sectores próximos do Poder ( não confundir com Autoridade ) pela insegurança que leva os poderosos a interpretar qualquer proeminência dos governados como uma ameaça que é injusta para o status quo. Sendo este (poder) consequência de tanto esforço e tão cansado - pensa o poder - porque não estrangular a ameaça tão injusta? É que o Poder ( que já se dispensou da Autoridade ) pensa logo em termos de injustiça sempre e quando surja uma hipótese de mudança, um gesto de inovação, um horizonte diferente e não previsto por ele, o Poder. É por isso que todo o Poder ( que não a autoridade ) tende para o controlo, para a premeditação e para a perseguição a quem se lhe oponha. Sempre sob a cobertura de impôr a justiça.

Com o tempo, o controlo chega à premeditação da perseguição. É quando o exercício do Poder é exercido sem justiça, mas com o manto dela, que toma o nome de Tirania.

Ora o que é mais grave - para além de produzir gente paranóide que sofre - é que uma sociedade de invejosos é sempre uma sociedade fechada à criatividade e à inovação.

Por isso fechada à sua renovação. E, sendo que só é capaz de se renovar o sistema orgânico que ainda está vivo, no limite, apela à revolução por já ser impossível a sua renovação.

Geralmente caminha assim para a morte quase certa.




P.S. - Um sistema orgânico e sistémico tanto pode ser uma empresa como uma corporação de interesses ou classe social, ou um Governo.
Quem este texto escreve decalcado doutro escrito há trinta e cinco anos vê que:
i- Neste aspecto da psicologia do homem português, poucos avanços houve.
ii- Fica evidente como no contexto da governação de José Sócrates, dificilmente poderia o governo seduzir os professores, os juízes, os farmacêuticos, os militares, os políticos profissionais, os enfermeiros os diplomatas de carreira os notários, etc, todos os poderes efectivos na sociedade portuguesa que desde há muitos anos defendiam invejosamente tantas prerrogativas injustas quanto mais elas eram injustas - em razão directa da injustiça ( ficam de fora os médicos que não chegaram a medir forças com o doutor Correia de Campos por este, estupidamente, ter sido demitido).
iii - Este, como qualquer outro governo, não deve governar mais que outra legislatura.

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