domingo, 15 de agosto de 2010

O AUMENTO DAS MATÉRIAS-PRIMAS VAI ACONTECER JÁ ESTE ANO

A semana que passou foi rica em dados geopolíticos que, como de costume passaram desapercebidos nos nossos jornais.

Um deles foi o relatório do WASDE ( World Agricultural Supply and Demanding Estimates ), do  Departamento  da Agricultura dos Estados Unidos ( correspondente ao nosso Ministério da Agricultura ). Do relatório, exaustivo e que está acessível na Net , e para não maçar demais os meus dois leitores e meio, tomei nota que na Bolsa Alimentar , só no passado mês de julho a cotaçao do trigo aumentou ( was improved ) 35%; que o consumo de cereais no mundo cresceu  45 milhões de toneladas métricas e que a produção prevista para o período ( semelhante ) de 2010/2011 aumentará apenas 13,7 milhões de toneladas; isto quer  dizer que vai haver um buraco de 32,48 milhõoes de toneladas resultante de um aumento de 2% no consumo previsto e uma produção que irá contrair 0,6%, acompanhados de uma redução dos stocks mundiais na mesma quantidade a qual não se verificou no ano passado.

Se nós fossemos alemães, esperaríamos pacientemente que os preços subissem e entretanto continuaríamos a comprar o nosso habitual; como somos latinos, vamos anteciparmo-nos e à medida que formos sabendo que os preços vão mesmo subir, usaremos duas de três metedologias de lidar com o problema: se formos pobres não fazemos nada a não ser ir exigir ao padre que nos arrange umas côdeas ; se formos remedeados ou até ricos , aí sim vamos a correr às shops mais próximas comprar mais arroz , massas e afins assim antecipando um bocadinho em Portugal a inflação.

Se formos aposentados ( retired ) estamos bastante tramados porque não podemos reflectir nos preços daquilo que fazemos a inflação do que compramos. Como estou neste grupo ( dos aposentados ) acho que o verdadeiro aperto ( depois dos desgraçados desempregados ) vem agora a caminho para a generalidade da população ( que é constituída maioritariamente por aposentados e pelos seus netos que em muitíssimos casos vivem mais debaixo das asas apoiantes dos avós que dos pais). Azar pois para avós e netos - sobretudo os mais mimados e que ainda não interiorizaram que o próxime filme num cinema perto de si tem por título : Regresso ao Passado - parte I. Voçê, sim voçê aí, é o protagonista; e o guião mostra-nos, na esteira de que Toynbee, Sengler, Malraux e outros avisaram, uma vida com a reinvenção da família normalzinha, os domingos passados em pic-niques à beira-mar, a cerzedeira e o sapateiro lá da rua no seu mister, uma relação inter-pessoal muito mais baseada na autoridade que no poder, um tempo morno que corre na nossa subjectividade sem gritarias ou sobressaltos, uma religião que não é nenhuma seita, um gosto particular pelo nosso país, um prazer em redescobrir que um bom transporte público até ajuda a ser-se menos ensimesmado e egoista, enfim... talvez, se quisermos, uma vida que não será idilica mas pode ser mais genuína e menos histérica ( genital) ou histriónica ( teatral ).

Como causas para a baixa da produção cerealífera está a mudança climática à cabeça, ou seja calor e incêndios na  rússia, ucrânea e cazaquistão que destruiram cercade 30% das respectivas produções, bem como chuvas anormais no canadá , argentina e china.
Como a rússia vai produzir menos 8 milhões, a união europeia menos 4 milhões, a ucrânia menos 3, bem como o cazaquistão, países grandes produtores que vão passar a importar, é certa a agroinflação. Agroinflação, visto que o algodão, o café, o cacau o açúcar e outras comodities como cobre . estanho e ouro, diminuem este ano agro-mineral pelos mesmos motivos ( climáticos ) ou esgotamento de minas de alta rentabilidade.

Ou seja, mesmo sem uma aparente retoma do crescimento económico ocidental, só a baixa da produção destes bens associados a uma voragem incontrolável dos países emerentes ( os BRIC ) cujas classes médias não param de crescer exigindo um tipo de alimentação que em tudo copia o ocidental,  mas com maior esbanjamento, bastam para provocar um aumento de preços. Se, por cima disto, houver retoma económica nos países desenvolvidos, ocidentais ou ocidentalizados (japão, coreia do sul, taiwan, singapura ) então o aumento será dramático.

Entretanto Jonh Baffes do Banco Mundial que dirigiu com os maiores especialistas mundiais um estudo para a ONU, concluiu que dois outros factores têm aumentado sustentadamente o risco inflacionário na última década: o desvio de cereais do seu fim alimentar para a produção de  biocombustíveis e, sobretudo, uma nova e desmedida apetência de especuladores institucionais (bancos e fundos ) ou soberanos ( fundos de aposentação, soberanos e afins !) por produtos alimentares ou agroalimentares ou minerais essenciais à vida ( o primeiro a ser especulado há trinta anos foi o petróleo ) -exactamente por , em época de incerteza haver a certeza que haverá sempre quem os compre independentemente do preço!!!. Mais uma vez os especuladores a semearem foices e martelos que lhes hão de cortar os tomates  e fazer galos ... na cabeça.

Já aqui referi há meio ano os milhares de milhões de hectares que países emergentes com excesso de divisas e parcos recursos agrícolas e água ( sim a água que o PSD do Passos Coelho quer privatizar e seria o maior negócio do século - a realizar-se ) ´têm comprado em países pobres e com regimes crapulosos ( Angola, Congo, Sudão do sul, até Brasil...). Et pour cause....

Et pour cause... DELENDA CHINA EST !

Sem comentários:

Enviar um comentário