domingo, 1 de agosto de 2010

INTELIGÊNCIA E DESENVOLVIMENTO DAS NAÇÕES ( CONT. )

4- DISCUSSÃO SUMÁRIA DA METODOLOGIA E OUTRAS QUESTÕES

É claro que I.Q. and Wealth Nations (" O Q.I. e o Desenvolvimento das Nações" ) o livro de Richard Lynn ( prof. de Psicologia na Irlanda na Universidade do Ulster) e por Tatu Vanhanen (Prof. de Ciência Política na Finlândia na Universidade de Helsínquia  ) publicado em 2002 não podia deixar de dar polémica. E grande.
Desde logo por o segundo autor ser filho do Presidente da Finlândia e isso dar visibilidade à obra e sua tese. E qual é a tese do Livro?
Simplesmente esta: a escala da inteligência média dos habitantes de um  dado país anda a par com o desenvolvimento desse país e da taxa do seu PIB face aos outros países! Dito doutro modo, o livro não só estabelece uma correlação entre PIB nacional e Inteligência Nacional , como indicia uma relação de causa-efeito do género: quanto maior a inteligência do povo, maior o seu PIB.

E , a partir de 2002, os autores e o livro eram falados e contra-falados desprimorosamente desde o Times ( variadíssimas vezes), até à Sience.
Havia razões para isso. Na verdade, determinar o Q.I. dum povo é difícil desde logo porque é necessário controlar as variáveis controláveis todas ( e isso é difícil ) que não interessam ao estudo. Ou seja, sabendo nós que a educação, a organização familiar, etc, enformam o nível do desenvolvimento do Q.I. duma pessoa, não encontravamos esse controlo na obra dos autores.
Muitos trabalhos anteriores tinham, de facto, apontado algumas explicações para as diferenças nacionais em matéria de QI : rendimento, educação, níveis baixos de trabalho agrícola ( que é substituído nos países desenvolvidos por trabalhos que estimulam muito mais o cérebro ), o clima ( o desafio de sobreviver ao frio pode provocar o desenvolvimento da inteligência ), e até, a distância do país ao berço da Humanidade em África ( novos ambientes poderiam estimular uma maior inteligência ou os Homo Sapiens que mais longe do seu ponto de partida arriscassem chegar poderiam ser geneticamente os melhores ).
Mas havia pior  para os dois autores da obra: muita gente, cientistas e gente da cultura e da política rejeitava em absoluto que houvesse povos mais inteligentes do que outros pelo que os dados e os pressupostos do QI E DA RIQUEZA DAS NAÇÕES era rejeitado como uma afronta e uma ameaça. Tudo coisas muito comuns e velhas na história do conhecimento. Só que neste caso, maioritáriamente, esmagadoramente.

Mesmo quando os autores negaram que apesar de estabelecerem uma paridade de facto entre a posição de um dado país na escala mundial de inteligência e na escala do PIB per capita  no mundo, as críticas viraram-se para a metedologia utilizada. E foi numa desta discussões que eu tive acesso ao assunto. Dizia-se que havia países que não tinham estudos suficientemente abrangentes de Qi e os autores ripostavam que usavam técnicas mistas envolvendo as situções culturais de países próximos para estimarem um valor provável ( como indiquei no texto final do anterior post sob este tema); e que noutros países havia, mas embora em todos os números utilizados para o cálculo do QI fossem utilizados os aceites pela ONU, tinham os autores tido o cuidado de para todos construírem meta-análises a partir de todos os trabalhos de campo já realizados.
Mas os ataques continuaram.

Até que em 2006 é dado à estampa um novo livro dos autores com o título " QI AND GLOBAL INEQUALITY que aprofunda as teses do anterior. Este ainda é mais citado e o debate fica mais acirrado.
Insistem na tese de que os economistas da geoeconomia consideram como axiomático que todos os povos do mundo têm a mesma inteligência e isso é falso. Que existem enormes diferenças nacionais de inteligência que variam entre uma média de 67 na´´Africa sub-saariana a  105 na Ásia "tigre" das economias da Orla do Pacífico ( por favor vêr escala publicada no post anterior ). Que antes deles este tema foi observado e discutido sem tabus por gente como Max Weber ( na sociologia ), David Landes ( na História ), David McClelland (na Psicologia ) até fisiogeneticistas como Jared Diamond. Que os resultados do QI nacional dum povo tem uma correlação altamente significativa de 0.79 entre os resultados de testes de matemática e de ciências e os apurados para o QI nacional. Que o QI nacional é determinante para uma série de fenómenos sociais , incluindo a alfabetização de adultos (correlação de 0.64 ), matrículas no ensino superior (0.75 ), expectativa de vida (0.77, ou democratização (0.57 ).
Os autores propõe até que alguns destes fenómenos têm relações de causalidade recíprocas ou de feed-back positivo. Por exemplo, os países que têm alto PIB per capita , têm um QI elevado e ambos propiciam a estas pessoas que prestem uma boa educação e saúde aos seus filhos bem como uma boa alimentação, o que lhes permite aumentar a inteligência. Este é o princípio da correlação genótipo / ambiente aplicado a populações nacionais. E concluiram que o QI nacional é previsível a partir da composição racial da população. Assim os seis países do leste asiático ( China, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura ) têm todos um QI na faixa entre os 108 E os 105. As 29 nações europeias têm todas um QI na faixa entre 92 e 102, enquanto as 19 nações da áfrica subsariana têm um  QI entre 59 e 73.
Pretenderam assim mostrar que há uma coerência entre o QI das nações  quando classificamos e arrumamos estes QI em tres grupos raciais.

5 -HÁ  ESPERANÇA  PARA  PORTUGAL ?

No post que aqui publiquei em 23 de Julho e que torna este assunto compreensível, Portugal encontrava-se no 32º lugar entre 185 países ( vêr post anterior com o mesmo título ) e detinha um PIB per capita  correspondente ao 36º lugar. Praticamente equivalente.

Um dos elementos que levou muito boa gente a acreditar no interesse destes estudos radicava no carácter de validade e confiabilidade dos testes de QI aplicados e na profundidade do estudo estatístico bem como na fidelidade das escalonagens dos países por PIB per capita uma vez que foram utilizados os dados oficiais da ONU e suas organizações como o FMI que utilizam esses mesmos dados para as suas projecções macroeconómicas dos países. E outro aspecto a pesar muito positivamente, foi o conhecimento que a ONU tinha das variações no último centénio no que se refere ao " nível de inteligência dos povos " que sofreu variações praticamente "indexadas" ao QI: ou seja, o QI dos povos em cem anos tinha mudado muito e certos países mais que uma vez.
E embora mudanças do valor do QI tivessem ocorrido, verdade era que os testes uzados, sobretudo a Weshesler e as matrizes Progressivas de Raven tendiam a fornecer valores fiáveis e confiáveis ( Ver post anterior ) e saturadas do factor geral de inteligência ( o chamado factor G) , uma espécie de factor básico e subjacente aos outros factores de inteligência. Por isso eram e são testes válidos.

Voltando a Portugal , os autores colocavam-nos em 2006 ,entre 185 países, na 32º posição em termos de QI nacional e em 36º posição em termos de PIB.
Este agravamento não surpreende muito porque ocorre num momento de ressaca da anterior recessão ( mais marcada na europa do sul que no resto do mundo ) e não  "captou" o efeito de "décalage" no tempo que sempre ocorre quando se investe na instrucção (inglês, matemática, curcos de ciências e profissionais, alterações curriculares ) que conjuntamente com uma melhoria nas condições dos partos e apoio às crianças aconteceu em Portugal a partir de 2005 com o governo de Sócrates.

Mas, o mais importante foram os trabalhos do médico Cristopher Eppig e dos seus colegas da Universidade do Novo México publicadas na " Proceedings of Royal Society". Eles  mostram que os cérebros dos bebés absorvem 87% da sua total energia metabólica; nas crianças de cinco anos a percentagem é de ainda 44%, e mesmo nos adultos, o cérebro ( uns diminutos 2% do peso corporal - ao contrário dos bebés )  consome 25% da energia do corpo. Se suceder  qualquer forma de ocorrência que compita para obter esta energia, isto prejudica o desenvolvimento neuronal cerebral. É o que fazem parasitas, bactérias, vírus ou bacilos como os da tuberculose, e disputam-na de várias maneiras. Há mais de 60 anos que os médicos sabem que a tuberculose numa criança retarda o seu desenvolvimento físico; ficamos agora a saber que também retarda o seu desenvolvimento mental. Na verdade, qualquer parasita ( ténias e.g. que nos impedem de engordar ) ou outros agentes patogénicos disputam-nas de vários modos. Alguns alimentam-se dos tecidos do hospedeiro ( a criança ) ou apropriam-se do seu mecanismo molecular  para se reproduzirem. Outros, especialmente aqueles que vivem nos intestinos, impedem o organismo humano de absorver os alimentos ( é o caso da ténia intestinal ). E todos eles obrigam o sistema imunitário humano a entrar em actividade o que desvia os seus recursos da "alimentação" das zonas nobres, como o cérebro.
E sem cérebro convenientemente desenvolvido não há inteligência!

Nos países ricos , já foi detectado um aumento da inteligência desde os anos 50. É o chamado efeito Flynn, do nome de James Flynn que foi quem o descobriu. No entanto a sua causa era um mistério. Se Eppig tiver razão, a quase eliminação das doenças infecto-contagiosas ( designadamente desinterias ) nos países pobres - o que se faz com cuidados de saude e educação, vacinação, água potável e saneamento -  o efeito Flynn estender-se-á.
E, em Portugal passado que sejam uns dez anos poderemos estar ainda melhor.

Entrei no partido socialista pela proposição e assinatura de dois candidatos a secretário geral. Um deles foi Guterres de quem sou amigo e que é um dos melhores homens que conheci em privado e que , até há pouco, considerava um dos piores primeiro-ministros  de Portugal. Mudei de ideias. A sua paixão pela educação e pela saúde está a dar frutos e a de Sócrates também vai dar. Eles parece que intuiram.

Apesar de muito refutadas pelo medo do racismo, estas novas ideias vêem produzir um enorme salto qualitativo nas ciências económicas e na geopolítica. Ficamos todos a saber porque é que os países a abarrotar de divisas mas sem terrenos aráveis (como a China , Arábia Saudita, Índia ) andam a comprar biliões de hectares de terras aráveis de países pobres mas com terras férteis; ficamos também a saber que mais que nunca a disputa de terras ( atenção Rússia que a tua Sibéria vai obrigar-te a voltares-te para o Ocidente anti-chinês ) e  que a guerra pela posse de água se vai agudizar ( Portugal precisa que a Espanha lhe não coma a água dos seus rios internacionais que são os quatro maiores ). Tudo junto, isto é simplesmente a maior revolução na economia desde Adam Smith! Tudo junto, a política de privatização das águas tão cara a Pedro Passos Coelho, as questões da eduacação e da saúde que de facto Passos Coelho quer privatizar, têm de ser seriamente discutidas calma mas frontalmente.

E, bom seria que as agências de rating de países soberanos tivessem conhecimento disto para fazerem as suas contas, porque sem este tipo de informação são simples agentes especuladores de conhecimento virtual da economia, de que me apetecia, já agora, ser acionista maioritário: sempre poderia comprar o meu iate e o meu avião privados - até começarem os sarilhos.

E é aqui que entra Spengler e Toynbee com que iniciei este ensaio sobre o crescimento e o declínio das Nações: no fundo - e eles ainda não o sabiam - a questão parece ser mais ou menos assim. A fase nascente a que Spengler chamava fase cultural, a aposta dos povos em crescimento faz-se no esforço da regra, no esforço da ordem, no esforço da limpeza, no esforço do trabalho, no esforço da competição transparente, no esforço da moral aceite, no esforço duma educação universal, no esforço dum conhecimento de experiencias feito, num esforço de melhor saude, num esforço de mais e bom esforço...e a inteligência cresce e com ela o desenvolvimento; mas na fase civilizacional o esforço dá lugar ao facilitismo e a esburacadas teorias de enjoy the life com muita porcaria física, de valores, de facilidades ( onde alunos não chumbam), de merda pura...,de burrice , e de incapacidade para reagir porque o esforço foi abolido.

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