quarta-feira, 31 de março de 2010

BOOMERANG III

Nos três "posts" que antecedem este, mas que tendo sido publicados antes aparecem no seu computador depois deste, eu tentava demonstrar que para além dos 60% de portugueses que segundo Medina Carreira vivem à custa do Estado, há um sem número de outros que podendo trabalhar por conta própria têm, sempre que podem - e nos últimos vinte e cinco anos puderam quase sempre -  lançar um gancho ao Estado.
Eu não falei dos meus numerosos amigos e familiares do Porto mas o que disse para os que nesta fase da minha vida em Vila do Conde convivem mais próximos de mim também se aplica aos que deixei no Porto.
Isto quer dizer que não são só os beneficiários do rendimento mínimo ( a maior parte da qual é cigana - os romani, para parecer que não sou racista ), nem os que recebem rendimentos de desemprego´( agora muito esticado ), nem os de sobrevivência, nem que são pagos a pseudo-amas, nem os que são pagos a pseudo-cuidadores de velhos incapazes de cuidar deles mesmos, etc,etc, quer dizer a classe teoricamente pobre, a única que se dependura no Estado. Não. Dependurar-se no Estado em Portugal é mas é um estado de espírito que pode demorar a passar. É por isso que os advogados meus amigos aqui referidos e muitos outros, se queixam da vida, porque são demasiado pequenos para também fazerem parte dos que vivem do Estado ( não criaram sociedades para auditar, projectar, negociar, atestar, representar os interesses do Estado ).

Vem isto a propósito de ser uma evidência que o Estado deve servir para cobrar impostos com os quais se criam as condições de soberania nacional e se homogeniza a geografia humana e e material do território: construir estradas, portos e aeroportos, pagar ao governo e sua máquina, organizar finanças, assegurar polícia, montar regras de sociabilidade através do aparelho judicial, preparar exército e desenhar uma política diplomática que defenda os interesses próprios, é função natural dos impostos. Se fôr possível dar ajuda noutras áreas muito bem, mas se não fôr, ao Estado compete o recato de, para homogeneizar território e pessoas, establecer mecanismos muito simples de homogenenização da riqueza que diminua o fosso entre classes ... e entre, sobretudo pessoas, sem nunca pretender o impossível: a igualdade ( isto faz-se através dum única taxa de IRS para todos a partir de um determinado valor de vencimentos, por exemplo).
É que meus amigos aquilo que o Estado nos mete nos bolsos, dos nossos bolsos também sai, via impostos dos mesmos bolsos mas com mais peso. Daí os títulos dos "posts": BOOMERANG. E isto é verdade como um pêro.

Hoje de manhã, dei a minha volta de bicicleta e com uma baixa-mar mais violenta que o normal por força do esvaziamento das areias das praias que este ano o mar levou, observei dois ucranianos que vieram de bicicleta até à praia vestiram fatos de mergulho e, mesmo com mar revolto por força dos ventos em redemoínho, se fizeram ao mar para apanhar percebes, mexilhão e talvez lapas. E assim ganharem a vida. Não vi portugueses a fazer o mesmo.
Dá que pensar.

Talvez tenha associado tudo isto porque o que ouço à generalidade dos portugueses é que a vida é miserável porque não há (bons ) empregos. Como se no Ocidente não tivesse terminado a noção de emprego ou carreira para toda a vida, e como se já não estivessemos com os ouvidos atulhados de avisos que durante trinta e seis anos andamos todos a gastar o que não era nosso... E não são só, nem especialmente, os pobres de bens e de espírito que mais protestam. Só que estes o fazem com mais histrionismo, (às vezes histerismo, sobretudo se houver televisão por perto) é a diferença. Os que se acham ricos de espírito protestam, afavelmente, mas de modo muito mais destrutivo, até porque era deles que se esperaria um maior discernimento.

Aqui há uns dez anos estava eu a discutir jé este tema numa festa com vários amigos. Não creio que fosse na Quaresma, mas às tantas o meu amigo Hernani que é director duma grande cadeia ( agora chama-se Establecimento Prisional ) e que tem mordomias que chegam a carro com motorista, pergunta:- Olhem lá, então porque é que há tantos funcionários públicos que são ateus?. Ao que o meu outro amigo Pedro Lopes dos Santos ( que é psicólogo) respondeu com o seu habitual sentido cáustico de humor:-" Porque não acreditam que possa haver uma vida melhor!"

  

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